Passo Piraju: mais um passo na terra Kaiowá Guarani
Mais um dia frio em Dourados. Para os índios do tekoha Passo Piraju , esse dia 10 de maio foi longo e sombrio. À meia noite expiraria o prazo para cumprimento da reintegração de posse, ou seja, a expulsão dos índios. À noite, poucas horas antes do prazo final, vem a boa notícia do Tribunal Regional Federal 3a. região em São Paulo. O desembargador Cotrim Guimarães proferiu a decisão que suspende a reintegração de posse da terra indígena de Passo Piraju. Alívio. Uma sensação de justiça em meio a tanta violência e injustiça. Um passo há mais na esperada reconquista de um pedaço mínimo do território tradicional. Um suspiro de ânimo em meio a tanta dor. Na prisão de segurança máxima Harry Amorim, encosta um caminhão da Funasa. São descarregados oito colchões, juntamente com cobertores e algum material de limpeza. Essa noite o frio será menos intenso e o chão menos duro para os oito indígenas do Passo Piraju ali presos desde o início de abril. Parece que a situação começa a mudar um pouco. Foi o que também puderam constatar os advogados Wilson Matos (Funasa) e Rogério Batalha (do Cimi), que estiveram conversando com os índios no presídio durante quase uma hora. Afirmaram que já não estão mais sofrendo violências. As diversas manifestações públicas e visitas de comissões estão surtindo efeito. Por isso os gestos de solidariedade e apoio continuam sendo muito importantes. Enquanto isso à noite, uma palestra de Leonardo Boff, em Campo Grande, cujo ingresso era um quilo de alimento não perecível, teve um público muito além do esperado. Os mil lugares do auditório foram rapidamente preenchidos, sendo necessário uma segunda sessão para o público que não conseguiu entrar. Foram arrecadadas mais de duas toneladas de alimentos que hoje mesmo estão sendo entregues a algumas comunidades indígenas em situação de maior carência e necessidade, como Nhanderu Marangatu e Passo. “Justiça, Trabalha e Cidadania”, título da palestra, passam necessariamente pela construção de uma outra sociedade, de uma nova relação com a natureza e uma maior consideração para com a mãe terra e o planeta terra. O que se espera é que essa oxigenação momentânea anime ainda mais a nossa luta e solidariedade com os povos indígenas e compromisso de construção de um novo projeto para o país onde os povos indígenas tenham voz, vez e contribuição na construção de uma sociedade melhor para todos. Nos unimos a comunidade de Passo Piraju na esperança de que possam voltar a uma normalidade em sua vida e que a Funai encaminhe com urgência um Grupo de Trabalho para dar seqüência à a regularização da terra. Egon Heck, Rogério Batalha e Geraldo Augusto A. Cimi MS