02/05/2006

A Amazônia Resiste

 


Há muito tempo a guerra chegou à Amazônia, a batalha travada hoje é contra os agentes do Capital. E quem são esses agentes que ameaçam a vida das pessoas e a existência da própria floresta amazônica, como a conhecemos hoje?


 


Foi a essa pergunta que o seminário Diagnóstico do avanço do Capital na Amazônia, realizado em Belém nos dias 19 e 20 de abril no auditório da CNBB, tentou responder.


 


O seminário contou com a valiosa colaboração do professor Alfredo Wagner (Museu Nacional); de Ariosvaldo de Oliveira (USP) e de Ricardo Figueiredo (EMBRAPA).


 


Muitos dos discursos proferidos pelos defensores do agrobusness foram derrubados, como o de que a cultura de grãos como arroz, milho e principalmente a soja fariam uso de áreas degradadas, portanto não agrediriam o meio ambiente. Quem defende esse argumento não consegue explicar como essas áreas foram degradadas e onde foram parar as florestas.


 


Duas frentes de batalha são travadas atualmente na Amazônia. Uma é pelo solo, e atuando nela estão o grileiro, o fazendeiro e o madeireiro, que em alguns momentos podem ser a mesma pessoa, só que as ações são distintas. Hoje o que se vê já não são os grileiros tentando corromper funcionários públicos, mas estes oferecendo os seus serviços. É só lembrar (nunca é demais!) a operação Curupira no Mato Grosso, desencadeada pela Polícia Federal.


 


Na Amazônia, a primeira evidência de crime de grilagem é a cerca. Duvida? Pois saiba que Anapu, cidade da região da Transamazônica, onde ocorreu o martírio de irmã Dorothy, possui um território de mais de 1 milhão de hectares,  87% de terras devolutas.


 


A outra frente de batalha é pelo subsolo da Amazônia (pois, no Brasil, o uso do solo é separado do uso do subsolo). E não se trata apenas de garimpos clandestinos não, são as grandes empresas mineradoras, interessadas nas jazidas de metais e pedras preciosas  como o  nióbio, componente básico para composição de chips de computadores que está sob as terras dos índios Tucano no Amazonas. Isso ajuda a entender a avidez de ministérios em ver aprovada leis que garantam o “direito” de explorar essas terras.


 


Os empresários rurais -expressão que pode muito bem ser considerada como sinônimo de Capitão do Mato ou Bandeirante- já não querem correr os riscos da produção, deixam isso aos pequenos produtores, que utilizam suas terras para produzir Mamona, Dendê ou qualquer outro eco-óleo, tornando-se parte da cadeia de produção (cadeia é um lugar bom pra alguém ficar?). O beneficiamento do produto é o domínio dos ricos.


 


Diante de tudo isso, as universidades e centros de pesquisa endossam as políticas estatais. Lá, nas universidades e centro de pesquisas, são melhoradas as tecnologias que serão utilizadas na produção de grãos.


 


Neste momento a Amazônia ainda possui lugares onde o capital não põe o nariz e é isso o que entidades como CPT (da Amazônia Legal ); Cáritas ( Pará, Maranhão, Piauí, Nacional); CPP (Conselho Pastoral dos Pescadores – Pará); CIMI Norte II; PJR (Pará); Pastorais Sociais do Pará. ONG’s como o Fórum Carajás (Pará-Maranhão); FASE. Movimentos sociais como MST, MAB, MPA e MMC e um representante indígena do povo Aikewara e outro representante dos Kaiapó, vieram debater formas de ampliar esses territórios de resistência.


 


Reunidos apontaram que a luta na Amazônia é contra o Capital, sustentado no Tripé do Latifúndio, Estado e do Capital internacional.


 


Para enfrentar este monstro é necessário vencer a desarticulação daqueles que persistem na luta e não foram cooptados pelo Estado ou pelo grande Capital internacional, superar o desejo de somente priorizar a luta institucional, mobilizar a juventude e considerar que o específico de cada movimento deve acumular forças para um projeto de nova sociedade, com isso estaremos caminhando para fortalecer a luta popular contra o capital e o imperialismo.


Um espaço em que poderá acontecer esta articulação é a Via Campesina, onde os movimentos que se fazem representar já pensam a Amazônia. O momento é então de lançar o desafio de contar com a participação de outros atores sociais, como os povos indígenas e suas organizações.


Luiz Claudio – Cimi Norte 2

Fonte: Luiz Claudio
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