12/04/2006

Informe nº 710: Acampamento Terra Livre 2006 não reconhece legitimidade na Conferência da Funai

As 550 lideranças indígenas reunidas no acampamento Terra Livre de 2006, realizado na primeira semana de abril em Brasília, externaram sua posição sobre a Conferência Nacional dos Povos Indígenas, que está sendo organizada pela Funai e terá início na noite desta quarta-feira, 12 de abril, em Brasília.


 


Uma das conclusões do acampamento é que, decorridos três anos do governo Lula e apesar dos instrumentos propostos na campanha presidencial para a construção de uma política indigenista com a participação dos povos e do movimento indígena e indigenista, este governo ainda não realizou a necessária mudança nos rumos da política indigenista. E a Conferência Nacional marcada pela Funai, pela forma como foi construída, não será o instrumento para alterar esta política. “Em momento algum da construção inicial dessa Conferência os movimentos foram solicitados”, afirmou Ilton Tuxá, coordenador da Apoinme.


 


A crítica realizada pelos movimentos indígena e indigenista passa pela centralização das definições sobre temas e participantes das Conferências regionais, que foram concentradas pela Fundação Nacional do Índio. Foi o presidente da Funai que, através de uma portaria, convocou as Conferências regionais, estabeleceu a pauta e a forma de discussão dos temas por ele escolhidos e criou critérios para eleições dos representantes sem discutir previamente com povos e organizações indígenas, contrariando todas as indicações do movimento indígena, que tem lutado para criar canais de participação dos povos e de suas entidades representativas na construção das políticas públicas votadas aos seus povos. Os convites para a participação nos processos, quando existiram, foram posteriores às definições. 


 


“A atual política indigenista deste Governo é retrógrada, tutelar e oficialista, confundindo os interesses dos povos indígenas com os interesses da Funai, pretendendo confundir o órgão indigenista com a política indigenista. Uma demonstração desta política ocorreu na organização e convocatória das pré-conferências regionais, onde a Funai pautou as discussões somente em cima dos seus interesses”, afirmaram os participantes do 3o. Acampamento Terra Livre, realizado na primeira semana de abril, em Brasília, em moção sobre a Conferência.


 


“Por isso é que nós não reconhecemos nesta Conferência legitimidade para propor uma política indigenista que venha tão somente reforçar a tutela e o órgão tutor ou ainda aproveitar este espaço para legitimar o encaminhamento de questões cruciais para os povos indígenas por meio de projetos de lei avulsos e que não tramitem no Congresso no âmbito do Estatuto dos Povos Indígenas que ali se encontra”, completam. 


 


A realização desta Conferência da forma como tem sido conduzida vai de encontro até mesmo a decisões recentes do governo Federal que, em 23 de maio, após mais de um ano de pressão do movimento indígena, instituiu a Comissão Nacional de Política Indigenista, que terá, entre suas atribuições, “acompanhar e colaborar na organização da 1a. Conferência Nacional de Política Indigenista”. Uma conferência que ainda está por ser construída, dentro de um espaço que conta com a participação paritária dos povos indígenas e de representantes do Estado brasileiro.


 


Histórico da falta de diálogo


 


A primeira Conferência regional, realizada pela Funai em Maceió, Alagoas, em dezembro de 2004, reuniu indígenas das regiões Nordeste, além dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Apesar de situar os participantes na mesma área de abrangência da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), a conferência regional não contou com qualquer articulação com movimento indígena da região. As 190 lideranças indígenas foram articuladas pelas administrações regionais.


 


A realização de conferência com indígenas convidados e escolhidos pelos administradores regionais da Funai foi marca deste encontro e dos seguintes.


 


Em termos dos procedimentos relacionados às Conferências, a crítica feita pelas entidades indigenistas e indígenas vem também do fato que só após a terceira Conferência, nove meses depois da primeira, é que o presidente da Funai divulga, através da Portaria Funai nº 1.092, de 20 de setembro de 2005, o regimento das Conferências Regionais dos Povos Indígenas. Segundo o regimento, esta seria etapa preparatória da Conferência Nacional dos Povos Indígenas.


 


A presidência da Funai baixou outra portaria a de nº. 025, 04 de setembro de 2005 aprovando regimento interno da Conferência Regional dos Povos Indígenas do Amazonas e Roraima. Esta portaria teve como objetivo a aproximação do governo com o movimento indígena, especialmente com a direção da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, (Coiab). 


 


Das nove conferências realizadas, apenas na Conferencia de Manaus a Coiab conseguiu estabelecer um canal de discussão com a direção da Funai e possibilitou a inclusão de temas nos debates. Apesar disso, a Coiab reclama do método dos debates, com mais tempo para palestras do que para discussões. A falta de acesso à sistematização dos debates da conferência foi outro ponto de crítica levantado pela organização indígena.


 


Brasília, 12 de abril de 2006.


 


Cimi – Conselho Indigenista Missionário


 


Para mais informações:


Chico Apurinã – Coiab – (68) 9994 4573/  (61) 3323 5068


Priscila D. Carvalho – Ass. De Imprensa Cimi – (61) 9979 6912


 

Fonte: Cimi - Assessoria de Imprensa
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