Morrem mais duas crianças indígenas em Nhanderu Marangatu
A comunidade Kaiowá Guarani está sobressaltada. Na noite passada, dia 27, faleceram Celiandra Peralta, de um ano e um mês, e Osvaldo Barbosa, de 15 dias.
Essas duas mortes deixaram bastante transtornada a população do acampamento que está há mais de cem dias na beira da estrada. “Nesse tempo aqui na beira da estrada já perdemos 4 crianças. É um sofrimento muito grande. É muito pesado. Não agüentamos mais, vamos fazer o que é possível”, comunica um dos professores da comunidade, entre lágrimas e revolta.
Já os pais de Celiandra estranharam muito a morte súbita da filhinha e estão inconformados. A suspeita de que tenha sido envenenada quando retornaram para limpar o rancho donde foram expulsos. “Ali a minha filha ainda estava brincando e correndo. Daí a pouco começou a vomitar, e acabou morrendo”, diz Luiza Vilhalva, a mãe da criança, que veio a falecer no caminho, quando estava sendo removida para um hospital de Dourados.
Diante dessa dramática realidade, a comunidade reafirma a decisão tomada a poucos dias, de estarem na terra homologada.
Enquanto em Rio Quente, Goiás, se avalia e discute a questão da política de saúde indígena a ser implementada, nas aldeias as crianças e adultos indígenas continuam morrendo. Não resta dúvida de que por melhor que venha a ser a proposta de saúde indígena, sem a garantia das terras, a situação de saúde continuará se agravando.
“A perda de mais duas vidas na beira da estrada é o último fato que agüentamos nesta situação”, afirmou uma das lideranças da comunidade de Nhanderu Marangatu.
No sábado, a plenária dos Movimentos Sociais do Mato Grosso do Sul enviou carta aos ministros do Supremo Tribunal Federal pedindo urgência no julgamento do Mandado de Segurança 25.463 que suspendeu a homologação da terra indígena Nhanderu Marangatu. Na mesma ocasião os movimentos pediam ações urgentes: “que se tomem providências imediatas por parte do Poder Público para que definitivamente se resolva a questão da demarcação das terras indígenas, que o judiciário passe a compreender que suas decisões, desconsiderando os direitos garantidos na Constituição Federal, somente causam mais desagregação social para estes povos e o acirramento dos conflitos no Mato Grosso do Sul”.
Campo Grande-MS, 28 de março de 2006.
Cimi Regional Mato Grosso do Sul