07/02/2006

“A dominação, agora, vem pelas multinacionais”, diz Stédile

Em ato realizado na coxilha de Caiboaté, em São Gabriel, indígenas rezam pelos Guarani mortos e apontam a ganância econômica como causa pela perda de suas terras. Dirigente camponês afirma que a dominação apenas se modernizou.  


 


A programação do acampamento em memória aos 250 anos de morte de Sepé, que acontece em São Gabriel (RS), começou bem diferente nesta segunda-feira (06/02). Às sete horas da manhã, as cerca de cinco mil pessoas que participam do encontro visitaram a Coxilha de Caiboaté, local em que 1.500 índios guaranis foram mortos pelas tropas espanholas e portuguesas em 10 de fevereiro de 1756 – batalha que deu fim às guerras guaraníticas e aos Sete Povos das Missões.


 


No local, guaranis kaiowá, do Mato Grosso do Sul, rezaram pelas almas dos índios mortos. Ao mesmo tempo, traziam faixas reivindicando a demarcação das terras, sem a qual não haverá o fim da violência contra os povos indígenas. Truká, Xukuru e Pankaruru dançaram o “toré”, celebração típica das etnias.


 


Logo depois, lideranças indígenas, quilombolas e camponesas manifestarem-se sobre a importância do resgate da história de resistência das Missões e do povo guarani. “Cortaram nossos galhos e nossos troncos, mas não conseguiram matar nossa luta”, afirmou o kaiowá Anastácio Peralta. Maurício Guarani, cacique da reserva indígena do Cantagalo, em Porto Alegre (RS), falou em tupi-guarani e depois em português. Para ele, ir até o local em que seus antepassados foram massacrados é um fato muito importante e muito triste também. “Fico triste porque essa terra, um dia, foi dos guaranis. Mas por ganância econômica dos europeus, ela foi tirada de nós”, argumenta.


 


A crítica às ações de dominação dos países ricos também foi o tom das declarações de João Pedro Stédile, integrante da direção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “A dominação apenas se modernizou. No passado, vinha com canhões e à cavalo. Hoje, ela chega por meio da televisão e do dinheiro”, ressalta.


 


As multinacionais, que detêm grande parte do dinheiro em circulação no mundo e se expandem cada vez mais nos países pobres, foram apontadas como os símbolos desse imperialismo. “Agora, eles não precisam mais de cavalos para roubar nossa água; eles vêm com a Nestlé. É a Monsanto, a Cargill, entre outras, que querem acabar com as nossas sementes e trazem tecnologias perigosas. A dominação, agora, vem pelas multinacionais”, afirma Stédile.


 


Acampamento


 


Instaladas no Parque Tradicionalista de São Gabriel, os cinco mil participantes estão divididos em quatro acampamentos: o indígena, da juventude, da Via Campesina e dos Quilombolas. A juventude foi o primeiro a iniciar suas atividades, no dia 03. Na manhã de sábado, 4, os 700 jovens presentes assistiram a uma palestra sobre a história dos Sete Povos das Missões e de Sepé Tiaraju, dando prosseguimento com grupos de estudos durante a tarde. A organização do Acampamento da Juventude é um dos pontos altos da estrutura: os participantes são divididos em sete grupos, remetendo às sete reduções que formavam as Missões. Essa divisão é a que organiza desde os grupos de estudo e de discussão até as refeições.


 


Programação do dia 07/02


 


No último dia do acampamento, acontece a marcha de encerramento. Os participantes sairão do Parque Tradicionalista e vão até a Sanga da Bica, no centro de São Gabriel, local da morte de Sepé Tiaraju. Os indígenas também irão redigir uma carta, na qual vai constar as reivindicações dos povos. A juventude encerra o seu acampamento com a formulação de um calendário de lutas. A Via Campesina e os Quilombolas também terminam suas atividades.



Fonte: Raquel Casiraghi (Via Campesina)
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