Reencontro da nação Guarani
No início de 2005 surgiu a idéia de se realizar um encontro amplo dos diversos grupos e subgrupos da nação Guarani, presente em pelo menos cinco países da América do Sul. Era um sonho ousado e distante, porém não impossível. E aos poucos a idéia foi se difundindo pelas centenas de aldeias Guarani no Brasil, Paraguai, Argentina, Bolívia e Uruguai.
Logo no início da Assembléia Continental Guarani, um minuto de silêncio. Em nome dos Guarani anfitriões, Maurício, do Rio Grande do Sul, pede silêncio pela memória de Sepé Tiaraju. Quase mil Guarani e representantes de outros povos indígenas silenciam. Foi um minuto também para a memória dos mil e quinhentos Guarani assassinados pelos exércitos de Espanha e Portugal e dos milhares de membros desta numerosa nação indígena que foram mortos pelos diversos interesses econômicos e políticos até hoje.
Estava se iniciando, ou continuando, esse rico processo de construção de uma nova união e solidariedade entre o povo Guarani, dividido por estados nacionais, resistente apesar da discriminação e das diversas formas de dominação econômica, política, cultural e religiosa.
Não foram poucos os obstáculos vencidos até chegarem a São Gabriel, ao local em que Sepé Tiaraju foi assassinado. A falta de condições para poderem se deslocar a mil ou até dois mil quilômetros foi um dos problemas.
Ao rumarem para as cochilhas do atual Rio Grande do Sul, Brasil, onde fica parte importante da República Guarani dos Sete Povos do século 18, os Guarani fizeram um caminho importante na reconstrução da memória e da história de um povo de muita fartura e liberdade. Hoje, lamentavelmente, esse povo tem um dos menores índices de terra de todos os povos indígenas. Por entenderem que a terra não foi feita pelos homens, e que portanto ninguém poderia se apossar individualmente dela, pois ela é a mãe que possibilita a sobrevivência da vida, eles buscaram não enfrentar os invasores e procuraram os locais onde pudessem continuar a viver bem como Guarani. Neste processo, tiveram quase todas as suas terras tomadas pelos gananciosos latifundiários e donos do agronegócio. Este será um dos principais temas debatidos durante esse reencontro da grande Nação Guarani.
Vencidos os mil e um obstáculos, agora é o momento de socializar as lutas e alegrias, celebrar as vitórias e avançar na construção da solidariedade e união do povo Guarani, neste local onde Sepé Tiaraju foi assassinado, e volta a viver com seu povo.
Egon Heck – Cimi MS