06/02/2006

Jovens discutem legado das missões

Neste sábado, dia 4, os jovens acampados debateram o legado das missões para a população brasileira, com assessoria do irmão Antonio Cechin e do deputado estadual Frei Sérgio Gorgen.


 


Gorgen destacou três pontos principais desta herança. O primeiro foi a experiência de uma sociedade justa. “Nos legam a utopia de algo que foi colocado em prática: os sonhos de uma sociedade justa não são só desejos, mas podem ser concretizados”, afirmou.


 


O segundo ponto importante é que os indígenas deram ao país a possibilidade de ser formado por povos distintos, com visões de mundo distintas, e de sermos um povo multiétnico e pluricultural. Para Frei Sergio, esta visão se choca com todo o preconceito que fomos ensinados a ter desde pequenos, quando aprendemos a esconder as raízes indígenas presentes na grande maioria das famílias do Brasil. Desta percepção decorre o terceiro legado das missões e dos indígenas apontado pelo palestrante, que é a capacidade de luta e resistência: “Quando nós vemos o que fizeram Sepé e os 1.500 Guarani que foram mortos, sabemos que somos descendentes de lutadores”, afirmou.


 


No mesmo momento, na tenda ao lado, mais de mil indígenas do povo Guarani apresentava-se e contavam, uns aos outros, em idioma Guarani, os desafios que enfrentam a cada dia para terem terras para viver a seu modo e para seguirem vivendo a seu modo.


 


Em momentos diferentes e de formas distintas, o irmão Antonio Cechin e o jesuíta Bartolomeu Meliá, que também participou das atividades dos jovens, repetiram a idéia de que aquilo que um país faz com suas minorias, ele acaba fazendo com toda a sua população, e que o respeito às minorias é um ponto central para democracias verdadeiras. Antonio Cechin disse, como exemplo, que se aos indígenas não é dado o direito ao acesso à terra, isso também acaba acontecendo com os camponeses. “O termômetro de uma democracia é o modo como ela trata as populações indígenas”, afirmou Meliá.


 


Na segunda parte da atividade, os jovens dividiram-se em grupos a fim de discutir e apontar quais os legados do povo Guarani a todos os outros povos. As respostas foram variadas, indo desde as contribuições nas melodias, instrumentos musicais e nas danças de rodas até a relação não-predatória de coexistência com a natureza. A autonomia do povo Guarani em relação aos jesuítas das Missões foi o ponto de discordância entre os jovens.


 


Mas foram a disciplina, a coletividade e a resistência dos índios missioneiros marcaram as opiniões da juventude. Para os jovens reunidos na Assembléia, a sociedade construída nas missões jesuítas era caracterizada pela divisão do trabalho, e homens e mulheres tinham os mesmos direitos e deveres. Também não havia nenhum tipo de hierarquia social: caciques e os índios que não eram chefes tratavam-se com o mesmo respeito, sem qualquer tipo de privilégio. “Os índios Guarani nos deixaram o respeito à terra-mãe e à natureza e a certeza de que não precisa ser branco ou europeu para ser ‘civilizado’”, concluiu o grupo de jovens da Pastoral da Juventude de Santa Cruz do Sul.


 


Raquel Casiraghi – Via Campesina e Priscila D. Carvalho – Cimi


 

Fonte: Raquel Casiraghi – Via Campesina e Priscila D. Carvalho – Cimi
Share this: