05/02/2006

Sepé Tiaraju representa mudanças sociais, diz pesquisadora

“Cada vez mais, a figura de Sepé se afasta das facções conservadoras da sociedade e se aproxima dos movimentos sociais do campo e dos excluídos em geral”. Essa é a análise da pesquisadora Ceres Brum, professora do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Maria (RS). Ceres abriu as atividades do Acampamento da Via Campesina nesta manhã (05/02), abordando o processo da transformação da figura histórica de Sepé Tiaraju em mito.

Para
a professora, a história de Sepé ainda não terminou de ser contada. “Como todo mito, as pessoas buscam a sua figura e trajetória no passado, a fim de encontrar soluções para os problemas atuais. E é isso o que está ocorrendo com Sepé Tiaraju”, argumenta. A literatura foi a primeira a mitificar o líder indígena. Basílio da Gama, em seu livro “O Uraguai”, escrito no século XVIII, já apontava Sepé como uma das figuras principais nas guerras guaraníticas. Mas foi o poeta gaúcho João Simões de Lopes Neto, em um século depois, que cultuou a figura do índio, relacionando-o à luta do povo por sua terra.

Foi atribuído à Sepé tal sentimento de revolucionário que, na década de 50, pesquisadores do Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Sul embargaram a construção de um monumento em homenagem a Sepé. “Estávamos em plena Guerra Fria, marcada pela disputa entre capitalismo e socialismo. Setores da sociedade tinham medo de que a figura de Sepé chegasse aos movimentos populares, devido ao tom revolucionário da sua luta”, conta Ceres.

Outro ponto que chama a atenção é, mesmo depois de 250 anos de morte, a diversidade de pessoas que o líder indígena ainda inspira é grande e chega a ser contraditória. A pesquisadora utiliza, como exemplo, os movimentos sociais do campo e ao latifundiários tradicionais, dois setores que envocam junto de si a luta travada pelo guarani. Na marcha da Via Campesina em São Gabriel, em 2003, os camponeses seguravam um estandarte com a imagem de Sepé, enquanto os agricultores ligados ao agronegócio carregavam faixas utilizando a frase histórica do índio: “Alerta, essa terra tem dono”. Apesar de Sepé ser uma figura que consegue alcançar um grande número de pessoas, são os movimentos sociais e as organizações indígenas que potencializam a figura revolucionária dele. “Devido ao movimentos sociais e aos indígenas, Sepé representa hoje a mudança do sistema atual de pobreza e de exclusão. Uma mudança que ocorreu, de certa forma, no passado [nas Missões], e continua até hoje”, afirma Ceres.     

Acampamento


 


Instaladas no Parque Tradicionalista de São Gabriel, os cinco mil participantes estão divididos em quatro acampamentos: o indígena, da juventude, da Via Campesina e dos Quilombolas. A juventude foi o primeiro a iniciar suas atividades, no dia 03. Na manhã de sábado, 4, os 700 jovens presentes assistiram a uma palestra sobre a história dos Sete Povos das Missões e de Sepé Tiaraju, dando prosseguimento com grupos de estudos durante a tarde. A organização do Acampamento da Juventude é um dos pontos altos da estrutura: os participantes são divididos em sete grupos, remetendo às sete reduções que formavam as Missões. Essa divisão é a que organiza desde os grupos de estudo e de discussão até as refeições.


Atividades até terça-feira, dia 7


 


As atividades seguem até a próxima terça-feira.


Na segunda-feira, o acampamento da Via Campesina realiza análise de conjuntura e pretende relacionar a luta dos camponeses com a luta travada por Sepé pela terra.. Pela manhã ocorrem palestras e, à tarde, serão realizados grupo de estudos.


O acampamento da juventude mantém a discussão em grupos para propor alternativas para os problemas que vivenciam os jovens.


Os indígenas também terão um dia de propostas de encaminhamentos para resolver os problemas apontados no debate dos dois primeiros dias.


No dia 7 as atividades serão encerradas com uma marcha que irá da entrada de São Gabriel até o local onde Sepé foi morto, chamado Sanga da Bica. Para ver a programação completa dos encontros e as atividades festivas de encerramento visite www.projetosepetiaraju.org.br.

Fonte: Raquel Casiraghi – Via Campesina
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