04/02/2006

Populações historicamente excluídas fortalecem luta conjunta

‘O grito que Sepé deu a gente mantém forte através de nossos velhos e caciques. Esta semana faremos avaliações de como os povos vivem no Paraguai, na Argentina, no Brasil. A gente vai buscar pouco a pouco os nossos direitos, com a força que vem de trás e o apoio dos movimentos’, afirmou Mario Karaí, do povo Guarani, que vive no Rio Grande do Sul. A liderança indígena participa da Assembléia Continental Guarani junto com outros mil indígenas. A Assembléia faz parte das celebrações dos 250 anos de morte de Sepé Tiarajú, líder indígena que foi morto há 250 anos defendendo o seu território e a vontade de seu povo de continuar vivendo nele, apesar das imposições dos impérios coloniais que dividiam as colônias segundo seus interesses. Dois séculos depois, os impérios deixaram de ser Portugal e Espanha, mas não deixaram de existir. Hoje, os povos indígenas lutam contra potências econômicas do mundo contemporâneo e contra suas empresas transnacionais que querem a todo custo as terras produtivas onde este povo luta para viver.


 


‘Cerca de 70% das terras indígenas no Brasil estão ocupadas por outras pessoas, sobretudo por quem tem poder financeiro, por projetos do agronegócio, madeireiras, pelo garimpo’, afirmou D. Franco Masserdotti, presidente do Conselho Indigenista Missionário, que também participa da Assembléia.


 


‘O Brasil tem espaço para todos viverem. E todos precisam ter terra. Precisamos de produção de alimentos. Temos 54 milhões de brasileiros que não comem por dia. Hoje toda a produção está entregue a sete grandes multinacionais. É contra isso que lutamos’, questionou Paulo Facioni, da Via Campesina, que também organiza os encontros.


 


Assim como a 250 anos foi necessário arregimentar guerreiros de outros povos para resistir, também hoje os povos precisam fazer alianças para se fortalecerem.


 


Luta conjunta


 


Na entrevista coletiva da qual o indígena Mario Karaí participou na manhã deste sábado, 4, em São Gabriel, RS, estavam também indígenas dos povos Guarani e Charrua, um homem negro do movimento quilombola, uma jovem mulher do movimento de trabalhadores desempregados e um líder do  movimento camponês. Todos têm em comum a luta pela terra, pela vida com dignidade e por um mundo justo. ‘Assim como os índios, nós os negros também estamos na luta pela cultura, pelo reconhecimento dos nossos territórios, também passamos por matanças para tomarem as terras que herdamos’, afirmou Juarez, liderança do movimento quilombola, que também realiza sua Assembléia e Acampamento em São Gabriel. Cada um dos grupos organiza atividades específicas de hoje até o dia 7 de fevereiro, mas o objetivo é também encontrar atuações conjuntas. ‘Nosso objetivo é resgatar a história de Sepé Tiarajú e reafirmar que esta terra tem dono. Os donos são camponeses, trabalhadores, indígenas, o povo que constrói a nação’, afirma Claudia Camatti, do Movimento dos Trabalhadores Desempregados, participante do acampamento que reúne mais de 700 jovens vindos de todo o Rio Grande do Sul, de São Paulo, Paraná, Paraíba, Sergipe e também da Argentina. Entre os temas prioritários dos debates da juventude – que deverão fazer parte de um calendário comum de lutas a ser construído durante o encontro – estarão a luta pela terra, pelo trabalho e educação. ‘A Consulta Popular puxa o acampamento da juventude e busca construir um projeto popular para o Brasil. Pra isso, a juventude precisa estar organizada e precisa haver respeito entre os povos’, afirmou Camatti. 


 


Os quatro mil participantes das celebrações assistirão na noite de hoje a uma encenação da batalha na qual foi morto Sepé Tiataju. Duzentos atores se preparam para a peça, e a população de São Gabriel também está convidada para assistir ao teatro, previsto para as 21 horas. 


 


Priscila D. Carvalho – Cimi


 

Fonte: Cimi - Assessoria de Imprensa
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