A partilha dos nossos encontros de Teologia Índia
Caríssimos(as) amigos(as) índios e missionários,
Esperamos que o processo de reflexão de Teologia Índia esteja adiantado em sua aldeia ou grupo de reflexão.
Desde abril do ano passado enviamos a convocatória e o guia metodológico para o V encontro de Teologia a ser realizado em abril de 2006. Porque com tanta antecedência? É porque a parte mais importante é o processo de reflexão junto à sua comunidade. Nos encontros, nacional em dezembro próximo e continental, vamos partilhar o trabalho que agora estamos realizando.
O Norte I nos informou que o processo de reflexão está indo bem no Amazonas e que os religiosos e religiosas indígenas estão bem incentivando; Pe. Nello e irmã Rebeca já realizaram encontros em Crateús-CE; Surumu e Boa Vista-RR, Oiapoque-AP, Belém-PA, Aldeia Truká-Cabrobó-PE, com a participação de povos dos estados de Alagoas e Bahia. Não sabemos se em outros estados e povos indígenas está reflexão está sendo levada em frente.
Em cada encontro estavam presentes representantes de vários povos da região.
O roteiro e a maneira de refletir mudaram um pouco em cada encontro a partir do ambiente e dos participantes, mas tem uma estrutura semelhante: propõe, num primeiro momento partilhar a experiência de Deus entre os vários povos e participantes; aprofundamos, em seguida, o tema do encontro:”A força dos pequenos:vida para o mundo” a partir da Bíblia e da nossa vida; vemos como o povo expressa sua teologia através dos ritos, rituais e fatos da história e da vida.No final do encontro encaminhamos o trabalho nas aldeias ou grupos levando a ser realizado pelos participantes do encontro, levando em conta três momentos, os 03 r: repassar para o nosso povo, refletir e registrar com o povo; retornar para Belém a reflexão para ser reproduzida e enviada para todos os que participam deste processo.
Tomamos a iniciativa de repassar uma reflexão sobre os nossos encontros e esperamos que vocês também nos enviem as suas reflexões.
Em geral os encontros ajudam para cada um se apropriar de sua teologia, entender sua importância na vida e na luta. Utilizamos o exemplo da árvore que recebe sua vida das raízes e da copa: o alimento da terra e o oxigênio do ar e do sol que são a nossa cultura e a presença da força de Deus em nossa história e vida.
O povo já está dando suas definições da teologia índia assim como: Tibúrcio do povo Tembé que dizia para Claudemir:”Telogia índia é falar de Deus à nossa maneira.”; Zenilda do povo Xukuru: “Os pequenos são o alicerce do mundo ;temos que acreditar nesta que é a verdade” e José de Santa completava: “É isto mesmo, Deus está com os pequenos. Assim os pequenos que estão em baixo, que são pequenos mesmo, se tornam grandes, os que tem poder porque estão com a força de Deus.”
Frisamos umas características peculiares de cada encontro já realizado.
No encontro em Crateús enfatizamos a idéia sobre Deus, como o pensamos, como Ele está presente em nossa vida. Partilhamos bastante o assunto do mal, de onde vem e como lutamos contra ele; uma coisa que persegue o povo lá é o feitiço. Aliás a idéia do feitiço, do malefício, de uma forma ou outra, está presente em outros povos indígenas no Brasil. A fé na presença amorosa e poderosa de Deus em nossa vida é muito importante.
No encontro de Surumu recuperamos um pouco a história dos povos indígenas e a teologia que alimentou os missionários e missionárias nas diferentes épocas: a colonial, a moderna da década de 50 e 60 e a atual a partir da década de 70. O encontro serviu mais para animar as missionárias que para os índios; estes estavam chocados e reunidos em assembléia após a invasão e destruição das casas de 04 aldeias. Visitamos as lideranças e oferecemos a nossa solidariedade. A irmã Conceição deu uma luz de como Deus está agindo com as lideranças na conjuntura atual:”Uma lideranças relatou a invasão e destruição das casas de 04 aldeias acontecida em 23 de dezembro e como um índio foi baleado. Frente a isto ele desabafava “Irmã estou ficando fraco, porque se no momento que o pessoal praticava tanta violência contra nós, eu estivesse com um arma em minhas mãos, eu teria reagido.” As lideranças do Cir também expressavam uma teologia muito profunda ao dizer para nós: “Padre, tem índio do lado do branco que não quer a demarcação contínua da Raposa terra do Sol, mas nós trabalhamos para eles também, porque após a terra demarcada, a terra será para eles também; não queremos excluir ninguém.”
O encontro em Boa Vista reuniu representantes de várias etnias………… e trouxe a tona a realidade do índios que moram nas cidades, desaldeados, desassistidos, discriminados preocupados com a sobrevivência de cada dia, extrangeiros no mundo do branco e extrangeiros no próprio povo de origem. A recuperação da teologia é mais difícil mas necessária até para redefinir a sua própria identidade.
Em janeiro o encontro em Oiapoque reuniu os representantes Galibi-Marworno e Karipuna de várias aldeias. São povos que, ao longo de séculos, enfrentaram a influência de uma sociedade adversa e que reconstituíram a sua própria identidade e a sua nova teologia. É teologia que é resposta aos desafios passados e presentes, uma teologia feita de um Deus presente em cada momento da vida, na natureza, nos rituais e na organização social e econômica; uma teologia que mistura encantados, espíritos, santos; uma teologia que é confronto entre o bem e o mal alternando-se na vida do índio, pedindo respostas e posicionamento; é uma teologia que as vezes mobiliza o povo na garantia de seus direitos em nome de Deus.
No encontro em Belém do Pará tivemos a reflexão anterior sobre a imagem de Deus, a luta entre o bem e o mal e a maneira de expressar a nossa teologia como resposta aos desafios de hoje. A novidade foi o diálogo com a Bíblia pela contribuição da amiga irmã Tea. Ela nos ajudou a descobrir a presença de Deus nos lugares e nos momentos não oficiais, não esperados e n~]ao programados, privilegiando a ação e o protagonismo dos pequenos.
Em março o encontro na aldeia Truká reuniu os representantes de três estados e 09 povos. A seguir: Truká, Truxá, Pankararu, Pankará, Xukuru, Tambalalá,…….. A primeira parte do encontro serviu para fazer uma fotografia da situação no mundo e em nossas aldeias e individuar os conflitos. A segundo foi um diálogo com a Bíblia a partir do tema: “A força dos pequenos, vida para o mundo” e a descrição de fatos semelhantes em nossa vida e história; o terceiro passo foi a prática para evideniar a nossa teologia: privilegiamos os ritos e a nossa história.
Uma novidade na presença do mal em nossas aldeias foi a constatação da cooptação das lideranças que lutam contra o interesse de seu povo em troca de vantagens pessoais; Na segunda parte Dona Zenilda evidenciou que acreditar nos pequenos é a mensagem de Deus, mesmo nos povos indígenas, e que é necessário descobrir esta constante e abraçar esta idéia; a descrição e repetição dos rituais nos ajudou a identificar o papel de Deus em nossa vida, a entender a nossa maneira de viver e relacionar vindo dele; a nossa história também confirmou o antigo ditado que: Vai chegar o dia em que a roda grande vai parras pela roda pequena” . Deus muda a história pelos pequenos. Esta ação de deus se realiza porque algumas pessoas, chamadas por Deus, assumem o seu sonho e a luta do povo. Nos servimos para isto de audiovisuais sobre a Raposa Terra do Sol e o Xicão Xukuru.
Após o encaminhamento do Trabalho nas aldeia a noite encerramos com uma celebração eucarística inculturada e a dança do turé na versão dos vários povos que contiunuou noite adentro. Nesta última parte tivemos a participação de muitas pessoas vindas de vária aldeias e da cidade de Cambrobó.
Em todos os cursos presenteamos os participantes destes subsídios:
Ø A FONTE DA VIDA – Conjunto de orações indígenas
Ø EU SEI EM QUE COLOQUEI A MINHA ESPERANÇA –Falando do meu Deus.
Ø PARTILHANDO A EXPERIÊNCIA DE DEUS – Textos sobre teologia índia.
Ø JESUS : O PEQUENO QUE DÁ SUA VIDA – Dialogando com a Bíblia.
Ø A TERRA SEM MALES EM CONSTRUÇÃO – IV Encontro Continental de Teologia Índia.
Ø E TONANTZIM VEIO MORAR CONOSCO – Mitologia dos Povos Indígenas das Américas.(cópias limitadas)
Nello Ruffaldi e Rebeca Spires