16/12/2005

Fazendeiros queimaram casas de índios antes de desocupação, denuncia liderança

Antes mesmo da ação de reintegração de posse da terra Nhande Ru Marangatu no Mato Grosso do Sul, fazendeiros atearam fogo em casas dos indígenas Guarani-Kaiowá. A denúncia foi feita em entrevista exclusiva à Agência Brasil pela professora guarani Leia Aquino Prado e confirmada pelo assessor da presidência da Funai, Odenir Oliveira, que acompanha a ação nas fazendas a cerca de 340 quilômetros de Campo Grande.


 


“Não conseguimos retirar quase nada. Pegamos um pouco das coisas, levamos pra estrada e quando voltamos para pegar mais, já estavam queimando. Tem família que não conseguiu tirar nem o documento pessoal”, conta a professora, uma das principais lideranças do povo Kaiowá.


 


De acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Federal, o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes, o procurador da República, Charles Pessoa, representantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e jornalistas foram pela manhã ao local para acompanhar de perto a retirada dos índios.


 


Mas a ação teria acontecido por volta das 11 horas, quando as autoridades e a imprensa já tinham saído da área. Segundo Leia Aquino, o próprio proprietário da Fazenda Morro Alto e outros três peões começaram a atear fogo nas casas. Na fazenda Ita-Brasília, “uma senhora e mais dois homens entraram e queimaram as casas com tudo o que tinha dentro”, relata a professora.


 


O assessor da Funai Odenir Oliveira explicou que tinha um acordo com o advogado dos três fazendeiros para eles não modificassem a área até que uma equipe do governo fosse avaliar as fazendas. “Eles não cumpriram esse acordo”, disse ao citar que seguirá até Ponta Porã para questionar os motivos do rompimento do trato.


 


Uma senhora Guarani-Kaiowá passou mal e desmaiou. “Quando eles chegaram aqui já tínhamos desocupado a área, só faltava tirar as nossas coisas das casas. A gente não ia voltar para as casas, só pedimos para retirar as nossas coisas de lá em paz. A gente achava que ia dar tempo de desmontar as nossas casas e trazer para a beira da estrada”, relata a professora.


 


Segundo a professora, os fazendeiros iam começar a queimar uma casa onde a mãe deixou o filho dormindo na rede porque “estava carregando as coisas dela”, quando a mãe “começou a gritar desesperada e os índios reagiram”. Os Guarani-Kaiowá teriam dito a polícia “ou a gente morre ou os fazendeiros morrem se vocês não fizerem eles pararem de queimar as casas. Nós vamos lutar. Aí os policiais pediram para eles pararem e acalmou o pessoal. A única coisa que eles fizeram foi pedir para os fazendeiros pararem”, destaca a índia.


 


Na terra, os índios viviam das plantações de mandioca, arroz, feijão, batata, melancia e milho. “Pelo o que a gente sabe quando tem uma reintegração de posse assim, é o policial que chega e faz as coisas e não o fazendeiro”.


 


Em março deste ano, decreto presidencial garantiu a posse da terra Nhande Ru Marangatu, que possue 9,3 mil hectares. A homologação foi suspensa por decisão do Supremo Tribunal Federal no dia 27 de novembro. Não há como recorrer da decisão judicial.


Fonte: Agência Brasil
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