12/12/2005

Nhanderu Marangatu

Léia, uma das lideranças expressivas da Terra Indígena Nhanderu Marangatu, acaba de me ligar, visivelmente angustiada: “um motorista de ônibus acabou de passar aqui para avisar que uns 300 policiais estão aqui próximos da terra indígena. Por favor, tente ver se existe algo confirmado… Não consigo falar com ninguém, pois hoje é um domingo à tarde… Vamos reunir nosso povo para ver o que fazer”.


 


Covardia. Num domingo, no final do dia, uma operação de guerra contra uma comunidade indígena que vive em suas terras homologadas. Totalmente imprevisível o cenário das próximas horas. Os Kaiowá Guarani, em torno de 500, enviaram carta dizendo que não sairão em hipótese alguma de sua terra. Só mortos. Sabemos do que a prepotência de uma sociedade invasora tem sido capaz nesses séculos de história, até nossos dias. Será que se repetirão os “massacres”, a que tantas comunidades Guarani foram submetidas?


 


Ontem comemoramos os 57 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Aqui em Campo Grande um dos temas referidos nas declarações e manifestações foi a iminência de mais um ato de violência contra os índios de Nhanderu Marangatu. A coordenação dos movimentos sociais fez um documento de solidariedade aos índios, onde ressalta a “espécie de terrorismo” a que os índios estão submetidos diante das ações de um poder que praticamente conclui a regularização da terra indígena e outro manda despejar os índios. Essa forma de violência que privilegia regiamente a produção e enriquecimento de alguns em detrimento da vida humana. Cita um procurador da República que ao vir ao Mato Grosso do Sul afirmou que “aqui uma vaca tem mais espaço para viver do que um ser humano”.


 


Na sexta feira houve, na Assembléia Legislativa, uma sessão de homenagens por ocasião do aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Foram entregues medalhas a pessoas e instituições que têm se destacado na luta nessa área. Dentre os homenageados estava o Dr. Charles Pessoa, Procurado da República em Dourados. Na sua fala ele terminou falando da violência e covardia que continuam acontecendo contra os povos indígenas e mais especificamente contra os Kaiowá Guarani. E terminou falando que possivelmente durante a próxima semana estaríamos mais uma vez recebendo a notícia pela imprensa de mais uma comunidade indígena sendo despejada de suas terras. Referiu-s explicitamente à comunidade de Nhanderu Marangatu.


 


Agora, já no final deste domingo somos surpreendidos com o posicionamento dos militares próximos à área para execução de mais uma ação de expulsão violenta dos índios de suas terras. Qualquer violência ou derramamento de sangue que venha acontecer será de responsabilidade do Estado brasileiro, que não consegue fazer cumprir a Constituição na garantia dos direitos dos povos indígenas às suas terras.


 


Campo Grande 11 de dezembro de 2005


 


Egon Heck – Cimi MS


 

Fonte: Cimi - Regional Mato Grosso do Sul
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