26/10/2005

Boletim Assembléia Popular

ASSEMBLÉIA POPULAR: “MUTIRÃO POR UM NOVO BRASIL”


25 a 29 de outubro – Brasília


 


26 de outubro de 2005


 


Editorial – Brasil, em nossas mãos a mudança


 


Somos mais de oito mil militantes. Chegando de todos os estados, atuando em diversos movimentos sociais, durante três dias diremos o que pensamos e o Brasil queremos. Diante um abismo social imenso em um país de extrema riqueza, é difícil aceitar muito para poucos e pouco para muitos. E isso nos indigna e nos instiga a lutar. O espaço da “Assembléia Popular: Mutirão Por um Novo Brasil” não veio apenas para relatar mazelas sociais da humanidade, mas tem o objetivo de encontrar soluções e propor alternativas. Coletivamente.


 


Tarefa de grande responsabilidade. Ninguém melhor que o povo brasileiro para dizer o que quer do país e como fazer para buscar transformações profundas. São mais de 40 entidades representadas nesse grande Mutirão.


 


Em todos os espaços de construção da atividade, com todas as equipes que se somaram aos militantes vindos dos estados, é possível perceber que esse grande corpo, essa massa pode, e deve, exercer seu protagonismo se tornando agente da própria história.


 


Prontos para a luta e preparados para a vitória. Assim começa a Assembléia Popular. E assim seguiremos como um Mutirão.




 


Assembléia Popular inicia debate por projeto popular para sociedade


 


Gissela Mate


 


“Estamos dizendo que só as eleições não irão resolver os problemas do povo brasileiro. É preciso que a população participe diretamente das questões que irão definir os rumos da sua própria vida”. Foi nesse tom que Luiz Basségio, sociólogo e membro da Secretaria Intercontinental do Grito dos Excluídos, definiu os objetivos da Assembléia Popular durante coletiva de imprensa de abertura.


 


Participação popular


 


As novas formas de participação popular serão resultado de um processo visto como conseqüência dos debates da atividade. O assunto foi esclarecido pela comissão dos membros organizadores da Assembléia na coletiva, entre eles, D. Odílio Pedro Scherer – secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) -, D. Demétrio Valentini – presidente da Cáritas brasileira -, Sandra Quintela – economista Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sil (PACS) – e Gilberto Cervinski, da direção nacional do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB).


 


Descobrir quais são essas novas formas que devem ser pensadas e trabalhadas são objetivos da Assembléia, mas algumas premissas da discussão já estão traçadas, como explica Sandra Quintela. “Haverá mais arrocho social no ano que vem e além disso, a previsão é que o Brasil pague cerca de R$ 175 bi em dívidas no próximo ano”. Membro da Campanha pela Auditoria da Dívida Externa, a economista considera que instrumentos como referendos e plebiscitos são essenciais à democracia.


 


O plebiscito do último domingo (23/11) sobre a comercialização de armas de fogo e munições foi analisado segundo D. Odílio como exercício de participação popular, ainda que não tenha tido o debate político necessário. “O povo decidiu, mas não houve espaço de reflexão profunda sobre o tema. A sociedade entendeu que não pode confiar na segurança pública e isso soa como distorção do real significado que tem o Estado de Direito”, explica o secretário-geral da CNBB. Complementando a fala, D. Demétrio apontou que “faltou valorizar mais o debate. Parece que formamos nossa opinião diante da televisão e a idéia do referendo é mais do que isso”, observa.


 


Por um projeto popular


 


Durante a coletiva, os coordenadores expuseram críticas com relação aos espaços de participação política atual e aos rumos neoliberais da economia brasileira. “Enxergamos essa atividade que começa hoje como instrumento que vem sendo construído em nome de um projeto popular de sociedade”, explica D. Demétrio. Bassegio completa a idéia dizendo que o jeito que se faz política hoje “não serve mais ao povo do país”.


 


Os membros da comissão da Assembléia aproveitaram o espaço da coletiva para reafirmar a independência dos movimentos sociais com relação ao Governo. “Não nos reunimos para essa atividade com a idéia de fazermos críticas ao Governo, mas para discutir o que é bom para o povo”, reitera Basségio.


 


Outros temas foram abordados pelos jornalistas, como a transposição do rio São Francisco e a unificação dos movimentos sociais após a crise. Para D. Demétrio, a crise gerou unidade de bandeiras de reivindicação, mas não partidária. Além disso, a comissão vê necessidade em ampliar o debate sobre todas as questões de interesse popular. “Do ponto de vista da racionalidade, não entendemos a transposição do São Francisco”, afirma o bispo. “Além disso, o discurso oficial da obra aponta melhorias para a população, mas temos muita experiência para afirmar que não é o povo pobre que irá se beneficiar com a transposição, assim como não aconteceu com a construção das obras de Camará”, completa Gilberto do MAB.


 


A “Assembléia Popular: Mutirão por um Novo Brasil” começa nesta terça-feira (25/11) e reúne milhares de militantes de todo o país em Brasília para discutir e debater um novo rumo político na história brasileira. De acordo com a coordenação da atividade, um dos principais objetivos é traçar uma agenda unificada de ações para 2006. A Assembléia está sendo promovida por mais de 60 entidades religiosas e movimentos sociais de todo o país, entre elas a Campanha Jubileu Sul, a 4a. Semana Social, a Cáritas Brasileira, o MST, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi).




 


Cerca de 8 mil pessoas abrem a Assembléia


 


Suzane Durães e Jorge Pereira Filho


 


Com entusiasmo e esperança, militantes e ativistas de todo o país inauguraram ontem, dia 25, a Assembléia Popular. Homens e mulheres de movimentos sociais, da igreja e de organizações da sociedade civil estiveram no ginásio Nilson Nelson, em Brasília, para os discursos de abertura do que pretende ser o pontapé inicial de um novo processo de discussão de um projeto popular para o Brasil.


 


Serão quatro dias de debates e reflexões sobre o desafio da esquerda brasileira como agente social e o seu papel fundamental para alterar a realidade do Brasil. Para irmã Delci Franzen, coordenadora nacional da 4ª Semana Social Brasileira, responsável pela abertura do encontro, a luta do povo por um país justo, livre e soberano está na raiz da Assembléia. “Viemos de todos os estados representando o povo que luta incansavelmente pela justiça, pelo resgate das dívidas sociais, pela soberania do país e pela conquista da cidadania da para todo o povo brasileiro”, afirmou.


 


João Paulo Rodrigues, diretor nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), considerou que o objetivo é fazer da Assembléia um marco na história do nosso país. “Queremos que companheiro e companheiras, aproveitem o máximo para fazer um bom diagnostico do Brasil”, pontuou.


 


O diretor do MST lembrou a importância de se evitar a fragmentação das forças progressistas, nesse momento de reconstrução de um projeto popular. “Para fazer mudança, estamos convencidos que devemos deixar de lado o sectarismo para fomentar o debate e a diversidade”, explicou. Segundo ele, a Assembléia Popular – que terminará no dia 28 – exigirá sacrifício, humanismo e humildade para o processo avançar. “Não queremos que esse encontro seja um espetáculo, mas sim um espaço para discutir os problemas da sociedade que o governo, os partidos deixaram de lado. Por isso, estamos aqui”, disse Rodrigues.




 


Para despertar a memória e o coração


 


Cristiano Navarro


 


Num carro transgênico, misto de caravela e trator, chega o “Progresso”. Com ele as armas de fogo, cerca de arame farpado, leis, grilhões, prisão, dor e morte para os povos desta terra. Então progresso para quê? Questionou a encenação teatral do grupo formado pelos mais de 100 militantes dos movimentos sociais que participaram da abertura da Assembléia Popular.


 


A retomada crítica da história oficial escrita pelos vencedores lembrou a violência ao longo de mais de 500 anos. Primeiro os povos indígenas, vítimas de um genocídio que diminui sua população de 6 milhões para cerca de 700 mil. Depois os negros, escravizados e condenados à brutal ciclo de exclusão social. Por fim, a agressão é contra os camponeses expulsos à força pelo latifúndio que concentra terra e poder.  


 


Durante a encenação, o grupo musical Unidos da Lona Preta, do MST de São Paulo, apresentou trilha sonora que acompanhou a peça cena à cena.


 


As funções da apresentação em forma de mística são as de despertar o espírito dos militantes e animar o ambiente da Assembléia. Assim, imagens de lideranças da resistência popular foram projetadas em um telão recordando: Marçal Tupã, líder Guarani, Zumbi dos Palmares, Santo Dias, sindicalista, Margarida Alvez, camponesa, OlgaBenário e Irmã Dorothy.


 


Além da “outra história” e seus heróis, foram evocados também os elementos da natureza como força de transformação. “Que a chama deste fogo acenda dentro de cada um dos participantes a força para construirmos um novo País”, afirma Dom Demétrio Valentini, bispo de Jales (SP) e da coordenação da Assembléia Popular.




 


Acompanhe a cobertura ao vivo da Assembléia pelo site www.tvcartamaior.com.br


 


Assembléia Popular: Mutirão por um Novo Brasil


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Fonte: Assembléia Popular
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