Quinze motivos para votar SIM
O comércio de armas e munições deve ser proibido no Brasil? A população brasileira está colocada diante de uma alternativa: sim ou não? Tenho 15 boas razões para votar SIM no referendo do próximo domingo, dia 23 de outubro.
1. Arma é para matar; não tenho a intenção de matar e não preciso de arma.
2. A posse de arma não garante segurança nem a legítima defesa, mas representa um risco muito grave de morte para seu possuidor.
3. As estatísticas mostram que armas legalmente possuídas por gente pacífica, com muita freqüência, acabam na mão de criminosos, que não têm escrúpulos de usá-las contra gente de bem.
4. A disseminação de armas no meio da população não resolve o problema da violência, mas aumenta o risco de violência. Quanto mais armas na mão da população, maior o risco para a segurança e a paz.
5. No Brasil, cada ano, o número de mortos por armas de fogo é muito alto. É maior que na maioria das guerras declaradas em nossos tempos. Não podemos continuar com essas cifras trágicas!
6. Está comprovado que a diminuição do número de armas de fogo em circulação reduz os casos de morte violenta.
7. O suposto “direito” de ter uma arma de fogo é estranho; ele assusta, perturba e ameaça; tira a liberdade. Será mesmo um direito?
8. Um grande número de mortes por arma de fogo acontece debaixo do teto familiar, ou por acidente, por motivos banais e até na brincadeira inocente de crianças, só porque havia uma arma por perto numa hora infeliz.
9. A posse de arma não educa para a paz nem para o respeito na convivência social, mas predispõe e educa para a violência, pois supõe a vontade de usá-la um dia. Se não é para isso, então não é preciso ter arma nem munição.
10. Afinal, que vantagem existe na posse de uma arma de fogo? Que benefício traz? A possibilidade e a intenção implícita de matar alguém é um benefício autêntico e uma finalidade nobre para ter armas de fogo?
11. Em vez de confiar no poder das armas, a sociedade precisa acreditar na eficácia do estado de direito, no poder do respeito ao próximo e da honestidade pessoal, na força da educação para a não-violência e no amor à paz.
12. O comércio de armas, legal ou clandestino, gera enormes lucros com instrumentos de morte e de sofrimento; lucrar sobre o luto e a dor dos outros, não me parece uma forma digna de obter renda.
13. O uso de armas de fogo, mesmo quando é em legítima defesa, gera dor, traumas e lutos, que poderão ser evitados com a proibição do comércio de armas e munições.
14. Tenho fé no Deus da paz. Arma na mão e predisposição para usá-la não condizem com a fé no Deus da vida.
15. Sou cristão; Jesus Cristo ensinou o respeito a cada ser humano; não ensinou a usar armas, mas advertiu que a violência gera mais violência; “quem com ferro fere, com ferro acaba ferido” (cf Mt 26,52).
Depois de tudo isso, não duvido que alguém possa elencar quinze motivos para dizer NÃO à proibição do comércio de armas e munições; é questão de convicção pessoal. Mas está na hora de discernir bem e de refletir sobre os motivos que mais contam e mais ajudam a evitar sofrimentos e a desenvolver uma cultura do respeito e da paz. Nosso voto tem conseqüências. O referendo é uma boa ocasião para decidir sobre a sociedade que queremos no Brasil.
D. Odilo Pedro Scherer
Bispo Auxiliar de São Paulo
Secretário Geral da CNBB