Dom Luis: greve de fome em defesa da vida do São Francisco
“Quando a razão se extingue, a loucura é o caminho”.
Frei Luis
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão da CNBB, vem a público manifestar sua profunda solidariedade e compromisso com o ato extremo de Dom Luiz Flávio Cappio que, seguindo o exemplo de Jesus Cristo e Francisco de Assis, coloca sua vida em defesa da Vida. Bispo da Diocese de Barra, localizada no Sertão do Estado da Bahia, iniciou uma greve de fome na última segunda-feira, 26, ao meio-dia, contra o Projeto de Transposição do Rio São Francisco e a favor de uma política de convivência com o semi-árido. Frei Luis encontra-se em uma pequena capela próxima do rio e da cidade de Cabrobó, Pernambuco, região na qual o Governo pretende construir uma das tomadas de água para a transposição.
Com este gesto, pretende garantir que o Governo Federal reveja sua decisão de levar a cabo o Projeto de Transposição. No presente momento, a posição inflexível de realizar a qualquer custo esta polêmica e desastrosa obra, impede que um verdadeiro debate sobre as ações necessárias para garantir qualidade de vida e segurança hídrica ao povo do Nordeste aconteça. O bispo enviou uma carta ao Presidente Lula e uma declaração, registrada em cartório, expondo as suas razões.
Diante do desastroso Projeto governamental, pergunta-se: a quem interessa a transposição do Rio São Francisco? Certamente não é para atender às necessidades dos 12 milhões de nordestinos, objetivo tão propalado pelo marketing institucional. Qual o interesse de canalizar a água, a milhares de quilômetros, para os Estados da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará, quando os sertanejos de Pernambuco, da Bahia, de Alagoas e de Sergipe estão às margens do Rio São Francisco morrendo de sede, assim como seus animais, e sem água para irrigação de suas plantações?! A exemplo da cidade de Cabrobó, situada às margens do rio, só é abastecida com água das 19hs às 04 hs da manhã.
E, ainda, por que as obras dos projetos de perenização dos afluentes do São Francisco, como a do Canal do Moxotó, estão paradas há décadas? E os milhares de hectares no entorno do rio que não são irrigados?
Chama a atenção o fato de aproximarem-se as eleições! Questiona-se: o interesse não seria também eleitoreiro pelo fato de mexer com necessidades históricas da população carente? E o famigerado financiamento de campanha por empreiteiras a candidatos governistas?
É manifesto que este Projeto visa atender aos interesses do agro-negócio que invadiu a Região Norte e Centro Oeste e agora quer fincar suas garras no sofrido e valente Nordeste.
Considerando argumentos sociais e econômicos, se o governo Lula quisesse realmente atender as necessidades da população carente, os gastos previstos em 4,5 bilhões de reais para o Projeto de Transposição poderiam ser revertidos para a solução dos problemas de abastecimento de água da população da Bacia do São Francisco, priorizando os municípios localizados no semi-árido.
O Cimi, em defesa da vida de dom Luis, do Rio São Francisco e de 18 povos indígenas que moram no entorno da Bacia do São Francisco, solicita do Presidente Lula uma imediata suspensão do Projeto de Transposição e o início das obras de revitalização do rio São Francisco.
Recife, 30 de setembro de 2005.
Conselho Indigenista Missionário – Regional Nordeste