Carta Final do Seminário da Juventude Tupinambá
Reunidos na Aldeia Serra do Padeiro, município de Buerarema/Bahia, território dos Tupinambá de Olivença, nos dias 09 a 11 de setembro de 2005, jovens dos povos Tupinambá da Serra do Padeiro, Pataxó Hã-Hã-Hãe, Tuxá, Tumbalalá, Pataxó do Extremo sul, representantes da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo – APOINME, e ainda com as presenças das entidades Conselho Indigenista Missionário (equipes de Itabuna, Paulo Afonso e Eunapolis), Associação Nacional de Ação Indigenista da Bahia – Anaí, Fase-Bahia, Care, Pineb, Escola Agrícola Comunitária Margarida Alves, Estudantes da Universidade Federal da Bahia. Aconteceu o Seminário da Juventude Tupinambá onde discutimos assuntos ligados a nossa cultura tendo como eixo motivador à questão da terra. Através de explanações, palestras, trabalhos em grupos, oficinas e discussões em plenárias, chegamos às seguintes conclusões.
A terra é fundamental para a sobrevivência de todos os povos indígenas e o governo e os nossos inimigos vêm tratando a nossa mãe terra como moeda de negociação, precisamos nos organizar e nos fortalecer para barrar este avanço contra os nossos territórios. A nossa cultura tem que ser fortalecida e incentivada por nós jovens. Temos que conhecer melhor as nossas tradições e conversar e respeitar mais com os nossos anciões, mas exigimos também respeito e valorização por parte de nossas lideranças. Sonhamos e queremos um mundo melhor, e por isto estamos propondo e nos comprometendo em:
– Se contrapor contra todos os grande projetos que atingem as nossas aldeias, a exemplo das construções de barragens, transposição do São Francisco, plantio de eucalipto, grandes condomínios hoteleiros, minerações e outros;
– Apoiar, incentivar e participar de todas as ações que venham a concretizar a conquista e a garantia de nossas terras e a de nossos parentes. Incentivar o intercâmbio e a solidariedade;
– Apoiar e participar na criação de uma Comissão de luta por terra dos índios da Bahia;
– Denunciar e solicitar providência quanto ao processo de criminalização de nossas lutas e das nossas lideranças;
– Ajudar na concretização do Fórum dos Povos Indígenas da Bahia;
– Participar mais ativamente dos espaços do Movimento Indígena;
– Melhorar os canais de diálogo com os nossos velhos e lideranças visando fortalecer a luta;
– Investir ainda mais na nossa formação, procurando nos esforçar para participar na luta pela garantia de nossos direitos;
– Nos capacitar para que possamos intervir de forma qualificada nos espaços de discussão e construção de políticas públicas voltadas para os nossos povos;
– Criar um conselho de lideranças jovens dos índios da Bahia; para discutir e encaminhar questões ligadas a cultura, política e terra.
– Apoiamos e queremos participar da caminhada dos índios do sul da Bahia a Ilhéus, proposta feita na Assembléia da Frente de Resistência Pataxó, na aldeia Guaxuma;
– Solicitar e cobrar a inclusão da História Indígena nos currículos escolares;
– Incentivar e praticar em nossas aldeias formas tradicionais de cultivar, de celebrar, de se alimentar dando sempre preferências as nossas coisas e valorizando os nossos costumes;
– Apoiar, criar, e buscar formas de gerar nossa autonomia nas aldeias, para garantir as nossas lutas com independência.
Diante de todos os desafios que nos são impostos: drogas, desconhecimento da luta, invasão em nossas aldeias dos costumes dos brancos, desunião, desrespeito com os velhos, vamos buscar estar sempre juntos e a cada dia mais conhecer, respeitar, valorizar e fortalecer a nossa cultura e as nossas tradições, pois é ela que garantira o nosso projeto de vida e a continuidade de nossos povos. Vamos dar continuidade a este importante e rico momento que vivenciamos aqui neste pé de Serra e no ano que vem voltaremos a nos encontrar. Que até lá os nossos encantados nos protejam, nos dê força e, sobretudo muita perseverança para que possamos concretizar estes nossos sonhos.
Serra do Padeiro/Buerarema, 11 de setembro de 2005.