15/08/2005

Povo Truká realiza sua primeira Assembléia


A 1a. Assembléia do Povo Truká ocorreu entre os dias 12 e 14 de agosto e reuniu cerca de 200 delegados, que ouviram de seus anciãos e anciãs relatos de sua história e da luta pela reconquista do território. Foram lembradas especialmente as lideranças Acilon Ciriaco e Anônio Cirilo, que atuaram no início do século passado. Hoje, este povo continua lutando pela homologação de suas terras e pelo fim da criminzalizaçao de suas lideranças. Mas, com o território demarcado e sem invasores, destaca-se pela produção de alimentos – e se orgulha de ser o maior produtor de arroz do estado de Pernambuco.


 


Além de continuar em busca da conclusão do processo de demarcação de seu território, os Truká pretendem definir um projeto de distribuição e uso de suas terras, que se faz cada vez mais necessário com o aumento da população. A intenção é possibilitar “a manutenção das famílias na terra, protegendo a caatinga, a terra e o rio São Francisco”, segundo afirmam no documento final da Assembléia.


 


No encontro, foram celebrados também os avanços deste povo em relação à sua organização social, à educação e à saúde. Identificados os desafios que ainda existem, os delegados começaram a planejar formas de superá-los. Na educação escolar, por exemplo, os Truká acumulam anos de experiência em escolas com professores indígenas e currículos diferenciados. A partir da 5a. série do ensino fundamental, no entanto, os alunos precisam estudar na cidade e voltam a enfrentar preconceito, além de deixarem de estudar temas específicos da vida e da cultura indígena. A isso se junta a dificuldade de profissionalização dos indígenas e a quase impossibilidade de seguirem para a Universidade, pelos custos que isso implica. Para superar estes problemas, os participantes da Assembléia propõem a mobilização para a implantação dos cursos nas aldeias, além de uma escola agrícola, para a qualificação dos jovens para continuarem vivendo da produção de alimentos, o que contribuirá também para o uso sustentável da terra indígena.


 


Para além das discussões, a Assembléia foi espaço para manifestações culturais como o  Toré, dança ritual indígena, e para a integração entre os membros do povo Truká que, vivendo espalhados nas aldeias da Ilha, nem sempre têm oportunidade de se encontrar. Músicas e teatro também fizeram parte do encontro.”A presença, o interesse e a participação do nosso povo na Asssembléia foi o que tivemos de mais positivo”, afirma a liderança Mozeni.


 


Veja aqui o documento final da Assembléia Truká:


 


 


Documento Final


1a. Assembléia do Povo Truká


 


Sob a proteção dos encantos de luz e do nosso pai Tupã realizamos nos dias 12, 13 e 14 de agosto de 2005, na aldeia lagoa branca, a primeira assembléia interna do nosso povo, com o intuito de reunir a comunidade buscando o fortalecimento e discutindo soluções para os problemas vividos por todos. Tivemos como tema União, Paz e Desenvolvimento, em referencia aos últimos acontecimentos vividos no povo, como a perda de duas pessoas queridas da comunidade, assassinados brutalmente na aldeia por policiais militares no dia 30 de junho. Também fomos surpreendidos com a prisão injusta do cacique da área de Retomada, Aurivan dos Santos Barros, o Neguinho, perseguido por defender a causa do nosso povo na retomada de nossas terras.


            Todos esses acontecimentos tornaram necessária a realização desta assembléia para refletirmos como dar continuidade à luta.


               Inicialmente foi feito um relato histórico sobre a luta do povo Truká, onde pudemos desfrutar da sabedoria dos anciãos e anciãs falando das experiências vividas por cada um, inspirados pelos nossos antepassados Acilon Ciriáco e Antônio Cirilo. Isso foi muito importante principalmente pelo grande número de jovens participantes da assembléia.


            Entendemos que, na atual conjuntura que passa o Brasil, de uma grande crise política que desfavorece a população brasileira, especialmente nós, povos indígenas. Diante desta realidade, refletimos sobre a situação da nossa terra, os desafios que enfrentamos em relação à saúde e a educação escolar indígena, sobre a organização tradicional do nosso povo e sobre as novas formas de organização, a exemplo da OPIT – Organização de Professores Indígenas Truká, e OJIT – Organização de Jovens Indígenas Truká.


Diante disso, tiramos os seguintes encaminhamentos:


 


TERRA


Continuar a luta para garantir a homologação e definir nosso projeto de distribuição e uso da terra, defesa do território e defesa das nossas lideranças, possibilitando a manutenção das famílias na terra, protegendo a caatinga, a terra e o rio São Francisco.


 


SAÚDE


            Definir o projeto de assistência à saúde e controle social, valorizando a medicina tradicional.


 


EDUCAÇÃO


            Garantir que as escolas fortaleçam a identidade Truká, valorizando os conhecimentos dos mais velhos sobre a história, utilizando os documentos históricos, pesquisando, registrando e cuidando da cultura material.


 


JOVENS


            Garantir a participação dos jovens na luta do nosso povo através da articulação e do trabalho em conjunto com a nossa organização social, fortalecendo e discutindo a juventude e suas necessidades e fortalecendo a OJIT.


 


Para finalizar, exigimos que os assassinos de Dena e Jorge sejam presos e paguem por seus crimes. E, além disso, queremos o nosso cacique Neguinho solto para voltar a conduzir a nossa luta e o fim das perseguições a outras lideranças.


 


Assim, apesar dos sofrimentos, ameaças e tormentos, diga ao povo para avançar!


 


 


Terra do povo Truká, Ilha de Assunção, 14 de agosto de 2005 


 


 


 


 


 


 

Fonte: Cimi
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