Violência contra índios no Brasil é denunciada à ONU
O povo indígena Truká, o Conselho Indigenista Missionário e a ONG Justiça Global encaminham amanhã, 19 de julho de 2005, denúncia para diversos órgãos da ONU sobre a série de assassinatos de índios que vêm ocorrendo no Brasil. As denúncias abordam a violência contra o povo os povos Truká, Guarani e Guajajara, dos estados brasileiros de Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Maranhão. Elas serão protocoladas por Edilene Truká, que amanhã terá direito à fala durante sessões do Grupo de Trabalho da ONU sobre Povos Indígenas que está reunido em Genebra. Edilene também entregará as denuncias ao Relator da ONU sobre Execuções Sumárias, Philip Alston e à Representante Especial da ONU sobre Defensores de Direitos Humanos, Hina Jilani, que visitará o Brasil em setembro.
Em um prazo de cinco semanas, entre junho e julho de 2005, quatro indígenas foram assassinados no Brasil em decorrência de questões ligadas à luta pela terra.
No último dia 30 de junho, Adenilson dos Santos (Dena), 38 anos, e seu filho Jorge dos Santos, 17 anos, indígenas do povo Truká, que vive no município de Cabrobó, em Pernambuco, foram assassinados por Policiais Militares após festividades na terra indígena que contaram até mesmo com a Presença do Ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, e do Presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes. Em 2001 já haviam sido assassinados pela Polícia Militar os Truká José de Nô Félix e seu filho Nilson Félix. O povo Truká indicou como os responsáveis pelo assassinato de Dena e Jorge policiais militares que integram o grupo de extermínio “A Mãe Cria e nós Mata”.
No dia 11 de julho, o cacique Aurivan dos Santos, conhecido como Neguinho Truká, foi preso pela Polícia Federal enquanto prestava depoimento sobre os assassinatos de seu irmão e de seu sobrinho – Adenilson dos Santos Jorge dos Santos – mortos no dia 30 de junho. Mesmo tendo pedido para prestar depoimento na terra Truká por questões de segurança, a Polícia Federal o intimou a depor no município de Salgueiro, onde foi preso. Os Truká preocupam-se com a segurança das testemunhas das mortes porque os porque os assassinos não estão presos.
A prisão de Neguinho pela Polícia Federal e os assassinatos do seu irmão e sobrinho pela PM são conseqüências do processo de criminalização que o povo Truká passou a sofrer após as ações de retomadas das suas terras tradicionais, nos anos 90. Essa situação forçou a demarcação da terra por parte do governo federal, mas também levou as lideranças das mobilizações a serem acusadas por práticas como as de formação de quadrilha e por furtos.
Outros dois indígenas foram assassinados no Brasil em um prazo de cinco semanas. No estado do Maranhão, o cacique do povo Guajajara, João Araújo foi morto a tiros e seu filho ficou ferido após ataques do fazendeiro conhecido como Milton Careca, invasor da terra indígena e que vinha ameaçando os indígenas há meses. João Araújo tinha 70 anos e seu filho, 28.
Em Mato Grosso do Sul, Dorival Benitez, do povo Guarani, foi morto e outros cinco indígenas foram feridos. Entre eles estava uma mulher grávida. A morte ocorreu durante reação de fazendeiros a uma retomada de terras dos Guarani.