Informe n° 672
JUDICIÁRIO SUSPENDE A PORTARIA DECLARATÓRIA DE IVY KATU E DETERMINA DESPEJO CONTRA A RETOMADA DE SOMBRERITO. GUARANI KAIOWÁ REÚNEM-SE
Mais de setecentos Kaiowá Guarani vindos de aldeias de todo o Mato Grosso do Sul estão há dois dias em sua Grande Reunião, chamada Aty Guasu na língua Guarani. O primeiro dia da reunião foi um momento de ouvir os relatos dos desafios que os Kaiowá enfrentam. E não são poucos: dia 12, os indígenas receberam a notícia de que um juiz federal acatou o pedido dos fazendeiros pela reintegração de posse da terra indígena Sombrerito, que pode levar à retirada dos Guarani da terra. Parte da terra foi retomada pelos Kaiowá em 26 de junho e os fazendeiros reagiram com o assassinato de um homem indígena e o ferimento de outras cinco pessoas.
A portaria declaratória de outra terra Guarani, Yvy Katu, foi suspensa em 8 de junho por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ao suspender a portaria que havia sido publicada em 4 de julho, o ministro do STJ Edson Vidigal impede a demarcação da terra, localizada a 472 km de Campo Grande.
A declaração de Ivy Katu foi resultado de um longo processo de luta dos Guarani Kaiowá e Nhandeva, que retomaram suas terras em 2003, expulsando fazendeiros que cultivavam soja em 14 fazendas. Após ameaças de ações de despejo e de inúmeras negociações, os indígenas mantiveram-se em 3 das 14 fazendas retomadas. Antes das retomadas, um grupo de 3800 indígenas vivia nos 1.648 hectares da Reserva Porto Lindo, demarcada em 1928 pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI).
O reconhecimento das terras é reivindicado pelos Guarani em carta que divulgaram ontem: “Queremos que esse nosso grito contra a violência e pelo reconhecimento dos nossos direitos chegue às pessoas de bem em todo o Brasil e em todas as partes do mundo, pois precisamos de muita força e muitos amigos para que acabem tantos sofrimentos, mortes de crianças de fome e desnutrição e nossas lideranças sendo assassinadas. E isso só vai acontecer quando tivermos nossas terras reconhecidas para podermos nelas viver, produzir nossos alimentos e viver em paz nosso modo de viver Kaiowá Guarani”.
Face aos desafios da retomada de Sombrerito, os Kaiowá solicitam agilidade para a publicação do relatório de identificação da terra que, de acordo com a Funai, está em fase de conclusão. Pedem também que o processo para a demarcação da terra seja realizado de acordo com os prazos estabelecidos pela legislação. Em geral, os prazos são desrespeitados pela Funai e pelo Ministério da Justiça.
Os Guarani solicitam ainda que o Ministério Público Federal (MPF) e a Funai recorram da decisão judicial de expulsão dos indígenas de Sombrerito e que atuem para garantir a permanência deles na terra enquanto continua o processo identificação. E pedem que Funai e a Funasa dêem a assistência a que tem direito a comunidade de Sombrerito.
POVO GUARANI DE SANTA CATARINA LUTA POR SEGURANÇA E PELA DEMARCAÇÃO DE SUAS TERRAS
Os Guarani também travam lutas pelo reconhecimento de suas terras no estado de Santa Catarina, sul do Brasil. Três crianças foram atropeladas e gravemente feridas quando andavam pelo acostamento da BR 101. A estrada corta a terra indígena Morro dos Cavalos.
Após anos buscando solução para o problema da estrada, os Guarani propuseram a construção de túneis no trecho. No entanto, o MPF acredita que a obra, por mexer no subsolo de uma terra indígena, dependeria da regulamentação de um artigo da Constituição Federal. Só que este artigo afeta também a regulamentação de extração mineral em terras indígenas e, portanto, é polêmico e depende de interesses de mineradoras e políticos para que seja regulamentado.
Demarcação parada – A terra Morro dos Cavalos está identificada pela Fundação Nacional do Índio (Funai), mas desde 2003 aguarda a publicação da portaria que define os limites da terra e permite sua demarcação física. O processo está parado no Ministério da Justiça. “Já se passaram quase dois anos e o Ministro não assinou [a portaria declaratória], desrespeitando a Lei (Decreto 1775/96), que determina 30 dias para a assinatura”.
Parte das pressões contrárias à demarcação desta terra indígena vem de pessoas que afirmam que o reconhecimento do direito dos índios dificultaria a duplicação da BR 101. O contexto político de Santa Catarina também é desfavorável aos indígenas. O governador do estado criou em 2004 uma comissão, com concordância do Ministério da Justiça, para definir sobre demarcações no Estado. A comissão trata de um assunto que não é de competência estadual, mas federal, e tem claro objetivo de impedir as demarcações.
CACIQUE TRUKÁ É PRESO. POVO TEME POR SUA SEGURANÇA
Aurivan dos Santos, o Neguinho, cacique do povo Truká e uma das lideranças nordestinas com mais projeção nacional, foi preso na última segunda-feira (11) pela Polícia Federal de Salgueiro, Pernambuco, após depor sobre o assassinato de seu irmão e seu sobrinho, ocorridos no dia 30 de junho dentro da terra Truká, a Ilha de Assunção.
Assim, o processo judicial é conseqüência da desintrusão de suas terras, realizada pelos Truká a partir dos anos 1990. As retomadas permitiram que este povo voltasse a viver em seu território tradicional, que estava invadido por fazendeiros. Hoje, a terra é demarcada, mas diversas lideranças convivem com mandados de prisão expedidos no contexto de um processo de criminalização da luta pela terra.
Os Truká estão preocupados com a segurança de Neguinho e solicitaram a sua transferência do presídio de Salgueiro para Petrolina. \”A procuradoria da República acatou o pedido, e amanhã ele será transferido para o presídio de Petrolina, onde ele terá mais segurança, já que os Truká temem que os policiais o agridam\”, afirmou a advogada Michael Mary Nolan, que acompanha o caso. O pedido foi feito durante reunião na tarde de ontem (14) com a procuradora federal do estado de Pernambuco, Vanessa Cristina Previtera, e o procurador da Fundação Nacional do Índio (Funai), Cláudio de Souza.
Na reunião, o Ministério Público aceitou a solicitação dos indígenas para que investigue as denúncias de abusos na atuação de policiais militares de Pernambuco. Os Truká pediram também estudos do MPF sobre a possibilidade de limitar a presença da Polícia Militar na terra indígena. A proposta é que a proteção policial das ilhas Truká seja feita apenas por policiais treinados e fardados.
ARQUIVADA AÇÃO CONTRA DESAPROPRIAÇÃO DA TERRA APYTEREWA, PARÁ
Enfim, uma boa notícia. O ministro Celso de Mello, di Supremo Tribunal Federal, arquivou o pedido de suspensão do processo administrativo de demarcação da terra Apyterewa, no Pará. O pedido foi feito pelo município de São Felix do Xingu, onde fica a terra indígena.
O município argumentou a homologação da área resultaria na expulsão de milhares de agricultores, pecuaristas, colonos e moradores da região. De acordo com a assessoria do STF, a decisão do ministro contra o pedido baseia-se no Código Civil, que determina que o município não por entrar na justiça em defesa de direito alheio (de agricultores, pecuaristas, colonos, pastores, comerciantes, etc).
Brasília, 14 de julho de 2005.
Cimi – Conselho Indigenista Missionário