17/06/2005

Documento da XXIX Assembléia do Conselho Indigenista Missionário Regional Sul

Por ocasião da XXIX Assembléia do Conselho Indigenista Missionário, Regional Sul, realizada na Cidade de Porto Alegre, entre os dias 13 a 17 junho, nós, missionárias e missionários que atuamos junto aos Povos Guarani, Kaingang, Xokleng e Xetá, refletimos sobre os graves problemas enfrentados pelos povos indígenas, bem como avaliamos nossas atividades e planejamos a nossa ação junto a eles para o período de um ano.


 


O Brasil vive um momento de profunda crise. O governo federal, por estar envolto em denúncias de corrupção (em sua base aliada no Congresso Nacional), perde os referenciais de governar para bem comum. Absorvido, portanto por estas denúncias e pelos anseios da reeleição o atual governo compromete seriamente a governabilidade e abala a esperança dos brasileiros, principalmente daqueles que confiaram que se iniciaria um processo de reconstrução do Brasil e que viveríamos, no futuro, um novo tempo, mais justo e digno para todos.


 


No que se refere aos Povos Indígenas, a situação de desrespeito, violência e omissões é ainda mais grave. E não há sinais de que será discutida com seriedade uma proposta de nova política indigenista para o país. Perpetuam-se ações paliativas e pontuais nas áreas indígenas, voltadas apenas para responder às denúncias, aquelas de repercussão nacional, relativas à mortalidade infantil e ao crescente número de crianças desnutridas nas comunidades indígenas. No que diz respeito a situação das terras, estas permanecem invadidas e com os procedimentos de demarcação praticamente paralisados, resultado das pressões de políticos, empresários e das oligarquias regionais que não aceitam o direito assegurado para os Povos Indígenas à demarcação das suas terras. Para impedir o cumprimento das determinações constitucionais, estes setores articulam estratégias como, por exemplo, a política da compra de terras e as insistentes tentativas de restrição destes direitos através de projetos de emenda à Constituição Federal.


 


Sem uma política indigenista definida a Funai, a Funasa e outros órgãos federais, responsáveis por parcelas da assistência nas comunidades, tornam-se inoperantes. Além disso, não contam com recursos financeiros suficientes e com pessoas capacitadas para responder as demandas postas pela realidade indígena, bem como para atender as determinações constitucionais no que se refere a execução das ações e serviços em saúde, educação, atividades produtivas, proteção e demarcação das terras. Sem respaldo institucional do governo estes órgãos ficam fragilizados e acabam vulneráveis aos interesses políticos antiindígenas dos grupos que rondam ou estão no poder.


 


As violências e omissões praticadas contra os Povos Indígenas, somente são suportadas em função de suas lutas, de sua resistência histórica e da força que brota dos mais de 240 povos existentes em nosso país. Eles reagem quotidianamente alicerçando a vida e alimentando esperança num novo tempo. Os Guarani, por exemplo, através de seus Karaí – líderes religiosos – vêm com muita insistência e determinação reafirmando seu protagonismo na defesa da cultura, da terra e da religião. Os Kaingang vêm rompendo o cerco da opressão do Estado e buscando insistentemente retomar suas terras tradicionais saqueadas e depredadas em épocas não tão distantes. Os Xokleng fazem suas mobilizações para recuperar e se manter nas suas terras e assegurar os seus direitos. O povo Xetá resiste heroicamente, depois de massacres e remoções, apesar de contar apenas com cerca de 100 indivíduos. Estes são sinais que nos permitem acreditar e lutar por uma vida melhor e por uma “terra sem mal”, profetizada e buscada pelo Povo Guarani.


 


Alimentados na mística vivida e semeada por tantos Povos e na força mobilizadora dos movimentos sociais e populares, nós, missionárias e missionários presentes na XXIX Assembléia Regional do Cimi Sul firmamos, com toda convicção, nosso compromisso com a causa indígena, com a defesa de seus direitos e pela vida em plenitude. Acreditamos firmemente, apesar das adversidades, que é possível construirmos um mundo de fraternidade, de respeito aos direitos individuais e coletivos, de respeito às diferenças étnicas, culturais e religiosas. Acreditamos neste outro mundo possível e por ele lutaremos sempre!


 


Porto Alegre, 16 de Junho de 2005.


 

Fonte: Cimi - Regional Sul
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