16/06/2005

Carta Aberta a População

Nós, da comunidade indígena Kaiowá e Guarani de Sucuri’y, município de Maracaju, estamos vivendo em situação muito difícil, porque não resolvem a causa principal da fome, da desnutrição e das muitas mortes.


 


Essa situação se dá pela continuidade da invasão de nossa terra, já totalmente regularizada, conforme manda a Lei, estando até registrada no cartório de Maracaju e no Serviço de Patrimônio da União.


 


Grande parte de nosso grupo, de aproximadamente 150 famílias, continua disperso na beira das estradas ou em outras pequenas terras indígenas. E o grupo de 30 famílias que aqui permanecemos estamos rodeados de lavouras e cercados de arame farpado por todos os lados. Vivemos como numa prisão dentro de nossa terra.


 


Dependemos de cestas básicas, sopão e outras ajudas. Muitas famílias ficam passando fome por não terem nenhum documento de identificação, apesar das inúmeras reivindicações feitas por nós e pelo Ministério Público Federal, à Funai. As poucas ajudas de sementes e óleo diesel para plantio das roças chegam sempre fora de época.


 


Quando lutamos por alguma melhoria dentro de nossa terra, como escola indígena, posto de saúde e água encanada, sempre ouvimos a mesma resposta: esta área está em litígio. Então nos perguntamos, se os 535 hectares, totalmente regularizados como nossos, estão em litígio, como os fazendeiros continuam plantando normalmente em mais de 90% de nossa terra e nós continuamos na miséria? E mais grave ainda é que  os fazendeiros cercam nossa aldeia, usam grandes quantidades de veneno que além de ir matando a terra, contaminando os rios, prejudicam muito a nossa saúde.  Cada vez que passam veneno ele vem até nossa casa e ficamos com uma espécie de gripe, diarréia, vômitos, pneumonia e febre. Estão nos envenenando. Nossa saúde vai se acabando e nossa terra morrendo. Esta é uma situação muito triste que não pode continuar. Por isso queremos:


 


– A imediata retirada dos invasores de nossa terra. Que a Funai indenize as benfeitorias e que o pessoal saia.


– A partir de agora não aceitamos mais nenhuma pulverização a uma distância mínima de trezentos metros de nossas casas.


– A extensão da rede de energia elétrica até a aldeia para o funcionamento do poço artesiano que abastecerá nossas casas, uma vez que, a liminar expedida no dia 25 de maio último autoriza que este serviço seja feito.


– O reconhecimento da escola como escola indígena.


 


A situação de fome e miséria em que nos encontramos só será superada mediante o atendimento dessas nossas reivindicações.


 


Aldeia Sucuri`y, 14 de junho de 2005.


 

Fonte: Cimi - Regional Mato Grosso do Sul
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