Atingidos por barragem são presos para prevenir manifestações
No Dia Internacional de Luta contra as Barragens, pelos Rios e pela Água, comemorado hoje, várias ações policiais estão detendo movimentos, e lideranças populares denunciam coação contra protestos.
Em Santa Catarina, cinco agricultores atingidos pela Barragem de Campos Novos foram presos na madrugada de sábado, 12 de março, e conduzidos ao presídio da cidade. Foram detidos os agricultores Aurélio Dutra, Carlos da Silva, Dorneles Chinato, Edio Grasse e Leodato Vicente. Segundo o MAB, comenta-se na região que há uma lista maior de prisões onde constam outros agricultores, lideranças do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). A prisão foi decretada pela juíza de Campos Novos, Adriana Lisboa, a pedido do Ministério Público, visando impedir as mobilizações de hoje.
Para o advogado do MAB, Leandro Scalabrim, nem sequer existe um processo contra os atingidos: “É o primeiro caso de prisão preventiva por descumprimento de interdito proibitório que se tem notícia desde os tempos da ditadura militar, isso é inadmissível”, afirma o advogado. As famílias dos presos denunciam ainda que “a polícia militar, com espingardas em punho, invadiu nossas casas e, na presença de crianças, ameaçava prender as mulheres das lideranças, caso eles não se entregassem”.
A direção do Movimento dos Atingidos por Barragens reagiu à prisão, como sendo uma ação que busca intimidar e impedir as denúncias que o povo tem feito contra a prática das empresas construtoras, na maioria multinacionais, que negam os direitos dos atingidos, principalmente o direito de permanecer trabalhando e tirando seu sustento da terra; praticam fraudes nos relatórios ambientais e cobram, do povo, preços absurdos nas taxas de energia elétrica.
Para Gilberto Cervinski, da direção do Movimento, a ação em Campos Novas não é isolada, soma-se à presença do exército na barragem de Tucuruí, no Pará, e ao ataque pela polícia aos atingidos pela Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Jurumirim, em Rio Casca, Minas Gerais O comandante da operação Tucuruí, general Jairo César Nass, declarou ao jornal O Globo, do dia 23 de fevereiro, que “a razão da ocupação é que o serviço de inteligência militar detectou que integrantes do MAB planejavam invadir a usina e cortar a transmissão de energia”.
Em Minas Gerais, no início da noite do dia 8 de março, uma ação da Polícia Militar deixou um saldo de seis lideranças presas e 35 feridos pela violenta agressão de policiais por participarem de uma audiência pública a respeito da construção da barragem. Entre os feridos estavam seis mulheres, duas delas grávidas. Jovens e idosos também foram agredidos. A polícia não permitiu que os feridos fizessem o laudo ou registrassem queixa na delegacia do município. Assim como em Tucuruí e em Minas Gerais, além dos atos de violência, lideranças estão sofrendo ameaças de morte também no estado de Goiás.
Outros casos de violência demonstram que não basta às grandes empresas tirar a terra dos atingidos. Elas usam de todos os mecanismos para calar os que denunciam injustiças. “Não temos dúvida que estas ações são articuladas pelas empresas, com apoio de setores da justiça que procuram proteger a exploração dos grandes grupos econômicos, contra as populações atingidas, visando o controle da terra, da água e da energia em nosso País”, declarou Cervinski.