29/01/2005

FSM 2005: Lula frauda povos indígenas

Os números apresentados pelo Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, no Fórum Social Mundial, sobre as demarcações de terras indígenas foram considerados uma fraude porque “Lula procurou esconder, atrás de números, sua falta de ação e compromisso com os povos indígenas”, afirmou Jecinaldo Sateré, coordenador da COIAB – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, na entrevista coletiva concedida no final do dia de ontem. 


 


No debate sobre territorialidade e projetos de autonomia dos povos indígenas, após uma memória das importantes lutas dos povos indígenas nos diversos países do continente, foi ressaltado que apesar de importantes avanços, também houveram equívocos e erros que precisam ser avaliados e corrigidos, na definição de alianças e estratégias. Dentre os equívocos foi citado o caso do movimento indígena equatoriano no apoio à chegada ao poder do coronel Lucio Gutiérrez que “fraudou o movimento e o mesmo parece estar acontecendo no Brasil”, concluiu um dos expositores indígenas. A postura de omissão e descaso com os povos indígenas foi considerada uma traição de Lula à sua própria história, porque coloca o seu governo a serviço das elites antiindígenas. Hoje se pode dizer, como se dizia na época do milagre brasileiro, durante a ditadura militar, que o Brasil vai bem, porém vai mal para os índios e a grande maioria do povo brasileiro.


 


Carta Denúncia


 


A Carta Denúncia dos Povos Indígenas do Brasil, divulgada no Fórum Social Mundial, apresenta para a sociedade a violação dos direitos constitucionais indígenas e as violências sistemáticas a que os povos estão sendo submetidos, bem como manifestam sua decepção e indignação diante do que consideram como “continuidade do processo de colonização forçada”. Além da omissão, descaso e morosidade do governo, as lideranças indígenas alertam para a preocupante atuação do Poder Judiciário, que cada vez mais vem se colocando na defesa dos interesses dos invasores e saqueadores das terras indígenas e de seus recursos naturais. Também alertam e denunciam as inúmeras iniciativas tomadas no Congresso Nacional tendo por objetivo suprimir os direitos constitucionais indígenas.


 


A preocupação dos povos indígenas com o avanço e ousadia da frente antiindígena foi externada na fala das lideranças presentes à coletiva de imprensa. Isso em grande parte é resultado da política do governo e da impunidade.


 


A voz das ruas e das rezas


 


Apesar de não estar se reproduzindo o intenso “grito das ruas do Fórum”, os representantes da Índia, trouxeram para cá sua experiência e determinação de dar o seu recado nas ruas, através de manifestações, como uma ilha rebelde num mar de gente. Mas aos poucos, o que parece um grande mercado global vai começando a ceder espaço às mais diversas formas de manifestações políticas e culturais. Neste aspecto também as diferentes expressões religiosas vão ganhando espaço, especialmente no início e final de cada dia. Às margens do rio Guaíba os corações pulsam em ritmos e tempos diversos, mas intensos e plurais, de todas as idades e cores. É o novo sendo saudado e gestado.


 


Os debates estão em alta temperatura. Apesar de vários galpões estarem equipados com ar condicionado e ventiladores aspergindo no ambiente suaves névoas refrescantes, as contradições, exclusões e guerras produzidas pelo sistema de globalização neoliberal geram acalorados debates e ansiosas buscas de estratégias de enfrentamento e superação do atual modelo que tanto sofrimento e morte produz no mundo inteiro.


 


Porto Alegre, 29 de janeiro de 2005.


 


Egon D. Heck


Cimi Regional Mato Grosso do Sul


 

Fonte: Cimi - Regional Mato Grosso do Sul
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