Informe nº. 648
FÓRUM SOCIAL MUNDIAL DESPERTA COM CERIMÔNIA DE SAUDAÇÃO AO SOL
Ainda surgiam os primeiros raios de sol na manhã da última terça-feira (25) em Porto Alegre, quando representantes de povos indígenas de toda a América saudaram o sol na primeira atividade dentro da programação oficial do quinto Fórum Social Mundial.
O ritual, que serviu como acolhida para militantes do movimento indígena e seus apoiadores, foi realizado pelos povos Guarani, vindos de uma aldeia próxima a Porto Alegre, Mapuche, vindos do Chile, e Pataxó, vindos do sul da Bahia, e deu início aos trabalhos no Espaço de Artes e Saberes Puxirum (que em Guarani significa mutirão).
O primeiro ritual teve a condução do pajé Adolfo Verã Guarani, que pediu ao Deus Tupã força e bons fluídos para todos os participantes do quinto Fórum. Para o pajé Guarani a participação de tantas pessoas de lugares tão diferentes (com mais de 120 mil inscritos de dezenas de países de todos os continentes) em Porto Alegre, trata-se de uma boa oportunidade “para que se reconheçam os direitos dos povos Guarani de todos os países, principalmente o das nossas terras”.
O pajé e líder da Frente de Luta e Resistência Pataxó, Jitaí Pataxó, também rezou para Tupã pedindo proteção aos participantes do Fórum além de dançar e cantar o toré com outros Pataxó. Os torés cantados chamavam a atenção para os problemas enfrentados pelos índios e sua resistência histórica. “Verde e Amarelo é cor do meu Brasil. A terra dos Pataxó foi Cabral quem invadiu”, cantavam referindo-se à chegada dos colonizadores portugueses em terra brasileira comandada por Pedro Álvares Cabral, no ano de 1500.
Jitaí, que com seu povo enfrenta diariamente invasão de suas por empresas transnacionais produtoras de celulose, acredita que o Fórum possa ser utilizado “para a construção de um mundo novo, inclusive com apoio à nossa luta (Pataxó)”.
Logo após as cerimônias foram dadas as boas-vindas pelo líder dos anfitriões, o cacique Pirilo Guarani, que saudou os presentes. “Vamos lembrar dos nossos deuses para que eles iluminem nossas cabeças nesses próximos dias em nossas discussões e soluções. Para que possamos criar nossos filhos em nossas tradições. Para que possamos continuar com nossa cultura. E, principalmente, para que possamos ter as nossas terras”.
Durante a tarde as delegações participaram, juntamente com cerca de 200 mil manifestantes de outros movimentos, da marcha de abertura que percorreu as ruas do centro de Porto Alegre.
Mapuche
Além de participarem da cerimônia, os Mapuche aproveitaram para chamar a atenção para um problema semelhante aos que enfrentam seus “parentes” Pataxó — forma como os indígenas se referem a outros indígenas – da Bahia.
Também a terra indígena Mapuche sofre com a invasão de empresas transnacionais. Antonia Huentecura Llancaleo, líder indígena do povo Mapuche, que vive em Santiago, capital do Chile e faz parte da organização Mapuche Meli Wixan Mapu, trabalha pela reconquista de seus territórios.
Segundo Antônia, o Chile tem mais de um milhão de indígenas que em sua grande maioria foram expulsos de sua terra. Do total da população indígena quase metade (500 mil) vivem em Santiago de maneira muito precária. “Os indígenas vivem nos setores periféricos da cidade e ocupam os setores econômicos mais baixos da sociedade chilena”, afirma a líder Mapuche.
Na luta pela recuperação de suas terras ocorreram muitos conflitos e criminalização das lideranças indígenas. “Passaram pelas prisões chilenas aproximadamente 400 irmãos Mapuche. Hoje há cerca de 20 indígenas presos, cinco deles cumprindo condenações. Foram assassinados dois jovens, um deles em uma prisão de Santiago”, declarou Antonia. “É interessante que o mundo saiba o que acontece com o nosso povo, com nossa gente. Nosso interesse é recuperar nossa identidade, nossa cultura, nossa política. Mas isso acontece em um espaço territorial determinado, e por isso viemos aqui para difundir a situação de luta e de violação aos direitos humanos do povo Mapuche”, concluiu.
Brasília, 27 de janeiro de 2005.
Cimi – Conselho Indigenista Missionário