27/01/2005

FSM 2005: Do Porto de Lenha ao Porto Alegre

Agita-se a grande Amazônia, em vozes de múltiplos povos e nações, neste início de ano. É o IV Fórum Social da Pan-Amazônia que acaba de se realizar em Manaus, no grande encontro de águas, sonhos, corações e mentes. Um alerta, em forma de tempestade, cria temores e até faz naufragar barcos, dentre os quais de quem vinha para o Fórum.


 


Durante quatro dias em torno de sete mil pessoas da região e de outros lugares do país e mesmo outros continentes, de mais de duzentas entidades e organizações do social da Amazônia, navegaram pelo rio da solidariedade, nos vazadouros e caminhos trilhados por milhares de anos pelos povos indígenas nesta região, decisiva nos destinos do planeta. Foi mais um passo na luta pela transformação da Amazônia na Terra Sem Males sonhada por nossos ancestrais. Na carta divulgada no final do evento os participantes reafirmam que “nós que somos filhos e filhas da selva, dos campos e dos rios reafirmamos nosso compromisso de lutar para fazer da Amazônia a casa comum onde todos os povos vivam com justiça e liberdade”.


 


Os povos indígenas, além de presença e participação nos diversos eventos, sustentaram uma importante luta contra a má administração do órgão indigenista e da condução da política do governo Lula para com os povos indígenas. Na sede da Funai por eles ocupada há quase vinte dias, manifestaram sua disposição de luta, seja através de rituais, de conversações, de manifestações e do intenso trabalho de esclarecimento de suas reivindicações e busca de solidariedade. Várias delegações do Fórum estiveram levando seu apoio aos indígenas e suas lutas.


 


No documento Amazônia Indígena, os povos indígenas chamam a atenção para o alto grau de violências e impactos a que estão submetidos pelo avanço do sistema capitalista na região, com a ação das grandes multinacionais, das políticas desenvolvimentistas dos Estados nacionais e a invasão sistemática de seus territórios com o saque dos recursos naturais. Diante dessa situação reivindicam, dentre outras medidas ”que os governos ponham fim à ocupação militar, retirando as bases instaladas nos territórios indígenas, como a base Molino de Sarayacu, no Equador e a base de Uiramutã, em Roraima, Brasil”. Também pedem que “os governos dos países amazônicos não coloquem empecilhos para o livre trânsito de povos indígenas irmãos localizados nas regiões fronteiras dos Estados nacionais”. Afirma a disposição de fortalecer a solidariedade e unificar as lutas com todos aqueles que lutam, sonham e contribuem para a construção de uma sociedade onde a vida e os diferentes povos e culturas sejam respeitadas.


 


De Manaus, muitos apenas arrumaram a mochila e enfrentaram os mais de cinco mil quilômetros que separam o coração da Amazônia, o porto de lenho do encontro das águas, até o alegre porto nas margens do rio Guaíba – onde milhares de pessoas de todo o mundo estarão fazendo de Porto Alegre, mais uma vez o espaço mundial dos movimentos sociais, para um passo importante na construção do outro mundo possível e necessário, plural e já em construção.


 


Egon D. Heck


Porto Alegre, 25 de janeiro de 2005.


Cimi/Assessoria de Imprensa


 

Fonte: Cimi - Assessoria de Imprensa
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