13/01/2005

Anunciado o despejo dos índios de Nhanderu Marangatu


Com voz inalterada o locutor do noticiário de uma tv de Campo Grande anuncia que “índios que ocuparam uma parte da Fazenda Fronteira, no município de Antonio João, serão retirados hoje da área”.  Apenas mais um despejo dos índios Kaiowá Guarani no Mato Grosso do Sul?  Esse povo confinado em pequenos restos de terra, vive em sua grande maioria em situação de miséria, trabalhando como mão de obra barata nas usinas de cana de açúcar, minorando a fome graças a cestas básicas da qual estão cada vez mais dependentes para sobreviver.


 


Depois da terra do Nhanderu Marangatu ter sido fisicamente demarcada pela Funai, em outubro do ano passado, os índios começaram a retomar e plantar uma pequena porção dos mais de 9 mil hectares. Agora que a plantação de mandioca, milho, feijão, banana, cana, dentre outros já estão bem crescidos, será que Kaiowá Guarani terão que assistir mais uma vez a barbárie prevalecer com a retirada violenta das suas famílias, com uso da força policial, e as máquinas assassinas destruírem toda a plantação?


 


Diante dessa nova violência anunciada, os índios, desde a semana passada, pediram socorro a todas as pessoas de boa vontade no Brasil e no mundo, escrevendo:


 


“A gente quer avisar a polícia que daqui a gente não sai. Não sai mesmo. Que a gente não sai daqui vivo. Em vez de despejo é melhor matar a gente. A gente morre, morre pela nossa terra. Avisamos que tragam um trator, uma pá carregadeira. A gente fica esperando e eles cavam nossa sepultura. De mansinho, a gente não vai ver nosso patrício ser maltratado. A gente vai reagir. A gente não tem medo de defender nossa terra e lutar por nossa vida e pela sobrevivência dos nossos filhos”.


 


O que acontecerá nesta fronteira da violência, onde aos índios é negado sistematicamente seu direito constitucional ao pedaço de terra para que possam viver em paz e com dignidade?


 


Nos unimos aos povos indígenas, aos cidadãos deste país e a todos os que acreditam e lutam pela justiça e pela construção de um outro mundo possível, para impedir que mais uma barbárie seja perpetrada contra os Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul.


 


Campo Grande (MS), 13 de janeiro de 2005.


 


Egon Heck


Cimi Regional Mato Grosso do Sul


 

Fonte: Cimi Regional Mato Grosso do Sul
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