06/12/2004

Grande Encontro – Aty Guassu dos Guarani Kaiowa do Mato Grosso do Sul

Mais de duzentas lideranças Guarai Kaiowa, de 17 aldeias do Mato Grosso do Sul, viveram entre os dias 3 e 5, um histórico encontro – Aty Guassu,  com o objetivo de analisar a situação de vida e as violências de que estão sendo vítimas nos últimos meses. O encontro foi realizado na aldeia de Amambaí (MS).


 


A questão apresentada que mais preocupou a todos é a terra, que além das  áreas demarcadas serem pequenas e estarem totalmente devastadas, foram invadidas e tomadas pelos fazendeiros, latifundiários e projetos de colonização da região. “Hoje é impossível continuarmos vivendo sob essa violência diária, enquanto não se cumpre a Constituição que nos garante nossas terras tradicionais – os tekohá”, denunciam as lideranças. Como consequência vemos diariamente índios espancados, assassinados ou mesmo se suicidando, passando fome e vivendo em permanente estado de tensão e sobressalto. Além disso, as lideranças denunciam que vem sendo feita uma campanha de difamação e discriminação dos índios e seus aliados como nunca se viu antes.


 


No convite à Aty Guassu consta que esse é “um dos momentos tradicionais de olhar a nossa realidade, refletir sobre os problemas e decidir juntos as melhores maneiras de enfrentá-los” E ao mesmo tempo os participantes prestaram homenagens aos guerreiros e lutadores “Vamos realizar essa Aty Guassu lembrando a memória de todos os que tombaram na luta pela nossa terra. São muitos, são milhares  de pessoas que derramaram seu sangue para que nós hoje pudéssemos estar vivendo e resistindo, mesmo que seja num pequeno  pedaço de terra”.


 


As lideranças que estiveram presente enfrentaram muitas dificuldades, mas não faltou disposição e alegria para esse momento de construir união e alianças para superar a grave situação de terras e violências de todo tipo que estão enfrentando. A melhor maneira que tem de seguir de pé e confiantes é reforçando sua cultura, seus rituais, sua religião e seu modo de ser e viver Guarani. Por isso já na chegada os grupos iniciaram seus rituais, que se prolongaram durante toda a noite. O início dos trabalhos também foi com a invocação de Tupã e todos os espíritos para terem bom resultado deste importante encontro.


 


Leia o documento final da Assembléia na integra


 


Terra Indígena Amambaí – MS , 2 a 5 de dezembro de 2004


 


Nós dos povos Guarani Nhandeva e Kaiowá, realizamos mais uma Grande Assembléia, nossa Aty Guassu, com a participação de aproximadamente trezentas pessoas , entre líderes políticos (capitães), religiosos (nhanderu-caciques), movimento de mulheres, de professores, agentes de saúde e outras lideranças de vinte aldeias, terras indígenas tekohá.


Foi um momento de muitos rituais, celebrações, reflexão e busca de caminhos para conseguir os nossos direitos, principalmente nossas terras tradicionais.      


Nosso  povo está muito preocupado porque estão praticando muita violência e morte contra nós,  pois não querem aceitar nosso direito à nossas terras tradicionais. Mas também estamos animados porque está crescendo nossa união e organização, baseada na força das nossas lideranças religiosas (nhanderu-caciques) e chefes políticos (capitães), nos movimentos de mulheres, professores, agentes de saúde.


Cada Aty Guassu é um passo para nos organizar melhor, ter mais força e esperança para enfrentar todos aqueles que querem continuar dominando e oprimindo nosso povo. Povo que se encontra confinado em pedacinhos de terra.


Está sendo muito importante o trabalho da Comissão de Direitos Indígenas Guarani Kaiowá, sendo uma força muito grande na nossa organização como povo e na realização de nossos movimentos, como as Aty Guassu.


Passamos três dias e três noites em ritual e debate dos nossos problemas. Acreditamos na nossa força, com a ajuda de Tupã e todos os nossos guerreiros que tombaram, mas também precisamos da ajuda de todos os nossos amigos e daqueles que querem construir um Brasil melhor para todos.  Pedimos que dêem força e ajudem na luta pelas nossas terras.


Recebemos esclarecimentos e apoio de representantes de vários órgãos e entidades.


Destacamos a importante solidariedade que nos enviou o Deputado Estadual Pedro Kemp, renovando seu compromisso de continuar sempre nos dando todo apoio em nossas lutas.


Também achamos muito importante a presença, as informações e o apoio que os procuradores da República em Dourados, Charles Pessoa e Pedro Paulo e seu assessor Marcos Homero.


Fizemos muitos documentos para autoridades e decidimos como vamos trabalhar juntos para lutar pelos nossos direitos e ter nossas terras tradicionais de volta o quanto antes, porque a Constituição do Brasil nos garante isso.


 Temos muito sofrimento, violência e passamos até fome muitas vezes, mas isso vai acabar um dia, quando tivermos nossas terras de volta e nelas pudermos viver em paz, fazer nossos rituais, e viver a nossa vida conforme nossa organização, costumes e cultura.


Se em mais de quinhentos anos não conseguiram nos derrotar e destruir, temos a certeza de que daqui pra frente nós vamos conquistar um lugar cada vez mais importante nesse novo Brasil de muitos povos e culturas, onde tenha lugar para todos viverem com paz e justiça


 


 


Aldeia Amambai, 05 de dezembro de 2004


 


 

Fonte: Cimi - Regional Mato Grosso do Sul
Share this: