Latifundiários destroem aldeia e tentam matar indígena na Raposa Serra do Sol
O indígena macuxi Jocivaldo Constantino foi baleado na manhã desta terça-feira, 23/11, na aldeia Jawari, terra indígena Raposa Serra do Sol. A comunidade foi invadida por rizicultores, fazendeiros e índios por eles cooptados, que derrubaram e tocaram fogo nas casas, destruíram as plantações e fecharam as estradas de acesso à região.
Ás 19 horas de hoje (23) recebemos informações de que outra comunidade, chamada Homologação, foi também incendiada. Ainda há notícias sobre feridos.
A manifestação liderada por invasores da terra indígena é um recado ao ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, em visita hoje a Roraima, de que a classe latifundiária do estado não aceita a homologação de Raposa Serra do Sol e que para isso está disposta a usar de todos os recursos, inclusive a violência.
O tuxaua da comunidade Jawari, Júnio Constantino, irmão da vítima, informou ao Conselho Indígena de Roraima – CIR, que às seis horas da manhã, cerca de 40 pessoas entre eles, fazendeiros, rizicultores com jagunços e índios cooptados invadiram a comunidade atirando “para todos os lados”.
Jocivaldo foi atingido por dois tiros, um na cabeça e outro o braço. Segundo o tuxaua depois de baleado, seu irmão ainda foi espancado pelos jagunços dos fazendeiros. Os disparos, de acordo com o líder indígena, foram feitos de dentro do carro reconhecido como de propriedade do rizicultor Paulo César Quartieiro.
Constantino reconheceu entre os presentes os rizicultores Paulo Cesar (maior latifundiário da região e prefeito eleito do município de Pacaraima), Ivo Barelli e Ivalcir Centenário, além do posseiro conhecido por ‘Curica”. O grupo derrubou, com tratores, 10 casas de alvenaria e depois ateou fogo em 13 casas com cobertura de palha.
Durante a invasão, 35 pessoas, entre adultos e crianças, estavam na aldeia e às famílias não foi permitido retirar das casas objetos pessoais, alimentações ou roupas. “Derrubaram e queimaram tudo”, explicou Constantino. Em seguida foram destruídas as roças da comunidade e criações de pequeno porte de propriedade das famílias foram mortas.
Ao constatar que o indígena estava ferido e sagrando muito, o rizicultor Paulo César deu ordem para os jagunços que parassem de espancá-lo. Os mesmos agressores levaram Jocivaldo ao Posto da Funai, em São Marcos, que depois atendido no hospital de Pacaraima e conduzido a Boa Vista, onde está internado na Unidade de Trauma do Pronto Socorro da capital.
Esse e outros atos violentos praticados pelos latifundiários são conseqüências da demora do presidente da República Lula em assinar a homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol, cedendo assim a pressão de setores antiindígenas de Roraima. Desde junho deste ano, as autoridades brasileiras foram alertadas para a iminência de conflito na terra indígena, mas nada foi feito para evitá-los.
Em outubro, o Supremo Tribunal Federal suspendeu Liminares que mandavam reintegrar posse aos rizicultores. Os indígenas da comunidade Jawari estão sem alimentação, roça e roupas. Os agressores prometeram voltar para acabar com o que restou da comunidade.
23 de novembro de 2004.
CIR – Conselho Indígena de Roraima