Seminário reúne indígenas, psicólogos e missionários para discutir subjetividade
“A presença destes representantes indígenas é o que dá razão e sentido para as discussões, propostas e encaminhamentos que serão realizados”, diz o texto de preparação do Seminário. “Buscaremos principalmente escutar os representantes indígenas, estabelecer com eles um diálogo com relação aos diversos temas e construir juntos diagnósticos, análises e propostas de encaminhamentos que sejam úteis para a nossa perspectiva de compromisso concreto da Psicologia e dos psicólogos e psicólogas com os povos indígenas em nosso país.” O Seminário pretende iniciar o resgate da divida histórica que as ciências, de maneira geral, e a Psicologia, em particular, possuem com os povos indígenas no Brasil. Ele é fruto da vontade política manifestada por psicólogos brasileiros no IV Congresso Nacional de Psicologia, realizado em 2001, e é organizado pelo Conselho Federal de Psicologia e pelo Cimi. O tema é visto como um desafio para os promotores do Seminário. Estarão reunidos e dialogando indivíduos com identidades étnicas distintas, membros de culturas que diferem da sociedade não índia na forma de organizar sua visão de mundo, mas que estão em relação constante com a chamada sociedade nacional. Veja abaixo o texto da organização do Seminário sobre estes desafios e a programação do Seminário. Para os promotores deste Seminário há consciência da dimensão do desafio proposto. Somos sabedores de todas as implicações e riscos impostos pela temática Subjetividade, tratada a partir da perspectiva de indivíduos com identidades étnicas distintas, vivendo organizadamente em comunidades politicamente definidas como povos e sociologicamente comprometidos com as “responsabilidades sociais” que lhes são atribuídas nas respectivas culturas. Assim sendo, estarão dialogando distintas culturas e distintos atores representantes das mesmas: líderes espirituais, chefes políticos, professores indígenas, agentes de saúde, jovens, idosos, homens, mulheres. Cada um deles é portador de representações simbólicas com toda a implicação política que por si só já revelam ou traduzem as suas subjetividades. Além do mais, cada indígena participante é parte de uma cultura que se manifesta em sua inteireza cosmológica. Diferentemente das sociedades não índias, nas culturas indígenas não há compartimentalização, pois é vista e vivenciada como um todo: terra e territorialidade; homem, mulher e natureza; religião, mito e rito; economia, reciprocidade e autonomia… As relações sociais, portanto, se dão nestes contextos vistos externamente como de extrema complexidade, porém cotidianamente experienciado na vida dos seus membros de maneira simples e funcional. Mas sabemos também estarem estas comunidades e seus membros em relação constante com a chamada sociedade nacional. Isto lhes impõe várias demandas, desde a forma como estabelecer diálogos interculturais até a solução de problemas resultantes dos diálogos estabelecidos. É evidente que nestes “diálogos” interferem de maneira prejudicial o violento processo histórico de como o Estado Brasileiro e, antes dele, o Estado Português estabeleceram o contato e mantém suas relações atuais com os povos indígenas. É, portanto, plenamente conscientes de todos estes condicionantes que os promotores do Seminário assumem o desafio. 1. Introdução 2. Debate do tema “Subjetividade e as relações das comunidades indígenas com a sociedade nacional” Neste tema, buscaremos compreender os significados que o conceito Subjetividade tem para as comunidades indígenas, nas suas diversas culturas, e as maneiras pelas quais esta Subjetividade interage, entra em conflito, se relaciona com a sociedade nacional e seus agentes. A partir desta compreensão, poderemos definir um campo possível de contribuição da Psicologia para as comunidades e povos indígenas, do ponto de vista da saúde, dos processos educacionais, dos processos de luta ou de resgate cultural etc. Sabemos que o conceito de Subjetividade é saturado de condicionamentos sociais, históricos, ideológicos e culturais, porém buscaremos, a partir das falas dos próprios representantes indígenas, reconstruir os significados que eles próprios dão a este conceito, suas conseqüências para a vida cotidiana, na interação das comunidades com a sociedade envolvente e as perspectivas que se abrem para o exercício comprometido da Psicologia. 3. Debate do tema “Subjetividade e as relações internas nas comunidades indígenas” Neste tema, buscaremos compreender os significados que o conceito de Subjetividade tem para as comunidades indígenas no que diz respeito ao seu lugar nas relações comunitárias e sociais, ou seja, no interior da vida de cada povo indígena presente neste Seminário. A partir da escuta e do diálogo com os representantes indígenas, buscaremos construir análises com relação a vivência da Subjetividade nas diversas comunidades e culturas indígenas assim como com relação às possibilidades de contribuição da Psicologia para o fortalecimento dos processos de afirmação étnico-cultural, de resgate cultural e de reconstrução étnica. Sabemos que, neste âmbito densamente cultural, as aproximações e análises com relação à Subjetividade certamente vêem saturadas de conceitos e visões éticas, filosóficas, religiosas e culturais histórica e socialmente determinadas. Porém, como no tema anterior, buscaremos nos pautar pelas falas dos próprios representantes indígenas para reconstruirmos os diversos lugares possíveis da Subjetividade nas diversas comunidades e culturas presentes e para descobrirmos juntos as possibilidades de contribuição da Psicologia para o fortalecimento dessas mesmas comunidades e culturas e para a qualidade de vida de seus membros, a partir de seus próprios parâmetros e projetos de vida. 4 – Propostas e Encaminhamentos
O Desafio do Tema
Programa do Seminário