Conflitos sobre hidrocarbonetos no Peru
Bárbara J. Fraser *
A alta no preço internacional do petróleo está acompanhada por um renovado interesse na exploração de hidrocarbonetos na Amazônia peruana.
Na semana passada, o Presidente Alejandro Toledo celebrou a chegada do gás no mega projeto de Camisea, as primeiras indústrias em Lima que tem convertido sua infraestrutura energética para utilizar o recurso.
Ao inaugurar o projeto em 5 de agosto, Toledo disse que Camisea marcava um novo momento na história energética da nação, porque transformará um país importador em um exportador puro de hidrocarbonetos. O poço de Camisea contém aproximadamente 11 bilhões de pés cúbicos de gás e 600 milhões de pés cúbicos de líquidos de gás, os quais serão exportados. Supõe-se que existe mais gás sob outros lotes que cercam a selva sul oriental.
Segundo o governo, o projeto gerará uma economia de US$4 mil milhões durante as três próximas décadas e baixará o custo da energia doméstica em 30%.
O projeto tem sido controvertido pela erosão e outros danos que se tem gerado na rota do gasoduto subterrâneo que estende da selva até a costa. Agravando a controvérsia, a planta de fracionamento que processará os líquidos de gás tem sido construída dentro da zona de enfraquecimento da Reserva Nacional de Paracas, a única reserva nacional marinha em todo o país.
Durante a inauguração de Camisea, os líderes de três organizações indígenas se dirigiram aos convidados. Dois deles se expressaram a favor do projeto, mas reclamavam a respeito dos direitos das comunidades indígenas. Apresentaram para Toledo uma proposta para que o cânon de hidrocarbonetos, que representa ingressos de mais de US$50 milhões anuais para o departamento de Cuzco, beneficie suas comunidades.
O líder indígena Walter Kategari, da Confederação Machiguenga do Rio Urubamba, foi mais crítico. Chamou o projeto de “um acontecimento transcendental para nossa nação”, e agregou que “nosso povo tem sofrido” por causa das conseqüências ambientais e sociais do projeto. Disse que se é necessário haver um processo mais transparente e participativo para calcular os danos e indenizações para as comunidades.
Entretanto, a empresa petroleira estadunidense Oxy anunciou a iniciação da exploração petroleira no Lote 101 no norte do país, perto da fronteira com Equador, em uma região habitada pelos povos quichua e achuar.
Os achuar, do território de campo que está sobreposto pelo Lote 64, tem recusado a entrada de Oxy durante décadas, mas ultimamente novas organizações têm surgido dizendo que estão a favor da petroleira. Segundo os antigos dirigentes, a empresa está dividindo as comunidades.
Enquanto a empresa realiza “oficinas” para expor os supostos benefícios do projeto, os quichua e achuar estão avaliando suas opções. É um processo parecido ao que Camisea faz há vários anos. Sobre o processo de Camisea, Walter Kategari disse, “Temos que pensar no futuro. Quando já se haja liquidado o projeto, nos ficarão as conseqüências”.
* Correspondente da Adital no Peru