29/07/2004

Marcha pela vida e contra os planos do império

Uma rápida chuva de verão fez umedecer a terra e animar o coração da América pulsando forte neste dia 28 de julho em Quito. O sol veio em seguida e foi acompanhando a multidão que ia se concentrando na Praça El Arbolito, no centro da capital do Equador. A dor de parto e a ira indignada, acumulada em centenas de debates, depoimentos, testemunhos e conferências neste I Fórum Social das Américas, queriam seu espaço. E nada melhor que as ruas para gestar e dar guarida à Nova América possível.


Aos poucos, dezenas de pequenas marchas, como a de centenas de mulheres indígenas  que estiveram reunidas no Coliseo da Universidade Salesiana, foram agitando as principais ruas, desembocando no mar de cores que foi sendo tecido na praça. Faixas, bandeiras, cartazes e folhetos expressavam o grito pela vida e denunciavam as políticas de opressão e morte impostas pelo império norte-americano. Os gritos por uma América livre de Tratados de Livre Comércio (TLC) e Acordo de Livre Comércio das Américas (ALCA) e tantos outros planos de espoliação, extermínio, saque e dominação dos povos do continente, formaram a sinfonia da indignação. As roupas coloridas anunciavam a pluralidade resistente de Abya Yala.


Os povos estão se colocando de pé. O império se enfurece e reage. Em frente à embaixada norte-americana, dezenas de policiais armados de fuzis, bombas e granadas, executavam a ordem de defender a qualquer custo o espaço dos saqueadores. Até a rua foi interditada. Tanques e carros de guerra foram postados em lugares estratégicos para impedir a passagem da multidão em marcha. E as barreiras foram rompidas. Aos gritos de vivas à revolução e heróis da resistência e construção de uma América para todos os povos, e fora os traidores e os que roubam a nação, a multidão irrompeu em gritos e alegria, antecipando a festa que haverá de vir a brotar em cada coração do povo libertado. Alguns vidros de bancos foram quebrados e bombas de gás lançadas contra os marchantes.


Foi um dos grandes momentos desse I Fórum Social das Américas. Certamente muitos outros frutos virão e farão o império ir perdendo o chão nessa América insurgente, ainda na paixão, mas em pé, com sonhos e esperança.


Uma das grandes desgraças que vem afetando diversos países dentro da geopolítica de dominação e saque dos recursos naturais, é a invasão e expansão da voracidade das mineradoras. No seminário sobre o tema, os participantes denunciaram as estratégias diabólicas utilizadas pelas grandes multinacionais da extração mineral, suas práticas de divisão, cooptação e destruição. Tudo isso marcado por um discurso cínico e hipócrita de auto-sustentabilidade, de preservação ambiental e desenvolvimento social. Diante disso ficou decidido pressionar-se os governos para impedir que o saque e a destruição continuem. Para isso será fundamental continuar ampliando a rede em todos os países para que se possa efetivamente pôr fim a essa exploração neocolonial.


Uma outra América é possível, plural, justa e solidária, com os povos em pé e a vida partilhada.


Quito, 28 de julho de 2004.

Egon D. Heck

Fonte: Cimi
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