28/07/2004

Informe n.º 4 – Outra América é possível, pois Abya Yala já existiu!

Rodeado de montanhas e montes sagrados, um ainda fumegante, outro coberto de neve, testemunhas altaneiras de corações pulsantes há milhares de anos, todos apontam para o alto unindo-se aos gritos plurais de que “Outra América é Possível”.


Conforme Boaventura de Souza Santos, “Quito nestes dias está sendo uma cidade onde se reúnem muitas energias contra a globalização neoliberal”. Pois se não conseguiram nos roubar os sonhos também não conseguirão tirar nossa esperança.


Essa nova América já começa a existir em todas as revoltas nas ruas ou no silencioso transformar de corações e estruturas no dia a dia das aldeias às grandes metrópoles. Ela nasce como a semente verdadeira, insurgente, não transgênica, mas carregada da vida de milhares de vidas passadas e futuras. Ela nasce em cada grito contra o império da morte e de seus tiranos seguidores, em frente a Estados falidos e submissos dançando ao ritmo das multinacionais. Ela nasce em cada gesto de respeito à diversidade, de amor e solidariedade com os que resistem, os que lutam, os que estão encarcerados e os que derramam seu sangue diariamente. Ela nasce do combate incansável nas selvas de milhões de árvores e pedras, nas ruas vigiadas pelo medo, nos caminhos para o novo que se faz andando.


Conforme Boaventura, “precisamos radicalizar a democracia, pois quando a tivermos democratizada teremos o socialismo, que é a democracia sem fim”. Para tanto precisamos desaprender a democracia que temos hoje em nossos países na América latina. Pois conforme Boaventura, não existe democracia sem redistribuição de renda, não existe redistribuição de renda sem a interculturalidade e não existe interculturalidade sem a institucionalização de uma nova ordem democrática… Por isso é preciso manter a indignação, a revolta nas ruas, pois só assim estaremos sendo sujeitos desta nova democracia, recusando-nos a ser objetos.


Para Aníbal Quijano, a América latina está diante de um fato muito grave que terá que ser aprofundado e que não mais pode ser ignorado: é a falência total do atual modelo dos Estados Nacionais. O fracasso do Estado Nação nos remete ao desafio de pensar novos modelos de exercício do poder, que a seu ver vem de uma nova ordem baseada no poder das comunidades. Além disso, existem as propostas dos povos indígenas dos estados plurinacionais, bem como a nova conformação de organização, como propõem os Aymara, a partir da reconstituição de sua territorialidade, que está cinco países.


Os povos das Américas estão se colocando de pé, e isso certamente irá possibilitar a construção dessa nova América, plural e democraticamente popular. E para o sociólogo cubano Roberto Regalado, a superação dessa ordem democrática capitalista só será possível através de um rompimento que certamente não poderá ser apenas de forma espontânea dentro dos atuais modelos, pois implicará em ruptura revolucionária. Por isso existe no continente uma luta por democracia socialista.


O Fórum Social, em suas inúmeras formas desde os locais até o mundial, certamente será um desses instrumentos de superação da atual ordem capitalista neoliberal.


Conforme Chico Witaker, no painel de abertura, a diversidade é o princípio de base sobre o qual se assentam os Fóruns, bem como do mundo novo que queremos construir. “A riqueza do mundo novo é a riqueza da diversidade”, disse Chico. Caracterizou a amplitude da abrangência dessa diversidade, que passa pela diversidade cultural, multiplicidade de povos inclusive presentes neste fórum, na diversidade de opção, que implica a capacidade de aceitar as divergências e a diversidade de ritmos, onde como dizia o comandante Marcos “a vanguarda deve ser aquela que caminha com aqueles que caminham mais devagar”.


Vivas aos povos da resistência, ao bravo povo cubano que está celebrando os 51 anos da tomada do quartel de Moncada, início da revolução. Foram feitas inúmeras e emocionantes manifestações de solidariedade e esperança.


Foi arrebatador o entusiasmo e gritos ao embalo do canto em memória ao grande símbolo da construção de uma nova América, a bravura e a ternura de Che.


Quito, 27 de julho de 2004.


Egon D. Heck
Cimi Norte 1


 

Fonte: Cimi
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