Mais de cinco mil abrem evento em Quito
Quito (Equador) – Até o próximo dia 30 a cidade de Quito será a capital da diversidade cultural e social das Américas. Na manhã de domingo, 25, encerrou-se o II Encontro Continental dos Povos Indígenas de Abya Yala (que na língua dos Kuna, do Panamá, compreende o continente americano) e à tarde mais de cinco pessoas participaram da abertura oficial do I Fórum Social das Américas, na Plaza San Francisco, no centro histórico da cidade.
Na tarde ensolarada de Quito, as cores das bandeiras e dos trajes dos povos das montanhas andinas pintavam o quadro da diversidade que marcará os debates nas conferências, oficinas e tantos outros eventos a serem realizados nos próximos dias. Do Brasil participam delegações de ambientalistas, de mulheres, afrodescendentes, povos indígenas, jovens e outros representantes dos segmentos organizados da sociedade.
Domingo, pela manhã, no Centro Educativo Miguel de Hierro, mais de 700 indígenas encerravam o segundo Encontro Continental dos Povos e Nacionalidades Indígenas de Abya Yala marcando posição contra a política do governo dos Estados Unidos de intervenção com instalação de bases militares em vários países e pela imposição de programas como o Plano Puebla-Panamá e a Área de Livre Comércio das Américas – Alca.
Para as lideranças indígenas, os tratados de livre comércio (TLC) constituem ameaças para seus povos. “Em meu país, os militares americanos estão dando suporte para o governo e para os grupos paramilitares de extrema direita, cuja ação tem provocado o deslocamento de comunidades inteiras, favorecendo os próprios grupos que acabam se apossando da terra”, disse um líder indígena da Colômbia.
Além da intervenção americana, os indígenas enfrentam conflitos com grandes companhias petrolíferas, mineradoras, latifundiários e outros grupos econômicos que, apoiados pelos governos, avançam sobre os territórios indígenas sem respeitar as leis que garantem aos indígenas o direito a seus territórios. Em meios a esse debate veio à tona a questão da terra indígena Raposa Serra do Sol, no Estado de Roraima, no Brasil, onde os conflitos com rizicultores e outros grupos políticos e econômicos aumentaram nos últimos meses em razão da demora na assinatura do decreto homologatório pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva. Foi aprovado pelos participantes o envio de um documento ao presidente brasileiro pedindo a imediata regularização das terras, em especial Raposa Serra do Sol.
Também foi marcante no final do evento a participação de Adolfo Pérez Esquivel – Premio Nobel da Paz -, e de delegações venezuelanas que conseguiram arrancar aplausos e apoio ao presidente Hugo Chávez Frias. Para os dirigentes populares participantes do Encontro e do Fórum Social da Américas, Hugo Chávez representa a resistência contra os projetos intervencionistas do governo estadunidense para as Américas.
Os quatro dias de debate em torno de dez grandes temas produziram um documento que será enviado aos governos dos diversos países do continente americano com a finalidade de se estabelecer bases para a criação de estados plurinacionais, onde os povos indígenas sejam reconhecidos e tenham ampla participação nos diversos organismos e instâncias de decisão.
Quito, Equador, 27 de julho de 2004.