Ministro da Justiça e Presidente da Funai comemoram redução da T.I. Baú
Como não bastasse ter no ano passado determinado a redução dos limites da T.I. Baú (PA), cedendo às pressões dos invasores, o Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos participou, no Pará, das comemorações pela redução da Terra Indígena. O evento, divulgado na noite de 15 de julho, em reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo, contou também com a participação do antropólogo Mércio Gomes, presidente da Fundação Nacional do Índio – Funai.
Em outubro do ano passado o Ministro já havia causado surpresa e indignação ao ceder às intimidações dos invasores da área, que durante dias haviam submetido a comunidade Kayapó e os técnicos da Funai que realizavam os trabalhos de demarcação da terra indígena, a um clima de terror, onde não faltaram ameaças e até mesmo supressão de seus direitos constitucionais de ir e vir, fatos esses amplamente divulgados pela imprensa: “Fazendeiros tentam barrar demarcação no Pará” (O Estado de São Paulo – SP, 08.09.03, p. A-7); “Demarcação de terra gera tensão. Rodovia Santarém-Cuiabá foi fechada, comércio da cidade de Novo Progresso parou e homens armados ameaçaram retirar à bala técnicos da Funai.” (Jornal do Commércio, Recife/PE, 18.09.03, pág. Brasil – 06); “Protesto armado contra índios” (Estado de Minas, BH/MG, pág. Brasil – 11); “Tensão no Pará – Confronto Iminente em terra Indígena” (Correio Braziliense, Brasília – DF, 18.09.03).
A chamada “Terra do Meio”, região onde se localiza a T.I. Baú, vem sendo objeto de várias denúncias como pólo de exploração madeireira e pecuária, inclusive para exportação, sustentado às custas de trabalho escravo. Segundo a Folha On Line de ontem, 19 de julho, na última quinta-feira 15, cerca de 70 trabalhadores haviam sido resgatados de uma fazenda na região, que estava sendo desmatada para fins de formação de pastagem e criação de gado.
Relatório do Greenpeace intitulado “Pará, Estado de Conflito” informa com relação a “Terra do Meio” que “madeireiros e fazendeiros ilegais se tornaram a única força econômica significativa na região e muitos habitantes locais se tornaram dependentes dessas indústrias, lutando junto com eles contra o governo”. As pressões pela redução da T.I. Baú vieram, exatamente, neste contexto de violação de direitos humanos, de ilegalidade e de depredação ambiental.
Sucumbindo às pressões o Ministro revogou a Portaria Declaratória n.° 645/91, substituindo-a pela de n.° 1.487, de 8.10.2003, na qual exclui dos limites da terra a ser demarcada 306 mil e 540 ha, cuja ocupação é comprovadamente tradicional indígena.
O precedente negativo representado pela medida logo gerou, nos jornais, manchetes do tipo: “Ficou mais fácil: Ministério da Justiça reduz área indígena no Pará” (Rondôniaagora.com – Porto Velho, 14.10.03) “Terra indígena é reduzida no Pará e decisão é exemplo para Roraima” (Folha de Boa Vista – RR, 24.11.03, p. 3); ”Outra área pode ser reduzida no PA” (Folha de São Paulo, SP – 17.10.03: “Depois de reduzir a Terra Indígena Baú, o Governo Federal vai receber pedido de fazendeiros e parlamentares petistas para rever os limites de outra área indígena, a Cachoeira Seca, em Uruará – PA…”).
A situação levou o Ministério Público Federal a ajuizar, perante a Seção Judiciária Federal em Brasília – DF, a Ação Civil Pública n.° 2004.34.00.011776-6 contra a União e a Funai, apontando a ilegalidade da redução da terra indígena e a obrigação de que seja demarcada conforme os limites tradicionalmente ocupados, como manda a Constituição Federal.
Agora, o Ministro da Justiça e o presidente do órgão indigenista oficial viajaram ao local e participaram, pessoalmente, dos festejos pela redução da T.I. Neste mesmo dia o “site” da Funai na Internet anunciou: “Brasil mostra ao mundo sua política indigenista”.
Conforme o “site” o presidente da Funai deverá estar participando, nestes dias 18 a 23, em Genebra, Suíça, da 22ª Sessão do Grupo de Trabalho sobre Populações Indígenas, que tem como temática “Povos indígenas e a resolução de conflitos”.
Segue a matéria dizendo que “a política indigenista brasileira está chamando a atenção de outros países”, e que, segundo Mércio Gomes, “é o momento de inserirmos com mais ênfase a política indigenista brasileira no cenário internacional”.
O Conselho Indigenista Missionário vem externar sua indignação com mais este episódio deplorável, que exemplifica a triste opção do governo Lula por uma política indigenista calcada no progressivo esmagamento dos direitos dos povos indígenas em benefício de uma relação utilitária com interesses políticos e econômicos, que além do mais sempre se locupletaram imoral e ilicitamente das terras indígenas e de seus recursos naturais. Um mau exemplo a ser mostrado ao mundo.
Brasília – DF, 20 de julho de 2004.
Cimi – Conselho Indigenista Missionário