Emergentes? Ressurgidos? Não, RESISTENTES
Nos últimos 30 anos, vem (re) aparecendo no cenário sociopolítico nacional a identidade de vários povos indígenas, os quais, por muito tempo, foram tidos como desconhecidos ou considerados extintos pelos registros oficiais do Estado brasileiro.
Até a Constituição de 1988, alguns povos indígenas tinham que usar de vários mecanismos de resistência, como ocultar e até mesmo negar sua identidade étnica como um meio de proteção para continuar sobrevivendo. Acredita-se que essa tática tenha sido a principal e mais eficiente “arma” na luta contra o etnocídio proposto por políticas integracionistas. Fingindo não ser mais índio, o indivíduo pertencente a uma determinada etnia conseguia preservar sua integridade física, pois dessa forma deixava de ser perseguido pelo poder estatal que passava a considerá-lo como “integrado” à comunhão nacional, um “aculturado”. E foi assim que os povos “ressurgidos”/resistentes passaram desapercebidos, até para os olhos mais atentos, chegando a ser considerados como extintos.
Embora esse fenômeno aconteça em todo Brasil, é nas regiões Norte e Nordeste onde o retorno desses povos indígenas ao cenário de luta é maior e com particularidades muito especiais, impondo à antropologia brasileira o desafio de construir um objeto próprio com abordagem etnológica totalmente diferenciada dos estudos.
O termo utilizado por antropólogos e indigenistas para classificar este fenômeno é “povos emergentes”. Mesmo sendo um termo generalizado nos meios acadêmico e indigenista, o Cimi usou a designação “povos ressurgidos”, por reconhecer o status e o espaço político que esses “novos” sujeitos históricos ocupam na atual conjuntura das lutas indigenistas, pela participação ativa no movimento indígena, na busca de conquistar o reconhecimento de direito, entretanto, no I Encontro Nacional dos Povos em Luta pelo Reconhecimento Étnico e Territorial, realizado em maio, de 2003, os povos indígenas que participaram, disseram que, não são nem emergentes e nem ressurgidos, e sim povos RESISTENTES, ressaltando que, eles como os outros povos, resistiram ao etnocídio e a todas as formas de agressão nestes 503 anos de repressão e desrespeito aos seus direitos. “A nossa presença vem sendo reafirmada a cada dia, principalmente por nossa capacidade de resistir a toda sorte de agressões e massacres impostos pelo Estado brasileiro ao longo de mais de 500 anos”, trecho do documento final do encontro realizado no ano passado.
Hoje são centenas de povos que lutam para retornarem a sua vida cultural, ou melhor, para externarem o que antes tinha que ser ocultado. De norte a sul do Brasil etnias se auto-afirmam, discutem e socializam dificuldades e conquistas para ter seus direitos respeitados e assegurados.
O I Encontro Nacional dos Povos em Luta pelo Reconhecimento Étnico e Territorial foi um inédito e grande momento de socialização e discussão acerca das problemáticas enfrentadas hoje por estes povos.