CNBB solidária aos Povos Indígenas
por Dom Geraldo Majella Agnelo |
Há mais de um ano a presidência da CNBB vem acompanhando de perto as tensões em torno da homologação da área Raposa/Serra do Sol. No final do mês de fevereiro, como gesto de solidariedade à igreja local e em conformidade com nossa missão, pastoral de apoio à Amazônia, visitamos o Estado de Roraima para ter um contato direto e pessoal com a sua realidade. Estamos convencidos de que se trata de uma região de grandes potencialidades, especialmente por sua sóciobiodiversidade; sem dúvida, uma região de grande futuro, pois contém uma riqueza cultural e étnica da maior relevância. Lá estão muitos povos indígenas, representando parcela expressiva da população, que vivem um dos processos organizativos mais ativos e consistentes da luta e da coerência indígena. Exatamente junto a esses povos se desenvolveu uma das mais belas páginas da ação missionária da Igreja Católica, após o Concílio Vaticano 2º e a criação do Conselho Indigenista Missionário, Cimi. Por se colocar decididamente ao lado dos povos indígenas em suas lutas por seus direitos constitucionais, missionários e missionárias deram sua vida, sofreram e estão sofrendo violências, calúnias e ameaças. A CNBB sempre acompanhou de perto e com particular atenção a igreja que está em Roraima e toda sorte de ataques e violências que tem sofrido nesses últimos anos. Quando, na década de 80, os missionários da missão Catrimani foram caluniados e expulsos, prontamente a CNBB se deslocou para lá a fim de levar sua solidariedade. Agora, após mais uma afronta e agressão aos missionários, seqüestrados e ameaçados, com danificação material do prédio da missão, não poderíamos deixar de, com o mesmo espírito solidário, apoiar a corajosa e coerente ação dos nossos missionários. Fomos a Roraima para dizer que os bispos da Igreja Católica no Brasil, por meio de sua presidência, estão solidários à igreja local, ao seu bispo, dom Apparecido José Dias, aos missionários e missionárias, especialmente os que atuam com os povos indígenas. Eles são um testemunho evangélico de compromisso com a causa dos povos indígenas, e uma voz profética diante de uma realidade tão hostil e agressiva aos índios e aos que os defendem. Queremos aqui também manifestar nossa solidariedade para com todos os povos indígenas, em especial pelas vítimas de violências e agressões. Cremos na justiça de Deus, que julgará cada um pelas suas obras. Não poderíamos deixar de nos manifestar, neste momento importante da história do nosso país, sobre a aspiração e o direito mais importante dos povos indígenas do Estado de Roraima: trata-se da justa e constitucional homologação, em forma contínua e sem ressalvas, da área indígena Raposa/Serra do Sol, conforme a portaria 820/98. Isto dará a garantia dos poderes constituídos do Brasil para um futuro de paz e vida digna aos mais de 15 mil indígenas que ali vivem. De fato, será a consolidação de uma luta de 30 anos dos índios, para a qual sempre puderam contar com o apoio solidário dos missionários e missionárias. Esperamos que brevemente Roraima possa, com justo orgulho, ser o Estado brasileiro com maior proporção de território indígena. Desejamos ardentemente que as demais questões de terras indígenas em todo o país sejam resolvidas em breve tempo, para que o Brasil possa ter a honra de consolidar sua democracia dentro da pluralidade étnica e cultural que o caracteriza. Finalmente, desejamos encorajar toda a igreja presente em Roraima, para que tenha esperança e confiança na providência de Deus e, com ânimo renovado e vigor profético, continue a construir o Reino de Deus nesta Região – reino de amor, de justiça e de paz. Que a campanha “Nós Existimos”, produza os frutos que se propõe: construir uma sociedade solidária, de irmãos, onde reinem, acima de tudo, o amor e a fraternidade. Geraldo Majella Agnelo, 70, doutor em teologia com especialização em liturgia, cardeal-arcebispo de Salvador (BA) e primaz do Brasil, é o presidente da CNBB. |