III Fórum Social Pan-Amazônico
Um novo rumo para outra América possível
Os venezuelanos consideram Ciudad Guayana a porta de entrada para a Amazônia. Distante de Caracas, capital da Venezuela, cerca de 400 quilômetros, com mais de 850 mil habitantes, 200 mil trabalhadores diretos nas indústrias de ferro, alumínio, bauxita, madeira e outras – e um cenário de deslumbrante beleza -, entre os dias 5 e 8 de fevereiro foi o local onde se desenrolou o III Fórum Social Pan- Amazônico, reunindo mais de três mil representantes de movimentos sociais, populares e ambientais do Brasil, Venezuela, Equador, Guiana Francesa, Colômbia, Peru e Bolívia.
Esta terceira edição do Fórum Social Pan-Amazônico foi marcada por desencontros e falta de organização. Isto, porém, nem de longe impediu os participantes de conhecer um pouco da realidade que os cercava – a realidade de um país em ebulição, parte de uma América Latina que quer ver-se livre das imposições das grandes potências – notadamente dos Estados Unidos, seja pelas manifestações contra a Alca – Área de Livre Comércio das Américas, ou pela experiência de luta contra uma tentativa de desestabilizar o governo daquele país.
Marcado para começar no dia 4 de fevereiro, o evento efetivamente iniciou na manhã do dia seguinte, com uma concentração na Plaza Del Hierro, no centro de Puerto Ordaz, de onde os participantes partiram caminhando até a localidade de Cerro el Gallo, em San Falix – um lugar histórico de Ciudad Guayana. Ali estão fincadas várias cruzes para lembrar os combatentes mortos na batalha para tomar a cidade dos espanhóis. Sob comando do general Carlo Manoel Piar, em 1811 as tropas espanholas foram rechaçadas. Novo rumo
Antes de Hugo Chávez, o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, pediu permissão ao presidente venezuelano para chamá-lo de "nosso comandante", numa referência ao papel de Chávez na resistência contra "o imperialismo norte- americano".
O presidente da Venezuela, em várias passagens de seu pronunciamento, destacou a importância do III Fórum. Segundo ele, o evento "é um espaço de integração para os povos da pan-Amazônia, ao contrário da cúpula das Américas, onde se reúnem os chefes de Estado e das grandes corporações, para traçar os destinos de várias nações sem consulta a esses povos". Ausência indígena
Outro grupo se aproximou do local. Dois homens e duas mulheres também misturaram-se aos participantes. Eram do povo Warao Uno, originários da região do Delta Amacuro, onde o rio Orinoco desemboca no Atlântico. Quando iniciou a conferência "Los pueblos de la Selva contra los Dueños Del Mundo", eles foram levados para a integrar a plenária. Na verdade, conforme diriam depois, eles estavam em busca de "ajuda" para conseguir transporte até sua região, onde só se chega por via fluvial.
Entre mais de dez conferencistas, apenas um indígena. Jonilson Makuxi, de Roraima, foi o primeiro a se pronunciar. Em sua exposição ele falou das lutas dos povos da terra Indígena Raposa Serra do Sol para conseguir a homologação. Relatou os conflitos recentes e a expectativa em torno da lentidão do governo federal e as conseqüências.
Sem nenhuma justificativa, o representante dos índios do Pará, Kabá Munduruku, não foi chamado para integrar aquela mesa. Ele estava acompanhado por outros três Tembé, também do Pará. "É uma pena que este Fórum esteja assim. O último, em Belém, teve participação de mais de 200 indígenas do Brasil e de outros países", observou Kabá Munduruku.
Em Manaus
Por decisão do Conselho Internacional do Fórum Social Pan- Amazônico, Manaus, a capital do Amazonas, no Brasil, sediará o IV Fórum Social Pan Amazônico em 2005. A organização, num primeiro momento, ficará a cargo do Grupo de Trabalho Amazônico – GTA e da Central Única dos Trabalhadores – CUT. – Nos arredores do Sintraeléctrico (sindicato dos eletrecitários de Ciudad Guayana), onde foram realizadas várias conferências e oficinas nos dias em que se desenrolou o III Fórum Social Pan-Amazônico, indígenas Caicara misturavam-se aos participantes, não como convidados ou membros de delegações da Venezuela, mas para vender artesanato. – "A frase perder o norte tem um significado ideológico com finalidade de alienar o povo em favor do modelo dominante. Há muitos outros rumos e, para os latino americanos, não é o norte, é o sul", enfatizou o presidente da Venzuela, Hugo Chávez, em seu dicurso na abertura do III Fórum Social Pan- Amazônico. Por volta das 16 horas do dia 5, juntaram-se aos participantes da marcha, estudantes, trabalhadores, curiosos e muitos outros populares, somando mais de 10 mil pessoas.
J. Rosha – Repórter