• 17/03/2011

    Manifesto de pescadores e pescadoras do rio Xingu!

    Manifesto de pescadores e pescadoras do rio Xingu!

    Nós pescadores e pescadoras dos municípios de Altamira, Brasil Novo, Gurupá, Medicilandia, senador José Porfírio, Vitoria do Xingu e Porto-de-Moz, no Pará, aliados com os movimentos sociais: MAB,  Consulta Popular, Prelazia do Xingu, Cimi, CPT e apoiados por Andes/SN, Fase/FUNDO DEMA, Terra de direitos, ABEEF, CJP, FAOR, FEAB, MXVPS, ficamos quatro dias pescando nas águas do rio Xingu, no período final do Defeso (época em que algumas espécies de peixes não podem ser capturadas, por estarem em seu período de reprodução). Fizemos isso para denunciar a incoerência de uma agência do governo, o IBAMA, que estabelece o período de defeso para proteger algumas espécies de peixes, ao mesmo tempo em que concede licença para uma obra que vai destruir 90% de toda as espécies de peixes da volta Grande do rio Xingu, e comprometer desta forma o nosso modo de vida e de outras populações que dependem do rio, incluindo as cidades de onde viemos.

    O resultado da pescaria foi apresentado à população no último dia 14 de março, Dia Internacional de Luta Contra as Barragens, no cais de Altamira, quando mais de cem barcos e 250 pescadores capturamos 5 toneladas de peixes e compartilhamos com o povo altamirense parte deste peixe em um grande almoço coletivo com muito peixe assado na brasa e caldeirada. O restante do peixe foi entregue para algumas entidades assistenciais e distribuído a população ali mesmo no cais.

    Fizemos isso para denunciar o crime que este governo quer cometer contra o rio Xingu em parceria com as empresas que compõem o Consórcio Norte Energia e com aquelas que já assinaram contrato com as mesmas para fornecimento de equipamentos para este empreendimento e financiadas pelo BNDES.

    Exigimos do governo:

    ·         Que suspenda imediatamente a execução desta obra

    ·         A criação de um Fundo destinado a Bacia do rio Xingu que garanta apoio a atividade pesqueira e proteção deste rio.

    ·         Apuração rigorosa das responsabilidades da Superintendência de Pesca do Estado do Pará e DRT/PA, sobre as denuncias de desvio de recursos do seguro defeso;

    Anunciamos ainda que não permitiremos que esta barragem seja construída e empunharemos nossos remos novamente para lutar contra este projeto de morte.

    Movimento dos Pescadores e Pescadoras do rio Xingu

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  • 17/03/2011

    Em Dourados, indígenas assinam TAC para regularização de plantio em terra indígena

    31 agricultores já assinaram o acordo. A área fiscalizada soma 568 hectares

     

    O Ministério Público Federal (MPF) em Mato Grosso do Sul firmou um acordo com os indígenas das aldeias Bororó e Jaguapiru, em Dourados, para acabar com o plantio de soja transgênica e o arrendamento de terras na Reserva Indígena. O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) foi assinado por 31 indígenas, totalizando 568 hectares regularizados. As áreas de lavoura e os responsáveis pelo cultivo foram identificados em inspeção realizada pelo MPF em janeiro deste ano.

     

    No acordo, os indígenas afirmam não arrendar terras e assumem a responsabilidade de comprovar as condições financeiras para o plantio, colheita e comercialização dos produtos. Para tanto, os agricultores devem apresentar documentos que comprovem as operações de venda após cada safra e, ainda, comunicar ao MPF a área e a cultura a ser plantada, com antecedência mínima de 30 dias.

     

    A fiscalização do cumprimento das cláusulas do TAC será feita pelo Ministério Público Federal. A quebra do acordo acarretará em sanções penais, cíveis e administrativas. As lavouras onde for comprovado o arrendamento irregular ou cujos responsáveis se recusarem a assinar o TAC poderão ser destruídas, mediante ordem judicial.

     

    Plantação de soja

     

    No termo, os indígenas também se comprometem a não plantar sementes transgênicas a partir da próxima safra (2011/2012) e a sempre buscar autorização da Fundação Nacional do Índio (Funai) para suas plantações. Além disso, o cultivo deve ser acompanhado de receituário agronômico e obedecer o vazio sanitário, que consiste na eliminação de todas as plantas de soja entre 1º de julho e 30 de setembro, para evitar que o fungo causador da ferrugem da soja se multiplique durante o final da entressafra.

     

    Os agricultores deverão, ainda, observar os parâmetros sanitários e ambientais definidos pela legislação brasileira, inclusive quanto ao recolhimento de embalagens de agrotóxicos e produtos químicos.

     

    Histórico

     

    O Ministério Público Federal trabalha com o ajustamento do TAC desde janeiro de 2011, quando realizou medições das terras agricultáveis na Reserva Indígena de Dourados para identificar as áreas de lavoura e os responsáveis pelo cultivo.

     

    O Termo originou de ação civil pública ajuizada pelo MPF na Justiça Federal de Dourados em outubro de 2009. Segundo investigações, de 1996 a 2008, 400 dos 1,2 mil hectares da área cultivável da reserva indígena tinham sido arrendados. Pelo uso das terras, produtores pagavam valores irrisórios aos índios. Em alguns casos, os indígenas receberiam cem reais por alqueire; em outros, o pagamento seria feito por colheita, cerca de dois mil reais por safra. Há casos, ainda, em que o pagamento pelo uso de sete hectares de terra seria de três mil reais ao ano.

     

    Referência processual na Justiça Federal de Dourados: 2007.60.02.001515-4 (denúncia criminal)

     

    Assessoria de Comunicação Social

    Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul

    (67) 3312-7265/ 9297-1903

    (67) 3312-7283/ 9142-3976

    www.prms.mpf.gov.br

    ascom@prms.mpf.gov.br

    www.twitter.com/mpf_ms

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  • 17/03/2011

    Indígenas de Roraima publicam manifesto contra o tráfico de pessoas no estado

    Em carta aberta, a turma GH1 do curso de Licenciatura Intercultural do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), manifesta seu apoio na luta contra o tráfico de seres humanos na região. De acordo com o documento/denúncia, diversas meninas indígenas têm sido aliciadas e barbaramente exploradas sexualmente no estado.

    Não podemos nos omitir diante dos levantamentos que apontam Roraima como rota internacional do Tráfico, onde a população indígena aparece com maior vulnerabilidade! Somos educadores e iremos agir fazendo diversas atividades para mobilizar as populações indígenas para essa realidade”, afirmam na carta.

    Eles encerram o documento, afirmando que lutarão por suas crianças, jovens e mulheres.

    Confira carta na íntegra:

    Carta aberta da turma Gh1, Instituto Insikiran: “União dos povos indígenas contra o tráfico de seres humanos em Roraima”

    Nós alunos do curso de Licenciatura Intercultural do Instituto Insikiran (UFRR), turma GH1, pertencentes aos povos Macuxi, Wapichana e Ingaricó, entendemos que o tráfico humano é uma questão grave, que tem acontecido em Roraima, sob nossos olhos, aliciando meninas indígenas que são traficadas e barbaramente exploradas sexualmente. Os aliciadores conquistam a confiança das famílias fazendo-se passar por pessoas generosas, boazinhas, oferecendo-lhes carona, empregos lucrativos que envolvem viagens. As ofertas de trabalho geralmente são em Manaus, Guiana, Venezuela ou Suriname.

    Por isso, nos organizamos e pensamos que para enfrentar o tráfico de pessoas é necessário, sobretudo, ousadia e mostrar que existe uma sociedade organizada capaz de proteger suas crianças, adolescentes e mulheres contra a exploração e expropriação de sua dignidade humana.

    Não podemos nos omitir diante dos levantamentos que apontam Roraima como rota internacional do Tráfico, onde a população indígena aparece com maior vulnerabilidade! Somos educadores e iremos agir fazendo diversas atividades para mobilizar as populações indígenas para essa realidade.

    Antes da chegada dos não índios, nós podíamos desfrutar de nossas riquezas naturais e das belezas aqui existentes, sem que tivéssemos que nos preocupar com a exploração e o trafico de pessoas. Hoje, os aliciadores usam os sonhos de falsa riqueza, as ilusões criadas pela população não indígena e fortalecida pela televisão de que uma vida feliz é uma vida com muito dinheiro, longe da família e de sua Terra Mãe.

    Com simpatia, seduzem as pessoas e as levam para longe onde desaparecem… Eles aprisionam as pessoas, roubam seus documentos e as escravizam de maneira desumana.

    Já lutamos e conquistamos nossa Terra Mãe Livre! Agora lutaremos por nossas crianças, jovens e mulheres que são o nosso futuro. Para isso, escrevemos essa carta que propõe que lideranças, escolas, comunidades saibam o perigo que o tráfico de pessoas representa e se organizem, denunciem e protejam seus jovens.

    Solicitamos das autoridades maior atenção aos dados de Tráfico de pessoas em Roraima e à Secretaria de Estado de Educação de Roraima a inclusão dessa temática como meta prioritária no Plano Estadual de Educação.

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  • 17/03/2011

    Indígena Krikati é baleado dentro de sua terra, no Maranhão

    Jovem de apenas 24 anos está internado em estado grave e sofre risco de morte

    No último dia nove de março, o indígena Bebeto Tum Krikati, que vive na Terra Indígena Krikati, foi baleado no tórax enquanto caçava dentro de seu território. Bebeto, que tem apenas 24 anos, está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São Rafael, em Imperatriz (MA). De acordo com informações, sua situação é muito grave e a família teme que o mesmo não resista aos ferimentos e chegue a falecer.

    O povo Krikati acredita que esse fato tem a ver com o processo em curso de desintrusão da terra. Acreditam que o mandante pode ser um dos fazendeiros que ocupa a terra e tem que deixá-la. A situação na região é muito tensa, e os indígenas acreditam que se os órgãos responsáveis não tomarem providências urgentes poderão acontecer novos conflitos.

    A terra indígena do povo Krikati fica localizada ao sudoeste do Maranhão, abrange as cidades de Montes Altos, Sítio novo, Amarante do Maranhão e Lajeado Novo, distante 750 km de São Luis, capital do estado. Conta com 146 mil hectares, e uma população de aproximadamente 1.030 pessoas, vivendo em cinco aldeias: São José, Raiz, Recanto dos Cocais, Nova Jerusalém e Alto Alegre.

    Essa terra foi demarcada em 1997, homologada em 27 de outubro de 2004, e ainda não foi desintrusada. Sem a desintrusão os conflitos entre os Krikati, fazendeiros e lavradores têm aumentado. Estes últimos alegam morar muito tempo dentro da área, e por isso resistem em sair, mesmo depois muitos deles já terem recebido indenização. Vem ocorrendo ainda que algumas pessoas vendem as terras indenizadas para outros fazendeiros ou pequenos produtores, que depois alegam não terem recebido a indenização e justificam, dessa forma, sua permanência na área.

    O Povo Krikati tem solicitado urgência na conclusão da retirada dos não indígenas de sua terra para continuarem usufruindo do seu território em segurança.                                       

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  • 17/03/2011

    Hidrelétrica de Jirau: palco de inadimplência trabalhista

    Entrevista especial com Maria Ozânia da Silva 

      

    “A usina de Jirau já foi palco de flagrantes de descumprimentos da legislação trabalhista. Houve registro de trabalho escravo. Um grupo de 38 trabalhadores migrantes foi libertado em setembro de 2009 pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego – Rondônia (SRTE/RO) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), com apoio da Polícia Federal (PF)”, denuncia Maria Ozânia da Silva à IHU On-Line, em entrevista concedida por e-mail.

     

    À frente da coordenação da Pastoral do Migrante de Rondônia há dois anos, Ir. Maria Ozânia acompanha os trabalhadores que chegam à cidade para atuar nas obras da hidrelétrica de Jirau e conta que o aliciamento na região é constante. Os “gatos”, como são conhecidos os contratantes, prometem bom salário, carteira assinada e outros benefícios. “Como são regiões do país com muita mão de obra disponível, pois não há muitas alternativas, os migrantes acabam tornando alvo fácil. Temos conhecimento de que tal esquema exige até mesmo passagem por postos do Sistema Nacional de Empregos (Sine)”, aponta.

     

    Segundo Maria Ozânia, os trabalhadores migrantes saem da sua região com promessa de emprego e, ao chegarem a Porto Velho, “acontece de terem que esperar três, quatro dias para serem contratados”. Além do mais, o município de Porto Velho não estava preparado para receber um grande número de migrantes e os impactos são sentidos por toda a população. “Na saúde há um descaso grande, pois os meios existentes não suportam a demanda; o trânsito é caótico; o custo de vida é altíssimo”, constata.

     

    Confira a entrevista.

     

    IHU On-Line – Qual a atual situação das obras da hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira, em Porto Velho, Rondônia?

     

    Maria Ozânia da Silva – As obras de Jirau e Santo Antônio fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, e contam com o suporte de recursos do Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES).

     

    Para termos uma ideia do tamanho do projeto, a usina de Jirau já foi palco de flagrantes de descumprimentos da legislação trabalhista. Houve registro de trabalho escravo. Um grupo de 38 trabalhadores migrantes foi libertado em setembro de 2009 pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego – Rondônia (SRTE/RO) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), com apoio da Polícia Federal (PF). As vítimas estavam trabalhando para a Construtora BS, que presta serviço ao consórcio.

     

    Temos conhecimento de que até junho de 2010 foram encaminhados 330 autos de infração (cada auto se refere a uma irregularidade) registrados contra empresas ligadas à obra de Jirau. Na mesma procuradoria, estão ativos 55 procedimentos para apurar irregularidades trabalhistas nos canteiros da usina.

     

    No ponto de vista trabalhista, a questão é a seguinte: A obra está com um sério problema de prazo, pois a Camargo Corrêa precisa entregar até 1º de julho todo o vertedouro com 18 comportas e até o presente momento concluíram aproximadamente 3/4 apenas. Isto está trazendo sérias consequências para a segurança dos trabalhadores e trabalhadoras migrantes, pois a produção sempre vem em primeiro lugar em detrimento da segurança.

     

    IHU On-Line – Como funciona o aliciamento de trabalhadores em Rondônia? Quem são os aliciadores?

     

    Maria Ozânia da Silva – O esquema não diferencia muita de outras realidades do Brasil, onde está em pleno desenvolvimento os grandes projetos do agronegócio e do hidronegócio.

     

    O “gato”, como é denominado, chega à região destinada (principalmente o nordeste) e anuncia que está contratando trabalhadores para tal obra com um bom salário, carteira assinada. Como são regiões do país com muita mão de obra disponível, pois não há muitas alternativas, os migrantes acabam tornando alvo fácil. Temos conhecimento de que tal esquema exige até mesmo passagem por postos do Sistema Nacional de Empregos (Sine). Essa passagem acontece em vários locais do país sendo mais frequente na unidade de Porto Velho (RO).

     

    O processo é doloroso, pois muitas vezes os trabalhadores migrantes saem da sua região de origem com empréstimo; veem com a promessa de emprego, salários bons. No entanto, muitos têm que pagar sua passagem e suas despesas de viagem. Chegando a Porto Velho, acontece de terem que esperar três, quatro dias para serem contratados. Neste período, ficam alojados em casa de amigos, conhecidos ou pensões.

     

    Segundo informações, é possível que haja envolvimento até mesmo de pessoas do Sine em alguns estados da federação. Podemos concluir que o esquema de aliciamento está cada vez mais sofisticado. Hoje existem empresas formais subcontratadas presentes em diversos estados; elas buscam driblar a legislação.

     

    IHU On-Line – Há fiscalização dos órgãos competentes?

     

    Maria Ozânia da Silva – Sim, dentro das possibilidades. No entanto, através de relatos de trabalhadores migrantes percebe-se um grande descontentamento em relação à presença e atuação dos sindicatos.

     

    IHU On-Line – De que regiões do país vêm os migrantes que trabalham nas obras do rio Madeira?

     

    Maria Ozânia da Silva – Há trabalhadores do próprio estado de Rondônia, estados do Norte, Nordeste e até de alguns estados do Sul e Sudeste, para o desenvolvimento de algumas atividades que requeiram melhor qualificação.

     

    IHU On-Line – A senhora tem contato com os trabalhadores da hidrelétrica? Quais as reclamações e depoimentos deles?

     

    Maria Ozânia da Silva – Sim. Há várias situações em que os trabalhadores migrantes vêm partilhar conosco a saudade de seus familiares, expressam o sentimento de frustração pelo salário recebido, pelos descontos efetuados sem muitas vezes saberem a origem.

    IHU On-Line – Que trabalho a Pastoral do Migrante de Rondônia está desenvolvendo junto aos trabalhadores e trabalhadoras?

     

    Maria Ozânia da Silva – Nossa presença ali se dá de forma programada, por meio de uma Igreja comprometida com o Projeto de Jesus Cristo. Por tanto, é um trabalho de muita escuta e acolhimento.

    Fazemo-nos presente em vários momentos: celebrativos, de luta, reinvidicatórios. Para nós, é prioridade a defesa dos direitos dos migrantes, independente de seu credo religioso. Por meio de ações que visam aproximar os migrantes à comunidade local, buscamos sensibilizar e conscientizar para o acolhimento.

     

    IHU On-Line – Quais as implicações da obra para a região? O que mudou em Porto Velho após a construção da hidrelétrica?

     

    Maria Ozânia da Silva – As implicações e as transformações são visíveis: na saúde há um descaso grande, pois os meios existentes não suportam a demanda; o trânsito é caótico; o custo de vida é altíssimo.

    Na verdade, o município de Porto Velho não se preparou com infraestrutura para receber o grande número de migrantes. Com isso, sofre a população local e mais ainda os migrantes. Há uma verdadeira especulação. O custo de vida na região, hoje, é um dos mais altos das capitais do Brasil.

     

    IHU On-Line – Como a população local tem reagido à obra de Jirau?

     

    Maria Ozânia da Silva – Está é uma questão ambígua. Há grupos que defende a obra, pois gera riqueza ao município, há uma circulação grande de dinheiro, há trabalho. Outro grupo denuncia os impactos sociais e ambientais que estes projetos causam.

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  • 17/03/2011

    Respostas do governo ás propostas do Simpósio não atendem às demandas da população

    Mais uma vez o discurso ficou na promessa e não em encaminhamentos práticos que amenizem ou tragam soluções para os problemas urgentes e pontuais enfrentados pelo país

     

    Por Cleymenne Cerqueira

    Assessoria de Comunicação – Cimi

     

    Após três dias de intensas discussões chegou ao fim o 2º Simpósio Nacional de Mudanças Climáticas e Justiça Social. O encerramento do encontro aconteceu hoje (16), com a realização de um ato público no Centro Cultural de Brasília (CCB). Nesse debate final estiveram presentes ministros do Estado e representantes do governo, entre eles Gilberto Carvalho, ministro da secretaria geral da Presidência da República, Maria do Rosário Nunes, ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Eduardo Delgado Assad, secretário de Mudanças Climáticas e qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, e dom Pedro Luiz Stringhini, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Caridade, Justiça e Paz, da CNBB.

    “A ideia de convidar os representantes do Estado para participar das discussões apresentadas pelo Simpósio tiveram por objetivo trazê-los para o debate sobre a perspectiva da construção de políticas públicas sobre mudanças climáticas. Além disso, os participantes também participaram da aprovação de uma carta-compromisso, por meio de suas colocações, afirmações e sugestões, em que se estabelecem metas a serem cumpridas e ações concretas para combater o aquecimento global em território nacional”, destacou o sociólogo Ivo Poletto, coordenador do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social (FMCJS), promotor do evento.

    O debate foi coordenado pela irmã Delci Franzen, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que ao compor a mesa falou sobre a importância da presença dos representantes do governo em eventos desse porte, que discutem com preocupação os atuais desastres socioambientais que afetam a vida das populações brasileira e mundial. Ela ressalta ainda a participação expressiva de representantes de movimentos sociais e populares, ONG’s, pastorais sociais e organismos de cooperação, entre outros. “Viemos das várias regiões do Brasil, e isso nos deu informações ricas do que acontece nos diferentes biomas. Nos reunimos especialmente porque desejamos agir para enfrentar o que está provocando as mudanças climáticas presentes em todas as regiões”.

     

    Proposições

     

    Preocupados em entender melhor o que se passa com o planeta Terra e com os cada vez maiores desastres socioambientais que afetam a vida e provocam mortes de tantas pessoas, os participantes do Simpósio produziram propostas de alternativas de políticas públicas, que são um esforço de diálogo e de contribuição para a atuação do governo. São elas: fim dos projetos de usinas nucleares no Brasil e revisão das condições de segurança das usinas Angra 1 e 2, bem como as condições de vida em Caitité, Bahia, ameaçadas por contaminação de urânio; mudanças na prioridade política em favor das fontes hidroelétrica e térmica para a produção de energia elétrica, substituindo-a pelo sol e ventos; mudanças na prioridade política em relação á agricultura, incentivando a agricultura familiar em detrimento do agronegócio; criação de setor na Secretaria Especial dos Direitos Humanos que se dedique ao estudo, acompanhamento e encaminhamentos relacionados à situação das populações atingidas por eventos extremos; que o governo assuma a responsabilidade de apresentar uma proposta alternativa à revisão do Código Florestal.

     

    Os representantes do governo tiveram, um a um, a oportunidade de responder às propostas apresentadas, bem como de afirmar a posição do Estado em relação aos problemas decorrentes dos eventos extremos provocados pelas mudanças climáticas. Têm sido recorrentes a ocorrência de enchentes de verão nas mais diversas regiões do país, como a que atinge atualmente os estados do Espírito Santo, Santa Catarina, região serrana do Rio de Janeiro e Paraná, entre outros. Qual o encaminhamento concreto para prevenir esse problema e, de forma emergencial, como atender às necessidades das milhares de famílias atingidas? Secas prolongadas têm atingido a Amazônia e o Rio Grande do Sul, bem como outras regiões do país, podendo transformar essas áreas com rica variedade de espécies em áreas de cerrado. O que fazer para diminuir esse processo acelerado cada vez mais pelo crescente desmatamento na região? Atualmente, o Brasil, que não é o maior produtor por área, é um dos maiores consumidores de agrotóxicos, responsáveis pela contaminação e empobrecimento do solo. Qual a solução para a produção de uma agricultura extensiva voltada para a vida, para o fortalecimento das atividades do pequeno agricultor?

     

    Contraditoriamente á realidade, Eduardo Delgado Saad afirma que as propostas apresentadas estão de acordo com as preocupações e ações do governo. Ele afirma que o atual modelo de produção agrícola é totalmente errado e que a solução talvez fosse a agroecologia, alternativa amplamente discutida e apontada pelos movimentos sociais, mas não implementadas nas bases por meio de incentivos á produção dos pequenos produtores pelo governo. Ele alega ainda, em relação às enchentes de verão, que estas são causadas também pelo mau uso do solo e não somente pelas mudanças climáticas. Verdade seja dita, a política de ocupação, urbanização, saneamento básico, sistema de drenagem e mesmo o modelo de desenvolvimento do Brasil também contribuem intensamente para a ocorrência desses problemas.

     

    Gilberto Carvalho, de uma forma realista, afirma qual o posicionamento do governo diante de toda essa situação. De acordo com ele, é sim necessário viver um novo modelo econômico e de desenvolvimento, que seja ético e sustentável, que acabe com as desigualdades impostas pelo mercado e reconheça o homem como um ser de direitos. No entanto, ele afirma também que não é possível uma mudança radical e urgente. “Seria uma falácia, por exemplo, dizer que acabaremos nesses quatro anos com o latifúndio, porque isso não vai acontecer, pois quebraria a balança comercial do país”, disse. Ele apregoa que não é possível negar direitos e o acesso das populações a bens e serviços, como energia elétrica e produtos eletrônicos, por isso, o governo continuará priorizando a geração de energia, e assim, as demandas não humanas das grandes multinacionais e do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

     

    Todos os representantes afirmaram que o governo reconhece a necessidade de uma mudança no modo de produção do país, reforçando a agricultura familiar. Para Maria do Rosário Nunes, da SEDH, o grande desafio é pensar como unificar um projeto de economia e desenvolvimento sustentável baseado na utilização de fontes de energia renováveis, a diminuição do desmatamento e dos problemas fundiários. Apontamentos em relação à necessidade de se discutir a Reforma Política e a Reforma Agrária permearam as discussões, no entanto, nenhuma ação concreta foi encaminhada. Em meio a tantas falas e respostas evasivas, os presentes tiveram momentos de esperança ao ouvir Carvalho afirmar que o governo está totalmente contra a relatoria do deputado federal Aldo Rebelo ao projeto de revisão do Código Florestal Brasileiro. “Nós não vamos permitir que o Código seja aprovado desse jeito”, garantiu.

     

    Geração de energia

     

    Tema polêmico em todo o simpósio e em discussões sobre as principais causas das mudanças climáticas, a geração de energia permeou todas as indagações dirigidas aos representantes do governo. De acordo com Eduardo Delgado Saad, o governo tem incentivado a produção de energia solar e eólica, além da biomassa e da gerada por meio da força das marés. No entanto, o que as populações do país têm observado é a priorização da geração por meio das hidrelétricas e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), como também da nuclear. Exemplos claros dessa escolha são as usinas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira, em Rondônia; hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, Pará; e as duas usinas nucleares previstas para serem construídas no nordeste.

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  • 16/03/2011

    Sumak kawsay: Horizonte, plataforma, aliança

    Paulo Suess

    São Paulo, Brasil

     

    O paradigma sumak kawsay, de origem quéchua, aponta para o horizonte do bem viver tradicional do mundo andino. Em suas Constituições, Bolívia e Equador retomaram esse conceito e o procuraram contextualizar no mundo de hoje, como projeto alternativo ao desenvolvimentismo das economias globalizadas. Os intérpretes do sumak kawsay apontam para seu caráter processual, crítico, plural e democrático. O sumak kawsay deve ser compreendido como plataforma política com um horizonte utópico e como aliança de diferentes culturas e múltiplos setores, dispostos a construir novas relações sociais na base de uma nova relação com a natureza.

     

    Utopia migrante

     

    Ao contrário do que se espera, a utopia é uma migrante de países prósperos, que dela supostamente não mais necessitam, a países pobres. O discurso político hegemônico despreza a grande narrativa que resiste à redução da palavra a manchetes de jornais, slogans de propaganda ou palavras de ordem. Nessa grande narrativa, com seu índice utópico que não se dissolve no pragmatismo cotidiano, ressoa a causa universal e a crítica dos que não se conformam com o mundo assim como é. Essa causa questiona os imperativos agressivos da sociedade de consumo com suas exigências de crescimento, produção acelerada e prazer instantâneo. Enfeitiçados pelos meios de comunicação, que fazem estimar o opressor, perdoar ao corrupto e desprezar o oprimido, assistimos a um rebaixamento do espírito revolucionário de um proletariado aburguesado, sindicatos burocratizados e líderes populares incorporados em máquinas administrativas de governos supostamente progressistas.

     

    Também as Igrejas, que teriam a oferecer um grande capital contracultural, que ao mesmo tempo questiona a cultura hegemônica e valoriza as culturas marginalizadas, se acomodaram no interior do sistema, em troca do reconhecimento de sua liberdade institucional e do seu prestígio histórico. Mas essa acomodação tem um preço alto: a perda do espírito crítico ad extra e ad intra, ou seja, a corrosão lenta e silenciosa de seu espírito profético e a percepção da diferença entre ideal e realidade.

     

    Espírito crítico significa ter consciência dessa diferença entre a ordem implantada e a proposta constitucional que precedeu à implantação dessa ordem. Na ordem implantada não se trata apenas da ordem representada pelos Estados e seus governos. Também as Igrejas fazem parte dessa ordem histórica implantada que necessita, sempre de novo, de um olhar crítico. Nos templos religiosos existe, igualmente, uma diferença entre leis em vigor por ordem divina e leis obedecidas através de práticas institucionais, uma diferença entre proposta evangélica e resposta institucional.

     

    Muitos devem lembrar-se, ainda, da indignação desses setores face aos pedidos de perdão que o então papa João Paulo II pronunciou em diversas ocasiões a judeus, africanos e indígenas. Quando na IV Conferência do Episcopado Latino-Americano, de Santo Domingo (1992), surgiu a proposta de um pedido coletivo de perdão aos povos indígenas, o arcebispo de San Juan de Cuyo, Argentina, Italo Severino Di Stéfano, em sua resposta no dia 19 de outubro de 1992, declarou que um tal pedido seria inoportuno, porque poderia ser explorado por setores ideológicos e por refletir um complexo de culpa que diminui o ardor da nova evangelização.

     

    Dois dias mais tarde, no dia 21, durante a Audiência Geral, em Roma, o Papa pronunciou-se sobre a oportunidade de um pedido de perdão: "A oração do Redentor se dirige ao Pai e ao mesmo tempo aos homens, aos quais se têm feito muitas injustiças. A estes homens não cessamos de perdir-lhes ‘perdão’. Este pedido de perdão se dirige, sobretudo, aos primeiros habitantes da nova terra, aos ‘índios’, e também àqueles que, como escravos, foram deportados da África para trabalhos pesados. ‘Perdoai-nos as nossas ofensas’: também esta oração faz parte da evangelização (…)."

     

    A diferença entre o insuficiente da realidade eclesial e sua promessa, entre a ordem reinante e a verdade eterna é legitimamente apontada por setores da sociedade secular e da própria Igreja que zelam com lealdade pela conformação, nunca plena, da instituição com seu fundador Jesus Messias. A precariedade da realidade eclesial, quando é acolhida com humildade e o desejo de perdão, poderia honrar a instituição que não negocia seus ideais na esquina do mal menor, mas que se lembra deles, pronunciando seu mea culpa.

     

    Como vimos em Santo Domingo, nem sempre este zelo de profetas, teólogos e pastores foi bem recebido por setores que vivem em certa distância com o dia a dia do povo de Deus. Suas teologias são descontextualizadas e oferecem respostas a perguntas secundárias. Esta foi a razão porque, num determinado momento, a Teologia da Libertação e a Teologia Índia, entre outras, foram induzidas ao silêncio por setores que consideravam Medellín (1968) um acidente na história da Igreja. A Teologia Índia, por exemplo, não significa uma ruptura com a tradição da Igreja. Pelo contrário, trata-se da assunção de tradições milenares e do enraizamento do evangelho nessas culturas. A assunção, segundo o Santo Irineu, é a propedêutica da redenção (cf. Puebla 400). Ainda hoje, aproximadamente quarenta anos depois de Medellín, no “Documento de Aparecida” (2007), a simples menção dessas teologias, que representam a graça profética pós-conciliar da Igreja latino-americana, era vetada. Se os teólogos se tornam funcionários institucionais e não defensores dos aflitos, a teologia degenera em ideologia.

     

    Mas o vinho novo da causa do Reino não cabe nem acaba nos odres velhos (cf. Mt 9,17) de uma funcionalidade sistêmica. A condenação oficial à clandestinidade gera traumas, mas também forja linguagens estratégicas in off. A profecia pode migrar para outros espaços e siglas, entre os quais, hoje, reconhecemos o sumak kawsay – o bem viver, do mundo quéchua. O que a Encíclica Pacem in terris, de João XXIII, o Vaticano II e Medellín designaram “sinais do tempo” – a emancipação dos operários, dos países colonizados e das mulheres -, na realidade foram lutas evangélicas abandonadas nas Igrejas. Reapareceram metamorfoseadas no mundo secular, porque em seu berço eclesial não encontraram espaços de moradia nem de hospedagem passageira. No horizonte da utopia do Reino, todos somos posseiros de esperança sem ter a posse da verdade. A sua posse seria o fim da história. A esperança continua como eterna migrante em busca da verdade no meio dos desesperados.

     

    Felicidade, dignidade, ressurreição

     

    Segundo Ernst Bloch, as utopias sociais do bem viver, com seu ponto de gravidade no sistema econômico, visam à felicidade ou ao menos à redução da fome e da miséria. As utopias do direito natural, com seu ponto de gravidade no campo cultural jurídico dos direitos humanos, visam à dignidade, à cabeça erguida e à proteção legal de liberdade e segurança. A vida concreta é ameaçada em ambos os campos: pela fome e pelo desprezo ou, como Marx diria, na base e na superestrutura. O primado da dignidade humana exige a prioridade dada à libertação econômica. Entre ambos, há uma relação de meios e fins.

     

    O sofrimento dos pequenos – dos sobrecarregados que passam fome e dos desprezados que sofrem humilhação – aponta para os desafios éticos da humanidade, causados pela aceleração da destrutividade do capital. E é este sofrimento que pode mudar o rumo da história, o sofrimento autorreflexivo e organizado, que gera nos pobres discernimento e consciência sobre o sofrimento que pode ser evitado e aquele inerente à condição humana. Os nomes concretos desses desafios éticos são: esgotamento dos recursos humanos e naturais e manipulação genética e psicológica no interior e em função do mercado total. Daí, emergem tarefas urgentes de transformação: a redistribuição dos bens de acordo com as potencialidades do planeta Terra, o reconhecimento do ”Outro” no horizonte de uma harmonia universal e a participação democrática de todos, sem privilégios de classe.

     

    Mas, para a utopia que articula felicidade e dignidade falta ainda algo para configurar o bem viver. Afastados fome e desprezo da vida humana, esta ainda está ameaçada pela apropriação privilegiada de alguns. Portanto, o bem viver precisa ser pensado para todos e, ao ser pensado para todos, necessita como terceiro elemento da justiça distributiva e redistributiva. O terceiro elemento utópico, a justiça, nos faz lembrar, concretamente, daqueles que morreram injustiçados. O horizonte utópico inclui, ao lado de felicidade e dignidade, não a justiça dos vencedores e sobreviventes, mas a justiça dos injustiçados, vivos ou mortos. O Messias virá quando houver para todos lugar na mesa. Mas ele virá também como memória daqueles que, castigados por fome e desprezo, caíram no túmulo do esquecimento. A justiça para todos é impensável sem a graça da ressurreição dos mortos e de um juízo final (cf. Spe salvi, n. 43s). A história da humanidade mostrou, que o anseio da ressurreição e a vitória sobre a morte reuniu médicos e xamãs, teólogos e filósofos numa batalha que, até hoje, não está vencida nem perdida. Ela está presente em quase todas as culturas e pode alocar-se em imaginários muito diferentes. A partir do tripé – felicidade, dignidade, continuidade da vida –, compreendemos que o sumak kawsay sempre será projeto, horizonte e esperança perigosa.

     

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  • 16/03/2011

    Mão de obra escrava é explorada em fazenda de eucalipto

    Trabalhadores chegaram a ser retirados da Fazenda Santa Rita 2, em Barreiras (BA), antes que a fiscalização chegasse. A partir de depoimentos e provas colhidas, contudo, vítimas acabaram sendo encontradas e libertadas

     

    Por Bianca Pyl

     

    Fiscalização da Gerência Regional do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em Barreiras (BA) libertou 21 trabalhadores, incluindo um adolescente de 17 anos, de condições análogas à escravidão. Eles trabalhavam por meses nessas condições na Fazenda Santa Rita 2, que fica no chamado Anel da Soja e desenvolve o cultivo de eucaliptos, em Barreiras (BA).

     

    A operação teve início em 15 de fevereiro, após denúncia de uma das vítimas. O carro que levava a equipe, porém, acabou atolando e não foi possível prosseguir com a fiscalização. No dia seguinte, uma nova equipe conseguiu chegar ao local, mas não encontrou trabalhadores.

    Uma testemunha que permaneceu na fazenda confirmou à comitiva de fiscalização que os trabalhadores tinham deixado a propriedade rural às 4h da manhã, em uma carreta, por ordem do dono da Fazenda Santa Rita 2, Alcindo José Dalcin. "Alguém viu o carro do Ministério do Trabalho no dia anterior. Então, deu tempo de tirar os trabalhadores do alojamento", avalia Edvaldo Santos da Rocha, auditor fiscal que coordenou a inspeção.

     

    Foram encontrados seis cadernos com anotações das dívidas dos empregados. Além disso, o alojamento construído com telhas feitas de fibras de amianto  – não só no teto, mas também as paredes eram feitas do mesmo material – e partes de alvenaria ainda estava de pé e com alguns objetos, dando sinal que o local havia realmente sido abandonado às pressas. As camas foram construídas com o próprio eucalipto derrubado no corte.

     

    Com os indícios em mãos, a equipe da Gerência se deslocou até o perímetro urbano de Barreiras (BA), onde encontrou os 21 trabalhadores que confirmaram a situação em que viviam. "Eles estavam revoltados porque tinham recebido um valor irrisório para ficarem quietos", relata Edvaldo.

     

    Ficou comprovada a servidão por dívida, que caracteriza o trabalho escravo contemporâneo. Os descontos nos salários eram muitos e variavam de acordo com a função. Operadores de motosserra pagavam pela manutenção do equipamento, incluindo o combustível. Carregadores da madeira já cortada até o caminhão custeavam as luvas e botas que usavam.

     

    De acordo com depoimentos colhidos pela fiscalização, a alimentação fornecida era precária. Como complemento, as vítimas tinham de comprar mais comida na cantina, aumentando, assim, a dívida com o empregador. Não havia fornecimento algum de água potável.

     

    Parte dos trabalhadores estava no local desde agosto do ano passado. Outros chegaram nos dois últimos meses de 2010 (novembro e dezembro) e em janeiro deste ano. Os empregados foram aliciados em municípios da região como Luís Eduardo Magalhães (BA), Barreiras (BA), Xique-Xique (BA), Mortará (BA), Teodoro Sampaio (BA) e também de Oito de São Domingos (GO).

     

    A fiscalização apurou ainda que a fazenda flagrada fornece eucalipto para virar carvão vegetal para siderúrgicas de Luís Eduardo Magalhães (BA) e outras empresas que atuam na Região Oeste da Bahia.

     

    Ao todo, foram lavrados 12 autos de infração contra o propeitário Alcindo por conta das irregularidades encontradas. O empregador pagou R$ 55,9 mil referentes às verbas rescisórias. As vítimas também receberão três parcelas do Seguro Desemprego do Trabalhador Resgatado. O relatório será encaminhado ao Ministério Público do Trabalho (MPT).

     

    A reportagem tentou contato para registrar a posição do dono da Fazenda Santa Rita 2, mas não conseguiu encontrá-lo.

     

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  • 16/03/2011

    Usinas do Madeira e o caos em Jaci-Paraná

    Por Pastor Aluizio Vidal

    Presidente Regional do PSOL – RO

    No processo de discussão sobre a viabilidade e conseqüências da construção das Usinas do Rio Madeira, ví muita gente interessada e muitos se promovendo e sonhando com os “lucros” que viriam como resultado deste empreendimento. Também vi muita crítica e preocupação com os efeitos sociais e problemas que aconteceriam nas vidas das pessoas e na natureza de modo geral.

    Geralmente quem tecia loas e as mais impressionantes expectativas ao conjunto da obra eram os detentores do poder político e empresarial por tudo o que poderia vir de progresso e, agora, temos visto realmente acontecer o que haviam previsto. Políticos ganharam eleições com o discurso de que “trouxeram” as hidrelétricas para Rondônia, empresários ganham muito dinheiro e a cidade cresce a olhos vistos. Enfim, estamos alcançando o que se esperava.

    Há poucos dias ouvi do prefeito da capital a seguinte expressão: “O poder público perdeu o controle da situação de Jaci-Paraná.” Fiquei estupefato. Não era um sindicalista, um líder de partido, a OAB, um professor universitário, um padre ou pastor, um líder estudantil ou qualquer outro destes que são acostumados a verem criticamente a situação social. Era o líder maior do município.

    No dia 19/02 voltei a Jaci-Paraná depois de alguns meses e fiquei mais assustado ainda, entendendo o que quis dizer o prefeito. Ví o caos em sua superficialidade. Vi naqueles bares à beira do asfalto, entre uma quantidade inumerável de homens, mulheres jovens se oferecendo à prostituição, muita bebida, muita música e imaginei a quantidade de coisas indizíveis que acontecem ali e reconheço que também são parte do que está sendo produzido pelas usinas.

    Gostaria de ver o Governador, o Prefeito, o representante do Judiciário, dos empresários e quem tem poder de decisão e influência, sentarem-se juntos e tomarem uma decisão quanto àquela situação. Há alvarás de funcionamentos para aqueles bares? Há fiscalização da saúde? Há fiscalização quanto a venda de bebidas para menores? Há controle de poluição sonora? Há orientação para prevenção de DSTs? Ao mesmo tempo perguntamos: há poder público alí ou é terra-de-ninguém? Fora droga, violência, depravação moral, poluição, gravidez na adolescência, DSTs que já se vê agora, daqui a alguns anos veremos uma geração de filhos sem pais, com as famílias desestruturadas e pessoas desestruturadoras da sociedade.

    Parabéns aos que defenderam e conquistaram a construção das Usinas. Todos estamos desfrutando dos seus benefícios. Mas, pelo amor a Deus, usem seu poder e sua influência para fazer o que for possível para diminuir os efeitos sociais negativos desse empreendimento, pois amanhã, os que lucram hoje sofrerão na pele suas conseqüências.

    Especialmente o Poder Público nos deve uma proposta!

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  • 16/03/2011

    Alternativas ao atual modelo de desenvolvimento foram apontadas hoje durante o 2° Simpósio Nacional de Mudanças Climáticas e Justiça Social

    Segundo dia do encontro contou com a participação de diversos pesquisadores e especialistas, que trouxeram suas experiências de trabalho para a redução da emissão de gases do efeito estufa e a diminuição dos efeitos  das mudanças climáticas

     

    Por Cleymenne Cerqueira

    Assessoria de Comunicação – Cimi

     

    A discussão sobre a influência direta da ação do homem sobre o meio ambiente e as conseqüências dessa ação para a vida no planeta não é recente. No entanto, somente a cerca de 10 anos começou-se a discutir no meio cientifico o conceito de mudanças climáticas. O termo, ainda novo, tem gerado longas e importantes discussões. Exemplo disso são os diversos eventos realizados em todo o país, quiçá no mundo, sobre a temática.

     

    Desde ontem, 14, acontece em Luziânia (GO), o 2º Simpósio Nacional de Mudanças Climáticas e Justiça Social, promovido pelo Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social (FMCJS), organismo vinculado á Comissão Episcopal Pastoral para a Caridade, Justiça e Paz, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O evento, que será encerrado amanhã com um ato público, discute temáticas relacionadas às principais causas e também conseqüências das mudanças climáticas na vida das populações de todo o mundo.

     

    Do encontro, participam cerca de 90 pessoas, entre estudantes, pesquisadores, especialistas e membros de entidades e organismos não governamentais e religiosos. Vindos de diversas regiões do Brasil e representantes do Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e outros biomas brasileiros, partilham experiências, às vezes de dificuldades e sofrimentos enfrentados pelos efeitos de tais mudanças, outras de ações bem sucedidas, como a aplicação da agroecologia, que é uma nova proposta de agricultura familiar, socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável.

     

    Relação com as ações humanas

     

    Na abertura das atividades do dia, o sociólogo Ivo Poletto, coordenador do FMCJS, falou sobre a realidade encontrada durante suas viagens às diversas regiões do país. De acordo com ele, muito tem se ouvido falar que as mudanças climáticas de fato não existem. No entanto, especialistas em clima e os próprios agricultores, pescadores e demais trabalhadores que vivem diretamente dos frutos da terra, têm comprovado que seus efeitos têm aumentado, sendo perceptíveis a qualquer um.

     

    Os principais efeitos das mudanças climáticas são: aumento da temperatura mundial, fenômeno conhecido como aquecimento global, gerado pelo aumento da poluição do ar, e que tem provocado o derretimento das calotas polares e o conseqüente aumento no nível de água dos oceanos; e a desertificação, que tem aumentado velozmente nas últimas décadas. Consequência de tais fenômenos são as enchentes e inundações, os furacões, as nevascas e a seca em diversas regiões do planeta.

     

    Grande parte desses efeitos são causados pela ação do homem, criado sob o modelo de desenvolvimento capitalista, que visa o lucro crescente e incessante, exigindo cada vez mais produção e consumo. Diversas ações contribuem para isso, como a mineração; a invasão de territórios tradicionais e áreas de florestas para a construção de hidrelétricas e/ou pequenas centrais hidrelétricas; a agroindústria e as monoculturas de soja e cana de açúcar, que geram energia para empresas multinacionais, entre outras.

     

    De acordo com dados publicados pelo Intergovenmental Panel on Climate Change ou Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007, há estreita relação entre a ação humana e o aquecimento global. Exemplos disso podem ser constatados em diversos eventos que têm se multiplicado nos últimos anos no Brasil, como a seca na Amazônia, que em 2010 foi mais intensa que a de 2005 ou anos anteriores.

     

    Para Poletto, de acordo com estudos, se a situação continuar assim, a Amazônia será, em poucos anos, a região do país que apresentará os maiores índices de aquecimento, podendo, inclusive, ser transformada em uma área de cerrado. Com os rios secos não será possível seque a navegação e locomoção das diversas comunidades que vivem na região.

     

    Ele ainda aponta que tais mudanças têm alterado de forma eminente a produção de frutas e sementes. “Os seres vivos vegetais estão sofrendo”, afirmou. Outra grande questão é a das migrações, que poderão ocorrer em massa na América do Sul por conta da falta de água nessa região, se a forma de consumo e aproveitamento desse bem não for alterada. “O grande problema é a construção de hidrelétricas e PCH’s, ou ainda, a transposição do rio São Francisco e a construção de centrais nucleares, que estão acontecendo no nordeste”, continuou.

     

    De acordo com o sociólogo, as mudanças climáticas são eventos globais, mas também locais, decorrentes de ações pontuais em determinadas regiões.  “O Brasil é um dos principais causadores desses problemas e será enquanto der continuidade ao desmatamento, em especial na Amazônia; aumentar a produção e uso de veículos automotivos, mesmo os movidos a álcool; aumentar a agropecuária química comandada pelo agronegócio, emissor em massa do óxido nitroso; e continuar devastando e poluindo área para expandir a mineração, que retira toda a cobertura vegetal e a vitalidade da área, poluindo rios e solo, entre outros”, disse Poletto.

     

    Estima-se, de acordo com dados do IPCC 1996a, que 20% do incremento anual da emissão de gases do efeito estufa, como o óxido nitroso (N2O e óxidos de nitrogênio NOx), o monóxido de carbono (CO), o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), é atribuído ao setor agrícola, emitidos principalmente, pelas grandes empresas madeireiras, pecuaristas, mineradoras, petrolíferas, pelo reflorestamento industrial e pelo próprio governo, quando este financia e estimula as atividades destas e a atual política econômica mundial.

     

    Luiz Zarref, membro do Movimento dos Sem Terra (MST) e Via Campesina, alerta ainda para outra grande fonte das mudanças climáticas, os agrotóxicos. De acordo com ele, o Brasil é o maior produtor de agrotóxicos do mundo desde 2007, mesmo não tendo a maior produção por área. O uso desses produtos nos solos agrícolas tem sido indicado como principal responsável pelas crescentes emissões de óxido nitroso (N2O) na atmosfera. “O óxido nitroso, presente nos agrotóxicos e na fertilização in vitro, chega a ser 20 vezes mais poluente que o gás carbônico”, afirmou.

     

    Falsas soluções

     

    Zarref aponta algumas falsas soluções apresentadas pelo governo com o objetivo, verdadeiramente, de camuflar as ilegalidades praticadas pelas grandes empresas e pelo próprio Estado e também abafar as discussões sobre as causas e consequências das mudanças climáticas. Entre elas, ele elenca a proposta de seqüestro de carbono e a chamada REDD – Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação, que de forma simplificada seria a “compra” de uma área verde capaz de absorver grande quantidade de carbono, como algumas áreas indígenas, em contrapartida à continuidade de emissão de gases poluentes na atmosfera.

     

    Ele ainda afirma que o governo tem tentado enganar a população ao sugerir o zoneamento agroecológico para combater as mudanças climáticas e o zoneamento da palma africana na Amazônia para produção de agrocombustível. “A chamada energia renovável gerada pelas hidrelétricas e PCH’s é uma falácia, pois essas geram energia para as empresas que mais poluem no mundo, como as mineradoras e petrolíferas”, disse. Para Zarref, os impactos de todas essas atividades são muito fortes e o capitalismo vai tentando apresentar propostas, que na verdade são falsas soluções, como a proposta de mudanças na matriz energética, mas sem dizer ao povo para onde vai a energia gerada; o incentivo a produção de carros ecológicos, mas não ao transporte coletivo, entre outros.

    Lucia Ortiz, da ONG Amigos da Terra, também aponta essas propostas como falsas soluções. Entre elas, ela aponta os chamados elixires tecnológicos, como as hidrelétricas; a liberação de ácido sulfúrico na atmosfera; as nanotecnologias, com a captura de carbono por algas; a biologia sintética, como as bactérias sintetizadas em laboratórios; os transgênicos; o agronegócio; a energia nuclear; a geoengenharia, entre outros. Ela ainda fala sobre as falsas soluções institucionais, que exarcebam o capitalismo e a vulnerabilidade dos povos por meio da substituição destes por empresas neoliberais nos espaços de tomadas de decisões.

    Autonomia e auto-sustentação

    As soluções apontadas para uma mudança urgente desse quadro partem da mudança do próprio sistema econômico e produtivo mundial, com alterações profundas no modelo agroindustrial e agropecuário. Hoje, para se ter idéia, cerca de 50% das terras brasileiras são cultivadas somente pela soja e pela cana de açúcar, utilizadas para a geração de energia ao grande capital e não para alimentos, geração de renda e auto-sustentação das comunidades.

    Para Zarref é preciso ressaltar a importância das lutas contra esse sistema hegemônico e valorizar e incentivar a união dos movimentos sociais nesses enfrentamentos. É preciso pensar a autonomia dos povos e a auto-sustentação. “É preciso conhecer experiências de enfrentamento pelo mundo, conhecer os termos utilizados nas discussões da problemática”, destacou.

    Irene Maria Cardoso, da Universidade Federal de Viçosa/MG e da Articulação Nacional de Agroecologia, endossa as falas de Zarref ao reconhecer a importância da autonomia dos agricultores e aponta a agroecologia como solução viável a melhor utilização da terra e dos recursos naturais nela existentes, diminuindo assim os efeitos das mudanças climáticas.

    “Com a autonomia dos agricultores, tendo estes a posse da terra, é possível diversificar a produção e também a comercialização desses produtos. A agroecologia atua para facilitar o entendimento desse agricultor de todas essas questões, pois é ele quem trabalha diretamente na terra”, declarou.

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