• 22/07/2011

    Cimi Regional Amazônia Ocidental

     
    Cimi Regional Amazônia Ocidental
    Conselheira: Rosenilda Nunes Padilha
    Rua Rio Grande do Sul, 38
    Centro – Caixa Postal 274
    Rio Branco – AC – CEP 69908-970
    Telefone: 68-32227495 – Fax: 68-32227579
    E-mail: cimiamazoniao@gmail.com 

     

    Compreende o estado do Acre
     

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  • 22/07/2011

    Secretariado Nacional

    Cimi Secretariado Nacional
    Cleber César Buzatto (Secretário Executivo)

    E-mail: nacional@cimi.org.br 
    SDS Ed. Venâncio III salas 309 a 314
    Brasília – DF – Brasil – CEP 70393-902
    Telefone: 61-21061650 – Fax: 61-21061651

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  • 22/07/2011

    Romaria dos Mártires da Caminhada: Testemunhas do Reino!

    Por Zé Vicente

    O sol do dia 16 de julho lançou seus últimos raios sobre a grande fogueira erguida no pátio da matriz da pequena cidade de Ribeirão Cascalheira – MT, entregando para a lua cheia, esplêndida no céu, o brilho a ser derramado sobre a 5ª Romaria dos Mártires da Caminhada Latino Americana, que reuniu cerca de sete a dez mil pessoas, sem contar os que olhavam das calçadas, admirados e atentos e muitos que, mesmo distantes, se uniram em espírito.

    Todos vestidos com vestes de festa, vindos dos quatro cantos do Brasil e de vários outros países, estamos postos num grande círculo, movidos pela energia vibrante dos abraços, beijos e sorrisos, trocados na emoção de reencontrarmos velhas amizades e sentirmos o calor de novos aconchegos.

    Entre nós e em nós, se manifesta a presença deles e delas, os mártires, testemunhas fiéis do Reino da Vida, cujo sangue foi derramado no colo da mãe terra, por mãos assassinas, quase sempre a mando de quem, na cegueira da ambição desenfreada, pela posse do dinheiro, dos bens de toda a terra e do poder, pagam pistoleiros violentos, para executarem quem atravessa seu caminho, denunciando seus intentos criminosos e anunciando com a verdade da própria vida, a solidariedade irrestrita com os injustiçados e oprimidos.

    Nas camisetas e faixas, nos estandartes e cantos, nos corpos de seus parentes que estão conosco e nas palavras testemunhais dos pastores, especialmente do Poeta e Profeta, Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, com seus mais de 80 anos, 40 dos quais vividos nessa região, uma das mais violentas do Brasil. Marcado, há vários anos pelo Parkinson, Pedro, fez ecoar ainda com vigor que a fé lhe confere, sua mensagem de teimosa e resistente esperança pascal.

    Ao som dos tambores e mantras de diversas tradições místicas, entra no grande espaço, o cortejo de mulheres, portando vasilhas pintadas com motivos indígenas, levando águas e flores. Circulam e dançam em volta da fogueira. Em seguida chegam crianças, meninos e meninas do povo dali, trazendo belos estandartes, com fotos e nomes dos (as) mártires, para o centro da grande roda. A equipe de coordenação vai orientando. A saudação de acolhida, com um toque orante, veio do atual bispo da Prelazia, Dom Leonardo. Finalmente, entra a Cruz do P.e João, conduzida por jovens mulheres. Do Círio Pascal, sai o fogo, posto na fogueira e nas velas das pequenas lanternas, recebidas por cada pessoa presente. A praça, rapidamente, se transforma numa constelação de luz. Um casal de Araras passa sobre nós, num belo e sereno vôo, costurando uma linha livre e sutil, ligando a lua, a fogueira e o ultimo vestígio do sol, exatamente na direção por onde seguimos em Caminhada, entoando os cânticos conhecidos: “Sou, sou teu, Senhor, sou povo novo, retirante, lutador!”, “Vidas pela vida, vidas pelo Reino”, “Ribeirão Bonito, cruz do P.e João!”…

    Foram mais de três quilômetros até o pequeno Santuário dos Mártires, construído na margem esquerda da rodovia de quem sai de Cascalheira, logo após o pequeno rio, chamado Ribeirão Bonito.  No trajeto alguns testemunhos, gritos de denuncia, das vitimas indígenas, jovens, mulheres, trabalhadores (as), cujos direitos sagrados estão sendo desrespeitados pelos atuais senhores do latifúndio, do agronegócio, da droga, do sistema bancário. Passamos bem ao lado da capelinha, onde o Padre João Bosco Penido Burnier, Missionário Jesuíta, viveu a sua última agonia, depois de ser alvejado à queima roupa, por um policial, no dia 12 de outubro de 1976. P.e João, acompanhava D. Pedro e foram pedir em favor de duas mulheres que estavam presas e eram torturadas injustamente. Ali, foi celebrada uma emocionante Vigília no dia anterior.

    Ao chegarmos ao Santuário, mais alguns testemunhos. Um momento para a leitura Bíblica, a prece do Pai Nosso, a benção e partilha de um tipo de bolinho popular na região. Para encerrar a noitada festiva, nós, artistas presentes animamos o povo, com cantos e poesias. Pelas onze horas da noite, retornamos para as casas e escolas, onde fomos acolhidos, com carinho pelas famílias da cidade.

    Na Eucaristia, o brilho da Glória Pascal!

    A manhã do domingo, 17 de julho, estava luminosa pelo sol e a beleza de cores, no espaço, atrás do Santuário dos Mártires, preparado para a Missa de despedida da Romaria, concelebrada pelos bispos D. Leonardo, D. Eugênio, bispo da cidade de Goiás e pelo próprio D. Pedro e mais de 30 padres.
    Toda celebração teve como foco principal a vitória pascal de Jesus e de todas as testemunhas da Ressurreição, desde os discípulos de Emaús (Lc 24,13), lembrando a multidão dos que lavaram suas vestes existenciais no sangue do Cordeiro (AP 7,9) e de quem, neste tempo presente, mantém a fidelidade a causa maior da vida!

    Após a comunhão, ainda alguns testemunhos e denuncias, pela boca dos representantes indígenas; Cacique Marcos e sua mãe, do povo Xucuru, de Pernambuco, que fez uma bela prece aos Encantados, pela proteção da terra e dos seres vivos. Os Xavante, na sua dura luta pela retomada de sua terra tradicional Marãiwatsédé, no Mato Grosso, de onde foram deportados na década de 1960 e que retornaram em 2004 decididos a não abrir mão da terra sagrada, onde está sua memória e foram plantados os corpos de seus ancestrais.

    Antes da benção e envio final, a mensagem emocionada de Pedro, temperada de carinho, profecia e convocação para a fidelidade no testemunho pascal: “multipliquem as romarias dos mártires da caminhada!… Esta, possivelmente será minha ultima Romaria com os pés nesta terra…!”

    Com esta imagem inesquecível e ao som do hino: “Ribeirão Bonito, Cruz do Padre João, Alta Cascalheira, gente do sertão, o suor e o sangue, fecundando o chão!”, romeiros e romeiras da Caminhada, nos despedimos, para as longas viagens de volta, com os corações unidos e aquecidos na fogueira da esperança para a missão urgente, assumida, sem reserva, até o fim, por tantas testemunhas do reinado pleno e eterno da Vida para todas as vidas: João, Chicão, Marçal, Zumbi, Conselheiro, Margarida, Zé Claudio, Maria, Dorothy, Nativo…

    Fortaleza, 19 de julho de 2011
    Em memória da experiência da Revolução Sandinista de Nicarágua, cujos 32 anos se comemora neste dia.
    Zé Vicente – poeta-cantor
    Email: zvi@uol.com.br

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  • 22/07/2011

    Pedro e os Mártires Indígenas

    Por Egon Heck

    “Que o sangue dos mártires não nos deixem em Paz” é uma das expressões proféticas de dom Pedro Casaldáliga inscrita nas camisetas dos romeiros que participaram da 5ª Romaria dos Mártires da Caminhada, em Ribeirão Cascalheira, Mato Grosso, no último final de semana. No dia da grande celebração martirial, da luz que não se apaga, das vidas que serão sempre vidas, “pé no chão” ou memória do povo que caminha em libertação, lá estava dom Pedro e ao seu lado lideranças indígenas: dona Zenilda, viúva de Xikão Xukuru, e seu filho Marquinhos. Também Elizeu Lopes, representante do povo Guarani Kaiowá, de Marçal de Souza Tupã’i e dezenas de lideranças assassinadas na luta pelas suas terras e seus direitos.

    O clamor e solidariedade indígena

    Em seu depoimento, Elizeu falou: “sou Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul. Eu vim aqui em nome da comunidade Guarani Kaiowá. Quero fazer um pedido e agradecer a oportunidade de vir aqui somar junto com vocês nesta Romaria e na busca pelo Reino, assim como nós estamos buscando nossas terras sem males. Para nós a terra é uma mãe. Buscamos essa terra para nossos filhos, para o sustento e futuro de nossas crianças”.

    Elizeu também aproveitou o momento para denunciar as violações de direitos de que têm sido vítimas as comunidades guarani. “Quero dizer que o nosso povo está sendo massacrado, violentado. Eu vi ontem a foto de uma liderança que derramou seu sangue por essa terra sem males. Marçal Tupã’i foi assassinado covardemente na luta pelos direitos, pela terra. Não foi só Marçal, mas já foram mais de 40 lideranças, professores que já perdemos quando estes lutavam por nossos direitos. Até agora o nosso país não entendeu, não achou o caminho para resolver nosso problema, demarcar as terras indígenas, principalmente no Mato Grosso do Sul”.

    “Agora quero deixar meu pedido a todos que estão aqui, que somam junto com nós povos indígenas, para que possamos denunciar aqui no nosso país e fora do país o que está acontecendo, para que o Brasil demarque as nossas terras e para que tenha fim a morte de nossos parentes que lutam por nossos direitos. Por isso, eu vim aqui em nome dos Guarani Kaiowá para dizer que nós vamos continuar lutando e nós vamos continuar buscando nossos direitos. Quero deixar para os padres que estão aqui presentes, o meu  pedido. Que ajudem, que clamem a Deus, clamem o nosso sofrimento, aqui dentro do país e fora do país, para que seja resolvida a nossa luta. Que as autoridades façam a demarcação das terras no Mato Grosso do Sul”.

    Diga ao povo que avance

    De Pernambuco, da Serra do Ororubá, território do povo Xukuru, vieram Zenilda e Marquinhos para lembrar a memória do cacique Xikão Xukuru e de todas as lideranças indígenas que tombaram na luta defendendo seus povos e seus direitos.

    Em sua fala, Marquinhos fez referência ao pai, Xicão Xukuru, cruelmente assassinado na busca pela garantia dos direitos de seu povo. “Sou filho do cacique Xikão, que também foi assassinado nessa caminhada, na luta pela terra. Gostaria de dizer que precisamos renovar cada dia nossa fé, nossa caminhada! Que cada um de nós, a cada dia, ao levantarmos de nossa cama, da rede, e pisarmos com os pés na Mãe Terra, confirmemos nosso compromisso com a Mãe Terra, pois é dela que sobrevivemos. Temos uma grande obrigação que é preparar nosso território, preparar a Mãe Terra para as futuras gerações, porque senão pensarmos a partir de agora em cuidar de nossa Mãe Terra, vai chegar o momento em que não teremos mais nada encima dela. Como dizia o cacique Xikão, ‘a terra é como o corpo humano: as matas são os cabelos, as águas são o sangue da terra, as pedras são os ossos da terra’. Nós temos que cuidar dessa Mãe Terra porque senão também nós acabaremos. Que Tupã abençoe a todos nós”, afirmou.

    Marquinhos encerrou sua fala, conclamando a todos a avançar na luta pela garantia de direitos, pela Justiça, pela Vida em plenitude e pelo Reino. “Diga ao povo que avance”, ao que ouviu em coro: “Avançaremos!”.

    Nunca desistir

    Zenilda, com seu entusiasmo na luta e profunda fé nos encantados, cantou e deu seu recado: “como mulher e indígena abracei uma causa. Perdi um marido, e tinha um filho preparado, que entreguei à luta. Nós lutamos por um só objetivo: nossos direitos, nossa liberdade, em união. Quero dizer a vocês que em cada momento desses que participo, eu me fortaleço. Saio daqui fortalecida, com minha fé renovada. Quero dizer a vocês, índios e não índios, que a gente nunca deve desistir, porque quando Deus põe a gente na terra, temos uma missão e um dom, e ele nos capacita. Quero dizer a vocês que não só no povo Xukuru, mas em todos os parentes indígenas já teve bastante sangue derramado. Não só indígena, mas daqueles que apóiam nossa causa. Queria dizer a vocês ainda que esse sangue volta para nossas veias e nos encoraja. Quem nasceu para morrer lutando, não vai morrer de braços cruzados”.

    No final da celebração, o cacique Damião, do povo Xavante, que vive na Terra Indígena Marãiwatséde, chamou todos os presentes a somar forças em favor de sua comunidade e da luta indígena pela demarcação e garantia de suas terras. A Terra Indígena Marãiwatséde, homologada em 1998, ainda hoje não foi desintrusada. O povo sofre com a invasão e depredação de seu território, além da pressão do governo de Mato Grosso, que no início do mês aprovou uma lei que prevê a permuta, pela União, da terra indígena pelo Parque Estadual do Araguaia. O projeto do governo é inconstitucional e imoral, pois o direito à posse da terra indígena é inalienável e indisponível, não podendo o povo ser transferido de seu território já demarcado e homologado para outra área.

    Grito de esperança

    Dom Pedro participou de todos os momentos da Caminhada e, com sua serenidade profética e tom poético, disse ao povo que possivelmente essa seja para ele a última romaria com o pé no chão. A outra já estaria contando estrelas no seio do Pai. Em sua fala, amor, respeito e a história de mais de 40 anos de caminhada junto aos povos indígenas do país.

    Ele afirmou ainda que os velhos têm o direito de dar conselhos. “Não esqueçam da opção pelos pobres. Os pobres se concretizam nos povos indígenas, no povo negro, na mulher marginalizada, nos sem terra, nos prisioneiros, e nos muitos filhos e filhas de Deus proibidos de viver com dignidade e liberdade.”

    Romaria

    Daqui a cinco anos, romeiros de todo o Brasil e outros continentes deverão novamente se encontrar em Ribeirão Cascalheira, para a 6ª edição da Romaria dos Mártires da Caminhada. Se o capitalismo neoliberal continuar seu brutal avanço sobre a natureza e todas as formas de vida, haverá muito martírio a ser lembrado. Porém, certamente haverá muita resistência e vida a ser celebrada.

    Até lá!

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  • 22/07/2011

    Morosidade em demarcar terras indígenas é principal causa de violência

    Constatação foi feita durante o lançamento do Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil realizado semana passada em Rondônia

    O auditório da Cúria Arquidiocesana de Porto Velho, em Rondônia, recebeu no último dia 14, diversos convidados para o lançamento da publicação Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – dados de 2010. A publicação, que é organizada pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), traz dados alarmantes sobre as violações de direitos de que são vitimas os indígenas do país.

    Somente em 2010, 92 crianças morreram por falta de cuidados médicos ou condições adequadas de saúde da mãe na hora do parto. 60 indígenas foram assassinados, outros 152 ameaçados de morte. Mais de 42 mil sofreram pela falta de assistência à saúde e à educação, entre outras. Foram registrados 33 casos de invasões possessórias e exploração ilegal de recursos naturais disponíveis em terras indígenas.

    Irmã Emília Altini, coordenadora do Regional Rondônia do Cimi, ressaltou que o carisma da entidade está explícito no anúncio, no testemunho, no apoio aos povos indígenas e na denúncia no que diz respeito à negação dos direitos e de qualquer violência que fere a vida dos povos. De acordo com a missionária, a principal causa de tais violações é a morosidade e omissão do governo diante da demarcação das terras indígenas. “O pano de fundo das violências cometidas contra os povos indígenas, bem como a violação dos seus direitos é o desrespeito à demarcação de suas terras e a morosidade dos órgãos públicos na regularização de seus territórios”, destacou.

    Das mais de 300 terras indígenas sem providência em nível nacional, 24 estão no em Rondônia. No estado, vivem hoje cerca de 54 povos indígenas, além dos 15 em situação de isolamento e risco de extinção. Cinco destes povos, inclusive, ameaçados pelas obras do Complexo do Madeira. Isto leva a afirmar que mais da metade dos povos indígenas de Rondônia estão fora de seu território tradicional e aguardando há anos que a Fundação Nacional do Índio (Funai) e os órgãos responsáveis dêem início ao processo de reconhecimento dessas áreas.

    Ainda de acordo com Emília, a luta pela terra é a chave da violência e da criminalização de lideranças indígenas. As políticas públicas não funcionam, embora esteja garantida no papel. A criminalização das lideranças indígenas, a omissão do poder público, a desassistência à saúde e à educação, também são fatores que geram as violações dos direitos das populações indígenas. “A situação de violência dos povos indígenas é fruto da definição da política do governo, que privilegia interesses econômicos e políticos específicos e um modelo desenvolvimentista em detrimento à garantia de direitos”, afirmou Emília.

    Para a missionária, a atuação do Cimi vem na contramão dessas escolhas. Nesse sentindo, de acordo com ela, o Relatório denuncia as violências contra os povos indígenas, que são fruto de uma ideologia diametralmente oposta ao projeto de vida dos indígenas, o que é plenamente defendido pela entidade. As violências são, portanto, fruto da ideologia do desenvolvimento a qualquer preço, da expansão contínua, da maximização do lucro, que é, por natureza, predatória e injusta.

    Sejamos comparsas

    Presente no lançamento, dom Moacyr Grechi, Arcebispo de Porto Velho, reafirmou as falas de Emília ao ressaltar que as violências contra os povos indígenas são frutos de uma ideologia que vai na contramão do projeto de vida destes povos. Para ele, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) invade, ocupa e destrói implacavelmente as terras, as comunidades e as vidas indígenas. “Quanto desprezo, quanta descriminação!, como disse Dom Erwin no prefácio deste livro. É a instituição de um novo ‘apartheid’, uma premeditada violação da Magna Carta do Brasil”, afirmou o arcebispo.

    Para dom Moacyr, ainda que as cruzes continuem erguidas, a devoção ao deus dinheiro e a falta de segurança na garantia da terra são as razões principais para esta agressão contínua aos povos indígenas. No entanto, o arcebispo, enfatiza a força e esperança destes povos, que apesar desse assombroso quadro de violências, continuam sorrindo e lutando. “Não devemos ter medo, o medo é a falta de esperança, é o diabo, e só vem para nos atrapalhar. Devemos ter fé e esperança. Sejamos todos comparsas dos que lutam por um Brasil para todos, e não apenas para alguns mais favorecidos”, disse.

    Tudo continua igual

    Já dom Antônio Possamai, responsável pelas Pastorais Sociais da CNBB no Regional Noroeste, o convite para participar do lançamento lhe fez pensar que este processo de eliminação dos povos originários do continente americano foi inaugurado há mais de 500 anos. “Que bom seria se nos reuníssemos para festejar uma conquista de 500 anos de respeito pela vida, dignidade, cultura destes povos! Desde aquele tempo, os povos indígenas eram considerados ‘não gente’. De lá para cá não houve muito progresso. Até recentes anos tivemos governantes que proclamaram um projeto de governo de ocupação dessas terras ‘sem gente’”, assinalou dom Antônio.

    Dom Antônio também endossou as falas de Emília e dom Moacyr, ao afirmar que as escolhas do governo não prioriza os direitos, mas o avançar em programas de progresso acelerado, como o PAC. Projetos que, de acordo com ele, passam por cima de tudo, destruindo povos, culturas e territórios para dar lugar ao lucro e ao acúmulo de capital. “Vivemos um tempo de esquecimento ou até de desprezo de tradições, esquecem-se valores, culturas e tradições. Há, entretanto uma tradição que não é desprezada: vem das capitanias hereditárias, passou pelo tempo da cana de açúcar, da mineração, do gado, da seringa, do etanol, da soja e dos grandes latifúndios, com suas cercas e pistoleiros. Desse tempo até aqui, nada mudou. As vítimas continuam as mesmas: os indígenas, camponeses, quilombolas, pequenos agricultores, trabalhadores, empobrecidos e marginalizados, porque, dizem, atrapalham o ‘progresso’”, concluiu.

    Esse governo é uma vergonha

    O presidente da Comissão Indígena de Rondônia, Antenor Karitiana citou que os direitos dos povos indígenas estão sendo negados: não têm escolas, não têm postos de saúde, têm que tomar água suja, pois seus rios estão contaminados. “Nossas escolas não estão regularizadas, muito menos valoram a nossa cultura. Está sendo negado o direito de ter tratamento de saúde digna”, desabafou. Antenor alerta ainda que a violência contra os povos indígenas é intermitente. “Ela não aconteceu só no passado, ainda é presente pela descriminação, invasão de nossas terras, pela construção de grandes empreendimentos que impactam diretamente nossas comunidades, pela busca desenfreada de lucro. A terra é nossa fonte da vida. Nós consideramos a terra mais importante, ela está acima de tudo e não o dinheiro”.

    Para Antenor, o governo não os representa, pelo contrário, os causa vergonha. “Hoje os índios estão tentando sobreviver. O governo não nos ensinou a falar o idioma e a comer a comida do ‘homem branco’. Ele está fazendo alguma coisa apenas pela pressão do movimento indígena. Os povos indígenas, principalmente no estado de Rondônia, estão vivendo sem condições dignas, em trabalho escravo. O governo está brincando conosco. Não esperamos pelo governo, nossa luta tem que ser unificada, fortalecida e essa é minha esperança. Os companheiros, os nossos aliados sempre nos ajudaram”, disse.

    Povos Indígenas Isolados

    Aproveitando o momento, o Cimi reforçou o lançamento do livro “Os povos indígenas isolados da Amazônia – A luta pela sobrevivência”, destacando que há 127 povos livres na América do Sul, dos quais 90 destes estão no Brasil, sendo 15 no estado de Rondônia. Povos estes que vêm sendo ameaçados e massacrados a risco de extinção pelos projetos econômicos e o agronegócio.

    Estes povos são vítimas invisíveis à nossa sociedade. Nas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, cinco povos indígenas livres estão sofrendo os impactos dessas obras desastrosas. Caso o governo mantenha o plano de construção da hidrelétrica de Cachoeira do Ribeirão, mais dois povos indígenas livres serão impactados. Com a construção da hidrelétrica do Tabajara no rio Machado, em Ji-Paraná, mais três povos terrão seu território tradicional impactado. As Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) no Cascata,  rio Machado (em Chupinguaia) e rio Branco (em Alta Floresta) estão sendo construídas em cima de cemitérios indígenas.

    “O Cimi, com este relatório, quer mais uma vez afirmar seu compromisso com os povos indígenas do Brasil quanto à defesa de sua dignidade e de seus direitos inalienáveis e sagrados”, afirmou Emília ao encerrar a cerimônia. Ela ainda agradeceu a presença de dom Moacyr e dom Antônio, bem como de representantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), Instituto Madeira Vivo, Faculdade Católica de Rondônia e Universidade Federal de Rondônia.

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  • 21/07/2011

    Informe nº973: Romaria dos Mártires reafirma compromisso com as causas da Vida

    Por Renato Santana
    De Ribeirão Cascalheira – MT

    Ribeirão Cascalheira, em Mato Grosso (MT), recebeu no último final de semana, dias 16 e 17 de julho, a Romaria dos Mártires da Caminhada. Sob o mote Testemunhas do Reino, cerca de seis mil romeiros vindos de todo o país celebraram e reafirmaram o compromisso com a causa de homens e mulheres que deram a vida na contestação do latifúndio, da servidão, da corrupção, da violência.

    A Romaria acontece de cinco em cinco anos e nesta edição comemorou os 40 anos da Prelazia de São Félix do Araguaia (MT), organizadora da Romaria, e os 35 anos do martírio do padre João Bosco Penido Burnier, assassinado por um policial, em 11 de outubro de 1976, depois de interceder por duas mulheres que estavam sendo torturadas na delegacia de Ribeirão Cascalheira. Dez anos depois da morte ocorreu a primeira edição da celebração romeira.

    “Recobramos o compromisso com a causa dos mártires contra a mentira, a corrupção, a desigualdade, a morte. São as testemunhas do reino e devemos todos assumir suas causas”, disse Dom Pedro Casaldáliga durante a celebração. No final da tarde do dia 16, um sábado quente e acolhedor, a Romaria teve início com a Fogueira dos Novos Dias acesa pelos indígenas, povos originários desta terra manchada de sangue mártir.  

    Em estandartes decorados com fitas e lantejoulas, os rostos de Marçal Tupã, Galdino Pataxó Hã hã hãe, Xikão Xukuru, Honestino Guimarães, Zumbi, Vicente Cañas, irmã Doroty Stang, Anastácia, Frei Tito, João Canuto e tantos outros que deram a vida pelas causas populares e dos povos negro e indígena. Entre tantas faces, estava a de padre João Bosco. Com as velas acesas, os romeiros seguiram para o Santuário dos Mártires da Caminhada.

    No trajeto, moradores oravam e acompanhavam os cânticos nas portas das casas. Gente simples de uma terra marcada pelas injustiças sociais. Erguiam suas velas e terços ao lado de crianças e cachorros – olhares vidrados na multidão que passava devagar. “Isso quer dizer que a causa dos mártires deve ser assumida por todos nós. Não adianta trazer a memória sem tomá-la para si, viver o testemunho”, explica Elizabeth Aracy Rondon Amarante, missionária junto aos índios Myky, no Mato Grosso, há 34 anos.

    E os testemunhos das testemunhas foram dados em ato público realizado na chegada da romaria ao santuário. Denúncias contra a violência praticada contra indígenas, quilombolas, ribeirinhos e camponeses foram feitas; atentados contra os direitos humanos, questões de gênero e um emocionado discurso de jovens contra a ação de grupos de extermínio nas periferias das grandes cidades; o grito da comunidade negra contra o preconceito e a opressão de classe.

    Antônio Canuto, integrante da CPT, avalia que a romaria deixa duas importantes mensagens. A primeira é para a igreja: ela não pode se afastar das lutas sociais; a outra é conjuntural: a realidade da violência e ataque aos direitos dos desfavorecidos está muito presente e é preciso continuar na luta. “A estrutura do sistema se mantém: é predadora dos bens naturais, exploradora e concentradora de terras, de riquezas”, afirma. A leitura teológica de Dom Pedro, expressa no tema desta romaria, deixa claro que tal situação só se pode reverter se cada romeiro assumir-se como testemunhas da testemunha.

    Já outros testemunhos não precisaram de palavras. Bastava olhar para Dona Zenilda Xukuru e as irmãs de Galdino Pataxó para entender a entrega de vidas inteiras às Causas da Vida. “Sofremos muitos massacres. Fazemos retomadas e de lá somos tirados com sangue derramado. Nunca desistimos. Quando Galdino foi assassinado (queimado em 1997 num ponto de ônibus em Brasília), o povo sabia que ele estava brigando por nossos direitos junto aos poderosos”, diz Marilene Pataxó, irmã de Galdino. Dos 37 mil hectares demarcados pela Funai ao povo de Galdino, no sul da Bahia, apenas 18 mil estão com os indígenas; outros 19 mil ainda estão com os fazendeiros.

     

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  • 21/07/2011

    Notas do Cimi

    Notas do Cimi

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  • 21/07/2011

    Atuação

    Dimensões da atuação do Cimi 

    TERRA – a ação prioritária do Cimi constitui-se no apoio à luta dos povos e comunidades indígenas pela recuperação, demarcação e garantia da integralidade de seus territórios. A terra é condição de vida e de realização plena da cultura de cada povo indígena. Nesta perspectiva, o Cimi assume como bandeira de luta a proteção dos territórios de todos os povos indígenas, inclusive daqueles que  permanecem sem contato com a sociedade brasileira.

    MOVIMENTO INDÍGENA – Ao longo destes quinhentos anos os povos indígenas foram encontrando maneiras criativas e diversas de resistir à opressão e às tentativas de extermínio. Nas últimas três décadas surgem de maneira articulada inúmeras formas de organizações, articulações, mobilizações que constituem hoje o Movimento Indígena. Este movimento é instrumento de luta na defesa dos direitos indígenas, é espaço para a construção de propostas comuns e para a consolidação das alianças.  O Cimi atua como parceiro nas lutas do movimento indígena, informando, discutindo possibilidades e caminhos e apoiando as suas iniciativas.

    ALIANÇAS – O compromisso na defesa da vida e dos direitos indígenas implica em um projeto de transformação ampla da sociedade brasileira. É fundamental consolidar alianças na perspectiva de construção de uma nova ordem social, baseada na solidariedade, no respeito à dignidade humana e à diversidade étnica e cultural. O Cimi visa ,a partir de sua atuação, estabelecer alianças com setores da sociedade civil, organizações latino-americanas, grupos e entidades de solidariedade e cooperação internacional no sentido de assegurar aos povos indígenas as condições  para a conquista de sua autonomia.

    FORMAÇÃO A SERVIÇO DA AUTONOMIA DOS POVOS INDÍGENAS – a formação é compreendida pelo Cimi como um processo integral, construído coletivamente e fundamentado na prática social. Assim, a formação acontece na própria atuação, na reflexão permanente sobre os desafios, perspectivas e caminhos, a partir da experiência de cada comunidade, povo e organização indígena. A formação é instrumento indispensável a serviço das lutas atuais dos povos indígenas e imprescindível para a atuação missionária, por isso é uma prioridade no Cimi deste a sua origem.

    EDUCAÇÃO, SAÚDE E AUTO-SUSTENTAÇÃO –  A atuação do Cimi nestas três dimensões tem como base o reconhecimento e a valorização das formas próprias de cada povo conceber e construir sua vida. Neste sentido, é necessário conhecer, compreender em profundidade e respeitar radicalmente as diferentes cosmovisões, construindo com os Povos Indígenas, e a partir de seus próprios sistemas, ações diferenciadas de atendimento à saúde, escolas específicas e propostas auto-sustentáveis. A atuação do Cimi tanto nas aldeias quanto nas esferas do poder público assume esta perspectiva como condição para a concretização dos projetos de futuro de cada povo indígena.

    DIÁLOGO INTERCULTURAL E INTER-RELIGIOSO – O Cimi orienta a sua ação na perspectiva de estabelecer um diálogo mutuamente respeitoso, baseado na igualdade entre as pessoas e as culturas. O diálogo inter-religioso pressupõe o respeito profundo pelas diversas concepções do sagrado, da origem e sentido da vida humana e a valorização das formas múltiplas de ritualizar a fé e alimentar as próprias crenças. A dimensão religiosa está presente em todos os aspectos da vida dos povos indígenas, em seus modos de ser, de pensar, de viver e de interagir. Ela é força motora dos seu projetos de vida, alternativos ao projeto neoliberal.

    ÍNDIOS NA CIDADE – As intensas e constantes pressões sobre os territórios e culturas indígenas resultam em migrações constantes de povos inteiros ou de famílias indígenas. Nesta busca por melhores condições de vida muitos índios tem se deslocado para os centros urbanos. Esta situação se coloca como um novo desafio para a atuação do Cimi. É necessário conhecer melhor esta realidade, os motivos que empurram algumas famílias indígenas para fora de suas áreas tradicionais e iniciar um diálogo sistemático com eles, na perspectiva de garantir os seus direitos e articular suas lutas à questão indígena mais ampla.

     

     

     

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  • 21/07/2011

    Organização

    Como o Cimi se organiza 

    Mais de 400 missionários, constituindo 112 equipes, convivem com o dia-a-dia dos povos indígenas em todo país. São leigos e religiosos que buscam com a presença solidária, o compromisso e o testemunho colocar-se a serviço da vida desses povos.

    Para articular, assessorar e orientar a ação desses missionários e para apoiar as lutas dos povos indígenas pela garantia de seus direitos, o Cimi organizou-se em 11 Regionais distribuídos pelo país e um Secretariado Nacional localizado em Brasília.

    A instância máxima do Cimi é a Assembléia Geral que se realiza de dois em dois anos. Sua Diretoria é composta pela Presidência (Presidente, Vice Presidente e dois Secretários) e pelos 11 Coordenadores regionais.

    Através do Secretariado Nacional e dos Regionais, o Cimi oferece aos missionários, índios e suas organizações apoio e assessoria nas áreas jurídica, teológica, antropológica, de comunicação, formação, educação, saúde e documentação. E edita mensalmente o Porantim, jornal especializado na questão indígena.

    São membros do Cimi os leigos e religiosos que atuam de forma direta junto aos povos indígenas; os bispos em cujas Dioceses/Prelazias haja comunidade indígena; os superiores religiosos dos missionários que trabalham junto aos índios; e o bispo responsável pela linha missionária da CNBB.

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  • 21/07/2011

    Nossa Estrutura

    Nossa estrutura 

    O Cimi está estruturado em 11 regionais e um Secretariado Nacional, em Brasília. Cada regional tem uma estrutura básica que dá apoio, orienta e coordena o trabalho das equipes nas áreas indígenas. O Secretariado Nacional cumpre o papel de articular diversas instâncias em nível nacional e disponibiliza aos missionários, índios e suas organizações um grupo de assessores nas áreas de Metodologia e Política, Jurídica, Articulação Latino Americana e Imprensa, além de Assessoria Teológica, esta última, localizada em São Paulo. No Secretariado funcionam também a editoria do Jornal Porantim e o Setor de Documentação.

    As instâncias que definem as ações da entidade são:

    Assembléia Geral: realiza-se a cada dois anos;
    Diretoria: composta pelos coordenadores regionais e presidência (presidente, vice-presidente e secretários).
    É a diretoria que responde pela direção política da entidade, cumprindo as prioridades, linhas de ação e objetivos definidos na Assembléia Geral.

    Em função das demandas do trabalho e do aprofundamento das temáticas, em algumas frentes de atuação, foram constituídas articulações nacionais: ANS (Articulação Nacional de Saúde), ANE (Articulação Nacional de Educação), ANAS (Articulação Nacional de Auto-Sustentação), ANF (Articulação Nacional de Formação) e ANDRI (Articulação Nacional de Diálogo Inter-Religioso e Inculturação). Estas articulações são compostas por missionários e assessores em nível regional e nacional que possibilitam à entidade um acúmulo próprio de reflexão, análise e propostas em cada uma dessas áreas. Semelhante processo ocorre nos regionais quando estes constituem setores responsáveis por temas específicos.

    O Cimi conta atualmente com aproximadamente 418 missionários, compondo 114 equipes de área localizadas em várias regiões do país. São leigos e religiosos cuja presença solidária, comprometida e inculturada é testemunho da fé na utopia pascal.

    Inculturação e diálogo com as culturas indígenas são condições básicas para o trabalho missionário. Busca-se conhecer essas culturas para respeitá-las e estar junto em cada momento da vida dos povos, especialmente nas lutas pela garantia de seus direitos.

    A atuação do Cimi é também junto à Igreja, ao Estado e à sociedade. O que se quer é unificar a ação missionária junto aos índios, intervir nas ações do Legislativo, Executivo e Judiciário que atinjam os interesses dos índios e estimular os diversos setores sociais para que se solidarizem com a causa indígena.

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