• 17/12/2012

    Vale do Javari: Pesquisa petrolífera ameaça povos isolados

    O Conselho Indigenista Missionário – Cimi, vem a público denunciar e repudiar mais uma manobra do Governo Federal que afetará os povos indígenas do Vale do Javari, especialmente grupos sem contato com a sociedade e que, por isso, são mais vulneráveis. Pelo menos três grupos de indígenas sem contato naquela região podem ser afetados pelos trabalhos de prospecção sísmica para exploração de gás e petróleo.

     

    Os grupos isolados em questão se localizam nas proximidades dos igarapés Ambures e Cravo e do Rio Batã, no sudoeste da terra indígena Vale do Javari, no município de Atalaia do Norte (AM), conforme dados da Fundação Nacional do Índio – Funai.

     

    A Agência Nacional do Petróleo – ANP, realiza pesquisas desde 2007 tendo contratado, em 2009, a empresa Georadar. Embora a prospecção esteja sendo feita fora dos limites da terra indígena, não foram levados em conta estudos realizados pela Funai que apontam para a existência de grupos sem contato com a sociedade e que podem estar sendo afetados, pois ali tem sido realizados sobrevôos e explosões.

     

    Os Marubo também estão entre os povos afetados e se dizem amedrontados com as possíveis consequências, pois em nenhum momento foram informados sobre as atividades realizadas nas proximidades da terra indígena Vale do Javari. Os representantes da Funai foram informados depois do início dos trabalhos de que uma das linhas de prospecção corta um varadouro localizado na cabeceira do rio Curuçá, utilizado pelos Marubo há mais de 60 anos para se deslocarem até a cidade de Cruzeiro do Sul, no Acre, onde buscam atendimento médico, comercializam seus produtos e realizam outras atividades.

     

    As ações desenvolvidas pela ANP acontecem num momento em que se constata forte pressão para acelerar o trâmite na Comissão Especial da Câmara Federal que analisa o Projeto de Lei 1610/96, de autoria do senador Romero Jucá (PMDB/RR), que autoriza a exploração mineral em terras indígenas. É muito sintomático também que na região do Vale do Javari vem acontecendo há cerca de três décadas muitas mortes causadas por doenças como malária, hepatites, tuberculose e outras, sem que o Governo Federal adote as medidas necessárias para prevenir e curar as doenças. Causa estranheza o silêncio e a omissão do Governo Federal diante de inúmeras manifestações que os povos indígenas tem feito, por meio de suas lideranças e organizações, solicitando as ações necessárias para evitar a continuidade das mortes.

     

    Tal como vem acontecendo nas áreas de execução de obras como as hidrelétricas de Belo Monte e Complexo Hidrelétrico do Madeira, as populações locais não são consultadas ou somente são informadas posteriormente a execução dos trabalhos. Na região do rio Madeira, onde estão em construção as barragens de Jirau e Santo Antônio, o Governo Federal também não considerou a presença de grupos isolados.

     

    A região do Vale do Javari, no oeste do Estado do Amazonas, na fronteira com o Peru, concentra o maior número de povos isolados, sem contato com a sociedade envolvente. De acordo com informações da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari, da Funai, são 13 povos, dos quais oito são confirmados e outros cinco estão em fase de estudos. Nas décadas de 1970 e 80, a Petrobrás realizou pesquisas na região que resultou em conflitos onde foram mortos funcionários da empresa. Não se sabe, porém, quantos indígenas podem ter morrido naqueles conflitos.

     

    Brasília, DF, 17 de dezembro de 2012.

     

    Cimi – Conselho Indigenista Missionário

     

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  • 17/12/2012

    Nota do CTI sobre a atividade petroleira ao sul da Terra Indígena Vale do Javari

    A década de 2000 assistiu a um crescimento expressivo da presença da indústria petroleira na Amazônia Ocidental. No Peru, a política de governo do ex-presidente Alan Garcia agraciou com inúmeras vantagens o setor, levando ao loteamento de mais de 70% da superfície da Amazônia peruana para a exploração de petróleo e gás, mediante um sistema de concessões – apenas entre 2003 e 2009, o incremento da área amazônica loteada passou de 15% para 72% da superfície do bioma no país. A alta do preço do petróleo no mercado internacional e a ação conjugada de incentivos a investimentos privados e ataques aos direitos dos povos e populações afetados por tais empreendimentos levou ao acirramento de tensões e a graves conflitos em toda a Amazônia peruana nos últimos anos. No Brasil, durante o governo Lula, o lobby do setor petroleiro logrou aportes financeiros no Programa de Aceleração do Crescimento para que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) contemplasse em seu Plano Plurianual o investimento em pesquisas sobre o potencial petrolífero da Bacia Sedimentar do Acre, na região do alto Juruá.

     

    Neste contexto, em 2007 a ANP dá inicio a uma série de pesquisas, contratando a aquisição de dados aerogeofísicos e geoquímicos da Bacia do Acre. A estas atividades foram dispensados licenciamentos e elas foram executadas sem quaisquer esclarecimentos sobre sua realização aos povos e comunidades que habitam a região. Os resultados das pesquisas tampouco foram divulgados localmente. Mesmo com as seguidas manifestações públicas feitas pelas organizações indígenas da região e outros atores da sociedade civil contra a falta de transparência e diálogo, a ANP, entusiasmada pelos resultados preliminares, dá continuidade às pesquisas, licitando em 2009 a contratação das atividades de prospecção sísmica no alto Juruá ao longo de 12 linhas, que totalizam 1.017 km.

     

    As linhas sísmicas foram estrategicamente traçadas pela ANP a fim de distarem no mínimo 10 km de TIs e UCs, alegando assim tratar-se de uma atividade de impacto indireto às áreas protegidas e, com isso, evitar um demorado e custoso processo de licenciamento ambiental. Com isso, a empresa contratada para o serviço, a GEORADAR, recebeu a dispensa de elaboração de EIA-RIMA e obteve mediante a apresentação de um Plano de Controle Ambiental (PCA) – no qual justifica a inexistência de obrigatoriedade de realizar qualquer ação de comunicação junto aos povos indígenas da região – a Licença de Operação (LO) e a Autorização para Supressão Vegetal (ASV), emitidas pelo IBAMA em fevereiro e maio deste ano, respectivamente.

     

    Entretanto, ocorre que em meados de 2011, antes da obtenção da LO e ASV, a Funai é informada pela empresa sobre a realização do empreendimento e sobre a suposta ausência de impactos sobre os povos indígenas da região. Na época a Coordenação Geral de Gestão Ambiental (CGGAM) era a instância técnica do órgão indigenista responsável por acompanhar os processos de licenciamento de empreendimentos e, para tanto, deveria dialogar com outras instâncias do órgão, como por exemplo a Coordenação Regional do Vale do Javari (CRVJ) – o que não aconteceu – e a Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC), em função de haver referências de índios isolados na região.

     

    Prontamente a Funai, por meio da CGIIRC, manifesta-se apontando, dentre outros pontos, a necessidade de levantamento prévio por parte de especialistas da Funai nas áreas onde seriam abertas as picadas necessárias para efetuar o levantamento sísmico nas áreas próximas aos limites sul da TI Vale do Javari, por se tratar de áreas em que há informações sobre a presença de índios isolados. Além disso, verifica-se que o traçado de uma das linhas (a linha 08) atravessa um varadouro utilizado historicamente pelo povo Marubo, e que, portanto, a eles deveria ser elaborado um Plano de Comunicação específico sobre a realização das atividades.

     

    Ciente destas informações desde 2011 e em meio a tratativas junto ao órgão indigenista, a empresa GEORADAR realiza em meados deste ano as atividades de levantamento sísmico na linha 08 (o que envolve a movimentação de grupos de trabalhadores, a abertura de picadas e clareiras, o trânsito helicópteros e a detonação subterrânea de explosivos) sem observar os pontos apontados pela Funai e sem o conhecimento e acompanhamento por parte do órgão. Ainda mais grave é o fato de os povos indígenas do Vale do Javari não terem sido informados a respeito do empreendimento previamente à realização das atividades. Mesmo agindo de má-fé durante o processo, a GEORADAR insiste diretamente junto a funcionários da Funai para a realização de reunião para “informar” os índios a posteriori, demonstrando uma suspeita preocupação antes inexistente e buscando “cumprir” as exigências demandadas pela Funai (e desrespeitadas pela empresa) ao PCA do empreendimento.

     

    O CTI já havia alertado em artigo publicado em 02/11/2011 para as consequencias do atropelo promovido pelo Governo Federal em seu ímpeto desenvolvimentista de “acelerar” processos de licenciamento ambiental de empreendimentos a todo e qualquer custo. Nada se pergunta aos índios, mas o MME, os diretores da ANP e parlamentares não escondem o entusiasmo e a expectativa com a exploração de hidrocarbonetos no alto Juruá. As atividades de pesquisa do potencial petrolífero previstas no PPA da ANP continuam e já se fala de incluir a Bacia do Acre na 12ª rodada de leilões (a 11ª está prevista para o primeiro semestre de 2013). Em outubro deste ano, a ANP contratou a empresa FLAMOIL para o reprocessamento em laboratório dos dados sísmicos já coletados em campo pela Petrobrás em bacias sedimentares terrestres, incluindo a Bacia do Acre. O volume das linhas sísmicas já pesquisadas na região do alto Juruá é significativamente mais denso do que as que estão sendo realizadas pela GEORADAR, e a maior parte incide em áreas que atualmente são TIs e Ucs (ver mapa). A lembrança dos povos indígenas do Vale do Javari com a presença de funcionários da Petrobrás durante a prospecção de linhas sísmicas e perfuração de poços estratigráficos durante os anos 70 e 80 não é boa: surtos de doenças, incomodo com fumaça, explosões e sobrevoos rasantes e conflitos com grupos de índios isolados, valendo-se de disparos de espingarda e bombardeios com os explosivos destinados a prospecção.

     

    Em 2011, a ANP publicou um documento que reúne e analisa os resultados preliminares das pesquisas com os dados já existentes sobre a Bacia, e atesta a alta probabilidade da existência de reservatórios de gás natural viáveis de serem explorados. Dentre estes possíveis reservatórios, um dos maios promissores é denominado de “Baixo Batã”, que se estende desde o rio Batã, na TI Vale do Javari, até o sul do Parque Nacional da Serra do Divisor. No outro lado da fronteira, no Peru, nas últimas duas semanas a empresa PACIFIC STRATUS deu início as atividades de prospecção de linhas sísmicas do lote 135, correspondente a esta região – o CTI já havia apontado em dezembro do ano as ameaças que estas atividades representam para aos povos indígenas da região. 

     

    Os eventos acima descritos ilustram bem o tipo de atropelo cada vez mais frequente em processos de licencimento de empreendimentos que afetam povos indígenas no Brasil. Em primeiro lugar, nota-se a falta de comunicação inter e intra-institucional entre os órgãos de governo envolvidos. A FUNAI não é órgão licenciador, e sim o IBAMA, que deveria ter entrado em contato com o órgão indigenista para que este se manifestasse no processo de licenciamento, como manda a lei. Internamente à FUNAI, percebe-se que houve falta de comunicação entre as esferas envolvidas, agravada pela transição da responsabilidade por acompanhar processos de licenciamento da CGGAM para a recém-criada Coordenação Geral de Licenciamento (CGLIC). Como resultado, o processo referente à realização de levantamentos geofísicos na Bacia do Acre ficou “no limbo”, em evidente prejuízo para os povos indígenas afetados – sobretudo os povos indígenas do Vale do Javari, que permaneceram à margem de todo o processo. Neste limbo, a Georadar deu seguimento a suas atividades sem qualquer consulta aos povos indígenas do Vale do Javari e sem qualquer acompanhamento por parte da FUNAI, embora estivesse ciente do posicionamento da CGIIRC a respeito da necessidade de levantamento prévio e acompanhamento por parte de técnicos do órgão, sob o risco de afetar índios isolados. É evidente, portanto, que a Georadar se aproveitou da situação, agindo com a falta de escrúpulos comum ao setor energético no Brasil.

     

    Acesse o Mapa com as linhas sísmicas em alta resolução AQUI

     

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  • 17/12/2012

    Nota da CPT sobre Marãiwatsédé

    A Comissão Pastoral da Terra, Mato Grosso, reunida em Cuiabá no Encontro Estadual, com representantes de todas as equipes do Estado, quer expressar a sua total solidariedade e, simultaneamente, lamentar com profunda indignação a situação por que passa, mais uma vez, o Povo Xavante da aldeia Marãiwtsédé (Médio Araguaia).

     

    Após anos de espera, que impôs seqüelas irreparáveis à todo Povo Xavante, principalmente às crianças, que morreram vitimadas pelas doenças, finalmente acreditamos que uma injustiça histórica está sendo reparada. No entanto, o que estamos assistindo, atualmente, é um quadro extremamente preocupante, de forte agressão ao Estado de Direito, por parte de grupos que historicamente exploraram a área indígena até a exaustão; hoje, eles continuam a manipulação da verdade e da realidade, com a conivência do Governo do Estado. Exemplo disso é a Lei nº 9.564 de 2011 que autoriza a permuta com a FUNAI, trocando a Terra Indígena Marãiwatsédé pelo Parque Estadual do Araguaia, proposta pelo Presidente da Assembléia, José Geraldo Riva e pelo deputado Adalto de Freitas, com o apoio da mídia subserviente.

     

    Além disso, há uma série de outros posicionamentos de políticos, eleitos para representar o povo, que merecem repúdio. Entre eles, a manifestação carregada de preconceito e ódio do então Senador Cidinho dos Santos (PR), publicada no Diário de Cuiabá, em que afirma: “Hoje, podemos dizer que, primeiramente, existem os direitos dos índios e, depois, vêm os direitos dos humanos”.

     

    No coro das injustiças e inverdades, está também o Deputado Federal Júlio Campos (DEM/MT), que protestou a favor dos intrusos, desconsiderando a vida e a história dos indígenas Xavantes na região, já fartamente comprovada nos laudos antropológicos.

     

    Tudo isso vem trazendo um clima irrespirável e conseqüências graves não somente para o povo Xavante, mas para toda a sociedade. Provocam-se e acirram-se, a cada dia, ódios e chantagens vingativas e violentas. Chega-se a executar ações desumanas, como as que foram claramente expostas pelos intrusos, no bloqueio da BR 158, em que se proibiu, mesmo com a escolta da Força Nacional, a trafegabilidade de uma ambulância que transportava uma indígena Xavante que se encontrava em trabalho de parto, necessitando, urgentemente, de cuidados médicos. E, como não bastassem, os intrusos destruíram as pontes de acesso à aldeia Xavante, privando os indígenas do alimento e da água potável.

     

    Uma absurda projeção de culpas tem recaído em quem sempre defendeu posseiros e indígenas, a exemplo do Bispo Pedro e outros agentes da Prelazia. Não podemos aceitar que a voracidade de lucro de poucos setores privilegiados possa levar ao desequilíbrio da violência e do ódio, renovados por essas atitudes. Esperamos que a intervenção do Ministério Público Federal possa dar um basta a estes graves abusos

     

     

    Na procura da Paz com Justiça, nos encoraja a firme posição assumida pelo novo bispo, Dom Adriano e sua Prelazia. Juntos, a CPT de MT quer contribuir para que se possa trilhar o caminho da justiça, com o reassentamento das famílias que tem direito à Reforma Agrária e conclamamos os órgãos Federais e Estaduais e toda a sociedade a se unirem neste objetivo de Paz.

     

     

    COMISSÃO PASTORAL DA TERRA, REGIONAL MATO GROSSO.

                                                                                             

     

    Cuiabá-MT, 16 de dezembro de 2012

     

     

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  • 16/12/2012

    Mensagem de solidariedade do Povo Myky aos Xavante de Maraiwãtsédé

     

    Nós, da comunidade Mỹky, recebemos essa carta, lemos seu documento e respondemos para vocês. Estamos acompanhando pela TV e notícias pelo Cimi. Vocês tem direito de lutar a terra de volta. Nós estamos torcendo para que vocês retomem a terra dos fazendeiros. Até mesmo suas lideranças sofrem ameaças. Vocês tem esperança de viver nesta terra, o bem viver Xavante.

    Nós, povo Mỹky, também estamos lutando por nossa terra. O processo ainda está correndo pela Justiça, também temos ameaças com os fazendeiros. Como vocês, também estamos lutando para reconquistar a terra. Porque antigamente aqui que moravam nossos avós, nessa terra que estamos lutando, castanhal e trucuzal.

    Assinamos todos e todas da comunidade Mỹky

     

     

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  • 14/12/2012

    Informe nº 1044: Desassistência na Casa de Saúde Indígena de Rio Branco deixa indígenas na penúria

    O texto a seguir, publicado na página do Combate ao Racismo Ambiental, mostra a triste realidade vivida pelos povos indígenas no Estado do Acre e Sul do Estado do Amazonas especialmente na área de saúde. Há anos os indígenas têm denunciado o estado de abandono da CASAI, em Rio Branco sem que providências suficientes tenham sido tomadas. A lista de reclamações e denúncias vai desde a falta de água e papel higiênico até o fretamento irregular de aeronaves e contratação de empresa para prestação de serviços de lavanderia sem que os serviços sejam executados adequadamente.

     

    No dia 12 de dezembro, às 16 horas, em reunião com o MPF, Polícia Federal, Cimi e indígenas que se encontram em tratamento na CASAI de Rio Branco, o chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), Raimundo Alves Costa teve a oportunidade de responder aos questionamentos e ouvir as reivindicações dos indígenas. Entretanto, optou por respostas vazias, tentou, em algumas situações, responsabilizar os próprios indígenas pela situação e se defender das cobranças dos indígenas, especialmente por não apresentar um plano de gestão.

     

    Algumas respostas formuladas pelo Raimundo Costa mostram o despreparo para tratar os indígenas em questão da saúde na Casai. Questionado, por exemplo, sobre a falta de papel higiênico nos banheiros, ele argumentou que não os pode colocar porque "os pacientes retiram". Quanto à falta de lençóis e fronhas não conseguiu explicar porque os lençóis não são trocados e lavados regularmente, já que tem uma lavanderia contratada para este fim.

     

    Quanto ao frete e transporte irregular de paciente, feito por empresa sem a devida licença da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para este tipo de transporte, o Sr. Costa afirmou se tratar de um convênio com o Estado e não com o Dsei. Em seu entendimento, quem deveria responder por isso seria a Secretaria Estadual de Saúde, que segundo ele é quem é responsável pelos tratamentos de média e alta complexidade, além do tratamento fora de domicílio. Entretanto, reconheceu que a empresa contratada, ou que presta serviços ao DSEI, por várias vezes realizou pousos em uma pista que fica na fazenda do proprietário da empresa aérea, sem, no entanto, conseguir explicar porque isso acontecia. Porque, afinal, os aviões se estivessem regulares não pousariam na pista do aeroporto de Rio Branco? Porque alguém faria um pouso em uma fazenda sem nenhum instrumento podendo pousar em um aeroporto internacional com todas as condições de operacionalidade?

     

    Enfim, a reunião não foi satisfatória para os indígenas, pois não conseguiu atender as reivindicações e demandas. Voltaremos a tocar nesse assunto. Agora segue o texto  do Combate ao Racismo Ambiental, com meus agradecimentos à Ana Patricia Ferreira Patira.

     

    AC – Casa da Saúde Indígena de Rio Branco é fechada por aqueles que devia tratar

    Tania Pacheco*
    Combate ao racismo Ambiental 

    A Casa de Saúde Indígena (Casai) de Rio Branco, Acre, foi hoje fechada pelas pessoas que ela deveria acolher e tratar. A péssima qualidade no atendimento, que inclui até mesmo falta d’água para limpeza e higiene de um local onde deveria haver total assepsia, vem sendo alvo de intimações e processos do Ministério Público Federal desde o início de 2012.

     

    Segundo Ana Patira Ferreira, neste momento as lideranças indígenas estão no MPF, juntamente com o coordenador da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) do Acre, Raimundo Costa, cuja demissão imediata exigem. ”Se esta é a situação em Rio Branco”, diz ela, “imagine como funcionam as Casais do interior! No município de Feijó, os indígenas ficam todos na beira do rio, porque a Casai local não tem condições de atendê-los”.

     

    Enquanto a Funai e o Ministério da Saúde se mantêm omissos, Ana Patira pergunta: “Quantos mais terão que morrer? Tudo por puro descaso e omissão dos órgãos competentes!”.

     

    A palavra de Deborah Duprat

     

    Numa triste coincidência, há penas dois dias, 10 de dezembro, foi comemorado o Dia D da Saúde Indígena. E a vice-procuradora geral da República e coordenadora da Câmara das Populações Indígenas do MPF, Deborah Duprat, reafirmou a urgência de uma ação conjunta nos estados, envolvendo o ajuizamento de ações civis públicas e recomendações a órgãos públicos “a fim de proporcionar, proteger e recuperar a saúde das comunidades indígenas em todo o país”. Como ela denunciou, “está faltando tudo: médico, remédio, transporte para levar pacientes para os hospitais. O quadro é de extrema indigência”. E foi adiante: “Esta é uma data internacional de atenção aos direitos humanos dos índios. Temos o projeto de tornar esta sociedade melhor, mais plural, mais justa”.

     

    Para que isso aconteça, Deborah Duprat afirmou que o MPF expediria recomendações e ajuizaria ações civis públicas em diversos estados, obrigando a Sesai a atender os índios que não residam em terra demarcada, construir postos de saúde nas aldeias e, por fim, prestar contas da aplicação correta dos recursos do Incentivo de Atenção Básica aos Povos Indígenas (IAB-PI), um saldo remanescente recebido pelas prefeituras no passado e não utilizado. As ações civis públicas vão também exigir do poder público o fornecimento de medicamentos e tratamento de água nas aldeias, assim como a melhoria no transporte aos pólos base e na estrutura das Casas de Apoio à Saúde do Índio (Casais).

     

    A vergonhosa situação do Acre

     

    Informação divulgada pelo Ministério Público Federal do Acre, no próprio dia 10, salienta que o órgão há anos vem tentando ”resolver as deficiências por meio extrajudiciais, através de reuniões, audiências públicas e recomendações”. Em abril de 2011, o MPF alertou a Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde “sobre a necessidade de reformulação do quadro de servidores e da estrutura física disponibilizada aos índios das 14 etnias no Estado”.

     

    Como as reuniões, audiências e recomendações se mostraram inúteis, em fevereiro deste ano o MPF ajuizou uma ação civil pública, pedindo que a Justiça Federal determinasse amplas melhorias para justificar inclusive a existência da Sesai. Na ação, o Ministério denuncia “a situação de descaso e abandono a que os índios são submetidos, com a alta incidência de Hepatites do tipo ‘B’ nas aldeias. Uma doença que tem prevenção por meio de vacina, mas que até hoje não foi alvo de uma campanha de vacinação que garantisse a imunização da totalidade dessas pessoas que residem em áreas de difícil saída e em sua grande maioria não tem como se locomover às cidades nas campanhas regulares de imunização”.

     

    Ainda segundo o documento divulgado segunda-feria, o “MPF pediu à Justiça que determinasse a organização dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas conforme sua previsão original, com a contratação, no prazo de até um ano, de profissionais de saúde com salário compatível com os dos outros profissionais de saúde do Governo Federal. Além disso, também foi pedido que fosse determinada, no prazo de 12 meses ou outro fixado pela Justiça, a construção de postos de saúde em todas as aldeias definidas nos Planos Distritais de Saúde. Pelos pedidos da ação, também deveriam ser executadas obras de saneamento básico, até o ano de 2014, bem como serem adquiridos alimentos e medicamentos, de acordo com as indicações nos Planos Distritais, incluindo-se nessas aquisições kits de higiene pessoal a serem distribuídos mês a mês”.

     

    O final da informação é lamentável e vergonhoso, mas explica os motivos que levaram ao fechamento da Casai, hoje: “A Justiça Federal negou por duas vezes a concessão de liminar que anteciparia os efeitos dos pedidos da ação, e o MPF aguarda pelo julgamento regular do caso”.

     

    Ante esse total divórcio entre o MPF e os juízes federais, é urgente que o Ministério da Saúde se pronuncie e tome providências, inclusive afastando o responsável pela Sesai no estado. É fundamental, igualmente, que Deborah Duprat, uma pessoa que aprendemos a respeitar, faça valer suas palavras no início da semana. E é bom paralelamente que tod@s nós, que estamos na luta, entendamos cada vez melhor a importância de combater a PEC 37! A justiça precisa ser democratizada, para que os direitos sejam respeitados neste País. Chega de arbítrio e de impunidade!

     

    *Com informações de Ana Patira Ferreira e do MPF do Acre.

     

     

     

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  • 14/12/2012

    Avante Xavante de Marãiwatsédé

    Finalmente a volta da terra, da mata e animais restantes. A destruição passou. Aliás, está passando. Enquanto os grandes gananciosos, escudados atrás de alguns iludidos pequenos produtores, ali fizerem a sua trincheira de guerra, a destruição continuará. Quem sabe os mesmos búfalos da FAB (Força Aérea Brasileira) que na década de 60 tiraram os Xavantes de seu território, possam se redimir, levando agora os fazendeiros invasores para bem longe. E o INCRA poderia se apressar em desapropriar alguns latifúndios da região para reassentar os pequenos trabalhadores rurais. Assim se apressaria a justiça e o cumprimento da Constituição.

     

    Argumentos falazes

     

    Há poucos dias vi estampado na mídia manchetes raivosas e mentirosas dizendo que mais de sete mil pessoas seriam jogadas na miséria com a sua retirada da terra indígena Xavante de Marãiwatsédé.

     

    “Aproximadamente 700 índios xavantes poderão ser donos de um latifúndio já ocupado e beneficiado por cerca de 7.000 pessoas… Até o dia 6 de dezembro, aproximadamente 7.000 pessoas terão que desocupar a gleba Suiá-Missú, localizada entre os municípios de Alto da Boa vista, Bom Jesus do Araguaia e São Félix do Araguaia“ (Rui Prado – Justiça Injusta).

     

    A referida matéria destila argumentos falazes, como disse Dom Luciano, por ocasião da CPMI, contra o Cimi, em 1988.

     

    Os números são mentirosos. Conforme levantamento do IBGE, não chega a 2.500 pessoas a população que vive nessa área, incluindo índios e não índios.

     

    Ao afirmar que índios e “não índios viviam em harmonia” e que os “índios são entraves econômicos”, a mídia repete os mesmos jargões mentirosos como nos tempos da ditadura militar, quando os índios Kaingang e Guarani, do sul do país, começaram a expulsar os milhares de invasores de seus territórios. Certamente havia harmonia entre os grandes invasores e aqueles que estavam sendo iludidos com a promessa de legalização das terras que estavam sendo invadidas. E quem sabe existia a harmonia de cemitérios, entre os índios assassinados e os deportados para centenas de quilômetros de seu território originário. Lembro-me bem que o discurso dos invasores na década de 70 era de que se tirassem os “brancos” das terras indígenas, estes morreriam de fome e abandonariam suas terras para acompanhar os que estavam sendo retirados. Mais de 30 anos depois, vemos os povos indígenas do sul em suas terras em grande parte recuperadas, construindo, com dificuldade, com dignidade seus projetos de autonomia e bem viver.

     

    A volta da vida

     

    “Os animais não podem sofrer mais com tanta destruição da natureza. Quando a terra for devolvida para nosso povo, a floresta vai viver novamente. Vão voltar animais e plantas. Nossa mãe vai ficar muito forte e bonita como sempre foi. É assim que vai ser” (Cacique Damião Paridzane – dezembro de 2012).

     

    As palavras carregadas de sabedoria e profecia, são a certeza de que algo de novo e melhor acontecerá para todos, Xavante e a natureza. Porém, as ameaças e os riscos continuam a rondar as terras indígenas e seus projetos de vida e autonomia. Será preciso solidariamente lutar por transformações profundas em nosso modelo de sociedade para dar concretude aos sonhos do cacique Damião

     

    Dom Pedro, amigo dos Xavantes, dos posseiros e dos pobres

     

    O profeta da vida, da transformação e da vida, na mira do latifúndio. Os mesmos interesses que na década de 70 o acusavam de comunista e instavam o governo militar a expulsá-lo do país, voltam agora à carga com ameaças, “acusando-o” de responsável pela devolução da terra aos Xavante e a retirada dos não índios. Uma iniqüidade. Pedro volta às catacumbas, à sua trincheira de luta, pela justiça, solidariedade e esperança.

     

    Representantes dos Xavante e Bororo, foram levar seu apoio às comunidades Kaingang e Guarani, do sul do país, em 1976. Hoje esses povos prestam seu apoio e solidariedade aos Xavante de Marãwatsédé, na luta pela retirada de todos os invasores de seu território.

     

    Egon Heck

    Povo Guarani Grande Povo

     

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  • 12/12/2012

    “Miséria cercada de riqueza por todos os lados”

    MPF acompanha Comissão do Congresso Nacional em visita a área indígena de MS. Integrantes falam em etnocídio dos guarani-kaiowá.

     

    Equipe do Ministério Público Federal (MPF) em Mato Grosso do Sul acompanhou os representantes da comissão externa do Congresso Nacional, em visita à área indígena Pyelito Kue, na fazenda Cambará, em Iguatemi, sul do estado. Os 8 congressistas visitaram o acampamento que se tornou mundialmente famoso após uma carta dos indígenas explicando a sua luta pela terra ser interpretada como ameaça de suicídio coletivo.

     

    Eles conheceram as condições de vida dos cerca de 170 habitantes do local, um acampamento à beira do Rio Hovy, estabelecido em novembro de 2011. As informações levantadas, assim como aquelas repassadas pelo Ministério Público Federal, irão subsidiar relatório da Comissão, que será entregue à Presidência da República, e será discutido  internamente pela Câmara dos Deputados e Senado Federal.

     

    Os representantes do MPF informaram os congressistas sobre a possibilidade jurídica para a indenização dos proprietários de terras que forem consideradas indígenas, desde que possuam títulos emitidos pelo governo federal. 

     

    Vieram a Mato Grosso do Sul os deputados federais Janete Capiberibe, Penna, Ricardo Tripoli, Sarney Filho, Erika Kokay e Geraldo Rezende, além dos senadores João Capiberibe (PSB-AP) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). Delcídio do Amaral (PT-MS) e Waldemir Moka (PMDB-MS) inicialmente participariam mas desistiram. 

     

    Os integrantes da comissão descreveram a condição dos indígenas como “desumana, inadmissível, e absurda situação de confinamento”. Clique nos nomes dos parlamentares para ouvir o depoimento deles sobre a situação dos indígenas em MS: deputado Sarney Filho, deputada Erika Kokay, senador João Capiberibe e senador Randolfe Rodrigues.

     

    Pyelito Kue

     

    Os índios se refugiaram no local que atualmente ocupam depois de ataque de pistoleiros em agosto do mesmo ano (clique aqui para conferir notícia e fotos). Crianças e idosos ficaram feridos e o acampamento, montado à beira de estrada vicinal, foi destruído. Eles permanecem na área por decisão judicial, até que os trabalhos de identificação da terra indígena sejam concluídos pela Funai.

     

    Mato Grosso do Sul possui a 2ª maior população indígena do Brasil, cerca de 70 mil pessoas. São cerca de 40 mil indígenas da etnia guarani-kaiowá. Confinados em pequenas reservas e acampamentos de beira de estrada, eles enfrentam o maior índice de homicídios do país, 140 mortes por 100 mil habitantes.

     

    Os indígenas foram expulsos de suas áreas de origem entre o fim do século XIX e meados do século XX, para a colonização do estado, e confinados em pequenas áreas que não permitiam sua organização social. A partir de 1988, com a promulgação da Constituição Federal, que garantiu a posse indígena sobre as áreas tradicionais, houve um fortalecimento do movimento indígena no estado. A Constituição também determinou que o Ministério Público Federal é o defensor dos direitos dos povos indígenas.

     

    Para saber mais sobre a questão indígena em MS, acesse a Revista Tekohá 2. Clique aqui para conferir a Revista Tekohá 3.

     

     

    Único acesso ao acampamento é pelo rio

     

    Assessoria de Comunicação Social

    Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul

    (67) 3312-7265 / 9297-1903

    (67) 3312-7283 / 9142-3976

    www.prms.mpf.gov.br

    ascom@prms.mpf.gov.br

    www.twitter.com/mpf_ms

     

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  • 12/12/2012

    Carta às comunidades sobre desocupação das terras de Marãiwatsédé

    Queridos irmãos de nossa Prelazia de São Félix do Araguaia,

     

    Estamos vivendo um momento de muita apreensão e tensão em nossa Prelazia por causa da retirada dos ocupantes não-indígenas das terras de Marãiwatsédé. Sabemos que está havendo muito sofrimento, sobretudo, dos mais pobres, por causa desta retirada determinada pela justiça.

     

    Queremos lembrar que nós, bispos e agentes de pastoral, desde o início desta ocupação alertamos e sempre continuamos alertando para a possibilidade do atual desfecho por se tratar de terras cujo direito é garantido ao povo Xavante pela Constituição Federal de nosso país.

     

    Lamentamos que pessoas humildes tenham se deixado levar pelas promessas de políticos e demais pessoas interessadas apenas em tirar proveito desta terra historicamente pertencente ao povo Xavante e que estão acostumadas a usar o povo para garantir os seus interesses.

     

    Repudiamos todas as ameaças que nosso bispo emérito Pedro vem sofrendo, bem como membros do povo Xavante. Alertamos para o fato de que nenhuma violência poderá reverter a decisão tomada pela justiça e que o atos criminosos só aumentarão o sofrimento de mais pessoas e suas consequências deverão cair também sobre as cabeças de quem os praticar.

     

    Reafirmamos aos que tem direito aos programas da reforma agrária que continuamos prontos para apoiá-los na luta pela garantia desse direito. Pedimos encarecidamente a todos, cristãos e não-cristãos de nossa Prelazia que não usem o fato da desocupação para criar mais ódio contra os povos indígenas, pois todos temos direito a uma vida digna. Pedimos a todos serenidade neste momento e invocamos as bênçãos de Deus, Pai de todos nós.

     

    Santa Terezinha, 11 de novembro de 2012.

     

    Assinam:

    D. Adriano Ciocca

    Membros da Equipe de Pastoral da Prelazia de São Félix do Araguaia

     

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  • 11/12/2012

    Carta da comunidade Xavante de Marãiwatsédé à sociedade brasileira

    Na ECO-92, começamos a lutar pela nossa terra de Marãiwatsédé.

    Neste território, os ancestrais, nossos bisavós viviam em cima da terra. Este território é de origem do povo de Marãiwatsédé. Nesta terra amada foi criado o povo de Marãiwatsédé.

    Agora, a desintrusão já começou. Os anciões esperaram muito tempo para tirar os não-índios da terra. Sofreram muito. A vida inteira sofrendo, esperando tirar os fazendeiros grandes.

    A lei federal, a Constituição, as autoridades estão do nosso lado. As autoridades da Força Nacional, Exército, Polícia Federal estão do nosso lado porque a presidente Dilma sabe que a terra é dos Xavante de Marãiwatsédé. Agradecemos as autoridades e todas as entidades que nos apoiam nessa luta da verdade contra a mentira. A desintrusão é ótima.

    Será que a terra é dos brancos? Será que os pais, os avós, os bisavós dos fazendeiros nasceram aqui? A gente sabe, a comunidade de Marãiwatsédé sabe. Não nasceram! Quem sempre ocupou a terra foi o índio. O Xavante de Marãiwatsédé. Hoje, a comunidade espera tranquila a desintrusão.

    Quem ocupava a terra eram nossos pais, nossos avós, nossos bisavós que nasceram aqui, cresceram aqui, fizeram festa para adolescente. Lutaram muito, faziam ritual dentro do território de Marãiwatsédé. Nem fazendeiro, nem posseiro viviam aqui antes de 1960. Era só índio, os anciãos lembram, só tinham duas casas em São Félix do Araguaia.

    Quando fomos retirados para a TI [Terra Indígena] São Marcos já que criaram os municípios e o nosso território foi destruído.

    Quem destruiu foi o índio ou foi o branco? A gente sabe mesmo. Foi o branco que destruiu a floresta, essa não é a nossa vida. Nossa vida é preservar a terra, a natureza, os rios, os lagos. É assim que a gente vive. Nosso povo respeita nossa mãe e nossa mãe é a natureza. Nós esperamos tranquilos a nossa vitória. Dormimos tranquilos, sonhamos bonito com a vitória da nossa terra.

    Antes da retirada de nossa terra, mataram muitos Xavante. Os fazendeiros daquele tempo eram muito bandidos. Mataram com tiro. Morreram Tseretemé, Tsercnhitomo, Tsitomowê, Pa’rada, Tseredzaró. Todos mortos com tiro. Não vamos trair os espíritos deles. Eles só foram tombados em cima desta terra. Será que os fazendeiros vão pagar indenização?

    Quando o povo de Marãiwatsédé morava aqui, quem apareceu primeiro foi Ariosto Riva. Ele fez fotos com o nosso povo. Ele enganou os Xavante, destruiu nossa terra. Não pediu para o povo Xavante se podia destruir a floresta. Foi ele que invadiu nosso território. Os mais velhos lembram. O piloto dele era o Nélson. A comunidade Xavante de Marãiwatsédé quer a terra de volta. Ela foi reduzida.

    A diferença do Xavante de Marãiwatsédé com os outros Xavante é porque os Xavante de Marãiwatsédé estão sempre preservando a floresta. Não é só o Cerrado. A floresta (Amazônica) é principal para nossos bisavós que viviam aqui.

    É a mata misteriosa que só os Xavante de Marãiwatsédé conhecem seus segredos. Por isso, os antepassados sempre preservaram a floresta, porque ela é da nossa cultura.

    Essa terra é nossa origem. Os Xingu também protegiam esta terra, os antepassados dos Kalapalo eram amigos dos antepassados dos Xavante de Marãiwatsédé.

    Os animais não podem sofrer mais com tanta destruição da natureza. Quando a terra for devolvida para nosso povo, a floresta vai viver novamente. Vão voltar animais e plantas. Nossa mãe vai ficar muito forte e muito bonita, como sempre foi. É assim que tem que ser.

    Damião Paridzane

    Cacique da aldeia Marãiwatséd

    08/12/2012

     

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  • 10/12/2012

    MPF: Documento denuncia alta mortalidade infantil de crianças indígenas, além da escassez de postos de saúde nas aldeias

    MPF divulga Carta no Dia D da Saúde Indígena

     

    Nesta segunda-feira, 10 de dezembro, Dia D da Saúde Indígena, a 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal divulga Carta em que reafirma seu compromisso na luta pela garantia do direito à saúde dos povos indígenas no Brasil. O órgão setorial é responsável pela coordenação e revisão da atuação do MPF nos temas relativos aos povos indígenas e a outras minorias étnicas.

     

    Na Carta, a 6ª Câmara afirma que “se a saúde pública, de maneira geral, está em crise, o subsistema de saúde dos povos indígenas encontra-se ainda em piores condições”. O índice de mortalidade infantil das crianças indígenas, por exemplo, está acima da média nacional. A cada mil crianças indígenas nascidas vivas, 52,4 morrem na infância – índice duas vezes maior que o do restante da população.

     

    O MPF alerta, ainda, para a falta de postos de saúde nas aldeias. Apesar de a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) ter registradas 4.750 aldeias no país, há apenas 717 postos de saúde para atender às comunidades indígenas. Outro grave problema, de acordo com a Carta, diz respeito ao déficit de esgotamento sanitário. Dados do IBGE (2010) revelam que em apenas 2,2% das terras indígenas todos os domicílios indígenas estavam ligados a redes de esgoto ou tinham suas redes fluviais ligadas a fossas sépticas.

     

    Diante de cenário tão preocupante é que a 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF realiza, neste 10 de dezembro, o Dia D da Saúde Indígena. “A finalidade é chamar a atenção do Poder Público e de todo o povo brasileiro para o drama vivido pelos índios desse país, propondo recomendações e ações civis públicas tendentes a garantir o seu direito à saúde”, afirma a Carta.

     

    Leia aqui a íntegra da Carta.

     

    Secretaria de Comunicação Social

    Procuradoria Geral da República

    (61) 3105-6404/6408

     

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