• 30/08/2013

    Indígenas, quilombolas e assentados erguem acampamento em Porto Alegre na luta por direitos

    Desde a tarde desta quinta-feira, 29, cerca de 300 representantes de diversas aldeias indígenas Guarani e Kaingang do Rio Grande do Sul, representantes do movimento quilombola e do assentamento Madre Terra ergueram suas barracas de lona na Praça da Matriz, em Porto Alegre.

     

    As barracas foram erguidas depois de uma nota assinada por indígenas e quilombolas ser entregue a representantes do governo estadual, no Palácio Piratini.

     

    Após diversas reuniões realizadas com o governo do RS e com o descumprimento dos prazos acordados com o movimento para dar continuidade à demarcação de territórios indígenas no estado, os povos tradicionais e originários exigem um posicionamento claro e efetivo por parte do governador Tarso Genro.

     

    Indígenas e quilombolas exigem o respeito a seus direitos assegurados pela Constituição Federal de 1988, a continuidade das demarcações e o levantamento de fundos para a indenização dos agricultores que terão que ser removidos dos territórios já reconhecidos como de tradicionalidade indígena.

     

    As lideranças indígenas exigem um posicionamento formal do governador Tarso Genro, por escrito, e reclamam da postura ambígua do governador do Estado – diversos são os relatos de posicionamentos contraditórios, em que nas reuniões com os povos indígenas o governo reconhece o direito imemorial às terras tradicionais dos indígenas, mas frente aos agricultores nega que realizará qualquer desapropriação.

     

    Essa situação é agravada pelo contexto nacional, de ataque aos direitos dos povos indígenas e quilombolas por parte dos representantes do agronegócio, e pelo acirramento dos conflitos em diversos estados – no caso do RS, decorrente da própria falta de clareza no posicionamento do governador, na avaliação de membros de entidades indigenistas como o GAPIN e o Cimi.

     

    Para sexta-feira, está programada a realização de uma Assembleia dos Povos Originários, visando a articulação dos movimentos sociais do campo, da floresta e da cidade.

     

    Pauta de reivindicações dos Povos Indígenas e Quilombolas do Rio Grande do Sul

     

    Nós, lideranças indígenas das comunidades Guarani e Kaingang do Rio Grande do Sul, representadas neste documento pelas aldeias de Passo Grande da Forquilha, Rio dos Índios, Campo do Meio, Cacique Doble, Charrua, Rio da Várzea, Borboleta, Novo Singo, Três Soitas, Morro do Osso, Estrela, Carazinho, Fó Sá, Por Fi Gã, Lajeado do Bugre, Lomba do Pinheiro, Aratxaty, Irapoá e Guavirity, Cantagalo, Itapuã, Capivari, Estiva, Lami, Coxilha da Cruz, Passo Grande e Petin, juntamente com representantes de comunidades quilombolas e do assentamento Madre Terra nos reunimos para denunciar as práticas do governo do RS no desmonte dos direitos tradicionais e originários e exigir do governo estadual um posicionamento claro em relação aos compromissos já assumidos perante os povos tradicionais, cujo prazo foi prorrogado e esgotado sem que as obrigações acertadas fossem cumpridas.

     

    O desrespeito aos direitos originários, reconhecidos pela Constituição Federal de 1988 e pela Resolução 169 da OIT, ocorre lado a lado com o esquecimento de centenas de famílias de assentados da reforma agrária, que permanecem há anos sem acesso às mínimas condições para viver dignamente e produzir para garantir seu sustento.

     

    Nos reunimos mais uma vez na capital do estado para reivindicar os direitos constitucionais dos povos originários e cobrar do governo do estado que apresente uma posição clara quanto à resolução dos problemas que envolvem a demarcação das terras indígenas no estado do RS. Exigimos um posicionamento definitivo do governo do estado em relação à continuidade dos processos de demarcação e, principalmente, exigimos que os posicionamentos assumidos em palavra perante as lideranças indígenas sejam colocados em prática. Não aceitaremos mais que o governo assuma um discurso duplo e conveniente que, na prática, vem intensificando os conflitos entre agricultores e indígenas, enquanto mantêm intocados os interesses do agronegócio.

     

    As soluções para o problema das demarcações já foi apontado pelas lideranças indígenas em reuniões anteriores com o próprio governador, onde ele se posicionou favorável à demarcação de terras e indenização plena dos agricultores. Em outras reuniões com a FUNAI e demais órgãos responsáveis pelos processos demarcatórios, já foram apresentados diversos cronogramas que não foram cumpridos, sendo que o último, elaborado em reunião realizada nos dias 13, 14 e 15 de junho, em Passo Fundo, apontava as prioridades e as condições em relação a cada área indígena kaingang do estado. No caso guarani, semelhantes reuniões e cronogramas já foram também apresentados como proposta.

     

    No entanto, o governo insiste em contradizer, na prática, os acordos feitos nas reuniões, buscando a suspensão de áreas indígenas a serem demarcadas e utilizando-se de outros discursos para os demais setores diretamente envolvidos, como, no caso, os agricultores.

     

    Respeitamos e reconhecemos o direito de indenização dos pequenos agricultores, mas não estamos dispostos a negociar ou abdicar de nossos direitos tradicionais. Conflitos têm se acirrado e a tensão, em muitas localidades, já é insustentável. Por isso, exigimos que o governo assuma formalmente (via documento escrito) suas responsabilidades no processo de demarcação, de indenização conjunta com o governo federal e na garantia dos direitos tradicionais.

     

    Caso contrário, os povos indígenas e quilombolas, articulados com as demais aldeias e movimentos sociais urbanos e agrários que participam da luta pela terra, tomarão atitudes mais diretas e combativas, pois um novo silêncio, negligência ou posicionamento ambíguo do governo em relação à questão das demarcações será por nós entendido como o esgotamento de qualquer possibilidade de diálogo e negociação com o governo do estado.

     

    Porto Alegre, 29 de agosto de 2013.

     

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  • 28/08/2013

    Suspensão de nove liminares garante que Tupinambá de Olivença fiquem em suas terras

    Baseado no fato de que o processo de demarcação da área em disputa já foi aprovado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) há quatro anos, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) deferiu ontem (27) os pedidos de suspensão das nove liminares em favor de fazendeiros na região de Ilhéus (BA). Com essa decisão, as cerca de 500 famílias Tupinambá de Olivença não podem ser retiradas de suas terras já reconhecidas como tradicionalmente ocupadas por indígenas.

     

    A Procuradoria-Regional Federal da 1ª Região (PRF1) e a Procuradoria Federal Especializada junto à Fundação (PFE/Funai) haviam entrado com recursos no TRF1 para assegurar a permanência dos indígenas nas terras que habitam. Os procuradores alegaram que as ações de reintegração de posse, que autorizam o auxílio de força policial para o cumprimento da decisão, foram proferidas sem suficiente amparo jurídico.

     

    Desde abril de 2009, o Relatório Circunstanciado aprovado pelo presidente da Funai foi encaminhado ao Ministério da Justiça para a publicação da Portaria Declaratória da Terra Indígena Tupinambá de Olivença. Quatro anos se passaram e o processo continua parado nas mãos do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.


    Cansados de esperar pelo reconhecimento de seus direitos, os indígenas fizeram, neste mês de agosto, a retomada de cerca de 40 fazendas localizadas na Serra do Padeiro, parte da terra indígena. Não há registro de conflitos ou violência nesta área. No entanto, no vizinho município de Buerarema, vários atos violentos têm sido promovidos por grupos ligados aos invasores da terra indígena. Oito casas identificadas como moradias de Tupinambá foram incendiadas, móveis foram lançados à rua e queimados, eletrodomésticos saqueados. No último final de semana, indígenas foram roubados enquanto se dirigiam à feira. O atendimento à saúde indígena está suspenso.

     

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  • 27/08/2013

    Madeireiros invadem aldeia indígena Ka’apor, norte do Maranhão

    Gilderlan Rodrigues da Silva

    Cimi Regional Maranhão

     

    Cerca de 50 madeireiros invadiram a aldeia Gurupiuna, Terra Indígena Alto Turiaçu, do povo Ka’apor, município de Centro do Guilherme, norte do Maranhão. Na aldeia Gurupiuna vivem sete famílias, num total de 48 pessoas. A aldeia foi invadida na última segunda-feira, dia 26.

     
    Na invasão, os madeireiros agrediram o indígena Gonito Ka’apor, que somente nesta terça, 27, conseguiu sair da aldeia para fazer exame de corpo delito. O Ka’apor tentou registrar ocorrência na cidade de Governador Nunes Freire, mas não conseguiu porque o delegado responsável não estava.


    A ação dos madeireiros é em represália a fiscalização e apreensão de caminhões madeireiros empreendidas pelos indígenas no próprio território tradicional. No ato da invasão da aldeia Gurupiuna, os invasores amarraram e bateram em indígenas, saquearam plantações e levaram animais. 

     

    Sem os órgãos públicos responsáveis pelas fiscalizações atuando, os Ka’apor não vêem alternativa a não ser a própria comunidade impedir a ação depredatória. Segundo as informações dos indígenas, os madeireiros queimaram duas casas e agrediram indígenas. O povo denuncia também o desaparecimento de uma indígena Awá, próximo ao rio Turi, perto da aldeia Cocal.


    O clima é tenso na região. Os Ka’apor temem novas invasões. As famílias buscam refúgio no mato como esconderijo. Com medo de novas invasões, indígenas estão sem sair de suas aldeias. Segundo informações, a Polícia Federal, IBAMA e Exército se deslocaram para a região.


    Desde julho os indígenas Ka’apor, da aldeia Zé Gurupi, comunicavam a ação dos madeireiros, que se organizavam para atacar a terra indígena por conta da Operação Hiléia, que fechou várias madeireiras e apreendeu caminhões na região. 

     

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  • 27/08/2013

    “Perdemos tudo, mas não perdemos a nossa esperança de retornar à nossa terra”

    Um incêndio se alastrou por um acampamento Guarani, localizado à beira da estrada, forçando os índios a fugir enquanto suas barracas, comida e pertences foram destruídas nas chamas.

    Relata-se que o fogo iniciou no canavial e usina de São Fernando que ocupam a terra ancestral da comunidade Apy Ka’y. De acordo com a Polícia Militar Ambiental, destruiu uma área de cerca de 1.000 hectares, incluindo o acampamento indígena. A causa do incêndio ainda não foi confirmada.

    A destruição ocorreu no estado brasileiro de Mato Grosso do Sul na última quinta-feira, mas os detalhes completos da ocorrência surgiram hoje.

    Um porta-voz Guarani que visitou o local disse à Survival International, ‘O fogo queimou durante um dia inteiro. Havia fumaça e cinzas em todos os lugares. Nossos parentes foram forçados a correr de suas casas. As crianças estavam chorando… Nós estamos chocados.’

    Damiana Cavanha, líder Guarani de Apy Ka’y, disse, ‘Nossas barracas, roupas, alimentos, panelas e colchões foram queimados! Perdemos tudo, mas não perdemos a nossa esperança de retornar à nossa terra ancestral.’

    Os Guarani da Apy Ka’y têm pouco material para reconstruir seus abrigos. Suas crianças já sofrem de desnutrição, e estes últimos acontecimentos aumentaram sua vulnerabilidade.

    Damiana informou que uma vez que o fogo tinha sido apagado, os seguranças armados dos fazendeiros da São Fernando ameaçaram matar os Guarani. ‘Os seguranças da usina me disseram que eles vão matar todos nós. Mas eu vou continuar lutando por nossa tekoha (terra ancestral)’, disse Damiana.

    Os indígenas foram forçados a deixar sua terra ancestral quando esta foi ocupada por fazendeiros há quase quinze anos. Damiana e outros membros da comunidade têm vivido de forma intermitente na beira da estrada principal nos últimos dez anos, enquanto suas terras estão sendo usadas para a expansão da indústria de biocombustível no Brasil.

    Eles enfrentam o risco constante de acidentes fatais na estrada, já que carros e caminhões passam em alta velocidade. O marido de Damiana e três de seus filhos foram atropelados e morreram na estrada ao lado da qual a comunidade está acampada.

    Cada vez que eles tentaram reocupar suas terras, os fazendeiros os expulsaram de novo. A comunidade já foi atacada várias vezes, incluindo um incidente em 2009 quando homens armados dispararam contra o acampamento e deixaram os abrigos dos Guarani em chamas.

    Os líderes Guarani são alvos frequentes e vários foram assassinados após pressionarem para recuperar o seu território ancestral.

    A Survival está instando o governo brasileiro para cumprir o seu dever constitucional de demarcar todas as terras Guarani e devolvê-las para o uso exclusivo dos indígenas.

    O diretor da Survival Stephen Corry disse hoje, ‘Os povos indígenas do Brasil são constantemente sacrificados em nome da ganância, suas vidas perdidas na busca do crescimento econômico a qualquer custo humano. Os Guarani têm o direito de voltar às suas terras, mas em vez disso, são forçados a sofrer uma vida de imundície na beira da estrada.’



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  • 27/08/2013

    Povo Kadiwéu retoma fazenda em área homologada no MS e aguarda mesa de diálogo com governo

    Por Renato Santana,

    de Brasília (DF)

     

    Foto: Ruy SposatiCerca de 300 indígenas do povo Kadiwéu retomaram, no último sábado, uma das 24 fazendas incidentes em 160 mil hectares da terra indígena demarcada em 1900 e homologada em 1984, no município de Porto Murtinho, na região do Pantanal do Mato Grosso do Sul. Representantes Kadiwéu estarão em Brasília nesta terça-feira, 27, junto com lideranças Guarani Kaiowá e Terena, para mais uma reunião da mesa de diálogo com o governo federal que trata de soluções referentes ao conflito fundiário no estado.   

     

    A terra tradicional Kadiwéu possui um total de 538,5 mil hectares. Ao contrário do noticiado por alguns veículos de imprensa, de acordo com os indígenas, a fazenda retomada estava sem nenhuma cabeça de gado. “O fazendeiro que é invasor, não a gente. A terra já é demarcada”, disse uma das lideranças que preferiu não se identificar por falar em nome de toda comunidade. Em outubro do ano passado, os Kadiwéu, depois de retomarem quase toda a totalidade do território invadido, tiveram que sair de suas terras por força de uma reintegração de posse. 

     

    Conforme a liderança, os indígenas foram recebidos a tiros pelos seguranças de uma empresa privada, contratada pelo fazendeiro. Como eram muitos, os Kadiwéu conseguiram desarmar os indivíduos. Pistolas, revólveres calibre 38 e armas de grosso calibre, além de farta munição e duas motos, foram apreendidos e entregues aos servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai). Os Kadiwéu aguardam a decisão da reunião desta terça, em Brasília, para decidirem se seguirão nas retomadas. 

     

    “Achamos até algemas com jagunços para prender o índio. Como isso acontece com a terra sendo nossa há tanto tempo? Governo tem de tirar esses invasores daqui. Não queremos o gado deles e nem nada deles, mas apenas nossa terra. Kadiwéu lutou por Brasil em guerra, agora Brasil responde assim?”, desabafa a liderança indígena. 

     

    Ao menos 30% do território indígena está invadido. Do total de hectares da terra homologada, ou seja, de propriedade da União, quase 160 mil são usados na pecuária. As invasões dos fazendeiros ocorrem pelo menos desde a década de 1950. Relatos dão conta de que tanto o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) quanto a Funai oficializavam a ocupação territorial, arrendando a terra aos pecuaristas. 

     

    Histórico da terra

     

    Documentos históricos comprovam que o território dos Kadiwéu foi doado a eles ainda no Segundo Império, por Dom Pedro II, como recompensa pela  participação dos indígenas, ao lado do Brasil, na Guerra do Paraguai, em 1864.

     

    No início do século 20 a terra foi demarcada, com outros decretos ratificando os limites. Contudo, as pressões sempre cercaram a vida dos Kadiwéu. Centenas de posseiros ocupavam as terras; invasores registravam, de forma irregular, títulos de propriedade em cima de áreas indígenas, no nome de terceiros, em cartórios de municípios vizinhos; órgãos governamentais de proteção arrendavam terras a grandes fazendeiros. Por fim, incursões jurídicas e pressões políticas dos fazendeiros arrendatários para a expulsão dos Kadiwéu do próprio território.

     

    O processo de demarcação, homologação e registro do território dos Kadiwéu foi finalizado pelo governo federal em 1984. Naquele ano, os pecuaristas, que se encontravam dentro dos limites da TI, ajuizaram ação para discutir a nulidade da demarcação da TI. De um total de 585 mil hectares, entrou em litígio 155 mil – registradas em nome da União, de usufruto exclusivo dos indígenas, mas ocupados por cerca de 120 fazendas de gado. Desde 1987, tramina, então, no Supremo Tribunal Federal (STF) uma ação que nunca foi julgada. Também a desintrusão da área não ocorreu.

     

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  • 26/08/2013

    Articulação dos Povos Indígenas do Brasil convoca mobilização nacional em defesa da Constituição Federal

    MOBILIZAÇÃO NACIONAL EM DEFESA DA CARTA MAGNA, DOS DIREITOS INDÍGENAS, DOS DIREITOS TERRITORIAIS E DA MÃE NATUREZA

     

    A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), composta pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME), Articulação dos Povos Indígenas do Sul (Arpinsul), Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste (ARPINSUDESTE), Conselho dos Povos Indígenas de Mato Grosso do Sul e pela Grande Assembléia do Povo Guarani (ATY GUASU), que, por sua vez, reúnem na sua base centenas de associações e comunidades indígenas, considerando:


    Que os direitos constitucionais dos povos indígenas, dos quilombolas e de outras populações tradicionais, assim como os seus territórios, encontram-se sob forte ataque por parte de interesses econômicos poderosos, que defendem o seu direito à propriedade mas não respeitam os nossos direitos coletivos à nossa terra sagrada, e ainda querem tomar para si as terras públicas e os seus recursos naturais;


    Que há uma ofensiva legislativa sendo promovida pela bancada ruralista contra os direitos originários dos nossos povos, os direitos de outras populações tradicionais e os direitos de todos os brasileiros ao meio ambiente saudável, por meio de dezenas de projetos de lei e emendas à Constituição – em especial a PEC 215/00, PEC 237/13, PEC 038/99, PL 1610/96 e PLP 227/12 – que afrontam, inclusive, acordos internacionais assinados pelo Brasil, como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), e a Declaração da Organização das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas;


    Que o próprio governo federal tem mantido uma conduta omissa, em relação aos direitos dos povos, e conivente com os interesses dos ruralistas e do latifúndio, nossos inimigos históricos, que durante o ano passado aprovaram um novo Código Florestal adequado aos próprios interesses e este ano pretendem aniquilar direitos indígenas ao território. Uma conduta que se materializa em medidas como a Portaria Interministerial 419/2011, a Portaria 303/2012 da Advocacia-Geral da União, e o Decreto 7957/2013, e que se traduz, dentre outras, nas paralisações: da demarcação das terras indígenas, da criação de unidades de conservação, da titulação de quilombos e da implementação da reforma agrária.  

     

    A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) convoca todos os povos e organizações indígenas do país assim como os demais movimentos sociais do campo e da cidade, para uma Mobilização Nacional em Defesa da Constituição Federal, nos seus 25 anos de existência,  e pela Implementação dos Direitos Territoriais dos Povos Indígenas, dos Quilombolas, de outras comunidades tradicionais, dos camponeses e da Mãe Natureza, entre os dias 30 de setembro e 05 de outubro de 2013.

     

    As manifestações de adesão e apoio devem ser encaminhadas para direitosindigenas25anoscf@gmail.com.

     

    Para mais informações, acesse: http://mobilizacaonacionalindigena.wordpress.com/

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  • 26/08/2013

    “Estamos cansados de reuniões para marcarem outras reuniões”, avisam lideranças Terena

    No último dia 24, três dias antes da próxima reunião com o governo federal, lideranças Terena explicitaram em Carta Aberta a profunda insatisfação com a morosidade das autoridades em relação ao processo de demarcação de suas terras tradicionais no estado do Mato Grosso do Sul, o mais violento do país com as populações indígenas.

    "Mesmo com a proposta de acordo, não abriremos mão da declaração de nossos territórios como sendo Terras Tradicionalmente Ocupadas", afirmaram. Eles também exigem que o governo federal se empenhe para o arquivamento de todas as propostas legislativas e executivas que vão contra os direitos historicamente conquistados pelos povos indígenas, como são os casos da PEC 215, do PLP 227 e da Portaria 303 da AGU. Em relação à recente retomada feita pelo povo Kadiwéu de seus territórios já homologados, os Terena pedem a mesma celeridade no processo de desintrusão empregada pelo poder público "quando se trata de reintegração de posse contra a comunidade indígena".

    Leia abaixo a  Carta Aberta das Lideranças Terena, na íntegra:


    Carta Aberta das Lideranças Terena

     Nós, lideranças Terena, reunidas no dia 24 de agosto de 2013, na Aldeia Aldeinha – Anastácio (MS), juntamente com representantes do Conselho da Aty Guasu Guarani Kaiowá, por ocasião da reunião convocada pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no dia 27 de agosto, em Brasília, vimos a público expor:

    Já estamos cansados de reuniões para marcarem outras reuniões!

    O governo federal estipulou um prazo, que venceu no dia 5 de agosto. Exigimos imediatamente a apresentação do cronograma de entrega das terras aos povos indígenas do Mato Grosso do Sul, com datas e prazos estipulados para cada Terra Indígena.

    Nossos representantes irão para reunião no dia 27 de agosto de 2013, levando em mãos nossas decisões. Caso o Ministro da Justiça não apresente o Cronograma de Execução, os povos indígenas de Mato Grosso do Sul irão fazer valer os seus direitos!

    O Povo Terena e o Povo Guarani Kaiowá já apresentaram suas prioridades, bem como indicaram os critérios que devem ser observados na resolução do conflito fundiário.

    Mesmo com a proposta de acordo, não abriremos mão da declaração de nossos territórios como sendo Terras Tradicionalmente Ocupadas.

    O Povo Kadiwéu está sendo deixado de fora das negociações, sob o argumento de que a questão dele é de resolução mais simples. No entanto, não há por parte do governo federal, empenho para resolvê-la. Por isso, retomaram seus territórios já homologados.

    A terra do Povo Kadiwéu está homologada, entretanto, nada é feito para fazer a desintrusão dos invasores que lá estão. Queremos que a Justiça seja célere, da mesma forma como é quando se trata de reintegração de posse contra a comunidade indígena.

    Por fim, exigimos o empenho do governo federal no sentido de rejeitar as propostas no Congresso Nacional que vão contra nossos direitos historicamente conquistados, tais como a PEC 215 e o PLP 227. Da mesma forma, as 19 condicionantes discutidas pelo STF no caso da Terra Indígena Raposa Serra do Sol não foram julgadas. Portanto, a Portaria 303 da AGU não faz nenhum sentido, devendo ser revogada em definitivo.

     

    Aldeia Aldeinha  (MS), 24 de agosto de 2013.

     

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  • 26/08/2013

    Grupos promovem violência e incendeiam casas Tupinambá em Buerarema (BA); Portaria Declaratória segue sem publicação

    Por Renato Santana,

    de Brasília (DF)

     

    Caminhão alvejado por disparos de arma de fogo em atentado contra os TupinambáEnquanto a Portaria Declaratória da Terra Indígena Tupinambá de Olivença, extremo sul da Bahia, segue sobre a mesa do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sem publicação há mais de um ano, o município de Buerarema, contíguo ao território tradicional, está sendo alvo de atos violentos promovidos por grupos ligados aos invasores da terra indígena. Entre sexta-feira e o final de semana, indígenas foram roubados enquanto se dirigiam à feira e oito casas foram queimadas. O atendimento à saúde indígena está suspenso.

     

    Em contraste ao que acontece em Buerarema, a Serra do Padeiro, parte da terra indígena, não registra distúrbios ou violências, apesar do estado de atenção. Sobretudo nas áreas 40 retomadas pelos indígenas, sem nenhum conflito, nas últimas semanas – razão pela qual as elites política e latifundiária vêm incitando os atos violentos contra os indígenas. “Dizem que virão para cá esbagaçar tudo. Estamos em alerta, mas tranquilos”, declara liderança indígena, que terá a identidade preservada por segurança.  

     

    Neste sábado, oito casas identificadas como moradias de Tupinambá foram incendiadas, em Buerarema, sob o olhar passivo da polícia. Os imóveis estavam desocupados no momento dos ataques. Móveis foram lançados à rua e queimados, eletrodomésticos saqueados e a orientação é para nenhum Tupinambá circular pela cidade. Comerciantes também não podem vender aos indígenas. Quem desrespeitou teve o estabelecimento destruído. Moradores ligados aos Tupinambá foram agredidos.   

     

    As informações são obtidas por fontes indígenas e textos publicados por blogs ligados aos fazendeiros. A imprensa está praticamente proibida pelos vândalos de trabalhar na região, como atestou em nota o Sindicato dos Jornalistas da Bahia, depois que dois profissionais da TV Santa Cruz foram ameaçados. A onda de violência começou último dia 16, depois de 40 retomadas realizadas pelos Tupinambá na Serra do Padeiro, parte da terra identificada como tradicional.

     

    Trechos da BR-101, altura dos municípios de Buerarema e de São José da Vitória, foram barrados por manifestantes e ao menos três veículos do Poder Público foram incendiados, entres eles do Incra e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). A destruição seguiu para Buerarema, onde a sede do Banco do Brasil e patrimônios públicos foram vandalizados. Lá um acampamento foi erguido às portas da prefeitura. Conivente, a polícia assiste aos atos de violência e afirma não poder intervir dada a quantidade de pessoas envolvidas, conforme relatos.

     

    Nas rádios, os Tupinambá são tachados de criminosos e o povo tratado como quadrilha. Boatos dão conta de uma iminente invasão dos indígenas ao município. Locutores e blogueiros afirmam que os Tupinambá mataram e feriram dezenas de produtores rurais na Serra do Padeiro. Argumentos, por mais que sem nenhuma prova, usados para convocações diárias às ações anti-indígenas. “Tem muitos que estão nesses protestos ou os incentivando sem nenhuma razão. O que sabemos é que tem gente recebendo R$ 100,00 para se acampar, ir para quebra-quebra”, diz liderança Tupinambá.     

     

    Portaria Declaratória

     

    Para lideranças indígenas, o Ministério da Justiça precisa publicar a Portaria Declaratória e dar continuidade ao procedimento de demarcação para a violência arrefecer. “Porque aí todos teriam informações. O que acontece é a desinformação. Tem gente para ser reassentada, outros para serem indenizados. Tem produtor que já solicitou indenização. O ministro tem de parar de ouvir político, se pautar por eleições”, ressalta. A Terra Indígena Tupinambá Serra do Padeiro das sete, espalhadas pelo país, engavetadas pelo ministro Cardozo, que poderiam ter a Portaria Declaratória publicada.

     

    As recentes retomadas na Serra do Padeiro se intensificaram depois que o ministro da Justiça declarou à delegação Pataxó e Tupinambá, em Brasília, durante este mês de agosto, que não assinaria a Portaria Declaratória porque o governo federal seria processado – violando assim a norma de encaminhar a portaria 30 dias depois de recebida. Cansados de esperar, os Tupinambá foram às retomadas. Por sua vez, o governo Jacques Wagner autorizou, de forma inconstitucional, a ação das polícias estaduais nas reintegrações de posse. Tudo conspirava pela explosão da violência.

     

    E ela não tardou. Na noite do último dia 14, um caminhão transportava crianças e adolescentes da escola para as aldeias, quando um homem não identificado desferiu vários disparos contra o veículo (veja foto). Ninguém foi atingido, mas dois jovens acabaram feridos pelos estilhaços de vidro. Os indígenas especulam que o alvo era o irmão do cacique Babau, proprietário do caminho. Ameaças de morte voltaram à tona contra os Tupinambá e o direito de ir e vir passou a ser limitado nas cidades do entorno da terra indígena.

     

    Agenda eleitoral   

     

    A agenda eleitoral, no entanto, parece ser mais um elemento na conturbada conjuntura no extremo sul baiano e no país. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, passou a suspender os procedimentos de demarcação em busca de mesas de diálogo, sempre atendendo aos pedidos de políticos da região sob conflito fundiário. “Essas mesas são verdadeiros balcões eleitorais, negociação de apoios regionais”, analisa o secretário adjunto do Conselho Indigenista Missionário, Saulo Feitosa. Para o indigenista, o governo trata o direito dos povos indígenas como barganha eleitoral.

     

    Como parte da cadeia autofágica, a politicagem da região de Buerarema também se aproveita do conflito fundiário com factóides insufladores, caso das acusações contra os Tupinambá. Políticos e radialistas chegam a comparar a onda de violência em Buerarema com as recentes manifestações espalhadas pelo país. “Usam a situação para atacar o governador (Jacques Wagner), adversários políticos e mostrar que estão engajados ao lado de agricultores e fazendeiros. É um caldeirão. Como se dialoga com isso?”, avalia liderança Tupinambá.

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  • 26/08/2013

    O Estado das “Mesas”

    O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, manifestou a sua convicção de que agora o governo encontrou o caminho da roça, do diálogo. São as mesas. Mesas de negociação. Amplas e irrestritas, na medida do possível. E quando uma liderança Pataxó interveio, dizendo "Direitos não se negocia. Cumpra-se a lei”. O ministro teve que aliviar: "É, mas o direito no papel é uma coisa e, na prática, a realidade é outra".

    Todos que têm o mínimo conhecimento sobre os povos indígenas sabem que eles nunca se negaram ao diálogo. Esta é uma prática milenar nas comunidades. No entanto, nelas, os diálogos vão, sempre, na direção das soluções. Não são, nunca, diálogos de enrolações.

    A PEC e as pegadas

    Finalmente! Conforme prometido várias vezes, o governo começa a se manifestar publicamente contra a avalanche de projetos de lei e emendas constitucionais que rondam no Congresso, tentando subtrair direitos indígenas da Constituição.

    Após afirmar "O governo é contra essa proposta (PEC 215). Juridicamente e no mérito. É inconstitucional e fere o princípio da separação dos poderes”, o ministro da Justiça afirma que disse ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves: “Sou contra esta PEC. Isso vai aumentar a pressão e vai transformar a demarcação em disputa política. Vocês estão errando. Estão radicalizando e jogando fogo. E perdendo a oportunidade de resolver pacificamente. Se é que querem resolver pacificamente”. Cardozo não garantiu a rejeição dessa PEC no Congresso" (O Globo, 22/08/2013).

    Mas, senhor ministro, o governo tem que ser contra também a Portaria 303, que é contra a Convenção 169, da OIT, e a própria Constituição do país; e ser contra o PLP 227, que é inconstitucional e contra as normas internacionais (OIT, ONU…) E, principalmente, se posicionar contra a instalação da Comissão Especial da PEC 215, anunciada pelo presidente da Câmara para o dia 4 de setembro.

    Recentemente, governo inaugurou mais uma mesa. A mesa da Dilma. Ou melhor, sugerida pela Presidente, por ocasião de seu primeiro encontro oficial com os povos indígenas, depois de dois anos e meio de governo. Será que o governo está mesmo disposto a descolonizar sua visão e prática com relação aos povos indígenas? Será que o Estado brasileiro está disposto a fazer uma inflexão em sua política indigenista, tão marcada pelo preconceito e pela repressão, heranças da ditadura militar? Ou será que está ganhando tempo, tentando agradar a todos até as eleições?

    É tempo de despir-se da colonialidade, como está acontecendo em vários países da América Latina! Reconhecer a plurinacionalidade dos países, colocar o Bem Viver como escopo do Estado, reconhecer os direitos da Natureza, da Pacha Mama-Mãe Terra, é colocar-se no caminho do futuro, e não no caminho do mercado e dos privilégios de minorias.

    A mesa do Henrique Alves, presidente do Congresso já acabou. Quando os índios ocuparam o plenário da Câmara, em abril, provocaram uma situação de pânico e correria, ganharam uma mesa, um espaço de diálogo, uma comissão de conversação. Umas poucas reuniões aconteceram e a mesa acabou. Agora, para serem ouvidos, somente se fizerem outra ação forte como foi a ocupação.

    Outras mesas, comissões e fóruns estão encerrando suas atividades, sem sinalização de vontade política das mudanças exigidas. A Comissão do Conselho Nacional de Justiça já entregou seu relatório ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. Com 127 páginas de informações, debates, fotos, mapas, listagens de terras indígenas no Mato Grosso do Sul, e a situação destas terras na justiça e no executivo, é, sem dúvida, um instrumento que exige decisão e ação dos responsáveis pela regularização destas terras indígenas e pela solução dos conflitos e violências que marcam esse processo.

    A Comissão exorta à União "a conclusão definitiva do processo administrativo demarcatório com indenização das benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa fé." Sugere ainda saídas já anunciadas à exaustão, como "a desapropriação de áreas por interesse social, aquisição direta de terras, o assentamento de pequenos proprietários rurais, a transação judicial e a indenização do produtor rural por ato ilícito do Estado decorrente da titulação considerada posteriormente ilegítima".

    Dentre outras medidas, faz um apelo "aos juízes de todo o país para a adoção de absoluta prioridade nos processos judiciais envolvendo a demarcação das terras indígenas".

    A Comissão Especial Guarani, criada no âmbito da Secretaria de Direito Humanos, também deliberou pela visita da ministra Maria do Rosário ao presidente do STF, Joaquim Barbosa, para solicitar urgência no julgamento das ações relacionadas aos direitos indígenas.

    Assembleia da Coiab

    Começa hoje, na aldeia Umutina, no município de Barra do Bugre (MT), a 10a Assembleia Geral da  Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Ela acontece em um momento histórico da luta dos povos indígenas contra a supressão de seus direitos na Constituição. Em pauta, além das questões nacionais, a reestruturação da organização e eleição da nova coordenação. Enquanto organização aglutinadora dos povos e do movimento indígena na Amazônia, esta articulação das lutas em nível regional e nacional é fundamental.

     

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  • 26/08/2013

    Povos demandam demarcações de terras no II Encontro Nacional dos Povos Resistentes

    Vinte e um povos e comunidades reunidos entre 23 e 25 agosto, em Santarém (PA), no II Encontro Nacional dos Povos Indígenas, reafirmam as demandas pela demarcação dos seus territórios tradicionais, pela realização das consultas prévias (com poder de veto) sobre os projetos de infraestrutura que impactam suas terras e modos de vida e pela eficácia das políticas públicas nas áreas da saúde e educação indígenas, dentre outras.

    Leia abaixo o Documento Final do Encontro:

    Documento final do II Encontro Nacional dos Povos Resistentes

    Nós, povos e comunidades indígenas Guarasugwe, Tupinambá, Migueleno, Cumaruara, Arapiun, Borari, Mura, Arara Vermelha, Apurinã, Krenyê, Kanela Apanekra, Munduruku, Munduruku Cara Preta, Maytapu, Kokama, Miranha, Wai Wai, Tupaiu, Krenak, Maragua, eTapajó, em luta pelo reconhecimento étnico e territorial, reunidos no II Encontro Nacional dos Povos Indígenas Resistentes, nos dias 23 a 25 de agosto de 2013, em Alter do Chão, município de Santarém (PA), socializamos nossas lutas, conquistas e desafios e nos defrontamos com a realidade de desrespeito e ameaça aos nossos direitos.

    Constatamos que nossas terras continuam sem ser demarcadas e estão invadidas por fazendeiros, madeireiros, pescadores, garimpeiros. Em várias delas houve sobreposição de  unidades de conservação, desrespeitando o nosso direito ao usufruto exclusivo dos recursos naturais, como garante o artigo 231 da Constituição Federal. Sofremos os impactos de grandes empreendimentos hidrelétricos, madeireiros, minerários, agropecuários e de construção de estradas, que colocam em risco a existência futura de nossos povos e depredam o meio ambiente. Frequentemente, aqueles que têm a intenção de usurpar nossas terras utilizam os meios de comunicação social para dizer que não somos indígenas e, assim, negar o nosso direito à terra. Várias de nossas lideranças estão ameaçadas de morte e a violência contra as nossas comunidades vem aumentando por causa da morosidade governamental na demarcação de nossas terras. Nossos direitos constitucionais estão sendo atacados pelos setores antiindígenas vinculados ao agronegócio, que agem dentro do governo federal e do Congresso Nacional para paralisar a demarcação de nossas terras, para diminuir as já demarcadas e para que as grandes empresas possam explorar os recursos naturais que estão dentro delas.

    Constatamos também que o nosso direito de ser consultados sobre todas as medidas administrativas e legislativas que afetam os nossos povos, assegurado na Constituição Federal e pela Convenção 169 da OIT, está sendo desrespeitado. É o que vem acontecendo, por exemplo, com a construção das hidrelétricas na Amazônia que trazem graves consequências para as comunidades indígenas e tradicionais que vivem ao longo dos rios, desde as cabeceiras até a foz. O povo Munduruku, que exige o direito de ser consultado sobre o projeto de construção da hidrelétrica de São Luis, no Rio Tapajós, está sofrendo a repressão da Polícia Federal (PF) e da Força de Segurança Nacional, que ocuparam a região para impor a realização de estudos dentro de suas terras para a construção da obra, sem que tenham sido consultados previamente, como manda a lei. Como forma de intimidação, em novembro do ano passado a PF ocupou a aldeia Teles Pires e assassinou um indígena Munduruku. Manifestamos a nossa solidariedade ao povo Munduruku e exigimos que todos os povos indígenas e comunidades ao longo da bacia do Tapajós sejam consultados.

    Associado ao desrespeito ao nosso direito à terra demarcada e garantida, constatamos o descaso em relação à atenção à saúde e à educação indígena em nossas comunidades. Apesar de pequenas conquistas, os problemas continuam enormes. Existem situações em que os órgãos públicos se negam a construir estruturas permanentes com a alegação de que as terras não estão demarcadas. Os concursos públicos necessários para a contratação dos profissionais indígenas e não indígenas são constantemente protelados. As escolas funcionam precariamente com falta de recursos didáticos e financeiros, bolsas de estudo são destinadas a pessoas não indicadas pelas comunidades, a direção de escolas está nas mãos dos brancos e as escolas funcionam sem Projetos Políticos Pedagógicos que assegurem uma educação escolar indígena específica e diferenciada. Na atenção à saúde, as equipes multidisciplinares não estão completas, não existe um atendimento sistemático e os parentes que precisam recorrer ao SUS, muitas vezes passam meses jogados nas Sesai’s, indo até a óbito, antes de conseguir realizar os exames e serem atendidos nas unidades hospitalares.

    Exigimos respeito às nossas identidades indígenas e ao direito à autoidentificação,  assegurado na Convenção 169 da OIT. Não aceitamos que o limite de nossas terras seja definido num balcão de negócios com os representantes daqueles que ao longo da história invadiram e se apropriaram das mesmas de forma inescrupulosa. A Constituição Federal estabelece de forma clara quais são as nossas terras.  São aquelas “terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”. São esses critérios que devem ser obrigatoriamente observados pelo governo, e não outros, para estabelecer os limites.  Não existe, portanto, nenhum motivo para a demora nas demarcaçõe,s muito menos para a sua paralisação, como vem acontecendo.

    Queremos que a Funai tenha condições e faça o seu trabalho de identificação e proteção de nossas terras de forma isenta e com os recursos financeiros necessários, e não para avalizar em nosso nome os grandes empreendimentos que impactam nossas terras. Também queremos uma atenção à saúde e à educação que valorize as nossas culturas, nossas línguas indígenas, a medicina tradicional, as nossas crenças e que fortaleça nossos projetos de vida.

    Exigimos que seja realizado um amplo processo de consulta aos povos indígenas sobre os empreendimentos governamentais e da iniciativa privada que impactam as nossas terras. Exigimos, igualmente, que seja respeitado o nosso direito de consulta a respeito da proposta anunciada pelo governo de modificar o procedimento de demarcação das terras indígenas e em relação às Propostas de Emenda Constitucional e aos Projetos de Lei em tramitação no Congresso Nacional.

    Saímos do Encontro convencidos da força que tem o movimento indígena mobilizado, com o qual nos comprometemos a somar, desde as aldeias até os centros de decisão. Solicitamos o apoio de todos os que acreditam na nossa causa e que buscam novas relações humanas e com a natureza.

    Somos povos resistentes. Lutaremos sempre, não desistiremos nunca.

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