• 23/12/2013

    Análise: a política do Governo Dilma para os povos indígenas e quilombolas condicionada a um perigoso pacto nacional com os ruralistas

    Conjuntura Indigenista e Quilombola – 2013

     

    Diferentes analistas sociais vêm discutindo as formas como o neoliberalismo se estabelece e se enraíza nas práticas e escolhas de governos, na atualidade. Um destes analistas é Maurizio Lazzarato, um sociólogo interessado em entender como se estabelecem e se naturalizam certas premissas do regime de acumulação capitalista, assumidas por governos, no presente, como se fossem incontestáveis.

     

    Lazzarato afirma que o neoliberalismo provoca profundas transformações na maneira de compreender e de gerir os direitos coletivos e as garantias individuais. O foco de governo recai sobre as finanças, e estas são, para o sociólogo, “máquinas de guerra” que transformam os direitos sociais em dívidas a serem contraídas pelo cidadão, convertido em consumidor e em usuário de serviços privados. O custo tem sido a redução do salário, a precarização das condições de vida, a responsabilização dos governados pelo provimento de saúde, educação, moradia, segurança (em âmbito privado). O governo estimula a expansão do crédito ao consumo, para a inclusão no mundo dos consumidores de serviços e de produtos. “Ou seja, antes de se garantir o direito à moradia, asseguram-se financiamentos imobiliários; antes de se efetivar a mutualização dos riscos sociais (riscos por desemprego, adoecimento, aposentadoria etc.), investem-se nos seguros individuais”.

     

    O crescimento econômico neoliberal dá o tom e a pauta dos investimentos, determinando quais são os “diferenciais de ganho e de poder”, ou seja, quais são os setores que deverão ser estimulados, que deverão receber incrementos financeiros e incentivos para prosperarem. E se alguns setores são superestimulados, obviamente que outros serão atrofiados.

     

    Lazzarato afirma que a aposta insensata do neoliberalismo, na qual os governantes acreditam, é a possibilidade de redistribuição das riquezas (ou do bem estar decorrente do acesso a recursos) sem redistribuição dos recursos (ou seja, sem prejuízo dos “diferenciais econômicos”). Nesta lógica, a suposta redistribuição das riquezas se daria pela inserção das pessoas no consumo. O endividamento é a engrenagem para transformar as pessoas comuns em proprietários (de casas populares, de carros populares, de eletrodomésticos etc.).

     

    No caso dos governos brasileiros dos últimos anos, essa opção pela “inclusão social” através do endividamento é muito evidente: pipocaram linhas de crédito para a aquisição de casa própria (Minha Casa Minha Vida), para investir no mobiliário e na aquisição de eletrodomésticos; linhas de crédito para pequenas empresas, para agricultura familiar. Apesar de parecer uma opção razoável para que os pobres possam finalmente sair da condição de inquilinos ou de empregados para a de proprietários, o fim e ao cabo, tais opções políticas se fundamentam sobre o endividamento da população (e também aquecem a economia ao favorecer a expansão de setores da construção civil, por exemplo).

     

    Para Lazzarato, a tentativa de redistribuição da riqueza sem efetiva redistribuição dos recursos constitui a esquizofrenia do modelo neoliberal. Inspirando-me nas análises deste sociólogo, busco discutir, nesta breve análise de conjuntura, algumas posições assumidas pelo governo Dilma e algumas escolhas – políticas e econômicas feitas em nome da governabilidade – que considero serem marcas da esquizofrenia apontada por Lazzarato e que, em meu ponto de vista, é também o componente “perigoso” que não pode ser ignorado pelos movimentos sociais.

     

    Tomando como referência as deliberações do governo federal no que se refere aos direitos indígenas e quilombolas chegamos à conclusão de que elas estão alicerçadas em perigosos acordos eleitoreiros, em conchavos políticos, jogos de interesse e em concessões de privilégios a grupos econômicos “diferenciais” que pretendem extrair das terras indígenas e da natureza as riquezas potencialmente existentes.

     

    Nas relações do governo com seus “aliados”, chama a atenção a perigosa subserviência aos ruralistas (setor agropecuário), que claramente integram os “diferenciais de ganho e de poder” indicados por Lazzarato, e que assim recebem também tratamento diferenciado. Este segmento vem revelando, ao longo da história, uma face cruelmente depredadora dos recursos da natureza (destruição de florestas e de matas ciliares, poluição de mananciais de água, por exemplo) e, em muitos casos, se vale da exploração da mão de obra humana (submetendo trabalhadores a condições análogas à escravidão). É necessário lembrar que muitos desses ruralistas, “proprietários de terras”, adquiriram suas posses através da força bruta, expulsando pessoas das terras, ameaçando e assassinando lideranças, comprando terras a preços irrisórios, promovendo a grilagem ou recebendo, a preço simbólico, terras do poder público, como é o caso (noticiado pela imprensa) das “propriedades” de familiares da senadora Katia Abreu em Tocantins (e não ao acaso, ela é também presidente da CNA – Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária).

     

    Como se percebe, o governo brasileiro vem pautando sua política, por um lado, no favorecimento dos ruralistas, e por outro lado, na arrogância, prepotência e intolerância com os povos indígenas e quilombolas, especialmente nas discussões e na condução dos programas, projetos ou políticas que afetam a vida, as terras, o meio ambiente e o futuro dessas populações. Condizente com essa opção pelo favorecimento de setores “diferenciais”, o governo inventa instâncias de representação popular que ele mesmo não leva em conta e, assim, não escuta a opinião dos povos e seus líderes e não aceita posicionamentos que sejam contrários aos planos desenvolvimentistas.

     

    Como efeito, tem-se a intensificação das violências contra os povos indígenas, bem como a perseguição e a tentativa de desqualificar publicamente os que se opõem às pretensões governistas (um exemplo dessa postura é a nota divulgada pela Secretaria Geral da Presidência da República contra as lideranças do Povo Munduruku). Os preceitos constitucionais e as normas e tratados internacionais, especialmente no que se refere à consulta prévia, livre e informada das populações indígenas e quilombolas são abertamente desrespeitadas em nome de algo que se apregoa como sendo de “interesse comum”, mas que não gera o “bem comum” e sim o bem de apenas alguns setores do mercado e da economia – empreiteiras, mineradoras, usineiros e empresas de energia hidráulica e do agronegócio.

     

    Esses setores, coordenados pelos ruralistas, promoveram ao longo do ano de 2013 um “levante” contra os povos indígenas, quilombolas e contra seus direitos fundamentais à vida e à terra. As investidas se deram no âmbito político, junto aos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, bem como através da veiculação intensiva de notícias na mídia que provocam uma inquietação social. Assim, os povos indígenas vão gradativamente se transformando em um “problema”, um entrave, o que potencializa a violência simbólica, estratégia que também se alia concretamente a ações violentas contra comunidades e suas lideranças (a exemplo do que ocorre no município de Guaíra, no Paraná, contra os Guarani Ñandewa, ou em Mato Grosso do Sul, quando homens encapuzados incendiaram um ônibus escolar que realizava o transporte de estudantes Terena).

     

    No Poder Legislativo, os referidos setores “diferenciais” tentaram impor projetos de lei e emendas à Constituição Federal com o intento de aniquilar com os direitos dos indígenas e quilombolas e de romper com qualquer perspectiva de que terras venham a ser demarcadas no Brasil. Aliás, no entendimento destes setores, mesmo aquelas terras já demarcadas precisariam ser revogadas.

     

    Dentre as perigosas propostas que tramitam neste momento, elenco aqui o Projeto de Emenda à Constituição de número 215 (PEC 215/2000) e o Projeto de Lei Complementar 227 (PLP 227/2012). A PEC 215/2000 pretende transferir a competência pelas demarcações das terras indígenas, quilombolas e definição de áreas ambientais, que são atribuições constitucionais do Poder Executivo, para o Legislativo. E o PLP 227/2012 visa modificar o Parágrafo 6 do Art. 231 da Constituição Federal para assegurar que, em havendo qualquer tipo de interesse econômico sobre uma terra indígena, esta será caracterizada como de relevante interesse público. Assim, os povos indígenas perdem o direito de usufruto exclusivo e as terras podem se tornar disponíveis ao agronegócio, às mineradoras, madeireiras e outros interessados. Lamentavelmente no final do ano o presidente da Câmara dos Deputados (Henrique Eduardo Alves – PMDB), apesar da oposição dos povos indígenas, quilombolas e outros segmentos da sociedade, instalou a Comissão Especial para aprovar a PEC 215/2000, constituída com mais de 70% dos parlamentares ruralistas ou comprometidos com esses interesses.

     

    Junto ao Poder Judiciário proliferam ações contra as demarcações das terras. Em muitas decisões se percebe que juízes, desembargadores e ministros procuram as brechas das leis para nelas estabelecer interpretações que fundamentem uma decisão contrária aos direitos indígenas e, com isso, impor, também através do Judiciário, a paralisação de demarcações de terras. Há, sem duvida, ações premeditadas dos setores “diferenciais” da economia, sobre juízes e desembargadores, com o intuito de convencê-los a proferirem decisões que favoreçam explicitamente os grupos que exploram as terras indígenas e suas riquezas ambientais e minerais. Há, por outro lado, casos de decisões exemplares, nas quais o magistrado se debruça sobre a causa em litígio e a analisa, avalia e decide tendo como referência os direitos constitucionais, a legislação infraconstitucional e o direito à vida daqueles que são, muitas vezes, relegados ao esquecimento no âmbito das decisões judiciais. Foram, ao longo do ano, proferidas decisões que permitem observar quando há parcialidade ou imparcialidade nas decisões. Um exemplo dessa constatação foi a decisão da Juíza da 2ª Vara Federal Janete Lima Miguel de Campo Grande/MS, quando proferiu decisão contra a realização do chamado “Leilão da Resistência” (leilão criminoso promovido pelos ruralistas com o objetivo de arrecadar dinheiro e com ele contratar milícias para agirem contra as lutas indígenas). Para fundamentar sua decisão, a juíza enfatizou que, entre o “direito de propriedade e o direito a vida ela opta pelo direito a vida”. Os representantes dos fazendeiros, dentre eles parlamentares, entraram com pedido de suspeição da juíza e impugnaram sua decisão.

     

    No âmbito do Poder Executivo, os ruralistas impuseram que todas as demarcações de terras fossem paralisadas. O anúncio foi dado na Tribuna do Senado pela senadora, amiga da presidente Dilma, Kátia Abreu e prontamente precedido de ordem oficial da ministra-Chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffman, determinando que a Funai e o Ministério da Justiça suspendessem de imediato todas as demarcações, especialmente no Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.

     

    A ministra Gleisi chegou ao cúmulo de dar à EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) a incumbência de elaboração de laudos técnicos para se contrapor aos estudos de identificação e delimitação de terras realizados pela Funai e, para além disso, pretendia torná-la a responsável pela elaboração dos estudos técnicos das terras reivindicadas pelos povos, como sendo de ocupação tradicional. A proposição era tão descabida que mereceu questionamento público, inclusive da própria EMBRAPA. Ainda assim, a ordem de paralisar as demarcações acabou sendo rigorosamente cumprida pela Funai e pelo Ministério da Justiça.

     

    Desde o mês de março/2013 nenhuma terra indígena foi demarcada e, além disso, medidas foram adotadas no sentido de rever estudos realizados pela Funai. Mais grave ainda, é a atitude do próprio ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de pressionar o órgão indigenista para que áreas declaradas (através de portarias assinadas por ele) fossem revistas, como é o caso da terra Indígena Mato Preto no Rio Grande do Sul (imagine-se, aqui, se um arquiteto autorizasse a construção de uma ponte, baseando-se nos alicerces mais sólidos de seu campo de ação e, depois da construção de metade da obra com recursos públicos, decidisse destruir o que já foi construído e refazer por outro caminho- seria, sem dúvida, acusado de promover o mau uso de recursos públicos). Os procedimentos de demarcação da área indígena Mato Preto se respaldaram nos alicerces constitucionais, os mais sólidos de que dispomos, por que então deveriam ser revistos? O que justificaria esse desperdício de recursos públicos para fazer novamente o que já foi feito?

     

    O pacto do governo federal com os ruralistas (e que se estendeu aos demais setores que pretendem explorar terras indígenas) criou raízes e se alastrou pelo país. Governos estaduais (como de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul) adotaram estratégias políticas regionais para exercer pressão contra as ações demarcatórias e ao mesmo tempo promover, junto a opinião pública, uma espécie de linchamento da Funai e seus servidores, caracterizando-os como manipuladores, fraudulentos, parciais, fomentadores e promotores de conflitos entre “índios e produtores”. Entidades indigenistas e lideranças indígenas foram igualmente caluniadas pelos representantes dos governos estaduais e os defensores do agronegócio a exemplo da Famasul, Farsul, Fetraf-Sul e CNA.

     

    Lamentavelmente, em estados como o Rio Grande do Sul os governos, seduzidos pelo “poder” aparentemente consolidado pelo pacto com as elites agrárias, atuam perigosamente e alimentam o conflito entre agricultores e comunidades indígenas. Os governantes movidos pela politicagem perdem o censo de justiça e a noção de que são eles, como representantes do Estado, aqueles que devem mediar e buscar soluções aos problemas criados pelo próprio Estado em épocas passadas.

     

    As medidas paliativas, que compõem a meu ver a esquizofrenia apontada pelo sociólogo Maurizio Lazzarato de tentar distribuir a riqueza sem desmontar as estruturas do enriquecimento, sugerem a permuta do direito à demarcação de terras pela compra de pequenas áreas (a exemplo do que ocorre no Rio Grande do Sul) além de prolongar os conflitos, são ilegais e imorais. Os direitos dos povos indígenas são transformados em serviços quando os governantes propõem a compra de porções de terra em locais menos conflituosos. É necessário ressaltar que o direito a demarcação das terras não cessará em função da compra de pequenas áreas (muitas delas degradadas); que não desaparecerão os povos, suas comunidades e as lutas pelo direito que possuem; que não é possível substituir garantias constitucionais através de perigosas compensações.

     

    O resultado desta aliança federativa (pacto) com o ruralismo não obteve êxito pleno em função dos protestos e mobilizações dos povos indígenas e seus aliados. Caso contrário o governo teria, como anunciou por dezenas de vezes, alterado as regras do procedimento de demarcação de terras (regulados pelo Decreto 1775/1996 e Portaria 14/1996) e ao mesmo tempo vincularia as 19 condicionantes estabelecidas pelo STF no julgamento do “caso Raposa Serra do Sol” a todas as demarcações de terras, como ficara explicitado na edição da Portaria 303/2012 da AGU (os efeitos desta portaria foram suspensos depois da pressão do movimento indígena). O STF, no mês de outubro, julgou os embargos de declaração relativos à decisão de Raposa Serra do Sol (Petição – PET 3388) e determinou que as 19 condicionantes estabelecidas no julgamento da ação pela manutenção da demarcação da Terra Raposa Serra do Sol em área contínua não são vinculantes a outros casos, portanto a outras demarcações de terras.

     

    Perigosas têm sido as demais políticas do governo federal para com os povos indígenas (saúde, educação, ambiental e de sustentabilidade), fundamentalmente pela falta de articulação entre os planejamentos de cada ministério, os serviços a serem prestados, as ações desenvolvidas e a execução orçamentária. Não há no governo federal um ministério, um órgão ou secretaria que congregue a responsabilidade pela articulação da política indigenista. Esta deveria ser uma função da Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI) que acabou sendo descaracterizada pelo governo na medida em que não acata as propostas oriundas da Comissão, bem como não remete a ela as demandas e propostas que o governo tem para os povos indígenas.

     

    No caso da política de saúde indígena o ano que passou foi conturbado. As atenções dos gestores e conveniados estavam focadas em responder denúncias de mau uso dos recursos; dar explicações acerca dos graves problemas no âmbito da assistência; acompanhar as etapas locais e distritais da V Conferência Nacional de Saúde Indígena. Nelas eles tinham que intervir para manter o controle na etapa nacional, e com isso garantir que as propostas que lhes assegurassem a manutenção das práticas adotadas nos últimos dois anos – uma mescla de ações e serviços realizados entre gestores e terceiros sem efetivamente garantir um modelo de atenção com participação efetiva dos povos indígenas -.

     

    A legislação que cria o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (Lei Arouca, 9836/99) determina que o Ministério da Saúde é quem deve assumir a responsabilidade pela gestão da política de saúde para os povos indígenas, e esta premissa se fortalece com uma decisão judicial contra a política de terceirização dos serviços em saúde. Ainda assim, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) vem mantendo convênios para as ações complementares em saúde, por exemplo, com a Missão Caiuá, com o Instituto de Medicina Integral Fernando Figueira (IMIPI) e com a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM). Com conveniadas, ou sem elas a ineficiência na atenção aos povos indígenas é inegável. Em âmbito nacional, povos e comunidades reclamam por não haver assistência adequada nas aldeias, nem profissionais, medicamentos e infraestrutura adequada. O mais grave, no que concerne as ações em saúde, é que a destinação de recursos tem sido expressivamente maior do que a execução orçamentária, aspecto que se verifica em relação a rubricas extremamente relevantes, tais como a prevenção de doenças e as melhorias relativas ao saneamento básico. As políticas assistenciais são, em síntese, reveladoras do tipo de tratamento dispensado pelo governo aos povos indígenas.

     

    Embora exista um consenso, hoje, sobre a relevância das diferentes culturas e identidades e sobre a necessidade de respeito a todas as maneiras de ser e pensar, no caso dos povos indígenas e quilombola esse discurso não tem sido muito efetivo. O que se observa é o crescimento das expressões de intolerância e de desrespeito, especialmente quando a presença destes povos e comunidades coloca em questão alguma das premissas desenvolvimentistas. Em alguns estados há investidas constantes contra as demarcações, contra as formas de viver de comunidades e povos que não pensam a terra unicamente como recursos, a ser explorada ao máximo. Do mesmo modo, é crescente a prática concreta (e cruel) de violências contra comunidades e lideranças indígenas, especialmente aquelas que vivem nas margens das rodovias ou que se situam em pequenas reservas de terra. O setor ruralista articula, do sul ao norte, ações de intimidação e de coerção dos povos indígenas. Em Guaíra, no Paraná, os Guarani estão sendo discriminados e perseguidos nas ruas, no comércio, nas escolas e no trabalho. Os meios de comunicação convocam a população a reprimir “os índios”. No Mato Grosso do Sul a situação é semelhante. Lideranças são ameaçadas, espancadas, assassinadas.

     

    Na luta pela terra, além de enfrentar pistoleiros, as lideranças se deparam com a brutalidade das polícias (Federal e Militar), que agem de forma truculenta contra os povos indígenas em ações de reintegração de posse. O exemplo mais contundente foi o assassinato de Oziel Terena em Sidrolândia, Mato Grosso do Sul.

     

    As artimanhas e estratégias criadas pelo governo federal com o intuito de favorecer alguns setores da “economia” tem, como custo, a negação dos direitos originários e constitucionais dos povos indígenas, dos quilombolas, de outras coletividades que não se encaixam nas perspectivas de desenvolvimento, aceleração, produção em larga escala, por exemplo.

     

    Para finalizar, retomo a afirmação do sociólogo Maurizio Lazzarato de que a possibilidade de redistribuição das riquezas sem redistribuição dos recursos é uma aposta insensata. O governo Dilma investe na direção de maximizar os ganhos de setores financeiros, fortalecer setores diferenciais da economia e supostamente promover a inclusão social através do consumo, do crédito e de pacotes de medidas assistenciais. Mas não é possível conciliar os direitos sociais com o rol de interesses dos setores do agronegócio, de mineradoras, de construtoras, do setor de financeiro.

     

    Construir perspectivas que focalizem centralmente os direitos sociais, as formas coletivas de vida, a solidariedade, a redistribuição efetiva dos bens e dos recursos que hoje estão concentrados nas mãos de poucos grupos favorecidos são alguns dos desafios a serem enfrentados pelos povos indígenas e seus aliados. Uma sociedade justa, na qual todos sejam verdadeiramente respeitados só poderá emergir de uma guinada nos rumos (e escolhas) que orientam a política atual.

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  • 21/12/2013

    Por baixo dos panos e no apagar das luzes, Governo do Estado e Funai atuam como “ponta de lança” no desmonte dos direitos indígenas no RS

    No início do mês de dezembro, depois muitas manobras, deputados ruralistas conseguiram instalar a Comissão Especial para tentar aprovar o Projeto de Emenda a Constituição Federal (PEC) 215/2000, que visa transferir do Poder Executivo para o Legislativo, onde a bancada ruralista tem grande peso, a aprovação da demarcação das terras indígenas. O detalhe é que 72% dos deputados que compõe esta comissão são ligados diretamente a setores de interesse dos ruralistas.    

     

    Porém, este não é o único golpe que esta sendo articulado neste momento contra os povos indígenas. Se no âmbito do Congresso Nacional, tendo o próprio Governo Federal como instrumento facilitador, os ruralistas encontram coro para o desmonte inconstitucional dos direitos dos povos originários, a nível local, no estado do Rio Grande do Sul, o governo estadual junto com a Fundação Nacional do Índio (Funai) utilizam o Conselho Estadual dos Povos indígenas (CEPI) como ferramenta para promover uma verdadeira campanha de sabotagem aos procedimentos demarcatórios das áreas Guarani e Kaingang. Neste sentido o Governo estadual tem funcionando, de maneira direta, como “ponta de lança” para a implementação prática daquilo que querem os ruralistas e o Governo Federal, com seus projetos de lei e emendas constitucionais.

     

    Diferentemente do que ocorre em outros estados, o Governo do Rio Grande do Sul tem responsabilidade direta no que tange a garantia das demarcações de terras indígenas, uma vez que em muitos casos, os pequenos agricultores foram assentados indevidamente sobre áreas indígenas pelo próprio Estado e, a estes, sobretudo, foram  vendidos e concedidos títulos que são constitucionalmente nulos.

     

    Desde junho de 2013, quando o governador Tarso Genro pactuou, inconstitucionalmente, com a Ministra Chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, a paralisação dos procedimentos de demarcação das terras, o movimento indígena assumiu uma postura combativa para cobrar do Governador suas atribuições junto a União: o pagamento da justa indenização dos agricultores que foram assentados sobre as terras indígenas, e, depois disso, as terras serem efetivamente demarcadas.

     

    Porem a resposta do Governo foi ao contrário do esperado. A tática assumida por Tarso Genro e seus secretários de governo foi de apostar em ações políticas para brecar toda e qualquer demarcação. Inclusive, para atingir o objetivo, houve tentativas de cooptação de lideranças indígenas através da oferta de políticas assistenciais de saúde, saneamento, educação e doação de veículos, mas tudo isso condicionado a que as lideranças aceitassem a redução do tamanho das áreas a serem demarcadas. O assessor de gabinete do governador Milton Viário e os secretários Ivar Pavan e Fabiano Pereira foram os encarregados a cumprir esta determinação.

     

    Depois de as manobras terem sido denunciadas pelo movimento indígena e pelas entidades indigenistas, o governo mudou seu discurso e decidiu retirar-se de cena. O Secretário Ivar Pavan em reunião com os indígenas de Passo Grande do Rio Forquilha, realizada em 18 de novembro de 2013, admitiu, na presença do Ministro da Justiça, que o governo foi “insuficientemente habilidoso para com suas pretensões” e, portanto abdicou de sua participação no processo demarcatório.

     

    Afastando-se dos holofotes, mas seguindo com as determinação do Governo Federal de não demarcar absolutamente nenhuma área indígena os agentes governamentais, aproximaram-se dos servidores da Funai e com eles passaram a intervir junto às lideranças e comunidades indígenas, especialmente aquelas que vivem em situação muito precária, com o objetivo de convencê-las a aceitar a permuta de seus territórios tradicionais por pequenos espaços de terra cedidos pelo estado do Rio Grande do Sul.  Na prática, o Governo e a Funai tem montado uma política de “negociação” com as comunidades indígenas, na tentativa de convencer, especialmente os Guarani, de que a permuta das terras agilizaria o acesso deles à terra e amenizaria o sofrimento. É importante destacar que as áreas oferecidas pelo governo estadual são, em geral, degradadas (pois se tratam das sobras de empreendimentos  e antigos hortos, ou áreas que os interesses dos grandes rechaçaram).

     

    Eles também pressionam, para atender aos interesses de “produtores rurais”, as comunidades para que passem a concordar com a redução dos limites das áreas declaradas como de ocupação tradicional (são os casos de Mato Preto, Irapuã e Passo Grande do Rio Forquilha). Utilizam, como pretexto, o argumento de que o estado, em parceria com a União, garantiria toda a assistência e infraestrutura necessárias nas aldeias. Deu-se inicio a uma verdadeira campanha onde, caso a caso, tem-se tentado convencer as comunidades a abdicarem de seu direito mais profundo e irrevogável, o de terem demarcado seus territórios tradicionais.

     

    Um destes casos ocorreu com a comunidade indígena Mbya Guarani do acampamento do Irapuá localizado no município de Caçapava do Sul, onde há mais de trinta anos, 20 famílias aguardam, em uma faixa de domínio público, o direito de acesso a seu território ancestral, que foi identificado e delimitado pela Funai. No entanto funcionários do Estado, representando a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), e servidores da Funai, tentaram convencer a comunidade a abdicar da luta por sua terra e trocar a área tradicional por duas pequenas porções de terra (05 e 04 hectares) em município vizinhos, cobertas de Pinus e já bastante degradadas. Uma parte dos Guarani rechaçou a proposta e segue esperando que se garanta o direito ao seu tekoha, que  historicamente vem sendo reivindicado. Enquanto outro grupo de famílias, que aceitou deslocar-se a uma terra cedida pela prefeitura de cachoeira do Sul, começa a se dar conta de que a área onde foram assentados é pequena e nela não haverá condições de exercer atividades de agricultura e logo, como relata o cacique Lorenço, chegará “no limite do que se pode oferecer aos Guarani.”

     

    Para além da discussão da produtividade e das condições destas diminutas áreas oferecidas, o problema a ser enfrentado é o da negação ao direito de demarcação de suas terras tradicionais. O quesito da tradicionalidade, ou seja, áreas que garantam as condições dos indígenas viverem de acordo com sua cultura levando em conta a presença imemorial de seu povo é justamente o que fortalece a vivência destes povos sobre seu território. Diferentemente de agricultores, os indígenas não buscam apenas hectares suficientes para produzir, mas sim terras que lhes garantam viver de acordo com sua cultura, costumes e tradições. Este princípio, o da tradicionalidade, é aspecto central a ser levado em conta pelos Grupos de Trabalho de Demarcação de Terras da própria Funai.

     

    Lideranças indígenas vêm denunciando as manobras dos agentes do Estado, a exemplo do que ocorreu na aldeia do Moro do Osso, em Porto Alegre, onde o Cacique Valdomiro relata que a Funai, através do seu coordenador de Passo Fundo, ofereceu outra área ao povo Kaingang, condicionando-a  desde que se retirassem do território pelo qual lutam há muitas décadas. A liderança Guarani Karaí Papá refletindo sobre a questão avalia: “eles querem tirar nós de onde nós vivemos, para deixar a terra para os interesses do Jurua (branco), na verdade aquilo que o Jurua não quer mais eles oferecem aos Guarani, nós temos que viver com a sobre dos Jurua”.

     

    Outro problema enfrentado pelos Guarani e Kaingang está vinculado ás duplicações de rodovias. Tais duplicações que atingem diretamente e indiretamente as áreas reivindicadas pelos indígenas, como ocorre na BR 116, BR 290 e BR 386, o DNIT fica responsabilizado por garantir compensações a serem revertidas às comunidades. Estas compensações seriam na realidade melhorias de estrutura e condições básicas dos indígenas, podendo, mediante consulta à comunidade, haver compensações de terra, de preferencia no sentido de demarcar ou ampliar a terra tradicional que estes povos reivindicam ou onde já estão vivendo. A Funai, com o apoio de representantes do estado, pretende trocar às terras que estão sendo demarcadas como de ocupação tradicional pelas áreas  a serem adquiridas pelo DNIT. Na verdade, ao que parece, o Estado e Funai querem consolidar o que vem sendo denominado de  “política do cercadinho”.

     

    No caso das BRs acima referidas é necessário esclarecer que desde 2008 a Funai instituiu grupos de trabalhos para proceder aos estudos de identificação e delimitação de terras. Houve denúncias de que o DNIT adquiriu ou pretende adquirir terras para as compensações em áreas de abrangência dos estudos da Funai, o que é ilegal.

     

    Logicamente, populações indígenas que vivem em situações de maior vulnerabilidade tendem a aceitar estas propostas (em função da aparente solução imediata que elas carregam), pois vislumbram possibilidade de melhorar suas condições de vida. No entanto, é importante lembrar que estas mesmas promessas foram feitas com relação a outras áreas e passados os anos não foram cumpridas.  Em casos similares, de que posteriormente o Governo e a Funai fariam a expansão destas mesmas áreas, nunca ocorreu.

     

     Em diversas oportunidades, durante o ano de 2013, em que lideranças indígenas, em suas coletividades, estiveram cara a cara com os representantes governamentais ou com a Funai,  rechaçaram com veemência essa política deixando claro que a mesma se tratava de um absurdo inconstitucional. Frente a isso, o CEPI ao invés de respeitar a decisão dos conselhos e fóruns onde as lideranças estiveram reunidas e pronunciaram seu parecer plural, insiste em realizar reuniões com membros isolados de determinadas comunidades para tentar obter êxito no seu planejamento de encontrar soluções tangentes à demarcação de Terras.

     

    Este movimento da parte do governo estadual e da Funai pode ser compreendido como um cabo de força entre os interesses do Governo Federal, do agronegócio e do próprio movimento indígena. Convictos no processo de autodemarcação de seus territórios, comunidades Kaingang como das Terras indígenas de Passo Grande do Rio Forquilha (Sananduva) e Rio dos Índios (Vicente Dutra) acabaram por colocar em xeque-mate os argumentos contrários à demarcação de seus territórios. Em ambos os casos, os pequenos agricultores, caracterizados pelo governo como as vítimas dos “índios” mostraram-se favoráveis aos direitos indígenas, concordam com as demarcações e reivindicam a justa indenização. Mesmo assim, o Ministério da Justiça, o Incra, a Funai e demais instancias das esferas Federal e Estadual, continuam estáticos.

     

    Atualmente os povos indígenas no Rio Grande do Sul ocupam apenas 0,4 por cento do território gaúcho em função do processo de colonização desencadeada sobre seus territórios. Esta ínfima porcentagem de terra será insuficiente para assegurar que estes povos possam ter garantidos, de maneira plena, seus modos de vida e suas culturas. A espoliação dos territórios tem raízes históricas vinculadas à projetos e posturas Governamentais muito similares a esta empregada pelo Governo Dilma, Governo Tarso e pela Funai, como demonstra o artigo de Cleber César Buzzato, Secretário Executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), intitulado: “Os ciclos colonizatórios no Rio Grande do Sul e os enfrentamentos necessários ao latifúndio na defesa dos direitos territoriais indígenas no Brasil” (https://cimi.org.br/site/ptbr/index.php?system=news&action=read&id=7124).

     

    É lamentável que o governo do estado do Rio Grande do Sul sintonizado com o governo federal, ao invés de assumir suas responsabilidades ajudando a resolver um problema social tão agudo como o dos povos indígenas, utiliza suas estruturas para agir na defesa dos setores ligados ao agronegócio, aos ruralistas. Ao invés de colaborar, o governo esforça-se, a todo custo, para reduzir ainda mais os territórios dos povos originários e brecar as demarcações de terras pelas quais muitas famílias indígenas esperam ao longo de toda a vida.

     

    Os povos indígenas certamente não desistirão de lutar pela garantia de seus direitos. Neste novo ano que se anuncia no horizonte, as forças religiosas dos diferentes povos e os exemplos de resistência que acontecem Brasil a fora (como ocorre no Mato Grosso do Sul, onde os Guarani Ñhandewa de Yvy Katu decidiram defender com a própria vida sua terra) fortalecerão os indígenas “do Rio Grande do Sul” nos embates que travarão para garantir aquilo que lhes é de direito e que não pode mais ser alijado de suas vidas, o acesso a seus territórios tradicionais. Caberá ao Governo e a Funai medirem o peso de suas ações e assumirem as consequências frente as violências que praticam contra aqueles que vivem da terra.   

     

    Santa Maria, Rio Grande do Sul, 20 de dezembro de 2013.

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  • 21/12/2013

    Em perfeita sincronia, governos fecham as portas da Justiça e comerciantes locais fecham as portas da cidade para o povo Kaingang

    Enquanto Governo Federal, Governo do Estado do RS, Fundação Nacional do Índio (Funai) e Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) simplesmente ausentam-se de suas obrigações estatutárias e constitucionais para com a homologação da Terra Indígena de “Rio dos Índios”, que já está atrasada em dez anos, sem, por consequência, garantirem também o reassentamento dos pequenos agricultores vítimas de colonização ilegal por parte do próprio Estado Gaúcho, parte dos moradores do município de Vicente Dutra decidiram implementar por sua própria conta (seu)  “conceito de justiça”.

     

    Segundo os indígenas, comerciantes da cidade, subsidiados pelos donos de um empreendimento que foi implementado de maneira ilícita sobre a área indígena, têm impedido periodicamente os indígenas de acessarem os mercados da cidade, o que constitui, sobretudo, crime de racismo e de negação aos acessos básicos. Os indígenas encontram-se impedidos de transitar em perímetro urbano com segurança e já tiveram seu pequeno acampamento sitiado por cerca de 500 pessoas, a maioria de fora da cidade e que mantém relações diretas com políticos locais. Desta forma, cerca de 50 famílias encontram-se praticamente aprisionadas em um terreno de dois hectares, espaço ocupado hoje pelos Kaingang.  

     

    No final do mês de novembro, os deputados Luis Carlos Heinze, Nelson Covatti e Alceu Moreira realizaram uma audiência pública em Vicente Dutra onde, em troca de alguns votos, incitaram de maneira aberta – com gravação feita pela rádio comunitária local – os moradores da cidade a praticarem “justiça direta” contra os “invasores” à luz do que acontece no Mato Grosso do Sul. Nas mais de duas horas de gravação ficam claras passagens de racismo e de incitação à violência. As lideranças temem pelo aumento da violência por parte de moradores locais já no período de recesso e pediram segurança junto ao Ministério Público Federal.

     

    É lamentável e digno de repúdio que funcionem de forma diretamente proporcional, e sempre contra os indígenas, às práticas de racismo explícito de parte de moradores das cidades onde existem aldeias indígenas a serem demarcadas e o fechamento das portas da justiça por parte dos governos federal e estadual.

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  • 18/12/2013

    Norte Energia é obrigada a paralisar obras de Belo Monte mais uma vez

    Enquanto não cumprir condicionantes, licenças ficam suspensas e consórcio não pode receber recursos do BNDES

    A empresa Norte Energia S/A, responsável pela construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará terá que paralisar as obras mais uma vez, determinou o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) nesta segunda-feira, 16. A decisão, que atende a pedido do  Ministério Público Federal (MPF), declarou nulas diversas licenças concedidas pelo Ibama e impede que novas sejam emitidas, até que as condicionantes da fase anterior, da Licença Prévia, sejam cumpridas. O acórdão ainda proíbe o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de repassar qualquer tipo de recurso para Belo Monte enquanto não supridas as  omissões, sob pena de multa no valor de R$ 500 mil.

    Relembre o caso

    Em outubro, o relator do processo no TRF1, desembargador Souza Prudente, considerou procedente a ação do Ministério Público Federal (MPF) ajuizada em 2011 que questionava a emissão de uma licença parcial para os canteiros de obras da usina, contrária a pareceres técnicos do próprio Ibama, e ordenou a paralisação das obras. 

    O Ibama, então, interpôs o pedido de suspensão de segurança ao próprio presidente do TRF1, que decidiu em sentido contrário a Prudente e determinou a retomada dos trabalhos em Belo Monte. A 5ª Turma do Tribunal, no entanto, ao julgar o caso, decidiu acatar recurso do Ministério Público Federal e negar recurso à Norte Energia, o que obriga esta última a suspender imediatamente as obras de execução do empreendimento hidrelétrico.

    Em seu voto dado na última segunda-feira, Prudente afirmou que “os impactos decorrentes da execução das obras em referência já se refletem negativa e irreversivelmente nas comunidades atingidas, seja pela tensão social daí decorrente, no aumento do fluxo migratório e na diminuição da qualidade dos recursos naturais de que necessitam para a sua própria subsistência”.

    O desembargador também enfatizou que “a proliferação abusiva dos incidentes procedimentais de suspensão de segurança, como instrumento fóssil dos tempos do regime de exceção, a cassar, reiteradamente, as oportunas e precautivas decisões tomadas em favor do meio ambiente equilibrado, neste país, atenta contra os princípios regentes da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n° 6.938/81), sob o comando dirigente do princípio da proibição do retrocesso ecológico”.

    Processo nº 0000968-19.2011.4.01.3900/PA

    Ementa da decisão de mérito do TRF-1

    Link para consulta processual do TRF-1

    Veja todos os processos judiciais contra Belo Monte

    Assessoria de Comunicação

    Procuradoria da República da 1ª Região

    www.prr1.mpf.mp.br
    http://www.twitter.com/MPF_PRR1

    Assessoria de Comunicação

    Ministério Público Federal no Pará

    www.prpa.mpf.mp.br
    http://twitter.com/MPF_PA
    ascom@prpa.mpf.gov.br

     

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  • 18/12/2013

    “Demarcação agora é guerra”, declaram indígenas de Yvy Katu


    Ruy Sposati, de Japorã (MS)


    Um dia depois da suspensão de um das quatro reintegração de posse contrárias à permancência de cinco mil Guarani Ñandeva no tekoha Yvy Katu, na última terça-feira, 17, os indígenas anunciaram que não cumprirão as outras decisões judiciais, estão "prontos para morrer" e exigem que o governo federal finalize o processo de demarcação da terrra, declarada em 2005.

    "Nós estamos há mais de 78 dias e 78 noites acampados em nossa própria terra e vamos ficar por mais dois mil anos e depois para sempre. Nós não vamos sair", escreveram os indígenas em carta aberta à Presidência da República e ao Ministério da Justiça, entregue nesta quarta-feira ao Ministério Público Federal (MPF).

    Sobre a decisão do Tribunal Regional Federal da 3a. Região, a comunidade afirmou: "nós não ficamos aliviados com essa decisão da Justiça, porque ela não muda nada. Nós continuamos mobilizados, resistindo contra ações dos latifundiários".

    Menos de 2

    Os indígenas argumentam que o território em processo de demarcação representa uma parcela muito pequena do território de Japorã, município onde fica a maior parte de Yvy Katu – apesar dos Guarani representarem metade dos moradores da cidade. "Nós somos 50% da população do município", explica a liderança indígena Valdomiro Ortiz, "e no entanto, não estamos lutando por metade do território de Japorã. Ao contrário! Os 7,5 mil hectares não são nem 6% o território total da cidade. Isso é pelo que estamos lutando".

    "Juntando com a reserva [totalizando 9,4 mil hectares] e dividindo por todo mundo, dá menos de 2 hectares pra cada um. Estamos lutando por menos de 2 hectares de terra por indígena aqui em Yvy Katu. Se isso dá vida digna pra todo mundo? Claro que não dá. Mas é por esses 2 hectares que estamos lutando, e não por uma cidade inteira", aponta.

    Valdomiro relata que há exatos 10 anos, no dia 18 de dezembro, ocorreu o famoso episódio do confronto com fazendeiros na ponte sobre o rio Iguatemi. Na ocasião, ruralistas e fazendeiros alegaram protesto pacífico na ponte par tentar expulsar os Ñandeva do território recém-retomado. Desarmados, os indígenas tentaram impedir a passagem se posicionando na frente dos fazendeiros, que dispararam armas de fogo. Com uma reza, relata, um ñanderu chamou uma tempestade de vento e trovões que afastou os invasores, e os indígenas permaneceram no local.




    "Durante esses 10 anos, nós sofremos muito. E a Justiça sempre prometendo que estava dando um jeito de solucionar o conflito, de demarcar, e que daqui 6 meses, daqui um ano estaria resolvido… Se passaram 10 anos e nada", recorda Valdomiro. "Agora, hoje, nós estamos aqui de novo. Perdemos alguns companheiros, mas não vamos parar. Pelo menos, podemos tomar banho no nosso rio. Está tudo devastado, mas pelo menos podemos tomar banho".

    Na opinião da liderança, os proprietários de terras que incidem sobre território indígena devem ser ressarcidos. "Nós defendemos que os fazendeiros que adquiriam suas terras de boa fé recebam, sim. E deixem logo a comunidade em paz".

    "No dia em que a gente tiver velhinho, quando não puder nem se arrastar mais no chão, os nossos filhos e os nossos netos vão estar no nosso tekoha. Apesar de tanta ameaça, apesar do cansaço, do sono, fome e sofrimento, podemos dizer que estamos felizes por sentirmos que estamos vencendo aos poucos", conclui.

    Leia mais:

    "Estamos prontos pra morrer", respondem indígenas à nova reintegração de posse em Yvy Katu

    Nota pública contra o genocídio dos 5 mil Guarani Ñandeva de Yvy Katu

    Acusados de “guerrilheiros” pela Justiça, indígenas Guarani afirmam que irão resistir contra nova reintegração de posse em Yvy Katu

    Leia na íntegra o documento dos indígenas:


    Carta aberta à Presidência a Presidência da República e Ministério da Justiça

    Recebemos a notícia da suspensão da reintegração de posse de uma das 14 fazendas em Yvy Katu. Não ficamos nem felizes nem tristes com isso. Isso não muda nada para nós Guarani.

    Para nós essas 14 fazendas não existem. Toda essa terra faz parte de um mesmo tekoha, um mesmo território, chamado tekoha Yvy Katu.

    Nós não ficamos aliviados com essa decisão da Justiça, porque ela não muda nada. Nós continuamos mobilizados, resistindo contra ações dos latifundiários, e exigindo a demarcação de nosso território.

    Nós estamos há mais de 78 dias e 78 noites acampados em nossa própria terra e vamos ficar por mais dois mil anos e depois para sempre. Nós não vamos sair.

    Terra indígena nunca foi de fazendeiro. Terra indígena sempre foi terra indígena.

    Se os fazendeiros querem comprar terra, vão comprar em outro lugar. Se querem cobrar pela terra, paguem antes pela floresta que estava aqui e que foi acabada.

    Nós temos nossa reza e os nossos guerreiros. Estamos esperando os guerreiros dos brancos.

    Estamos prontos para morrer. Demarcação agora é guerra.

    Nossa reza é quente como se fosse o sol. Nossa reza vem da natureza, do antepassado e do sonho. Nos sonhos, já vimos a terra lutar contra o branco, a árvore lutar contra branco.

    Nós, comunidade Yvy Katu e Conselho Aty Guasu, exigimos que a Justiça suspenda todas as reintegrações de posse e o governo federal finalize a demarcação de toda a nossa terra tradicional. Enquanto isso, vamos continuar lutando, e banhando a terra de sangue, se for necessário.

    Não existe acordo. Não adianta pressionar. Não vamos ficar apenas com 10% de Yvy Katu. Agora é 100%. Parece que ninguém está acreditando em nossa luta. Será que estamos falando à toa? Já carregamos muito indígena Guarani e Kaiowá ensanguentado no braço. Vocês estão esperando mais uma morte para se importarem com Yvy Katu?

    Tekoha Yvy Katu, 18 de dezembro de 2013

    Lideranças do tekoha Yvy Katu e Conselho do Aty Guasu


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  • 18/12/2013

    Ministro do STF afirma que condicionantes só se aplicam à Raposa Serra do Sol

    O ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou seguimento (arquivou) à Reclamação (RCL 14473) ajuizada pelo Município de Lábrea (AM) contra decisão judicial que havia determinado a revisão e ampliação da Terra Indígena Kaxarari, situada entre Lábrea (AM) e Porto Velho (RO). O município apontou descumprimento da decisão tomada pelo Supremo no julgamento sobre a demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, realizado por meio da Petição (PET) 3388.

    Segundo explicou o ministro Marco Aurélio, no julgamento de recurso (embargos de declaração) na PET 3388, o Plenário “não sufragou o entendimento sobre o fato articulado” na reclamação do município de Lábrea. Isso porque, pela decisão do Supremo, as salvaguardas fixadas para dirimir conflitos no caso concreto da demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol não foram estendidas para a demarcação de outras reservas. “O relator dos embargos (de declaração na PET 3388) chegou a consignar que o pronunciamento alusivo à referida petição mostrou-se específico, limitado às terras indígenas de Raposa Serra do Sol”, ressaltou o ministro Marco Aurélio.

    Com esses argumentos, o ministro negou seguimento ao pedido do município de Lábrea e derrubou a liminar por ele concedida parcialmente em setembro de 2012 para suspender as atividades de grupos técnicos da Fundação Nacional do Índio (Funai) que cumpriam a determinação de revisão e ampliação da reserva feita pelo juízo da 5ª Vara Federal Ambiental e Agrária de Rondônia.

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  • 18/12/2013

    Conselho Nacional de Política Energética é “chapa branca”

    Em nota pública divulgada ontem (17), várias organizações da sociedade civil denunciam que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) está totalmente fechado para a participação social. Fato este que descumpre um decreto da Presidência da República, que prevê a participação de um representante da sociedade civil e um representante da universidade brasileira, especialistas em matéria de energia, e "obstrui um importante canal de diálogo entre o governo e a sociedade brasileira sobre um tema da maior relevância para o país".

    Questionando a própria legitimidade do Conselho, as organizações afirmam: "Como entidades da sociedade civil que acompanham e sofrem as consequências de empreendimentos prioritários do governo – como a construção de Belo Monte e outras grandes barragens na Amazônia, e a expansão do Programa Nuclear Brasileiro (PNB) – podemos afirmar que a atual política energética, estabelecida por decisões do CNPE, não leva em conta, efetivamente, as consequências sociais e ambientais dos projetos, em contraste com as diretrizes do próprio Conselho".

    Leia abaixo a nota na íntegra:

     

     

    NOTA AO GOVERNO E À SOCIEDADE BRASILEIRA

     

     

    CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA ENERGÉTICA:

    ONDE ESTÁ A SOCIEDADE CIVIL?

     

    Consta na agenda oficial do Ministério de Minas e Energia, em sua página na internet, a previsão de realização, de uma reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) no dia 17 deste mês.[1] O que é este conselho e o que será decidido nesta reunião? Quem vai decidir?

    Essas dúvidas têm razão de existir. Afinal, a grande maioria dos brasileiros provavelmente nunca ouviu falar do CNPE!

    Em decretos presidenciais de 2000 e 2006 – que regulamentaram a lei que criou o CNPE em 1997 – existe a previsão de participação de um representante da sociedade civil e um representante da universidade brasileira, especialistas em matéria de energia.[2] Entretanto, estas duas cadeiras encontram-se vagas há anos, descumprindo-se um decreto do Presidente da República e, obstruindo um importante canal de diálogo entre o governo e a sociedade brasileira sobre um tema da maior relevância para o país.

    Assim, o CNPE que se reúne em 17 de dezembro é um conselho exclusivamente governamental, “chapa branca”.   Além disso, as Atas e Resoluções do Conselho deixam claro que grande parte de suas decisões é tomada ad referendum, isto é, apenas carimbando uma decisão já tomada por seu Presidente, o Ministro de Minas e Energia.  Enquanto isso, a sociedade civil e a universidade brasileira, por não terem representantes no CNPE, não são sequer informadas sobre as decisões que são tomadas a portas fechadas. 

    É muito grave o não preenchimento dessas duas vagas.  Mesmo em número insuficiente, a presença desses representantes da sociedade indicaria uma abertura mínima para a participação de pessoas e organizações que poderiam levar para a mesa de debates e decisões questões da maior relevância, que ajudariam o Conselho a cumprir sua missão.

    É importante lembrar que as diretrizes que devem orientar a atuação do CNPE incluem, entre outras: a proteção do meio ambiente e promoção da conservação de energia; a identificação das soluções mais adequadas para o suprimento de energia elétrica nas diversas regiões do País; o estabelecimento de diretrizes para programas específicos, inclusive dos biocombustíveis, da energia solar, da energia eólica e da energia proveniente de outras fontes alternativas.

    Como entidades da sociedade civil que acompanham e sofrem as consequências de empreendimentos prioritários do governo – como a construção de Belo Monte e outras grandes barragens na Amazônia, e a expansão do Programa Nuclear Brasileiro (PNB) – podemos afirmar que a atual política energética, estabelecida por decisões do CNPE, não leva em conta, efetivamente, as consequências sociais e ambientais dos projetos, em contraste com as diretrizes do próprio Conselho.

    Também contrariando suas diretrizes, o CNPE tem menosprezado propostas inovadoras da sociedade civil e de empreendedores do setor privado em áreas estratégicas, como a eficiência energética e a conservação de energia; o aproveitamento do potencial quase infinito da energia solar, por meio da inovação tecnológica e o fomento a cadeias produtivas nacionais; as propostas de políticas para estimular, em bases sustentáveis e com justiça social, a ampliação de escala de outras fontes renováveis não convencionais, como a eólica, a biomassa e o movimento natural das águas sem barramentos, assim como a descentralização da produção e do consumo, evitando riscos e custos da produção centralizada, em mãos de grandes empresas.

    O não preenchimento das vagas no CNPE reflete uma preferência política do atual governo de tomar decisões sem dialogar com a sociedade civil.  Esse planejamento centralizado facilita a prática de priorizar o atendimento de interesses de grandes empreiteiras que são parceiras prediletas do setor elétrico do governo (Eletrobras, EPE), “campeões nacionais” como Eike Batista, e grupos políticos, cujas campanhas eleitorais são financiadas generosamente pelos principais beneficiários da atual política energética. 

    Não é legítimo, nem lícito que o CNPE tome decisões estratégicas sobre a política energética sem abrir o diálogo e sem contar com a contribuição da sociedade civil.  De fato, a atual política energética está sendo imposta à sociedade, em nome de necessidades definidas a partir de critérios discutíveis, favorecendo as “necessidades” de determinados grupos econômicos. 

    Junto com as políticas de mineração, indústria e transporte, o modelo de produção, distribuição e consumo de energia é um tema estratégico para o país, envolvendo escolhas sobre a utilização de recursos naturais e territórios que afetam a vida de gerações presentes e futuras.  Por isso, devem ser objetos de processos transparentes e democráticos de tomada de decisão, garantindo os interesses públicos.

    Com certeza, a presença de representantes da sociedade civil e da academia no CNPE – que devem ser indicados por redes representativas e não pelo Governo, em maior número do que o previsto no decreto – levaria para a mesa do Conselho contribuições importantes para superar vícios da atual política energética e avançar no aproveitamento de oportunidades para efetivar uma política energética brasileira à altura dos desafios do século 21, pautada em princípios de transparência e participação democrática, respeito aos direitos humanos, justiça social, sustentabilidade ambiental e eficiência econômica.

    Assim, as organizações da sociedade civil, abaixo identificadas, manifestam interesse em abrir um diálogo com o governo a fim de definir medidas práticas para superar os obstáculos ao efetivo funcionamento do CNPE.  Como primeiro passo, nos dispomos a contribuir para a definição de um processo de consulta a redes da sociedade e da academia brasileira, objetivando a indicação de nomes para preencher as cadeiras vagas no Conselho.

    Brasília, 17 de dezembro de 2013

    Assinam:

    1.     Amigos da Terra – Amazônia Brasileira

    2.     Articulação de Mulheres Brasileiras – AMB

    3.     Associação Alternativa Terrazul

    4.     Associação Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça, Cidadania

    5.     Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida – APREMAVI

    6.     Comissão Justiça e Paz da Diocese de Santarém 

    7.     Conselho Indigenista Missionário – CIMI

    8.     Conselho Pastoral dos Pescadores – CPP

    9.     Conservação Internacional – CI/ Brasil

    10. ECOA – Ecologia e Ação

    11. FASE

    12. FBOMS (Fórum Brasileiro de Ongs e Movimentos Sociais pelo Meio Ambiente e Desenvolvimento)

    13. Fórum da Amazônia Oriental – FAOR

    14. Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social

    15. Fundação Avina

    16. Gambá – Grupo Ambientalista da Bahia

    17. Greenpeace – Brasil

    18. Grupo de Defesa da Amazonia – GDA

    19. Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas IBASE

    20. Instituto Centro de Vida – ICV

    21. Instituto de Estudos Socioeconomicos – INESC

    22. Instituto Humanitas, Pará

    23. Instituto Madeira Vivo

    24. Instituto Mais Democracia

    25. Instituto Socioambiental – ISA 

    26. International Rivers – Brasil

    27. Marcha Mundial do Clima

    28. Movimento de Mulheres do Campo e Cidade Regional Transamazônica e Xingu

    29. Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA

    30. Movimento Ecossocialista de Pernambuco-MESPE

    31. Movimento Gota D’Água

    32. Movimento Tapajós Vivo – Santarém

    33. Movimento Xingu Vivo para Sempre

    34. Mutirão Pela Cidadania

    35. Operação Amazônia Nativa – OPAN

    36. Projeto Cidade Verde, Cidadania Ativa/ FE- UNB

    37. Rede Brasileira de Ecossocialistas

    38. Rede Cearense de Juventude (RECEJUMA)

    39. Rede Sustentabilidade

    40.  Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Xapuri/AC

    41. SOS Clima Terra



    [1] http://www.mme.gov.br/mme/menu/conselhos_comite/cnpe/CNPE_Agenda_Bxsica_2013.pdf

    [2] A Lei no 9.478 de 1997 foi regulamentada pelos Decretos no 3.520/2000 e 5793/2006. O regimento interno do Conselho foi aprovado por resolução do CNPE em novembro de 2009.

     

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  • 18/12/2013

    Coca Cola está no meio da luta territorial dos Guarani no MS

    Os Guaranis vêm solicitando à Coca-Cola que deixe de comprar açúcar da gigante estadunidense do agronegócio, a Bunge, que está envolvida em um escândalo de apropriação de terras.

    Um informe recente da Oxfam revela que a Coca-Cola está comprando açúcar da Bunge que, por sua vez, compra cana de açúcar de terras roubadas dos Guarani para produzir agrocombustíveis "manchados com sangue indígena”.

    Um porta-voz dos indígenas declarou à Survival Internacional: "A Coca-Cola deve deixar de comprar açúcar da Bunge. Enquanto essas empresas se beneficiam economicamente, nós nos vemos forçados a conviver com a fome, miséria e assassinatos”.

    Os 370 Guarani da comunidade de Jata Yvary, do Mato Grosso do Sul, vêm perdendo a maior parte de suas terras ancestrais para as plantações que vendem cana de açúcar para a Bunge, e estão condenados a viver em uma diminuta parcela de terra completamente ilhada por essas plantações.

    A população indígena padece de problemas graves de saúde como resultado do uso dos pesticidas nas plantações e lamenta a perda de suas florestas, de onde obtinha alimentos, plantas medicinais e refúgio.

    Arlindo, líder de Jata Yvary, explica em um lamento emocionante: "[Os proprietários de terras] estão destruindo quase tudo, nossa fruta nativa, nossos recursos. Espalham pesticidas de aviões. As crianças ficam com dor de cabeça e vomitam”.

    Os Guarani são o outro lado da crescente demanda mundial de agrocombustíveis. A maior parte da terra das tribos foram roubadas e ocupadas por proprietários de terra poderosos, que a utilizam como pasto para o gado e para a produção de soja e cana de açúcar.

    Os líderes Guarani estão sendo perseguidos e assassinados sistematicamente enquanto lutam por seus direitos territoriais. A situação desesperadora que atravessa a tribo levou muitos de seus integrantes a se suicidarem: a taxa de suicídio local é 34 vezes superior à média nacional do Brasil.

    Ambrósio Vilhava, Guarani conhecido internacionalmente por sua interpretação no premiado filme Terra Vermelha, que mostra a situação de infortúnio vivida pelo seu povo, foi o último líder assassinado.

    A Coca-Cola se comprometeu recentemente com a política de Tolerância Zero da Oxfam, diante da acumulação de terras e a "reconhecer e preservar os direitos das comunidades e dos povos tradicionais para manter o acesso à terra e aos recursos naturais”.

    A Survival pediu à Bunge para que deixe de comprar cana de açúcar procedente das terras dos Guarani, se comunicou com a Coca-Cola e pediu, repetidamente, às autoridades brasileiras para que demarquem a terra Guarani com a máxima urgência, antes da Copa do Mundo de 2014.

    Stephen Corry, diretor da Survival Internacional, declarou hoje que: "As empresas multinacionais são mestres em desviar as críticas com promessas de mudanças, mas sua política não serve de nada quando não é acompanhada de ações concretas. Para levar a sério o compromisso da Coca-Cola, a empresa deve deixar de comprar açúcar proveniente da Bunge. Enquanto o acordo com essa empresa perdurar, a promessa da Coca-Cola contra a acumulação de terras não tem sentido”.

    Veja o vídeo: www.youtube.com/embed/L749n6pwZgU?list=UUUUT7kcAyFjSZG2i_sHYOqA

    Fotos: Sarah Shenker/Survival e Nereu Schneider/Survival

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  • 18/12/2013

    Irmãs Catequistas Franciscanas: Manifesto em Defesa da Vida do Povo Guarani-Kaiowá

    A Província Irmã Amábile Avosani – Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas, reunidas em Porto Velho /RO, na 4ª Assembleia Capitular, vem a publico manifestar seu apoio e solidariedade ao povo Guarani Ñandeva do Tekoha Yvy Katu, nos municípios de Iguatemi e Japorã, na fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai, que constantemente são ameaçados pelos fazendeiros e pelo Estado Brasileiro, por não fazer cumprir e defender seus direitos. Apoiamos a luta do povo Guarani Ñandeva do Tekoha Yvy Katu, que vive o risco de genocídio iminente, em consequência da defesa do seu território original.


    Somamo-nos a todas as pessoas, grupos, movimentos que defendem a causa do povo Guarani Ñandeva do Tekoha Yvy Katu, que estão ameaçados na sua integridade física e cultural, pela ambição do agro negocio, grandes grupos econômicos, ruralistas e políticos que compactuam com o genocídio dos povos indígenas, principalmente o governo brasileiro, que se omite e se alia com estes grupos econômicos, assassinado os direitos indígenas, assegurados na Constituição Federal.


    Responsabilizamos o Governo Brasileiro, pelo eminente genocídio das 5.000 mil pessoas do povo Guarani Ñandeva do Tekoha Yvy Katu/Mato Grosso do Sul.


    Unimo-nos ao povo Guarani Ñandeva do Tekoha Yvy Katu, que não desiste de lutar por seus direitos e se fortalece na espiritualidade dos antepassados, para suportar e resistir ao ataque das politicas de um governo que é conivente com o genocídio de um povo.


    Que o Deus da Vida, da justiça e da liberdade, toque o coração dos que devem promover a justiça, devolvendo a terra a quem é de direito.


    Vida, paz e justiça ao povo Guarani Ñandeva do Tekoha Yvy Katu!


     

    Porto Velho, RO, 17 de dezembro de 2013.


     

    Irmãs Catequistas Franciscanas

     

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  • 13/12/2013

    Movimento de Mulheres Camponesas do Brasil: Apoio aos povos indígenas do Brasil

     

    Movimento de Mulheres Camponesas do Brasil

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    Nós, mulheres representantes de 20 estados da Federação, em reunião da Coordenação Nacional do Movimento de Mulheres Camponesas MMC em Luziânia – Goiás, entre os dias 10 a 12 de dezembro de 2013, acompanhamos com enorme preocupação e indignação mais um ato genocida e de violência contra os povos indígenas, quilombolas e demais populações tradicionais. Trata-se da instalação da Comissão de analise e aprovação da PEC 215, que transfere a regularização dos territórios e terras coletivas, bem como a decisão sobre unidades de conservação do poder executivo para o Congresso Nacional, no qual objetiva a concentração das terras e o saque dos territórios.

     

    A partir do nosso compromisso com a vida, a justiça e a pluralidade do nosso país, consideramos essa decisão não apenas um retrocesso absurdo, mas um atentado criminoso contra a vida e direitos das populações indígenas e tradicionais, a natureza e a Mãe Terra.

     

    Ao repudiarmos essa decisão do Congresso, queremos também denunciar as demais ações e decisões que demonstram a clara intenção de rasgar a constituição e retroceder nos direitos sociais conquistados pela luta organizada pelos povos deste país. Entendemos que o atual modelo desenvolvimentista que impulsiona os grandes projetos de infraestrutura, tais como, as hidrelétricas de Belo Monte, Girau e tantas outras, o livre acesso e exploração dos territórios pelas mineradoras e o avanço das fronteiras do agronegócio, levando a desterritorializaçao, empobrecimento e massacre das populações camponesas, indígenas, quilombolas, ribeirinhas…

     

    Vivemos um momento de enorme preocupação pelos rumos do nosso pais, especialmente com relação à terra e os conflitos gerados pela disputa dos territórios. Nós mulheres camponesas sabemos muito bem o que isso significa. Por isso, diante de mais esses genocídios anunciados, em especial os mais de 5.000 indígenas Guarani e Kaiowá do TEKOHA YVY KATU – Mato Grosso do Sul, e que denunciaram no dia de hoje ao mundo que vão continuar lutando pelo direito de permanecer em seus territórios ate a morte. Queremos deixar o nosso total apoio e solidariedade e nos unir ao grito pelo direito aos territórios na luta incondicional pela vida e do Bem Viver dos povos indígenas.

     

    Responsabilizamos o Estado brasileiro, pela situação de violência, mortes e genocídio que poderão advir das recentes decisões contra o direito dos povos indígenas, quilombolas e demais populações tradicionais. Esperamos que o governo brasileiro tenha a consciência da gravidade da situação que os povos indígenas são submetidos neste momento.

     

    Fazemos um apelo aos poderes constituídos neste país e aos organismos internacionais para que atuem com justiça  e garantam o direito dos povos indígenas aos seus territórios para que possam viver com dignidade.

     

    Fortalecer a luta em Defesa da Vida

    Todos os dias !!!

     

    Movimento de Mulheres Camponesas – MMC Brasil

     

    Luziânia – Goiás, 12 de dezembro de 2013.

     

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