• 09/05/2014

    Relator do novo marco da mineração admite em vídeo prática que fere Código de Ética da Câmara

    O deputado federal Leonardo Quintão (PMDB-MG), relator do novo marco legal da mineração (Projeto de Lei 37/2011), admite, em um vídeo gravado em uma audiência na Câmara, em dezembro, que é financiado por empresas de mineração e que defende o setor.

    O inciso VIII do Art. 5º do Código de Ética da Câmara afirma que fere o decoro parlamentar “relatar matéria submetida à apreciação da Câmara dos Deputados, de interesse específico de pessoa física ou jurídica que tenha contribuído para o financiamento de sua campanha eleitoral”.

    “Sou financiado, sim, pela mineração, legalmente. Alguns ambientalistas dizem: ‘você não pode ser relator porque é financiado pela mineração’. De forma alguma", disse Quintão, na gravação que está circulando na internet. "Não tenho nenhuma vergonha de ser financiado, dentro da lei, por mineradoras”, continua. E na sequência: “Eu defendo sim o setor mineral”, afirmou (veja abaixo).

    Na terça, um grupo de organizações da sociedade civil e cidadãos comuns, incluindo o ISA, encaminhou uma representação inédita por quebra de decoro parlamentar à Secretaria Geral da Mesa da Câmara Federal contra o deputado. Foi a primeira vez que uma representação popular, por quebra de decoro, foi apresentada contra um parlamentar pelo fato dele relatar um projeto de interesse direto de seus financiadores de campanha.

    Dos cerca de R$ 2 milhões arrecadados por Quintão na campanha de 2010, em torno de 20% foram doados por grandes empresas de mineração e metalurgia, segundo o Tribunal Superior Eleitoral. São elas: a Acerlormittal, Gerdau, Usiminas, Ecosteel e LGA. Com base na norma, a representação lembra que o parlamentar deveria ter rejeitado a relatoria do projeto e pede, como punição, que ele seja afastado da função.

    Interesses das mineradoras

    Quintão vem defendendo de forma irredutível os interesses das grandes mineradoras. Entre outros pontos, seu relatório não traz nenhum tipo de salvaguarda aos direitos de comunidades indígenas e tradicionais afetadas pela atividade e chega a propor que a oficialização de Unidades de Conservação, Terras Indígenas, territórios quilombolas e assentamentos de reforma agrária tenha anuência da Agência Nacional de Mineração (ANM).

    Segundo reportagem da Agência Câmara, Quintão negou que defenda os interesses do setor mineral e afirmou que seu parecer é contrário a eles, contradizendo o que havia dito em dezembro. Afirmou também que não há irregularidades no financiamento de campanha. Na reportagem da agência, no entanto, ele não responde à denúncia de que está infringindo o Código de Ética (veja aqui).

    A representação foi encaminhada por um conjunto de organizações da sociedade civil que defende a moralização da política e também alterações no PL 37/2011 que garantam os direitos socioambientais das populações afetadas por grandes projetos de mineração. Integram o grupo, além do ISA, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e o Movimento dos Atingidos pela Mineração (MAM), entre outras dezenas de organizações que fazem parte do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios frente à Mineração, além da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong) e Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma Política.

    Para chegar ao Conselho de Ética, a representação precisa ser analisada pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), pelo corregedor da casa, deputado Átila Lins (PSD-AM), e pela própria Mesa Diretora, que tem sete membros titulares e quatro suplentes.

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  • 09/05/2014

    Povo Pataxó e Tupinambá divulga nota exigindo regularização de seus territórios na Bahia

    A Federação Indígena das Nações Pataxó e Tupinambá do Extremo Sul da Bahia (Finpat) divulgou nota pública nesta sexta-feira (9) onde responsabiliza Dilma Rousseff e o ministro da Justiça, José Eduardo Carzoso, pela onda de conflitos fundiários no sul da Bahia e exige a demarcação dos territórios.

    A nota relembra os episódios recentes de violência contra os povos indígenas na região, como o ataque no último dia 3, quando pistoleiros dispararam contra um veículo da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), que transportava uma gestante em trabalho de parto. Nesta terça-feira (6) dois indígenas que transitavam em uma motocicleta sofreram um atentado com vários disparos de arma de fogo.

    “Diante da situação que se encontra a região, esta instituição indígena vem alertar às autoridades de governos, a iminência de um conflito direto mais contundente com perdas de vidas humanas, pois a intensidade das ameaças por parte dos fazendeiros está se tornando na prática a materialização do ato de violência física contra pessoas e contra o patrimônio. É preciso que os poderes constituídos constituam uma força tarefa interministeriais para atuar na região de conflito evitando o derramamento de sangue.

    Sabe-se que os fazendeiros estão associados para um único objetivo que é sem sombra de dúvidas a paralisação do processo de demarcação e revisão de limites doTerritório Indígena Barra Velha. E por este motivo utilizam de todas as estratégias possíveis incluindo o método de pistolagem.

    […] É público e acessível a todo cidadão Brasileiro que a História confirma a extrema violência e atrocidade cometida contra os povos indígenas desta região desde a colonização até os dias atuais.

    Observa-se, neste ano atípico de Copa do Mundo e Eleições Presidencial, que o Governo Brasileiro, nas suas diversas instâncias institucional, não está compromissado e interessado em resolver os conflitos fundiários de indígenas, sem terra e produtores rurais. Deixa o caos instalar para colocar a repreensão policial da Força Nacional e Exercito Brasileiro, no argumento de promover a pacificação e segurança pública.

    DEMARCAÇÃO JÁ DOS TERRITÓRIOS PATAXÓ BARRA VELHA E TUPINAMBÁ DE OLIVENÇA.”

    Clique aqui para ler a nota na íntegra.

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  • 09/05/2014

    Inconstitucional – Povos indígenas do MS rechaçam audiência sobre a PEC 215

     

    Reunidas na Grande Assembleia do Povo Terena, as lideranças dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul anunciaram que não participarão da audiência da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215 que acontece hoje, na Assembléia Legislativa de Campo Grande (MS). Os líderes afirmam que, além de ser inconstitucional, a PEC é um verdadeiro atentado contra os direitos dos povos indígenas e significa um retrocesso em relação às garantias constitucionais.

     

    “Não negociaremos nossos direitos! A audiência conclamada trata-se de manobra ardilosa para legitimar esse atentado aos nossos direitos. Nós, lideranças indígenas, decidimos e não participaremos da audiência proposta pois não legitimaremos essa tentativa de consulta sobre a PEC 215”, afirmam em documento, disponibilizado ontem (8) à noite, assinado pelo Conselho do Povo Terena, Conselho Aty Guasu Guarani Kaiowá, Conselho do Povo Kinikinau, Conselho do Povo Ofaié, Povo Kadiwéu e por um representante do Povo Pataxó.

     

    Já foram realizadas audiências para discutir a PEC 215 em Santa Catarina, no Pará, Rio Grande do Sul e no Mato Grosso. A próxima acontecerá na Bahia, no dia 12 de maio. Com o objetivo de mostrar força e poder, os ruralistas fizeram reuniões em alguns municípios do estado e estão chamando esta audiência, em Campo Grande, de Conferência Estadual. São esperadas caravanas de ônibus vindos do interior para atuarem como claque para os ruralistas.

     

    Leia abaixo a nota completa lançada pelas lideranças indígenas:

     

     

      

    HÁNAITI HO´ÚNEVO TERENO Ê

    GRANDE ASSEMBLEIA DO POVO TERENA

     

     

    Nota Conjunta em relação à audiência sobre a PEC 215

     

     

    Nós, lideranças indígenas de Mato Grosso do Sul, reunidos por ocasião da Grande Assembleia do Povo Terena na Aldeia Babaçu, Terra Indígena Cachoeirinha, município de Miranda (MS), viemos a público expor decisão tomada coletivamente em relação à audiência ruralista conclamada pelos deputados federais Reinaldo Azambuja e Luiz Henrique Mandetta.

    A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215 é um atentado contra os direitos dos povos indígenas, sinônimo de retrocesso aos nossos direitos e garantias conquistados até hoje.

    Não negociaremos nossos direitos!

    A audiência conclamada trata-se de manobra ardilosa para legitimar esse atentado aos nossos direitos. Nós, lideranças indígenas, decidimos e não participaremos da audiência proposta pois não legitimaremos essa tentativa de consulta sobre a PEC 215.

    Por fim, reafirmamos que eventual indígena que participar dessa audiência não estará respaldado na decisão dos conselhos dos povos indígenas. E qualquer pronunciamento individual não representa o posicionamento de nossas comunidades.

     

    Povo Terena,

    Povo que se levanta!

     

    Aldeia Babaçu, 08 de maio de 2014

     

    Conselho do Povo Terena

    Conselho Aty Guasu Guarani Kaiowá

    Conselho do Povo Kinikinau

    Conselho do Povo Ofaié

    Povo Kadiwéu

    Representante do Povo Pataxó

     

     

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  • 08/05/2014

    Mulher Kaingang é alvo de disparos no norte do Rio Grande do Sul

    No final da tarde de 06 de maio, ocorreu um atentado a tiros contra uma kofá (idosa Kaingang) residente na terra indígena de Votouro (Benjamin Constant do Sul, RS), conforme denúncia da liderança Kaingang. A terra indígena Votouro fica próxima ao município de Faxinalzinho, RS, local do confronto entre indígenas e agricultores. O atentado a tiros ocorreu no período da tarde, quando Carmen Marcelino, com aproximadamente 60 anos, caminhava por uma via nas proximidades de sua casa em direção a um roçado, como cotidianamente faz, quando foi alvo de disparos efetuados por ocupante(s) de uma “caçamba branca”.

    Carmem não conseguiu apresentar outros detalhes do veículo, tampouco se o mesmo possuía algum outro tipo de identificação, pois não sabe ler. Os disparos não a atingiram, mas foram muito próximos. Conforme o relato “foi possível sentir o cheiro da pólvora”.

    O cacique Deoclides de Paula, afirma que a situação revela a insegurança a qual as comunidades Kaingang e Guarani ainda estão expostas e também a possibilidade de que ocorram outros atentados e atos violentos a qualquer momento e contra qualquer membro das comunidades indígenas da região.

    A preocupação do cacique procede, pois não é fato isolado e se configura como retaliações premeditadas contra o povo Kaingang, após o confronto de Faxinalzinho. Na quarta-feira, dia 30 de abril, quatro indígenas, que retornavam da região para uma aldeia em Sananduva, RS, foram abordados e ameaçados por oito policiais da Brigada Militar e quatro policias do BOE – Batalhão de Operações Especiais, todos sem identificação.

    Também há a denúncia de que veículos da Polícia Federal circulam, nas imediações da Comunidade Kaingang do Kandóia, desprovidos de placas e com vidros escuros, monitorando os indígenas. Os veículos acompanham as saídas e entradas na aldeia, bem como as atividades e movimentações dentro da comunidade. Enquanto isso, nas imediações, atentados e abordagens ocorrem, como o acometido contra esta idosa, sem que se tenha nenhum tipo de registro ou investigação da autoria dos mesmos.

    O Ministério Público Federal (MPF), em nota, afirma que a situação de atraso nas demarcações e apuração dos fatos, estimula a formação de ‘milícias’, que promovem atentados e ameaças contra o movimento indígena, estendendo-se a toda comunidade indígena, como o ocorrido a esta kofá. O MPF também afirma que a situação decorre da omissão dos órgãos governamentais competentes, especialmente do Ministério da Justiça.

    Ontem, em Porto Alegre, representantes do governo estadual, e do Ministério da Justiça reuniram-se “a portas fechadas” para tratar dos conflitos. As lideranças indígenas não foram convidadas a participar. Também nenhuma autoridade se dirigiu à região de conflito. A omissão continua sendo a estratégia adotada.

    Depois da reunião “a portas fechadas”, a imprensa noticiou que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pretende reunir indígenas e agricultores em Brasília. Lideranças das comunidades Kaingang expediram nota informando que não acreditam nas tais mesas de diálogo e que não irão à reunião proposta, uma vez que as medidas a serem adotadas pelo governo já foram amplamente discutidas e que cabe, agora, ao Ministério da Justiça a solução dos problemas.

    Entidades de apoio aos povos indígenas e da sociedade civil acompanham os acontecimentos e denunciam as práticas de coação e violência contra os povos originários. Reiteram que a solução para a questão é a demarcação das terras indígenas e a plena indenização das famílias agricultoras, ocupantes de boa-fé, que se estabeleceram nestas terras, como indicado nos parâmetros e processos legais, que são de plena ciência entre os responsáveis e com a incumbência de promover a dignidade, a justiça e a paz.

    Porto Alegre, RS, 08 de maio de 2014.

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  • 08/05/2014

    Impactos graves e irreversíveis: único legado dos mega empreendimentos para os indígenas

    Como parte do “Seminário Internacional Carajás 30 anos, resistências e mobilizações frente a projetos de desenvolvimento na Amazônia Oriental”, aconteceu na tarde do dia 6 de maio, um debate sobre o histórico e as experiências dos povos indígenas diante do modelo desenvolvimentista. Reunindo mais de mil participantes de doze países, o Seminário teve início no último dia 5 e segue até amanhã, em São Luís (MA).

    No seminário, uma das expressivas referências do avanço do modelo econômico brasileiro fundamentado na exploração de recursos naturais, especificamente a mineração, é o projeto Ferro Carajás S11 D, maior investimento da Vale e da indústria global de minério de ferro e deverá mais do que dobrar a produção da companhia, para uma produção de 230 milhões de toneladas ao ano, a partir de 2016.

    Neste contexto, Rosana Diniz, representante do Conselho Indigenista Missionário (Cimi),  afirmou em sua fala que para os povos indígenas e movimentos sociais o pioneiro Projeto Carajás causa severos impactos desde a década de 1970. Segundo ela, as comunidades indígenas perderam, ou tiveram totalmente alterados, seu modo de ser e viver. Enquanto, antes, ocupavam territórios em que não careciam de nada, com a chegada dos empreendimentos, ficaram sem casa, sem autonomia alimentar, sem saúde, sem dignidade,sem terem sua dignidade respeitada e até mesmo sem território, em alguns casos. Além disso, ainda convivem com o racismo e ameaças de genocídio. “É preciso explicitar que os povos indígenas não estabelecem relação nenhuma com os empreendimentos. O que acontece é a imposição de um projeto de forma totalmente impositiva e assimétrica, em que só resta aos indígenas resistir”, afirmou Rosana.

    A antropóloga e professa da Universidade Federal Fluminense (UFF) Eliane Cantarino abordou o papel do Estado na relação com os Awá-Guajá, do Maranhão e a imposição de uma nova ordenação territorial que separou grupos e, através da Fundação Nacional do Índio (Funai), os forçou a se fixarem em aldeias destacou as ameaças ao modo de vida. Ela tamém destacou a importância que a construção do Projeto Ferro Carajás teve na destruição do modo de vida dos Awá e da intensificação da ação madeireira na região. Por último, Eliane ressaltou a postura dos Awá de se recusarem a aceitar este modo de vida evolucionista, fundamentado no integracionismo, proposto pelo Estado Nação.

    Representante dos povos indígenas, Elton John Oliveira Suruí, do estado do Pará, relatou os diversos problemas causados pela Vale na região como, por exemplo, os decorrentes dos recursos repassados aos povos Gavião e Xikrim, como forma de compensar os impactos causados pela mineradora. Segundo ele, os recursos causam muita briga interna e impede totalmente a participação destes povos em qualquer protesto contra a Vale, mesmo que não estejam satisfeitos. Por outro lado, inúmeros outros povos afetados pela mineradora não recebem nenhum tipo de conpensação.

    “Foi impressionante ver como, durante o debate, várias lideranças jovens, mas com muita maturidade, expressaram profunda indignação com o atual contexto de violação de direitos e, convidando todos para a luta, manifestaram sua disposição para o enfrentamento e reações diante desta situação”, relatou Rosana Diniz.

    Para saber mais sobre o Seminário Carajás 30 Anos, acesse: www.seminariocarajas30anos.org             

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  • 08/05/2014

    Caciques do povo Kaingang responsabilizam poder executivo por conflitos fundiários no RS

    Em documento enviado ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, caciques e lideranças do povo Kaingang, no Rio Grande do Sul, exigem a demarcação de seus territórios e responsabilizam o Poder Executivo “pela paralisação dos processos demarcatórios das terras indígenas no Estado do RS e pelas consequências dessas paralisações, incluindo os confrontos e os incidentes que deles resultem”.

    Os indígenas estiveram reunidos no dia 1º de maio no município de Ronda Alta (RS), e elencaram uma série de reivindicações, exigindo o “respeito e cumprimento da legislação brasileira e dos marcos internacionais de direitos territoriais dos Povos Indígenas para assegurar o cumprimento à Constituição Federal de 1988 que reconhece o direito originário dos Povos Indígenas aos nossos territórios tradicionais, e em conformidade com a Convenção 169 da OIT e com a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas”.

    Também são exigidas a regularização (considerando a particularidade de cada território) das Terras Indígenas Votouro-Kandóia, Passo Grande do Forquilha, Rio dos Índios, Serrinha, Nonoai, Ventarra, Nen Mag.

    Os caciques ainda convocam a Secretaria Especial de Direitos Humanos, a Secretaria Especial de Igualdade Racial e o Poder Judiciário para que sejam discutidas as violações de direitos humanos nas terras indígenas e a criminalização de lideranças no Rio Grande do Sul.

     

    Charge: Carlos Latuff


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  • 08/05/2014

    Juiz afirma que carros sem placas da PF que rondam aldeia Kandóia, em Faxinalzinho (RS), agem ilegalmente

    Carros da Polícia Federal sem placa dianteira nem traseira estão rodando há alguns dias as proximidades da aldeia Kandóia, no município de Faxinalzinho. Há, neste procedimento, grave ilegalidade. Leia abaixo a opinião do juiz de direito João Batista Damasceno, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ/RJ) e membro da Associação Juízes para a Democracia (AJD) sobre os cuidados legais quanto à circulação de veículos, incluindo os da Polícia Federal:

    “Todo veículo há de ser identificado externamente por meio de placas dianteira e traseira, sendo esta lacrada em sua estrutura. Para circulação, depende de licenciamento e emplacamento.

    Veículos da presidência da República, dos chefes dos Executivos e Legislativos e dos presidentes de Tribunais poderão usar placas especiais, mas mesmo assim terão que usá-las.

    Somente os veículos de duas ou três rodas estão dispensados da placa dianteira. Mas a placa traseira é obrigatória. Excepcionalmente, mediante autorização específica e fundamentada das respectivas corregedorias e com a devida comunicação aos órgãos de trânsito, os veículos utilizados por membros do Poder Judiciário e do Ministério Público que exerçam competência ou atribuição criminal poderão temporariamente ter placas especiais. É uma excepcionalidade por motivo de segurança. Podem usar placas especiais, mas, ainda assim não podem andar sem placa.

    Por fim, os veículos públicos, devidamente registrados e licenciados, quando estritamente usados em serviço reservado de caráter policial, poderão usar placas particulares, obedecidos os critérios e limites estabelecidos pela legislação que regulamenta o uso de veículo oficial. Mas, nem no serviço reservado podem andar sem placa. É o que dispõe a Lei 9503 de 1997, Código de Trânsito Brasileiro.

    A condução de veículo público sem placa é uma anomalia e retira do Estado a superioridade ética com a qual diz atuar em contraposição àqueles que são chamados de marginais por estarem à margem da lei. À margem da lei, todos são marginais, inclusive o Estado”.  

    Cimi Sul, equipe Porto Alegre

     

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  • 07/05/2014

    Carta de repúdio à PEC 215 e pela defesa da demarcação das terras indígenas e quilombolas

    Carta de repúdio à PEC 215 e pela defesa da demarcação das terras dos indígenas e quilombolas

     Nós, homens e mulheres do Centro de Estudos Bíblicos – CEBI vindos de 20 Estados do país, reunidos em Luziânia – GO de 01 a 04 de maio de 2014, participantes do Seminário de Povos Originários, manifestamos nosso veemente repúdio contra a crescente intensificação dos ataques promovidos contra o direito dos povos indígenas garantidos na Constituição da República Federativa do Brasil nos seus artigos 231 e 232.

     Somos um grupo de pessoas comprometidas com a valorização e preservação das populações tradicionais e povos indígenas. Reconhecemos que o Brasil é um país democrático e que deve proceder de forma a respeitar e preservar o seu PATRIMÔNIO CULTURAL. Denunciamos que a PEC 215, que transfere do Poder Executivo para o Legislativo a competência oara a demarcação das terras indígenas e dos quilombolas, afeta profundamente O DIREITO DE PRESERVAÇÃO DOS ESPAÇOS CULTURAIS DOS POVOS, por colocar em risco a sobrevivência de centenas desses povos.

     Por isso pedimos a imediata rejeição da PEC 215 pelo Congresso Nacional.

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  • 07/05/2014

    Professores do RS e de SC denunciam falhas na educação escolar indígena nos estados

    Nós, professores indígenas dos povos Kaingang, Guarani Mbya e Xokleng, participantes do “ Encontro dos educadores indígenas” realizado nos dias 03 e 04 de maio de 2014 em Chapecó- SC, representando 14 Terras indígenas e mais de 20 aldeias dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, denunciamos: a situação de nossas escolas e da educação escolar indígena; a falta de autonomia dos povos indígenas com a gestão de suas escolas; a distância das coordenadorias dos estados com a educação escolar.

    A falta de formação continuada para nossos professores e o não cumprimento das responsabilidades e atribuições do estado e das esferas municipais para com a educação indígena, impedem nossos povos de ter acesso a uma educação diferenciada baseada em nossos costumes, tradições e especificidade de cada povo, ferindo assim nossos direitos conquistados em luta e a própria Constituição Federal de 1988, Convenções internacionais como a 169 da OIT e demais legislação indigenista.   

    Frente a isto, nossos professores estão se organizando através de uma articulação e formação de uma comissão indígena composta por representantes dois estados e desde já exigimos dos órgãos responsáveis o cumprimento emergencial e imediato  das demandas abaixo listadas, e que estes órgãos garantam nosso direito a uma educação baseada na especificidades de cada um dos povos que assinam este documento: 

    – Que seja garantida a formação continuada para professores indígenas.

    – Que seja garantida a participação indígena na gestão das escolas, inclusive em cargos de direção e coordenações, para isso, que sejam garantidos concursos ou mecanismos que garantam essa participação.

    – Criação de Concurso público para efetivação de professores indígenas. Que seja garantida a participação dos povos indígenas na elaboração do mesmo.

    – Junto ao MEC aprofundar a discussão a respeito do “Programa Nacional dos Territórios Étnico-Educacionais”.

    – Que seja criado e garantido um sistema educacional próprio para os povos indígenas.

    – Criação de espaços internos dentro das coordenadoriasgerências onde os indígenas possam discutir e deliberar de forma direta suas políticas e ações para a educação aproximando assim os setores pedagógicos e de relações humanas das demandas das comunidades.

                Anunciamos como representantes dos povos Kaingang, Guarani Mbya e Xokleng que compõe esta Comissão entre indígenas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina:

    Povo Kaingang: Ari Neres, Vanisse Domingos, Jocemar Kovenh Garcia, Valmor Venhra, Pedro Alves de Assis.    

    Povo Guarani Mbya: Eunice Antunes, Adão Antunes, Carlos da Silva, Cecília Barbosa, Marcos Moreira.

    Povo Xokleng:  Aristides Kriri, Josiane de Lima, Copacãm Tschucambang, Woie Kriri Sobrinho Patte, Vougce Camlem.  

    Chapecó – SC, 04 de maio de 2014. 

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  • 07/05/2014

    Boletim Mundo: Indígenas de Apyka’i podem ser despejados para BR-463, onde oito já morreram

    Por Carolina Fasolo,
    de Brasília (DF)

    Numa estreita faixa de terra no sul de Mato Grosso do Sul, a sete quilômetros do município de Dourados, entre uma plantação de cana-de-açúcar e o que restou de um pedaço de mata, já castigada pelo escoamento do veneno da produção agrícola, quinze famílias do povo Guarani/Kaiowá lutam por sua dignidade e pelo direito de viver no território sagrado e ancestral ao qual pertencem: o Tekohá Apyka’i.

    A cacique Damiana Cavanha, que há mais de 25 anos vê sua família e comunidade ser massacrada em nome do “desenvolvimento”, não hesitou ao saber que serão despejados dos menos de dois hectares que ocupam e que a decisão judicial os obrigará – porque não têm onde viver – a voltar para as margens da rodovia BR-463, onde sobreviveram em condições subumanas do final da década de 1990 até setembro de 2013, quando retomaram uma pequena porção de seu território onde hoje incide a fazenda Serrana.

    Um recurso pedindo a suspensão da reintegração de posse ainda deve ser protocolado no Supremo Tribunal Federal (STF). Enquanto isso a Polícia Federal pode ser acionada a qualquer momento para cumprir a ordem de despejo. O clima de tensão pelo risco iminente remete ao histórico de violências que os indígenas de Apyka’i foram submetidos ao longo do tempo.

    No ano de 2008, numa tentativa de retomar parte da terra, acabaram num estado de sítio. O proprietário da fazenda contratou uma empresa de segurança que impedia a entrada de órgãos de atendimento. Um documento produzido pelo Ministério Público Federal (MPF) em Dourados relatou a situação: “A difícil condição imposta aos índios resultou na morte de uma anciã, que acabou sendo sepultada na mata, próximo onde foram montados os barracos dos índios. […] A morte da senhora foi causada pela utilização do veneno borrifado na lavoura”. Após o episódio, os indígenas foram novamente expulsos e voltaram para a beira da estrada.

    Em 2009, depois que a usina de açúcar e álcool São Fernando se instalou na fazenda Serrana, um grupo armado atacou a comunidade. Barracos foram queimados e tiros atingiram duas pessoas. A situação foi denunciada ao MPF, que começou a investigar a empresa GASPEM Segurança Ltda, prestadora de serviços de segurança em propriedades com conflito fundiário. Em janeiro deste ano a Justiça decretou a dissolução da GASPEM, por constatar o envolvimento direto da empresa na morte de duas lideranças e em ataques à dezenas de comunidades indígenas do Estado.

    Damiana Cavanha diz que as ameaças continuam. “A gente tem medo porque muita criança vive aqui. Nem dormimos mais direito, com medo de chegarem a noite. Os funcionários da usina já vieram pra atacar a gente. Chegam a pé, de madrugada, sem fazer nenhum barulho. Chegam pra botar medo, pra fazer a gente sair. Qualquer dia quando a gente estiver dormindo eles chegam pra queimar os barracos e colocar fogo na gente”.

    Atropelamentos

    Os anos seguiram árduos na beira BR-463 para os Guarani/Kaiowá de Apyka’i: sem acesso à água potável, sem atendimento de saúde, sem educação, saneamento ou alimentação adequada. Sem qualquer direito humano fundamental. Inseridos nesse contexto, esses indígenas vivenciam cotidianamente o medo e a violência.

    Em 2002 houve a primeira morte por atropelamento. O líder da comunidade e então marido de Damiana, Ilário Cario de Souza, morreu depois de ser atingido por um carro que fugiu sem prestar socorro. Entre 2011 e 2012, outras três pessoas – dois filhos e um neto de Damiana – morreram atropeladas no local.  Em março de 2013, enquanto andava pelo acostamento segurando a mão da avó Damiana, Gabriel foi atropelado e teve o corpo arremessado a uma distância de 39 metros. O motorista fugiu. “Tivemos que juntar os pedaços, foi só o que sobrou do corpo. Só alguns pedaços. Foi enterrado perto dos parentes dele”, relata Jorge Batista.

    Delci Lopes, de 17 anos, morreu em janeiro deste ano, quando um caminhão que transportava bagaços de cana-de-açúcar atropelou a jovem, que caminhava no acostamento da rodovia. Ramão Araújo, 41 anos, morreu em circunstância semelhante na noite de 14 de março, atingido por um veículo Toyota Hillux em alta velocidade. Em todos os casos os motoristas fugiram e ninguém foi responsabilizado. Os indígenas dizem que são assassinatos premeditados. “A gente sabe. O caminhão que matou a menina era da usina São Fernando. Eles querem que a gente saia daqui, por isso nos atropelam, espancam, jogam veneno. Podem fazer tudo isso até matar todos, porque vamos ficar até o fim”, afirma Jorge Batista, esposo de Damiana.

    Oito pessoas já morreram durante os anos de espera pela demarcação de Apyka’i. Um relatório produzido pelo MPF denunciou a situação: “Não se trata de hipérbole quando se fala em genocídio, pois, a série de eventos e ações perpetradas contra o grupo, desde o final da década de 1990, tem contribuído para submeter seus membros a condições tolhedoras da existência física, cultural e espiritual. Crianças, jovens, adultos e velhos se encontram submetidos a experiências degradantes que ferem diretamente a dignidade da pessoa humana. […] A situação por eles vivenciada é análoga àquela de um campo de refugiados. É como se fossem estrangeiros no seu próprio país.”.

    Em agosto de 2013, durante visita aos acampamentos e aldeias indígenas de Mato Grosso do Sul, o secretário-geral da Anistia Internacional, Salil Shetty, afirmou depois de conhecer o acampamento Apyka’i: “Visitando essa região, me sinto em um lugar onde direitos humanos não existem”. Pouco depois da ida de Shetty um grande incêndio devastou os barracos dos indígenas, que perderam o pouco que tinham. 

    Mesmo com o trágico histórico de mortes, violência e miséria que permeia a vida dos Guarani/Kaiowá de Apyka’i, eles resistem. Damiana é enfática: “Não vamos sair do nosso Tekohá de jeito nenhum. Há 25 anos que eu luto pra gente ficar no Tekohá Apyka’i, que é o lugar onde a gente tem que ficar. Onde meu avô, minha mãe, meu pai viveram e foram enterrados. Polícia pode vir aqui, mas a gente não vai sair, não. Não quero voltar pra beira da estrada pra ver mais parentes morrer.”.

    Esta notícia compõe o boletim semanal O Mundo Que Nos Rodeia. Para recebê-lo ou enviar sugestões de pauta escreva para mundo@cimi.org.br

    Assista ao vídeo sobre a comunidade produzido pelo Ministério Público Federal


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