• 28/04/2014

    ´Acusamos o governo de violar a Constituição e tornar-se cúmplice dos crimes contra os índios´, Dom Erwin Kräutler

    Por Renato Santana,

    de Brasília (DF)

     

    O episódio que levou o cacique Babau Tupinambá a ser mantido sob custódia da Polícia Federal, em Brasília (DF), onde quatro mandados de prisão impediram a liderança de viajar ao Vaticano para encontro com o papa Francisco, representa para Dom Erwin Kräutler, bispo da Prelazia do Xingu, em Altamira (PA), e presidente do Cimi, a necessidade de ser conservada a aparência ´de um Brasil sensível à causa dos povos autóctones. As aparências de que o Brasil é um estado de direito que honra a sua Carta Magna precisam ser mantidas´. Babau faria denúncias de violações aos direitos indígenas no exterior.   

     

    Assim, aponta Dom Erwin, o governo se torna cúmplice de uma campanha anti-indígena corrente no país e dos crimes por ela cometidos. Desde a década de 1960 no Xingu, o bispo já foi preso, sofreu atentados, ameaças e xingamentos públicos. Vive hoje sob escolta de agentes policiais.Trazendo a carta Eu Acuso!, escrita por Émile Zola em 1898, o bispo ressalta o dever de denunciar para não ser cúmplice. E afirma: ´É uma tremenda lástima que Babau foi impedido de fazê-lo’. No início deste mês, Erwin esteve com o papa Francisco (foto) e entregou ao sumo pontífice uma carta detalhando os problemas enfrentados pelas populações indígenas no Brasil.  

     

    Em entrevista, Dom Erwin analisa o impedimento de Babau viajar ao encontro de Francisco e de sua consequente custódia, com a determinação judicial de ser levado para detensão temporária no presídio de Ilhéus, na Bahia. Crente de que se trata de perseguição política, Erwin, que acompanha a luta de Babau e dos Tupinambá desde a época em que passaram a reivindicar o reconhecimento enquanto povo junto à Funai, acredita que se as denúncias do cacique não chegaram ao papa pelas palvaras do próprio Tupinambá, chegará por intermédio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

     

    Para o bispo, o país saiu de uma ditadura militar para entrar numa ditadura civil: a violação do direito constitucional pelo governo federal ´escancara as portas para todo tipo de abusos criminosos que não deixam de ser torturas de pessoas e povos´. Leia a entrevista:  

     

       

    Que importância teria para a questão indígena no Brasil o papa Francisco encontrar-se com o cacique Babau Tupinambá? 

     

    No passado, dia 4 de abril, estive com o papa Francisco e falei da questão indígena no Brasil, partilhei com ele os problemas que os índios enfrentam apesar de termos uma Constituição Federal bem favorável a eles em relação à defesa de suas terras ancestrais, sua cultura e a seu modo de viver. Há uma campanha anti-indígena em curso que quer modificar os parâmetros constitucionais para possibilitar o acesso às terras indígenas a fim de ocupá-las e explorá-las. Entreguei ao papa, muito interessado nesta questão, um texto mais abrangente, com detalhes. Agora, o cacique Babau Tupinambá teria tido a possibilidade ímpar de encontrar-se com o papa e isso seria, sem dúvida, mais um momento privilegiado para os índios, através de uma de suas mais expressivas lideranças poderem manifestar suas preocupações e angústias. É uma tremenda lástima que Babau foi impedido de fazê-lo.

     

    A retaliação ao cacique pode despertar que tipo de percepção no papa Francisco?

     

    A carta que Babau levaria, com toda a certeza, iria chegar às mãos do papa Francisco. O papa é muito atencioso e abre seu coração, de modo especial aos que se encontram nas “periferias existenciais“ como é o caso dos povos indígenas no Brasil. Imagino que o papa lamentou profundamente não ter encontrado esse líder indígena do Brasil. Mesmo assim, o papa tem conhecimento da causa indígena e penso inclusive que nosso Cardeal Dom Raymundo Damasceno Assis, presidente da CNBB, não deixou de comunicar ao papa Francisco o que aconteceu. A nota do Secretário Geral da CNBB, Dom Leonardo Ulrich Steiner, foi muito oportuna e expressou de modo contundente o nosso pensamento.

     

    O que o governo brasileiro e a Justiça da Bahia temem ao exumar mandados de prisão arquivados e usar um outro, expedido há mais de dois meses, para impedir Babau de viajar?

     

    Os governos, seja em nível estadual ou federal, preocupam-se muito com a imagem do Brasil no exterior. Não se trata de cumprir à risca o que manda a Constituição, não se trata de abandonar políticas que prejudicam os povos indígenas e encetar políticas que os defendem e lhes garantem a sobrevivência física e cultural. Os governos consideram os índios obstáculos para o progresso, entraves para o desenvolvimento. No entanto, tem que ser conservadas as aparências de um Brasil sensível à causa dos povos autóctones. As aparências de que o Brasil é um estado de direito que honra a sua Carta Magna precisam ser mantidas. A realidade cruel que esses povos estão passando não interessa. E quando alguém vai para fora e denuncia agressões calamitosas e omissões gritantes do governo, aí os governantes ficam furiosos e procuram a todo custo negar o que todo mundo sabe e conhece e fazem de tudo para silenciar a voz de quem divulga a verdade e nada mais que a verdade. Partem até para medidas descabidas de prender, de criminalizar a quem teve a ousadia de arranhar a imagem do governo no exterior.

     

    Tal como Babau, o senhor já foi preso, ameaçado, xingado, atacado. O que o senhor tem para acusar?

     

    O célebre escritor francês Émile Zola (1840-1902) não aguentou mais ficar calado diante de um erro judicial que condenara Dreyfus por espionagem e escreveu, em 1898, ao presidente da França, Félix Faure, a famosa carta “J’accuse” (Eu acuso!) em que ataca os responsáveis pela condenação de um inocente: “Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice” (Meu dever é de falar, eu não quero ser cúmplice). “Minhas noites seriam assombradas pelo espectro de um inocente que sofre no além-mar, mergulhado na mais horrível das torturas, por um crime que não cometeu”. Com essa expressão Zola defende sua convicção de que, quem cala não apenas consente, mas se torna cúmplice de ações criminosas. Assim nós não acusamos somente o governo de ser omisso, de tapar os ouvidos diante do clamor dos povos indígenas, de fechar os olhos diante das violências, injustiças e ameaças que esses povos sofrem em todo o território nacional, nós acusamos o governo de violar a própria Constituição Federal e tornar-se assim cúmplice dos crimes perpetrados contra os índios.

     

    O impedimento da viagem de Babau não é o primeiro nas últimas décadas. Outros ocorreram, caso de Mário Juruna, em 1980, e de lideranças Kayapó, em 1988. Por que estes episódios, entre outros, se repetem?

     

    Existem ditaduras militares, governos de exceção, com tudo o que isso significa em termos de violação dos direitos humanos. Conhecemos essa história não tão distante do nosso tempo. Recordamos com revolta o AI-5 e outras medidas arbitrárias da época da ditadura militar e gritamos até hoje: “Tortura nunca mais!”. Lamentavelmente existe também uma ditadura civil que se estabelece quando um governo agride e desrespeita a Constituição Federal. Essa violação escancara as portas para todo tipo de abusos criminosos que não deixam de ser torturas de pessoas e povos. O atual governo paralisou, por exemplo, os processos de demarcação de terras indígenas, contrariando o que prescreve a Constituição Brasileira e descumpre as obrigações constitucionais no campo da saúde e educação indígenas. Torna-se por isso responsável pelos conflitos e violências de que os povos indígenas são vítimas.

     

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  • 28/04/2014

    Carta de solidariedade das mulheres Xerente ao cacique Babau Tupinambá

    Carta de solidariedade

    ao nosso amigo Cacique Babau Tupinambá

     

    Nós, mulheres Xerente das aldeias: Traíra, Vão Grande, Bela Vista, Mata do Coco, Bruprê, São José, Salto, Aldeia Nova, Cachoeira e Mirassol, estivemos reunidas nos dias  26 e 27 de abril, na aldeia Karêhu, no município de Tocantínia (TO). Estamos tristes com a prisão do cacique Babau Tupinambá, e  exigimos que a Justiça brasileira liberte imediatamente o nosso amigo, pois quando defendemos a nossa mãe terra, somos acusados injustamente.

    Babau, ficamos sabendo da notícia que percorreu o Brasil e a nossa terra está triste com a sua prisão, os rios estão chorando. Declaramos às autoridades brasileiras que os territórios indígenas estão sendo ameaçados todos os dias, com inúmeras invasões, e nós mulheres Xerente vamos defender com nosso sangue.

    Parem de criminalizar nossas lideranças, estamos defendendo a nossa vida.

    Libertem Babau Tupinambá, somos povos livres e queremos viver em paz!

    Esperamos que as autoridades enxerguem a injustiça que estão fazendo com Babau, e liberte rápido o nosso amigo de luta, que defendeu os direitos dos nossos povos.

     

    Atenciosamente,

    Mulheres Xerente

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  • 28/04/2014

    Ministro da Justiça descumpre acordos e povo Kaingang reinicia a autodemarcação de seus territórios

    A possibilidade de um desfecho tranquilo para a questão das demarcações de terras indígenas no Rio Grande do Sul esteve mais uma vez nas mãos do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Infelizmente, o ministro, ao invés de optar pela solução dos problemas e com isso assegurar o cumprimento dos direitos constitucionais dos povos indígenas e dos pequenos agricultores, preferiu descumprir os acordos que firmou com os Kaingang e Guarani em Brasília no mês de março deste ano.

    O Ministro Cardozo, na ocasião, garantiu às lideranças que o governo daria continuidade aos procedimentos demarcatórios de quatro áreas reivindicadas há muitas décadas e que seria organizada uma reunião de trabalho com a finalidade de definir um cronograma de ações para concluir os procedimentos demarcatórios. A reunião de trabalho acertada – inclusive com ofício formal em papel timbrado e assinado pelas mãos do ministro – foi agendada para o dia 05 de abril. A reunião não aconteceu porque o ministro José Eduardo Cardozo descumpriu o acordo, marcando e desmarcando sua vinda ao Estado por mais de três vezes. Ou seja, depois de um mês de adiamentos de prazos para a reunião entre os povos indígenas e o governo, absolutamente nenhuma providência foi tomada no que se refere a demarcação dos territórios indígenas.

    Diante do descumprimento dos acordos, do modo desrespeitoso com o qual os indígenas estão sendo tratados e sem ter outra alternativa que lhes assegure o direito constitucional de acesso a terra, algumas comunidades Kaingang decidiram retomar, por conta própria, partes de seus territórios tradicionais. As lideranças das comunidades afirmam que, com essa ação, pretendem também chamar a atenção dos poderes públicos para que solucionem as demandas dos pequenos agricultores que se encontram sobre as terras a serem demarcadas.

    Nesta segunda-feira, dia 28, os Kaingang da TI Passo Grande do Rio Forquilha, localizada no município de Sananduva (RS) ocuparam a capela de Bom Conselho e parte da sede onde residem alguns agricultores e anunciaram de forma definitiva que não sairão mais de sua terra ancestral. Ao mesmo tempo, indígenas de outras aldeias Kaingang como TI Kandóia, localizada no município de Faxinalzinho e a TI Rio dos Índios, localizada no município de Vicente Dutra passaram a trancar rodovias vicinais de acesso à sede do município e também o acesso a Chapecó e às rodovias estaduais e federais anunciando que se somarão aos processos de autodemarcação se suas demandas não foram atendidas imediatamente.

    Além das demarcações e homologações das áreas de Passo Grande do Rio Forquilha, Kandóia e Rio dos Índios, que constituíram o passo inicial do movimento, a reivindicação dos indígenas contempla também a demarcação imediata da terra indígena Guarani do Irapuá, localizada no município de Caçapava do Sul, onde mais de 20 famílias Guarani Mbya vivem acampadas nas margens da rodovia BR – 290 aguardando a portaria declaratória que deve ser expedida pelo ministro da Justiça Eduardo Cardozo, e com isso poderem acessar sua área tradicional, identificada e delimitada há mais de uma década pela Fundação Nacional do Índio (Funai).

    O descumprimento dos acordos com os povos indígenas estimula, em última instância, a violência, a tensão e insegurança entre indígenas e agricultores. Vale ressaltar que muitos dos pequenos agricultores diretamente afetados pelos procedimentos de demarcação já manifestaram ao próprio Ministro José Eduardo Cardozo o posicionamento de que preferem uma solução pacifica através da justa indenização e a consequente conclusão dos procedimentos de demarcação das terras indígenas. Para os agricultores, a culpa pela situação de conflito e insegurança é do governo federal, que negligencia seu papel em detrimento de interesses econômicos dos ruralistas e de sindicatos rurais ligados a eles. Por fim, caso houvesse vontade política do ministro da Justiça em resolver a situação, poderia fazê-lo desde Brasília, pois tem atribuições constitucionais para isso, sendo inclusive desnecessário o seu deslocamento para o Rio Grande do Sul.

    O Conselho Indigenista Missionário reitera seu irrestrito apoio aos povos indígenas que lutam pelos seus direito constitucionais e humanos, repudia a estratégia protelatória do ministro José Eduardo Cardozo na solução dos problemas e, assim como as lideranças indígenas já alertaram de que, se houverem conflitos, todo sangue indígena derramado será responsabilidade do Governo Federal, especialmente do ministro da Justiça.                

    CIMI SUL

    Chapecó, 28 de abril de 2014.

     

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  • 28/04/2014

    Nota Pública de Esclarecimento sobre a Terra Indígena Tupinambá de Olivença e a Prisão do Cacique Babau Tupinambá

    A Associação Nacional de Ação Indigenista (Anaí) vem mais uma vez a público manifestar sua posição acerca dos últimos acontecimentos envolvendo o grave conflito estabelecido na Terra Indígena Tupinambá de Olivença, – Sul da Bahia, entre indígenas Tupinambá e não índios que culminou, mais uma vez, com a prisão do Líder Indígena Rosivaldo Ferreira da Silva, o Cacique Babau.

     

    Como já esclarecemos em outras ocasiões, é indiscutível a presença indígena na área historicamente reivindicada pelos Tupinambá,conforme consta na vasta literatura etnológica e histórica sobre este povo, corroborada por vários pesquisadores da atualidade, vinculados a renomadas universidades nacionais e estrangeiras.

     

    A Terra Indígena Tupinambá, que se estende por partes dos municípios de Ilhéus, Buerarema e Una, conforme relatório circunstanciado de identificação e delimitação publicado pela FUNAI em 2009, se constitui em terra de habitação tradicional do referido povo, estabelecido na região desde antes da chegada do colonizador português e posteriormente fixado, pelos jesuítas, no início do século XVII, no aldeamento de Nossa Senhora da Escada (atual vila de Olivença), na porção litorânea desse território, que abriga ainda cerca de outras trinta comunidades locais do povo Tupinambá.

     

    A comunidade da Serra do Padeiro, uma das que compõem a referida Terra Indígena, vem se destacando ao longo dos anos pela contundente atuação na luta pelos seus direitos, sobretudo o direito à terra, o que, por sua vez, vem suscitando uma intensa campanha, notadamente por parte da elite e da mídia nacional e local contra seus líderes, a exemplo de Rosivaldo Ferreira da Silva, o Cacique Babau, que tem sido vítima de inúmeros insultos e acusações que culminaram com sua prisão no ano de 2010, o que gerou grande repercussão nacional e internacional, e que agora em 2014 se repete, sob a acusação de assassinato, dentre outras..

     

    A Anaí desde o ano de 2001 vem acompanhando a trajetória dos Tupinambá de Olivença e notadamente, a partir do ano de 2006, vem desenvolvendo em parceria com os Tupinambá, na comunidade da Serra do Padeiro, projetos que incentivam suas ações em áreas como educação e agroecologia, tendo sido testemunha, portanto, da extrema organização presente nesta comunidade, o que a tornou referência para os demais povos do nordeste e do Brasil em termos de articulação interna e de sustentabilidade, o que,por sua vez, a tem feito alvo de tantas acusações e especulações negativas por parte dos setores ligados ao agronegócio.

     

    A campanha anti-indígena que vem se instalando nos meios de comunicação (veja aqui), e permeando vários setores da chamada sociedade civil, tem como claro objetivo minar qualquer tentativa por parte dos povos indígenas de efetivarem seus direitos assegurados pela Constituição Federal de 1988, ganhando força e pondo em risco diversas nações indígenas no Brasil, sendo a criminalização dos líderes dessas uma das suas principais estratégias de ação, a qual repousa no desconhecimento histórico profundo da sociedade nacional acerca dos povos indígenas.

     

    Termos como "falsos Índios", "supostos Índios", "pretensos índios", dentre outras designações preconceituosas veiculadas pela mídia, reforçam a idéa do senso comum de um estereótipo de índio que nos remete ao século XVI, do "índio puro", do "ìndio legítimo", que descartaria completamente os índios do presente, que, assim como outros povos, têm sua cultura dinâmica, e, portanto, capaz de mudar e se reinventar ao longo da história, não obstante isso,preservando sua identidade.

     

    O Povo Tupinambá, primeiro povo a estabelecer contato com o colonizador português no litoral sul da Bahia em 1500, vítima de tantos esbulhos, muitas vezes compelido a migrar de seus territórios tradicionais para não ser dizimado, proibido de exercer livremente sua cultura, e, via de regra, forçado a negar sua própria identidade étnica diante de ameaças de retaliações,se coloca na atualidade, século XXI, diante da sociedade nacional como sujeitos de direitos, e, mais do que isso, como agentes capazes de fazer valer estes direitos, ação que lhes custa muito caro, como podemos constatar quando verificamos os inúmeros casos de criminalização e prisão arbitrária de lideranças indígenas, ademais de outras formas de violência contra estes povos.

     

    A Anaí reafirma a necessidade urgente de conclusão do processo de demarcação da Terra Indígena Tupinambá, que está em curso, mediante assinatura de portaria declaratória de posse permanente indígena pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, uma das últimas etapas do processo de regularização fundiária de uma terra indígena, para que, deste modo, o processo siga seu curso legal e o conflito não tome proporções ainda maiores.

     

    A Anaí entende ser de suma importância a intercessão do governo do Estado da Bahia e do governo Federal para que o processo de demarcação da Terra Indígena Tupinambá seja concluído com a maior brevidade possível.

     

    Entendemos ainda que a presença do exército e da Força Nacional de Segurança na Terra Indígena somente tem acirrado o conflito e que a prisão de Líderes indígenas, como a de Rosivaldo Ferreira da Silva, não pode e não deve ser prática corrente do governo brasileiro sob o pretexto de "minimizar conflitos" em terras indígenas, devendo sim se efetivar o cumprimento dos processos legais de regularização das terras indígenas no país com a maior celeridade possível, o que infelizmente vem sendo cada vez mais desconsiderado pelo governo Brasileiro, gerando consequências trágicas para os povos indígenas no Brasil, com prisões indevidas e assassinatos de líderes indígenas e trabalhadores rurais em todo território nacional.

     

    Salvador, 27 de Abril de 2014

     

    Anaí – Associação Nacional de Ação Indigenista

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  • 28/04/2014

    Indígenas no extremo sul da Bahia fazem cinco ações de retomada de territórios tradicionais

    Cansados de esperar por uma solução por parte do governo brasileiro acerca da regularização de suas terras, indígenas Pataxó e Pataxó Hã Hã Hãe, do extremo sul da Bahia, realizaram cinco ações de retomadas entre os dias 17 e 24 de abril, nos territórios: Barra Velha, Cahy-Pequi, aldeia Renascer e no município de Alcobaça (BA).

    Dia 17

    Cerca de 100 indígenas Pataxó ocupam a fazenda Mucugê, próxima ao distrito de Corumbau-Prado (BA), área com 50 hectares e dentro dos limites de estudos no Território Cahy-Pequi. Após varias ações de retomadas neste Território Indígena, os fazendeiros entraram com diversas ações de reintegração de posse na Justiça Federal de Teixeira de Freitas. O Juiz local expediu, no dia 24 de março, carta precatória destinada à Fundação Nacional do Índio (Funai) e à 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal (MPF), para que o Relatório de Identificação Delimitação do Território Indígena Cahy-Pequi fosse publicado dentro de 60 dias.

    Dia 19

    Um grupo com aproximadamente 50 indígenas do povo Pataxó Hã Hã Hãe, que vivem a mais de 40 anos na região do município de Alcobaça, extremo sul da Bahia, fizeram a retomada de uma área de 50 hectares de eucaliptos pertencente à empresa Fibria Celulose S.A. Os Pataxó Hã Hã Hãe querem a terra para plantar e construir suas moradias e lideranças já informaram que foi entregue à Funai o pedido para a criação de um Grupo de Trabalho (GT) para realizar estudos antropológicos na região, onde vivem cerca de 40 famílias indígenas.

    Ainda no dia 19 houve outra ação de retomada, na fazenda “caveira”, dentro dos limites de revisão da terra indígena Barra Velha.

    Dia 24

    Cerca de 500 indígenas retomaram outras duas áreas dos limites de revisão da Terra Indígena Barra Velha: fazendas Barra Mansa e Brasília. Com esta ação os indígenas querem pressionar o governo para dar mais agilidade na demarcação de terras indígenas no extremo sul do estado. A reivindicação é por 54 mil hectares. De acordo com Araço Pataxó, não vão abrir mão das terras que estão dentro do território indígena. Os Pataxó aguardam a expedição da carta declaratória pelo Ministério da Justiça

    Uma manifestação organizada por fazendeiros da região interditou no último sábado (26) a BR-101. Os latifundiários, juntamente com integrantes do assentamento Terra Nova – criado pelo INCRA dentro do território indígena Barra Velha, protestaram por 3 horas contra a ocupação das terras.

                                                                                                                  

     

     

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  • 27/04/2014

    Pela Passagem de Dom José Moreira, bispo de Três Lagoas, Mato Grosso do Sul

    O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) manifesta profundo pesar pelo falecimento de Dom José Moreira Bastos Neto, bispo da Diocese de Três Lagoas, neste 26 de abril, aos 61 anos. Dom Moreira era vice-presidente da Comissão Pastoral da Terra e bispo referencial para os povos indígenas e para o Cimi no estado do Mato Grosso do Sul.

    Consagrado bispo no dia 19 de abril de 2009, cumpriu com plenitude o lema episcopal “Tomou-me para o seu serviço”. Serviço aos “pequenos da terra”, camponeses e povos originários.

    Somos gratos ao Deus da Vida pelo apoio permanente e incondicional prestado por Dom José Moreira ao Cimi e aos povos indígenas do Mato Grosso do Sul e do Brasil.

    Na certeza da ressurreição, nos solidarizamos e nos unimos em oração aos irmãos, às irmãs, à vida consagrada, aos presbíteros da Diocese de Três Lagoas, aos familiares e aos amigos de dom José Moreira.

    Brasília, DF, 26 de abril de 2014.

    Conselho Indigenista Missionário – Cimi

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  • 26/04/2014

    O presente do Papa está preso

    Colorido. Impossível não fazer referência à bandeira do Brasil. Um belo cocar era o presente que Rosivaldo Ferreira da Silva, o cacique Babau Tupinambá, daria ao Papa Francisco por ocasião do encontro que ocorreria na quinta-feira, 24, em Roma, durante celebração relativa à canonização de Padre Anchieta. Em vez de encontrar-se com o Papa, Babau foi preso no Brasil. Não poderia haver cenário mais simbólico e emblemático da história deste povo e das denúncias que seriam feitas pessoalmente por Rosivaldo a Francisco.

    Desde os primórdios da colonização, os Tupinambá enfrentam as consequências perversas do processo de invasão e exploração de suas terras. A légua de corpos de Tupinambá matados no ataque etnocida comandado por Men de Sá, em 1559, na praia do Cururupe, extremo norte da terra indígena Tupinambá de Olivença, não foi o único episódio macabro e marcante na história deste povo e do Brasil. A resistência Tupinambá à invasão de suas terras foi “razão” para o Estado brasileiro prender, levar para o Rio de Janeiro, matar e fazer desaparecer para sempre o corpo do líder Marcelino, na década de 1930. A luta contemporânea e cotidiana dos Tupinambá pela reconquista de ao menos parte de seu território tem “motivado” novo processo de matança e criminalização contra esse povo e seus líderes em especial. Somente nos últimos meses, ao menos oito Tupinambá foram assassinados na região.

    Babau é um dos símbolos da resistência Tupinambá contemporânea. Memória viva de um povo legítimo sujeito de terras ancestrais na região sul da Bahia. Esse fato é a “razão” do Estado brasileiro ter prendido Babau neste dia 24 de abril de 2014, nos 514 anos e dois dias da fatídica invasão. Uma prisão totalmente descabida e injusta. Símbolo da ação do Estado hegemônico contra os Tupinambá e contra os povos originários nestes cinco séculos.

    O risco de Babau ser morto, como muitos de seus antepassados, é real. A prisão pelo Estado brasileiro pode ser apenas um meio para tanto. Babau tem plena consciência disso. Mesmo assim, decidiu se apresentar voluntariamente ao Estado brasileiro. Seu argumento é simples: Tupinambá não foge da luta. Mesmo que para tanto seja necessário enfrentar até a própria injustiça.

    Por evidente que é, Babau tem plena e legítima razão. Não há outra maneira de se construir a Justiça a não ser enfrentando e vencendo a injustiça.

    Babau está preso e preso com Babau está o presente do Papa.

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  • 26/04/2014

    Estamos caminhando para um extermínio “legal” dos indígenas, diz dom Erwin

    Dom Erwin Kräutler, presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e bispo na prelazia do Xingu concedeu uma entrevista ao O SÃO PAULO, quando estava em Altamira, Estado do Pará, onde passa a rodovia Transamazônica. Ele foi recebido pelo papa Francisco, no último dia 04 de abril, para uma audiência cujo tema principal eram as violações aos direitos indígenas no Brasil.

    O bispo, que, junto ao assessor teológico do Cimi, padre Paulo Suess, entregou ao Papa um documento com um relatório sobre a questão indígena no Brasil, foi convidado por Francisco para uma colaboração estrita na elaboração de uma nova encíclica sobre ecologia.

    JOSP – Como o senhor avalia o interesse do Papa e da Igreja em todo o mundo pela questão indígena brasileira?

    Dom Erwin – O Papa disse em seu discurso aos bispos do Brasil, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, que a Amazônia é um “teste decisivo para a Igreja e a sociedade brasileiras”. Penso que o mesmo pode ser dito a respeito da questão indígena, que nos desafia a todos e requer uma resposta de compromisso da Igreja para com esses povos, sempre colocados de escanteio e considerados pelo sistema econômico como “supérfluos” e “descartáveis” (Cf. DAp 65) porque “não produzem”.

    JOSP – Mesmo com apoio de parte da mídia e todas as manifestações, o “genocídio silencioso” dos povos Guarani e Kaiowá, no Estado do Mato Grosso do Sul, continua. Quem deve assumir esta causa para que tenha um fim?

    Dom Erwin – Esse caso já brada aos céus. Quanto tempo já passou e nada foi resolvido! Falta vontade política. Quantos indígenas têm que morrer ainda até que os parâmetros constitucionais sejam cumpridos. A razão de tanta demora em solucionar a questão são os interesses do agronegócio, é a soja, é a cana de açúcar, é o boi, que, para os governos federal e estadual, são sinônimos de progresso e desenvolvimento.

    JOSP – Petróleo, açúcar, gado, hidrelétricas, mineradoras são algumas das ameaças aos indígenas. Mas, poderíamos detectar uma ameaça principal?

    Dom Erwin – O problema subjacente à marginalização dos povos indígenas é um conceito equivocado de desenvolvimento. Se desenvolvimento é entendido apenas como crescimento econômico e aumento das exportações, aí, o índio é considerado estorvo, obstáculo, empecilho e atrapalha. Por isso, ele tem que desocupar suas terras, cair fora. Se ele defender os seus direitos, corre risco de vida e um povo todo é ameaçado em sua sobrevivência não apenas cultural, mas também física. Aí acontece o “genocídio silencioso”. Se, ao contrário, entendemos desenvolvimento como melhor qualidade de vida para todos, então os indígenas são valorizados e sua sabedoria milenar considerada uma riqueza para todo o Brasil.

    JOSP – O papa Francisco o chamou para contribuir em uma encíclica sobre ecologia. O senhor poderia detalhar um pouco mais o conteúdo e objetivo da encíclica?

    Dom Erwin – O Papa me falou no dia 04 de abril que pretende escrever uma encíclica sobre a ecologia e já encarregou o cardeal africano Peter Turkson, presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, a preparar um esboço. Ainda não há detalhes. O Papa apenas frisou que o tema será abrangente e incluirá “também a ecologia humana”. Falei então para ele que a Amazônia, devido à sua vocação específica no planeta Terra, não poderia faltar nesta encíclica como também os povos indígenas deveriam ser lembrados. Disse ainda a ele que, no dia anterior, havia prometido minha contribuição nesse sentido ao cardeal Turkson. Aí o Papa agradeceu minha disponibilidade de colaborar.

    JOSP – Poderíamos dizer que o Brasil caminha para um extermínio legal indígena?

    Dom Erwin – Lamentavelmente, se os rumos não mudarem, estamos caminhando para um extermínio “legal”. As Portarias 419/11 e 303/12 e o Decreto 7957/13 do Poder Executivo, as Propostas de Emendas Constitucionais (PECs) 215/00, 038/99 e os Projetos de Lei 1610/96 e 227/12, do Poder Legislativo, e o instrumento das “Suspensões de Segurança”, do Poder Judiciário, vão nessa direção. Creio que a mais perigosa ameaça aos povos indígenas é a PEC 215, em que a bancada ruralista quer arrancar do Executivo a prerrogativa de demarcar áreas indígenas que é um processo técnico que exige estudos antropológicos, etnológicos, cartográficos, para determinar se uma área é terra indígena ou não. Esses estudos não podem ser submetidos a uma votação no Congresso. Pior, essa bancada ruralista quer mudar a Constituição Federal em relação aos povos indígenas. Essa onda anti-indígena no Congresso Nacional é um tremendo retrocesso e arranha a imagem do Brasil no exterior.

    JOSP – E sobre a não demarcação de terras indígenas nos últimos anos. Que prejuízos esta ação do governo tem causado e pode causar nos próximos anos?

    Dom Erwin – A paralisação das demarcações perpetua conflitos e violências contra os povos indígenas. A demarcação de todas as áreas indígenas no Brasil deveria ter sido concluída já em 1993, pois a Constituição Federal de 1988 estabeleceu o prazo de cinco anos para esses procedimentos. Das 1.046 áreas indígenas no Brasil apenas 464 são homologadas ou registradas ou então declaradas como tais. Quer dizer apenas 44,3% do total. Uma área indígena não demarcada escancara as portas para todo tipo de invasão, conflito e violência.

    JOSP – Belo Monte é um caso emblemático de desrespeito às populações locais em vista de um grande projeto. Como estão vivendo as populações afetadas?

    Dom Erwin – Acabo de receber a notícia de que “a Justiça Federal obrigou a Norte Energia S.A. a cumprir uma das condicionantes indígenas da usina de Belo Monte, que trata da proteção territorial das Terras Indígenas impactadas pelo intenso fluxo de migrantes que a obra atraiu para a região. Essa condicionante está com várias pendências e, de acordo com o juiz Frederico de Barros Viana, a falta de proteção territorial pode ‘ocasionar prejuízos irreversíveis às comunidades indígenas afetadas pelo empreendimento hidrelétrico‘”. Essa medida judicial, lamentavelmente, chega tarde demais, pois o estrago já está feito. Todas as condicionantes elencadas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) e a Funai (Fundação Nacional do Índio) deveriam ter sido cumpridas antes da instalação do canteiro de obras. O governo passou por cima de toda e qualquer legislação para dar início às obras e sempre mandou derrubar em tempo recorde qualquer liminar em favor dos índios, dos ribeirinhos, dos colonos que vivem na área atingida ou das famílias diretamente afetadas na cidade de Altamira. As comunidades indígenas já são desmanteladas e aplicar só agora medidas de proteção não passa de um paliativo póstumo. Belo Monte, para o governo, é indiscutível, doa a quem doer! Essa é a realidade nua e crua.

    JOSP – E sobre os indígenas urbanos? Em São Paulo, por exemplo, os Guaranis no Jaraguá, à beira de uma rodovia, estão confinados a um espaço pequeno, sendo privados de sua dignidade. Como favorecer que eles mantenham sua cultura e tradição numa megalópole?

    Dom Erwin – A questão dos índios urbanos dá dó. É um dos maiores problemas para toda a Pastoral Indigenista. Sabemos que é impossível aos índios manterem sua cultura num ambiente fora das suas aldeias. As influências que sofrem em cidades grandes ou megalópoles, como São Paulo, são negativas para uma comunidade indígena porque qualquer cultura é vinculada ao habitat tradicional de um povo e uma vez perdido esse laço com a terra permanecem apenas recordações “daquele tempo de aldeia”. A língua, que é expressão da cultura, em pouco tempo se perde. Os filhos que nascem na cidade não a falam mais. O que se pode fazer é reunir os membros deste ou daquele povo e ajudá-los em termos de habitação, educação, saúde, segurança. No mundo urbano, os índios quase sempre são estigmatizados, tratados como párias. Vivem numa “periferia existencial”, como nosso Papa Francisco se expressa.

    JOSP – O senhor já relacionou o Pessach à migração indígena em busca da terra sem males?

    Dom Erwin – Páscoa não é fato consumado, Páscoa é sempre caminho aberto. Conto uma história: Há milhares de anos, os índios viviam em terras doadas por Deus. Não se rebelaram contra Deus. Pelo contrário, sempre prestavam culto a Deus, dançaram e cantaram já de madrugada seus salmos milenares e Lhe agradeciam pelo sol que sempre nasce de novo. Muitos séculos passaram e um dia levantou-se o esquadrão de Caim e começou a matar um Abel atrás do outro. Alguns fugiram e passaram a viver no exílio, na imundície das beiras de estrada ou favelas. O esquadrão de Caim comemorou, pois, para ele, cada Abel é um demais. E Deus viu essa desgraça, ouviu o clamor dos índios, desceu, chamou os Caim e perguntou pelos índios. E os Caim se zangaram com Deus e responderam: “Acaso somos responsáveis por esses índios? Acaso somos guardas desses miseráveis que ocupam terras férteis que poderíamos explorar para plantar soja, cana de açúcar ou transformar em pasto?” Aí Deus exclamou: “Ouço o sangue de seus irmãos do solo clamar por mim” (cfr. Gn 4,10). E Deus enviou o seu Filho para salvar os índios. No entanto, o esquadrão de Caim matou também o Filho de Deus. Mas seu Sangue derramado despedaçou as armas do esquadrão de Caim, inaugurou uma nova era, tornou-se garantia de Vida, fez os índios saírem da casa da escravidão, ressurgirem das sombras da morte e retornarem jubilosos às suas terras. Aí celebraram a Páscoa e cantaram de novo os cânticos do Senhor.

    JOSP – Paulo afirma que a terra “geme em dores de parto”. Estaríamos ainda numa sexta-feira santa ecológica? Ou já existem sinais de ressurreição?

    Dom Erwin – Ontem à noite, celebrei na comunidade Santo Antônio de Cipó-Ambé, perto da cidade de Altamira. Falei da paixão e morte do Senhor, que recordamos nesta semana, não na perspectiva de uma interminável Sexta-feira Santa, mas em vista da Páscoa da Ressurreição. Sei que o nosso povo tem mais afinidade com a Paixão do Senhor do que com a Ressurreição, pois experimenta diariamente a cruz. Na merenda comunitária, depois da Santa Missa, alguns homens me falaram do igarapé Cipó, que já está com a água contaminada pelo novo lixão, uma obra planejada, “segundo padrões de primeiro mundo”, como fanfarreiam os construtores de Belo Monte. Esse igarapé é de vital importância para os colonos e suas famílias. A poluição do igarapé que perpassa a comunidade Santo Antônio é apenas mais um exemplo das gritantes agressões ao meio-ambiente que revelam o desrespeito ao nosso povo em suas necessidades mais elementares e resultam em menos qualidade de vida para as famílias. Mas, continuamos lutando pela Vida onde outros semeiam a morte.

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  • 25/04/2014

    “Ninguém vai me calar”, diz cacique Babau sobre mandado de prisão orquestrado na Bahia

    Por Carolina Fasolo,
    de Brasília (DF)

    “Eu não vou me intimidar, ninguém vai me calar. Sei que eles estão fazendo a minha prisão porque querem fazer um ataque a minha aldeia”, disse o cacique Babau Tupinambá nessa quinta-feira (24) durante audiência conjunta da Comissão de Direitos Humanos da Câmara e do Senado. O cacique, alvo de um inquérito no qual não teve a chance de prestar depoimento, teve a solenidade como única chance de se defender publicamente das acusações infundadas que sustentam o inquérito, antes de se entregar à Polícia Federal em Brasília.

    “Não admito que me acusem de assassinato. Nós, indígenas Tupinambá da Serra do Padeiro, nunca assassinamos ninguém. Muito pelo contrário, devolvemos a vida à região. Nós damos a vida, não a morte. Morte é o que fazem com a gente o tempo todo. Esses que nos acusam sim, esses matam. Esses trucidam”, disse aos presentes.

    O cacique está sob custódia da Polícia Federal em Brasília, mas a intenção da Justiça é que seja transferido para o município de Ilhéus, o que representa grande risco à vida de Babau, que é perseguido na região e já sofreu diversas ameaças, inclusive de forças policiais que ocupavam a região da Serra do Padeiro, parte da Terra Indígena (TI) Tupinambá de Olivença.

    “O Exército estava nos ameaçando de morte o tempo todo lá na aldeia, e foi por isso que eu soltei aquela nota pública (Veja aqui). O Exército e a Força Nacional pegando os pequenos produtores e ameaçando, dizendo que queriam me fuzilar na hora que me encontrassem, fuzilar meus irmãos… A situação ficou tão tensa que eu soltei aquela nota denunciando diretamente a situação e aí, como os senhores estão vendo, recebi um convite da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) para visitar o Papa”.

    Após o convite da entidade, no entanto, o mandado de prisão – que estava expedido há mais de dois meses pela Justiça de Una (BA) – veio à tona, impedindo Babau de embarcar para Roma e apresentar ao Papa Francisco uma série de documentos e denúncias sobre a violação dos direitos indígenas no país.

    Babau disse que sua prisão é uma estratégia governamental para travar o processo demarcatório da TI Tupinambá de Olivença, que é reconhecida desde 2009 como de ocupação tradicional, mas ainda aguarda a assinatura da Portaria Declaratória pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

    “Tudo isso pra não dar a nossa terra, pra não devolver a nossa terra, que nós temos e que nunca saímos de lá! Nós nunca saímos. Nós vivemos lá. Agora, o que a gente encontra com essa ocupação militar feita pelo governo, pra intimidar nós Tupinambá é uma violência extrema, uma criminalização montada, forjada, pra acabar com a gente mesmo. E o cacique Babau se tornou vítima direta, porque sou uma pessoa que vocês estão vendo. Sou claro. Mas não vou temer, e não vou temer nunca! Sou Tupinambá!”. Depois da audiência, o cacique encaminhou-se à Polícia Federal, onde foi detido.

    A defesa de Babau entrou com um habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e  aguarda a decisão do ministro Sebastião Alves dos Reis Junior. Pedimos a sua ajuda. Envie a mensagem abaixo ao ministro do STJ e peça ‘Liberdade pra Babau!’. Acreditamos que a sensibilização do ministro, diante das falhas do inquérito e do equívoco do mandado de prisão, possa restabelecer a justiça.

    Envie a mensagem ao e-mail: gmsarj@stj.jus.br

     

    Mensagem


    Assunto: Liberdade pra Babau! HC/292982-STJ

    Excelentíssimo sr. ministro Sebastião Alves dos Reis Junior, peço ao senhor que defira o habeas corpus 292982, impetrado neste tribunal pela defesa de Rosivaldo Ferreira da Silva, o cacique Babau Tupinambá, liderança da aldeia Serra do Padeiro, na Bahia.

    A liderança segue mantida sob a custódia da Polícia Federal, em Brasília, sendo injustamente acusada de um crime que não cometeu. A luta de Babau pela demarcação das terras tradicionais de seu povo, no sul da Bahia, há mais de uma década, motiva criminalizações, ameaças e ataques racistas contra ele e os Tupinambá.

    Certo de que o senhor levará em consideração as falhas presentes no inquérito policial, que levou o juiz da Vara Criminal da Justiça de Una a expedir o mandado de prisão contra Babau, pedimos o restabelecimento da justiça e a Liberdade pra Babau!

    Atenciosamente,

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  • 25/04/2014

    Envie uma mensagem ao ministro do STJ Sebastião Reis pedindo ‘Liberdade pra Babau!’

    Cacique Babau Tupinambá está sob custódia da Polícia Federal, em Brasília. Um mandado de prisão contra a liderança, expedido em 20 de fevereiro pela Justiça de Una, Bahia, veio à tona menos de 24 horas depois de Babau tirar um passaporte para ir ao Vaticano encontrar-se com o papa Francisco.

     

    A defesa de Babau entrou com um habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o recurso está sobre a mesa do ministro Sebastião Alves dos Reis Junior. Integrante do Programa de Defensores de Direitos Humanos, do governo federal, Babau já sofreu tentativa de homicídio em situação semelhante, além de ameaças de morte e mensagens de ódio racistas.    

     

    Entenda o caso: Inquérito realizado em dez dias e depoimentos sem contraditório baseiam mandado de prisão contra Tupinambá

     

    A liderança é acusada, com base em depoimentos de pessoas inimigas declaradas do cacique, de liderar um bando que teria assassinado um agricultor. O inquérito correu em tempo recorde, menos de dez dias, desde a morte até a decisão do juiz pela prisão temporária. Sem contraditórios, sem provas, sem efetivo policial suficiente, sem ouvir Babau.

     

    Mesmo com todas estas falhas no inquérito, e as evidências da criminalização política, o cacique afirma não ter nenhum envolvimento com o homicídio e que nunca se sentiu foragido (o mandado de prisão é de 20 de fevereiro), porque não foi informado da ordem e esteve em Brasília três vezes – em uma delas acompanhado pela Polícia Federal –, antes e depois do inquérito.

     

    Outros três mandados de prisão, arquivados em 2010, foram utilizados pela PF para impedir a viagem da liderança. Todavia, estes não possuem efeito, a não ser o de barrar a saída do país de uma liderança que tem muito que denunciar para a comunidade internacional aquilo que se passa com os povos indígenas no Brasil.

     

    Pedimos a sua ajuda. Envie a mensagem abaixo ao ministro Sebastião Alves dos Reis Junior, do STJ, e peça ‘Liberdade pra Babau!’. Acreditamos que a sensibilização do ministro, diante das falhas do inquérito e do equívoco do mandado de prisão, possa restabelecer a justiça.

     

    Envie a mensagem ao e-mail: gmsarj@stj.jus.br

     

     

    Mensagem

     

    Assunto: Liberdade pra Babau! HC/292982-STJ

     

    Excelentíssimo sr. ministro Sebastião Alves dos Reis Junior, peço ao senhor que defira o habeas corpus 292982, impetrado neste tribunal pela defesa de Rosivaldo Ferreira da Silva, o cacique Babau Tupinambá, liderança da aldeia Serra do Padeiro, na Bahia.

     

    A liderança segue mantida sob a custódia da Polícia Federal, em Brasília, sendo injustamente acusada de um crime que não cometeu. A luta de Babau pela demarcação das terras tradicionais de seu povo, no sul da Bahia, há mais de uma década, motiva criminalizações, ameaças e ataques racistas contra ele e os Tupinambá.

     

    Certo de que o senhor levará em consideração as falhas presentes no inquérito policial, que levou o juiz da Vara Criminal da Justiça de Una a expedir o mandado de prisão contra Babau, pedimos o restabelecimento da justiça e a Liberdade pra Babau!

     

    Atenciosamente,

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