• 27/05/2014

    MTST e indígenas se unem a protesto contra a Copa hoje, em Brasília

    Brasília – 27 de maio – Mais de 500 indígenas e cerca de 400 trabalhadores sem teto engrossam o coro dos participantes do Julgamento Popular das Violações e Crimes da Copa, cometidos pela Fifa, pelos governos Federal e do Distrito Federal e pelos patrocinadores e empreiteiros contra a população brasileira, que acontece hoje (27/05), às 16h, na Rodoviária do Plano Piloto, em Brasília (DF). A realização do Julgamento Popular é uma iniciativa do Comitê Popular da Copa DF, juntamente com dezenas de movimentos e organizações sociais, coletivos e ativistas de diversas áreas.

    O objetivo do Julgamento Popular é explicitar os diversos crimes e violações cometidos contra a população para possibilitar a realização de uma Copa do Mundo que não traz benefícios para a população. Dentre eles estão: a remoção de 250 mil pessoas de suas casas para a construção de obras, a mudança da legislação para a efetivação de políticas de exceção, a criminalização dos movimentos sociais, a repressão ao trabalho informal, os gastos exorbitantes, o desinteresse e a falta de programas para impedir a exploração sexual de crianças e adolescentes, a subserviência do poder público aos interesses privados e à FIFA, a isenção fiscal total dos patrocinadores e da Fifa, dentre outros.

    Nesse sentido, a proposta do ato é demandar uma inversão do atual projeto de sociedade, priorizando as obras e ações que beneficiem a maior parte da população. Dentre as demandas estão:

               moradia digna para todas as pessoas removidas;

               fim da violência estatal e da higienização das ruas do centro da cidade;

               revogação imediata das áreas exclusivas da Fifa previstas na Lei Geral da Copa;

               permissão ao trabalho ambulante;

               criação de campanhas de combate à exploração sexual e ao tráfico de pessoas;

               não instalação dos tribunais de exceção da Fifa;

               revogação da lei que concede isenção fiscal à Fifa e às suas parceiras comerciais;

               arquivamento imediato dos projetos de lei que tramitam no Congresso, e das normas infra-legais emitidas pelos governos, que tipificam o crime de terrorismo e avançam contra o direito à manifestação, criminalizando movimentos sociais e fortalecendo a violência contra a população pobre e a juventude do país;

               desmilitarização da polícia e fim da repressão aos movimentos sociais.

    No Distrito Federal, em especial, os movimentos e organizações sociais também exigem o não fechamento do Lixão da Estrutural até a garantia de todas as condições necessárias para uma efetiva política de resíduos sólidos e o apoio social justo para os catadores. Outra demanda local importante é que haja transparência no inquérito da Polícia Civil sobre o desaparecimento do Antônio de Araújo, morador de Planaltina, que foi uma vítima fatal da criminalização e violência contra a população pobre. Hoje faz um ano que ele desapareceu após ser levado para a delegacia por seis policiais. Até hoje a família não teve acesso ao processo.

    Todos pela mesma causa

    Os indígenas vieram a Brasília para a Mobilização Nacional Indígena, organizada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que acontece até o dia 29, para manifestar total repúdio a qualquer retirada de seus direitos constitucionais, duramente conquistados, e a demarcação de todas as terras indígenas. Eles juntam-se ao ato do Julgamento Popular por considerarem que esta é uma causa de todos os brasileiros.

    “Ao invés do governo obedecer a Constituição Federal e concluir as demarcações de todas as terras indígenas, prioriza e investe bilhões de reais em um evento que dura somente um mês e ainda prejudica o povo. Para quem o governo brasileiro trabalha, afinal?”, questiona Lindomar Terena, da coordenação da Apib.

    Em relação aos indígenas, as demandas são:

               retomada imediata das demarcações de terras indígenas;

               revogação da Portaria 303/2012, da PEC 215/2000 e de todas as portarias ou decretos que restrinjam direitos indígenas;

               fim da criminalização de comunidades e lideranças indígenas e punição dos executores de violência contra estes povos;

               efetivação de políticas públicas específicas, efetivas e de qualidade, especialmente nas áreas da saúde e educação.

    Considerando que o Distrito Federal tem um déficit habitacional de 330 mil moradias, segundo o programa oficial do GDF, o Morar Bem, e é berço da maior favela da América Latina, o Sol Nascente, em Ceilândia, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) condena o fato do GDF ter gasto R$ 1,9 bilhão, segundo o Tribunal de Contas da União, em um estádio de futebol enquanto tanta gente não tem nem onde morar, premissa básica para uma vida digna. “Nós não queremos Copa. Queremos casa. Esta é nossa prioridade”, afirma uma liderança do movimento que prefere não se identificar por conta da enorme criminalização que o movimento vem sofrendo.

    Neste contexto, o MTST apresenta as seguintes demandas:

     •           audiência das contas da Terracap e do Estádio Mané Garrincha;

               fim dos leilões de venda de terra pública para as empreiteiras;

               aumento do orçamento para o programas de moradia no DF.

     

    Serviço:

    O quê: Julgamento Popular das Violações e Crimes da Copa, cometidos pela Fifa, pelos governos Federal e do Distrito Federal e pelos patrocinadores e empreiteiros contra a população brasileira

    Quando: Hoje, 3a feira, dia 27/05, às 16h

    Onde: Concentração na Rodoviária do Plano Piloto

     

    Mais informações:

    Patrícia Bonilha – 61 8138-7739/9979-7059

    Thiago Ávila – 61 9932-5440

    Mácia Teixeira – 61 8250-9188

     

     

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  • 27/05/2014

    Lideranças indígenas protocolam queixa-crime contra parlamentares no STF

     

    A Praça dos Três Poderes, na Esplanada dos Ministérios, tornou-se a aldeia das mais de 500 lideranças indígenas organizadas na Mobilização Nacional Indígena. No final da manhã desta terça-feira, 27, uma comissão de indígenas protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF) uma queixa-crime (leia aqui) contra os deputados federais Luiz Carlos Heinze (PP/RS) e Alceu Moreira (PMDB/RS).

     

    A comissão – composta pela direção da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e por lideranças indígenas de cada uma das regiões do país – entregou ao Supremo um documento em que pedem que os ministros apurem as declarações racistas e homofóbicas desses parlamentares contra povos indígenas, quilombolas e movimento LGBTT. O documento solicita ainda a apuração dos crimes de incitação ao ódio e à violência contra as comunidades que reivindicam seus territórios tradicionais. Veja o vídeo.

    Os ataques foram desferidos por Heinze, presidente da Frente Agropecuária da Câmara Federal, e Moreira durante audiência pública da Comissão de Agricultura, em novembro do ano passado, no município de Vicente Dutra (RS). Durante a audiência, financiada com dinheiro público, Heinze incentivou agricultores a formar milícias e Moreira pediu que eles impedissem as retomadas indígenas com violência.

    Segundo Cretã Kaingang, o conflito fundiário em Faxinalzinho (RS) foi acirrado por essas declarações: “Nunca quisemos tirar o direito de ninguém. Apenas queremos o pouco que restou de nossas terras. Os deputados estão querendo jogar pequenos agricultores e a sociedade não-índia contra nós”, afirma a liderança. Leia o pronunciamento dos Kaingang de Kandóia-Votouro sobre o conflito.

     

    Durante o trajeto das delegações indígenas de Luziânia (GO) para Brasília (DF), a Polícia Rodoviária Federal parou os ônibus na BR-040, altura do município de Santa Maria, para contar a quantidade de indígenas em cada ônibus. Segundo as lideranças, o policiamento afirmou ter recebido ordens para informar quantas pessoas estavam se deslocando para a Esplanada dos Ministérios.

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  • 27/05/2014

    Mais de 500 indígenas protocolam no STF denúncia contra deputados racistas

    Mais de 500 indígenas, de 100 povos diferentes de todo Brasil, estão reunidos em Brasília até esta quinta-feira (29) para protestar em defesa dos direitos territoriais dos povos indígenas garantidos na Constituição. Na manhã de hoje (27), os manifestantes irão protocolar uma queixa-crime contra os deputados ruralistas Luís Carlos Heinze (PP-RS) e Alceu Moreira (PMDB-RS) no Supremo Tribunal Federal (STF). Na sequência, será feita uma pajelança na Praça dos Três Poderes em defesa dos direitos indígenas.

    Em novembro, durante audiência pública em Vicente Dutra (RS), Heinze disse que índios, quilombolas, gays e lésbicas são “tudo o que não presta”. Na mesma audiência, ele e Moreira defenderam que os produtores rurais contratassem segurança privada para expulsar índios das terras que consideram como suas. Em dezembro, Heinze voltou a ofender índios, quilombolas e gays. As declarações foram gravadas.

    Na quarta (28), às 9h, está confirmada uma audiência pública, no auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados, em defesa da agenda legislativa indígena.

    Você pode acompanhar as atividades da Mobilização Nacional Indígena ao vivo no canal do Greenpeace no Livestream e do cineasta indígena Kamikia Kĩsedje no TwitCasting.

    Nessa segunda, as delegações vindas de todo o Brasil reuniram-se em assembleia, no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia (GO), para denunciar as violências e violações de direitos sofridas em varias regiões. “Hoje tentam usurpar o direito dos povos indígenas e da natureza. Isso vai repercutir para todo mundo. Depois começam a retirar os direitos de outros grupos e a sociedade não discute nada, não sabe de nada”, afirmou Lindomar Terena, logo após ler uma carta-denúncia (leia aqui) da Apib apresentada no Fórum Internacional dos Povos Indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU).

    “A terra indígena é um direito originário e então o governo precisa demarcar nossos territórios. No processo histórico, está claro que nós não provocamos o conflito que hoje aí está. O Estado e seus governantes tiraram a gente das terras, sobretudo no século passado, e deram títulos para quem foi colocado nelas. Para os indígenas, a terra é mãe, é sagrada. Nunca vamos desistir delas”, pontuou Sônia Guajajara, também da coordenação da Apib.

    Em abril de 2013, os povos indígenas ocuparam o plenário da Câmara Federal, em protesto contra as várias propostas legislativas anti-indígenas. Em outubro, a Mobilização Nacional Indígena reuniu milhares de pessoas, no Brasil e em algumas cidades do exterior, no maior conjunto de manifestações em defesa dos direitos indígenas desde a Constituinte de 1988 (saiba mais).

    Ataque aos direitos indígenas

    Os novos protestos em Brasília ocorrem num cenário de continuidade do ataque generalizado aos direitos indígenas, em especial os direitos territoriais, da parte de vários setores do governo e de um conjunto de atores políticos e econômicos capitaneados pela bancada ruralista no Congresso Nacional.

    Um dos principais objetivos da mobilização é impedir a aprovação da série de projetos contra os direitos indígenas em tramitação no parlamento, como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215, que pretende transferir aos congressistas a atribuição de aprovar a demarcação das Terras Indígenas (TIs); o Projeto de Lei (PLP) 227, que visa abrir essas áreas à exploração econômica; o PL 1.610, que regulamenta a mineração nas TIs, entre vários outros.

    Também serão alvos dos protestos, entre outras medidas do governo, a proposta de alteração do procedimento de demarcação das TIs do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e a Portaria 303 da Advocacia-Geral da União (AGU), que objetiva generalizar a todas as TIs as condicionantes definidas para a TI Raposa Serra do Sol (RR), contrariando decisão do STF. Na prática, todas essas propostas do Executivo e do Legislativo pretendem paralisar definitivamente os processos de demarcação, já suspensos pelo governo federal.

    Enquanto isso, a tramitação de projetos importantes para consolidar os direitos indígenas e que são bandeiras do movimento indígena, como o Estatuto dos Povos Indígenas e o Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI), está paralisada há anos nos corredores do Congresso, sem qualquer avanço. A Mobilização Nacional Indígena também defende a aprovação dessas duas propostas.

    A Mobilização é promovida pela Apib, com apoio do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Instituto Socioambiental (ISA), Greenpeace, Instituto de Educação do Brasil (IIEB), entre outras organizações indígenas e indigenistas.

    Mais informações

    Blog da Mobilização Indígena

    Comitê de Comunicação da Mobilização Nacional Indígena

     Renato Santana (Cimi) – (61) 9979-6912 / editor.porantim@cimi.org.br

    Patrícia Bonilha (Cimi) – (61) 9979-7059 / imprensa@cimi.org.br

    Oswaldo Braga de Souza (ISA) – (61) 9103-2127 / 3035-5114 /oswaldo@socioambiental.org

    Inês Zanchetta (ISA) – (11) 3515-8969 / ines@socioambiental.org

    Tatiane Klein – (ISA) – (11) 3515-8957 / tatianeklein@socioambiental.org

    Helena Azanha (CTI) – (11) 9 7476-8589/ helena@trabalhoindigenista.org.br

    Nathália Clark (Greenpeace) – 61 9642-7153 /nathalia.clark@greenpeace.org

    Letícia Barros (IIEB) – (61) 3248-7449 / leticia@iieb.org.br

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  • 26/05/2014

    Mobilização Nacional Indígena começa em Luziânia (GO) denunciando governo federal e bancada ruralista

    Em Defesa dos Direitos Territoriais dos Povos Indígenas, cerca de 500 indígenas estão reunidos no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia (GO), para a Mobilização Nacional Indígena, que teve início nesta segunda-feira, 26, e segue até quinta-feira, 29. Propostas e projetos do Executivo (Portaria 303 e mesas de diálogo) e do Legislativo (como a PEC 215 e o PLP 227) serão alvo de protestos do movimento, que representa mais de 100 povos que vivem no país.

    A Mobilização Nacional Indígena retoma seus debates em um contexto em que o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo usa mesas de diálogos para “ajustar direitos” constitucionais com os interesses do agronegócio e em que a presidente Dilma Rousseff e ministros da República participam de jantares com o latifúndio brasileiro, enquanto no campo populações indígenas, quilombolas, extrativistas e camponesas são assassinadas. Na opinião das lideranças indígenas, é preciso fazer contraponto ao que o Governo Federal anuncia ser “consenso e boas relações com os povos indígenas”.       

    Com agendas em Brasília (DF) junto aos poderes da República, a Mobilização Nacional é um movimento que começou no primeiro semestre do ano passado, com a coordenação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), e não parou mais. Ao contrário, os seguidos ataques aos direitos indígenas e a paralisação da demarcação de terras fortaleceram a mobilização. Hoje, dez lideranças indígenas estão presas (cinco do povo Kaingang e outras cinco do povo Tenharim), em contexto de criminalização da luta e proteção do território tradicional.

    Durante esta segunda-feira, as delegações vindas de todo o Brasil se reuniram em assembleia para denunciar as violências e violações de direitos permanentes sofridas em cada uma das regiões. “Dizem que os povos indígenas são um empecilho e passam como um trator sobre nossos direitos e terras. Por isso que a Mobilização Nacional Indígena começou e nunca parou. Essa é a oportunidade para quem está na aldeia sofrendo venha expor o que está passando”, diz Márcio Kokoj, dirigente da Apib. 

    Para esta terça, 27, a Mobilização Nacional irá protocolar no Supremo Tribunal Federal (STF) uma queixa crime contra os deputados federais Luiz Carlos Heinze (PP/RS) e Alceu Moreira (PMDB/RS). Em novembro do ano passado, durante Audiência Pública da Comissão de Agricultura da Câmara no município de Vicente Dutra (RS), os parlamentares fizeram declarações racistas, homofóbicas e de incitação ao ódio contra os povos indígenas. Assista aqui.

    Mais do que um ataque aos direitos indígena, os povos indígenas apresentam o entendimento de que está em curso no Brasil um amplo atentado contra a própria democracia. “Hoje tentam usurpar o direito dos povos indígenas e da natureza. Isso vai repercutir para todo mundo. Depois começam a retirar os direitos de outros grupos e a sociedade não discute nada, não sabe de nada”, destacou Lindomar Terena logo após ler uma carta-denúncia (leia aqui) da Apib no Fórum Internacional dos Povos Indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU). 

    "A terra indígena é um direito originário e então o governo precisa demarcar nossos territórios. No processo histórico está claro que nós não provocamos o conflito que hoje aí está. O Estado e seus governantes tiraram a gente das terras, sobretudo no século passado, e deram títulos para quem foi colocado nelas. Para os indígenas terra é mãe, é sagrada. Nunca vamos desistir delas”.

    A liderança lembra que a Mobilização é tecida pela permanente luta pela demarcação das terras indígenas, que além de ter sido paralisada pelo governo federal sofre também um ataque no Congresso Nacional com as sucessivas tentativas de flexibilização ou supressão deste direito da Constituição Federal. Nas últimas semanas, diz Sônia, “até quanto ao país seguir como signatário da Convenção 169 foi uma questão questionada pelos ruralistas”.   

    Em abril do ano passado, os povos indígenas ocuparam o Plenário Ulysses Guimarães, da Câmara Federal, em protesto contra a PEC 215 e outras medidas legislativas anti-indígenas. A Mobilização Nacional Indígena continua, assim, a luta secular dos povos que teve nesta ocupação um de seus principais capítulos. “Estamos aqui com um objetivo só: demarcação de terras já! Muitos parentes, guerreiros, estão sendo presos e criminalizados porque estão reivindicando um direito que para nós é sagrado: o território tradicional”, declara o dirigente da Apib, cacique Darã Guarani.

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  • 26/05/2014

    Memória e mobilização indígena, por Egon Heck

    Mobilizar a memória perigosa.  Lutar sábia e tenazmente contra todas as tentativas de suprimir direitos constitucionais. Dizer um enfático basta às violências e violações dos direitos dos povos indígenas e outras populações oprimidas.

    Nesse contexto realizou-se em Brasília a reunião da Comissão Indígena da Verdade e Justiça. Esse é um dos espaços de luta do movimento indígena e aliados para fazer frente à avalanche de iniciativas que visam retirar direitos constitucionais e consuetudinários desses povos, articulados pelas ruralistas e o agronegócio com a complacência e anuência tácita do governo.

    O objetivo maior da Comissão Indígena é que se faça justiça através da reparação coletiva e individual pelos crimes perpetrados contra os povos indígenas com a participação direta de entes do Estado ou pela omissão do mesmo. O Ministério Público Federal, que participou da reunião, constituiu um grupo de trabalho que já está trabalhando em alguns casos.

    Hoje como ontem

    Também foi insistido na importância de se reescrever a história desse país com os povos nativos para que aflore a verdade desses 500 anos de invasão, em que em cada século se exterminou mais de um milhão de indígenas, conforme afirmação de Orlando Vilas Boas. Essa história não pode continuar sendo jogada embaixo do tapete.  A memória militante e permanente contada por cada ancião dará visibilidade a essa resistência combativa e insurgente dos povos massacrados, porém não vencidos.

    Há poucos dias o governo brasileiro foi denunciado na Organização das Nações Unidas (ONU) pela violação dos direitos dos povos indígenas, pela repressão e prisões arbitrárias, pela paralisação da demarcação das terras indígenas, que estão na origem de situações clamorosas como o suicídio de 73 Kaiowá Guarani no Mato Grosso do Sul, em 2013. Situação semelhante às denuncias feitas por Lindomar Terena, ocorreu em 1980, quando Daniel Pareci denunciou na Assembleia Geral do Conselho Mundial dos povos indígenas (CMPI), as arbitrariedades e violências  contra os povos indígenas praticadas pelos governos da ditadura militar. Nesta ocasião foi aprovado resolução de encaminhar essas denúncias à ONU e ao Vaticano. Neste mesmo ano Juruna foi impedido de ir ao Tribunal Russel, na Holanda, onde foram analisadas as violações dos direitos dos povos indígenas nas Américas. Só após intensa batalha judicial ele conseguiu viajar, presidindo o último dia dos trabalhos.  O Brasil foi condenado por violação dos direitos indígenas e genocídio. Do tribunal também participaram Darcy Ribeiro, Alvaro Tucano, Dom Tomás Balduino, Marcio Souza e Egydio Schwade.  Os governantes de então temiam que as denuncias  graves maculassem a imagem do país.

    Mobilizando a luta e a esperança

    Inicia nesta segunda-feira mais uma semana de Mobilização Nacional dos Povos Indígenas, promovida anualmente pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), com apoio dos aliados da causa. A pauta principal é a garantia das terras e territórios indígenas, que estão sob intensa pressão por parte do Estado brasileiro, especialmente o poder Legislativo, através da bancada ruralista e o agronegócio. Estão em curso inúmeras iniciativas para suprimir direitos indígenas da Constituição.  As mineradoras também voltaram com sua artilharia e máquinas pesadas, postadas diante das terras indígenas.

    Gol da terra

    A Copa do Mundo está à porta. O governo propala e se ufana de que entregou ingressos a alguns indígenas. A mobilização indígena está interessada em saber quando vão ser demarcadas as terras indígenas e reparados os danos ambientais e massacres cometidos contra esses povos.

    A mãe terra clama pelos seus primeiros habitantes, juntando-se a eles nesta semana de mobilização pela vida e pelos direitos dos povos originários.

    Só haverá gol com a demarcação e garantia das terras, respeito à natureza e justiça. Estamos todos convocados para essa mobilização


    Egon Heck

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  • 26/05/2014

    Seminário sobre Mineração e Hidrelétricas em Terras Indígenas – Declaração da Tabalascada

    Nós, lideranças indígenas Macuxi, Wapichana, Ingarikó, Ye’kuana, Yanomami do Brasil, lideranças indígenas Arauak, Wapichana, Akawaio da Guiana Inglesa, e lideranças indígenas Ye’kuana, Uwottuja, Yanomami, Yabarana e Baré da Venezuela, juntamente com nossas organizações indígenas Conselho Indígena de Roraima – CIR, Hutukara Associação Yanomami – HAY, Associação dos Povos Indígenas da Terra São Marcos – APITSM, Conselho do Povo Ingarikó – COPING, Organização Regional dos Povos Indígenas do Amazonas – ORPIA, Horonami – Associação Yanomami da Venezuela, Organização de Mulheres de Aisharatoon, organizações aliadas como o Instituto Socioambiental – ISA e Conselho Indigenista Missionário – CIMI, e demais convidados, reunidos no Seminário sobre Mineração e Hidrelétricas em Terras Indígenas realizado nos dias 20 a 22 de maio de 2014 na Comunidade Indígena Tabalascada, região Serra da Lua, Roraima – Brasil, afirmamos que a Mineração e Hidrelétricas atingem a vida dos povos indígenas e que Mineração e Hidrelétricas andam juntas! Sem Hidrelétricas não tem Mineração.

    Os benefícios alegados por quem defende a mineração e as hidrelétricas não são os benefícios que queremos ter. Para nós o que tem importância é a terra, a vida, as florestas, os animais, a cultura, a tranquilidade e nossa forma de vida garantida para nossas futuras gerações.

    Considerando o significativo número de pedidos de pesquisa e lavra que incidem nas terras indígenas no Brasil;

    Considerando que 68% do território da Guiana pode ser afetado por projetos de mineração e hidrelétricas, e na Venezuela se avançam as concessões para exploração mineral de vastas áreas no Estado Bolívar e Amazonas por empresas chinesas, sendo que 90% das terras indígenas sequer foram demarcadas como estabelece a Constituição Venezuelana;

    Considerando que as regiões fronteiriças na Amazônia estão fortemente afetadas por garimpeiros e empresários de garimpo brasileiros que, muitas vezes operam ilegalmente, principalmente nas Regiões 7 e 9 na Guiana Inglesa;

    Considerando que o Governo Brasileiro tem acordos com o Governo Guianense para construção de hidrelétricas, estradas e outras grandes obras, e que estes acordos precisam incluir a necessidade de ter os direitos dos povos indígenas daquele país assegurados;

    Considerando que os grandes projetos visam beneficiar as empresas que os constroem e as que vão consumir a energia gerada, causando maior concentração de riqueza, e que desconsideram a participação e os planos de desenvolvimento dos povos indígenas que afetam;

    Considerando os grandes impactos no meio ambiente e na sobrevivência física e cultural dos povos indígenas causados pela mineração e pelas hidrelétricas;

    Considerando a degradação da qualidade de vida e os danos reais e potenciais existentes na região da tríplice fronteira Brasil-Guiana-Venezuela, divisor de águas no Escudo das Guianas, conhecida como Circum Roraima, um dos lugares mais antigos, ricos em sociobiodiversidade e conservados do planeta, por ser território habitado e considerado sagrado pelos povos indígenas dos três países, cujo marco comum é o Tepui Roraima, a "Mãe das Águas" ou Wazaká, lugar mitológico de origem de todas as frutas, sementes e plantas, e casa de Macunaima;

    Considerando a existência de propostas no Congresso Nacional Brasileiro que visam restringir os direitos indígenas à terra e ao uso dos recursos naturais, comprometendo desde a autonomia até a sobrevivência física e cultural;

    Considerando que os Estados Brasileiro, Venezuelano e Guianense não estão cumprindo com a obrigação de consultar os povos indígenas sobre os projetos e programas de desenvolvimento nacionais;

    Convocamos as organizações indígenas e de apoio a se mobilizarem contra a Mineração e Hidrelétricas em Terras Indígenas na Amazônia:

    Que o Estado Brasileiro adote medidas para a rejeição do PL 1610/96 de autoria do Senador Romero Jucá que regulamenta a mineração em terras indígenas, e medidas para proteger o direito fundamental dos povos indígenas, ou seja, a vida, a cultura, a justiça, e não permita a mineração e hidrelétricas em Terras Indígenas na Amazônia;

    Que o Estado Venezuelano proceda à demarcação das terras indígenas e respeite as deliberações e propostas das organizações indígenas que são apresentadas nas Mesas de Diálogos;

    Que o Estado da Guiana assine a Convenção 169 da OIT, somando-se ao conjunto de países e da comunidade internacional no respeito e garantia dos direitos dos povos indígenas;

    Que os Estados do Brasil, Guiana e Venezuela respeitem e cumpram as obrigações adquiridas com a Convenção 169 da OIT, garantindo o direito de livre determinação dos povos indígenas e o direito de consulta livre, prévia e informada diante de quaisquer projetos de mineração e hidrelétricas que se projetem sobre nossos territórios.

    Por fim, declaramos que somos contra a Mineração e Hidrelétricas nas terras indígenas da Amazônia.

     

    Comunidade Indígena Tabalascada – Roraima, 22 de Maio de 2014

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  • 26/05/2014

    Pronunciamento Kaingang de Kandóia-Votouro

     

    Nós, da comunidade Kaingang de Kandóia-Votouro, queremos esclarecer o que vem ocorrendo na nossa região, pois os meios de comunicação publicam de maneira distorcida. Na nossa comunidade moram 70 famílias, o que dá quase 220 pessoas. Vivemos há 13 anos nesse acampamento, no território onde moraram nossos antepassados, há mais de 500 anos. Estamos a espera da demarcação de apenas uma pequena parte desse extenso território.

    Neste momento, estamos aguardando a assinatura do ministro José Eduardo Cardozo para dar continuidade ao processo de levantamento fundiário para indenização dos agricultores situados nessa zona. Em uma reunião em Brasília no dia 18 de março de 2014, o ministro se comprometeu em vir ao estado do Rio Grande do Sul para realizar uma audiência pública com indígenas e agricultores no dia 05 de abril. No entanto, ele transferiu essa audiência para o dia 12 de abril e, em seguida, para o dia 25 de Abril, que também foi cancelada. Frente a esse desrespeito, nos mobilizamos para fechar a estrada e exigir nossos direitos.

    No dia 09 de maio deste mesmo ano, foi convocada uma reunião de conciliação no Centro Cultural de Faxinalzinho, com o prefeito do município, o secretário de Desenvolvimento Rural do RS, representante da Fundação Nacional do Índio (Funai), entre outros. Pensamos que era uma reunião para solucionar o conflito, mas levamos uma facada pelas costas. A Polícia Federal chegou já no início da reunião e prendeu sete lideranças Kaingang que estavam presentes, sem qualquer mandado, ordem judicial ou intimação.

    As crianças ficaram muito nervosas e começaram a chorar, o que foi imediatamente reprimido pelos policiais, inclusive com o apontamento de uma arma na direção de uma criança de dois anos, mandando-a se calar. No momento da prisão, começamos a falar na nossa língua e os policiais disseram que não poderíamos fazer isso: “parem de falar Guarani”, disseram. Nem sabiam que língua estávamos falando. Eles deveriam estudar a nossa língua, já que nós estudamos a sua. Os policiais riram da nossa cara e disseram que era nosso presente do dia das mães.

    Sentimos que eles estavam para tudo naquele dia, tinham aquela sede. Se os índios fizessem alguma coisa, a polícia mataria todos nós e faria uma festa.

    Quando as lideranças foram presas, ficaram algemadas por três horas, de pé, sem água, nem banheiro ou comida. Não permitiram que se comunicassem com ninguém. Até agora, só sabemos sobre eles através do advogado, o que nos preocupa muito.

    Depois das prisões, passamos a ficar totalmente isolados e perseguidos pela Polícia Federal. Os homens não podem sair da aldeia – nem para trabalhar e nem mesmo para ir ao mercado -porque a polícia está parando e entrando nos ônibus e intimando as pessoas, criando medo.

    Esse abuso de autoridade por parte da polícia se repercutiu inclusive nas escolas. Na escola da Terra Indígena de Votouro/Benjamin Constant, os policiais entraram na sala de aula e bateram em um professor indígena na frente das crianças, para tirar informações sobre o ocorrido. Quando os indígenas pediram o mandato para fazer isso, os policiais disseram que não precisava de nada.

    Caso que se repetiu também na escola, em Faxinalzinho, uma pessoa ofereceu R$ 500 para que uma menina de treze anos desse informações.

    A Polícia Federal também passou a fazer rondas em volta do nosso acampamento, e mesmo dentro dele, para intimidar-nos. Tivemos, assim, que cercar a aldeia e conversar com as crianças porque elas ficaram com muito medo: cada vez que veem uma pessoa branca, saem correndo.

    Paralelamente à atuação da polícia, a mídia também passou a divulgar mentiras. Não invadimos a prefeitura de Faxinalzinho, como foi noticiado. E também não estávamos impedindo o prefeito de sair de sua casa. Eles dizem que estão isolados, mas tem trânsito livre. Isolados estamos nós aqui dentro. Essas distorções têm acirrado a tensão nas relações com os vizinhos. Antes coletávamos madeira para lenha e artesanato nas terras ocupadas pelos colonos, e não tinha problema. Agora, eles já não nos deixam mais. Eles expulsaram as crianças que foram buscar lenha.

    Estão nos discriminando até publicamente, falando que somos vagabundos, selvagens e “que índio não presta”. Assim, não estamos conseguindo nem produzir e nem vender o nosso artesanato na região.

    Com esse clima de medo, até os agentes de saúde não estão querendo vir a aldeia. A enfermeira liga para a Secretaria, e eles não vêm. E como o nosso motorista está preso, ela mesma está tendo que levar os pacientes graves, deixando a aldeia sem enfermeira. Um de nós necessitava uma consulta médica e o motorista da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) mandou ele esperar no meio do mato, escondido, a 5km da aldeia. Considerando o risco de realizar esse trajeto, ele não foi. Se queremos ser atendidos, temos que caminhar mais de sete km.

    Frente a tudo isso, decidimos que não iremos à reunião do dia 22 de maio em Brasília devido ao fato de que, por um lado, pode ser mais uma reunião traiçoeira como a de Faxinalzinho e, por outro lado, o poder público não precisa que nós estejamos em Brasília para assinar um papel.

    Aproveitamos para reiterar nossas reivindicações: a demarcação imediata das terras indígenas de Kandóia/Votouro, Passo Grande da Forquilha, Rio dos Índios, e Irapuá. Exigimos a libertação imediata de nossas lideranças!

     

    Comunidade Kandóia/Votouro

    20 de maio de 2014

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  • 26/05/2014

    Grande Assembleia Aty Guasu repudia propostas anti-indígenas

     

    Nós liderança indígena, rezadores, professores, agentes de saúde, jovens, mulheres e alunos Kaiowá e Guarani, reunidos em assembleia, com aproximadamente 800 pessoas, entre os dias 21 a 25 de maio de 2014 no tekoha Yvy Katu (terra sagrada) contamos com a presença dos Povos do Pantanal: Kadiwéu, Kinikinawa e Terena onde discutimos território, segurança, saúde e educação no estado de Mato Grosso do Sul para mostrar ao governo a indignação produzida pela longa demora do processo demarcatório dos territórios tradicionais e as conseqüências deste. Dentre as discussões destacamos:

     

    Nós Jovens

     

    Relatamos a urgência em voltar para nossos territórios, pois dentro das grandes reservas não é o espaço em que nossos antepassados viveram. Também por não haver espaço suficiente para desenvolver nossa cultura. Nas reservas não temos mais como caçar e pescar, não se tem mais mata, e isso facilita a entrada de drogas, bebidas alcoólicas e a violência, por isso, voltaremos ao território onde temos nossa origem.

    Nas áreas de retomada, nós jovens, estamos reencontrando nossa paz na caça, na pesca, voltamos a ter nossa organização própria e gestão territorial Kaiowá e Guarani.

     

    Nós Mulheres

     

    Relatamos as dificuldades encontradas nas comunidades, constatamos que todos esses problemas: educação, saúde, alimentação e uma vida mais digna, vêm da falta de demarcação dos nossos Tekoha, pois sem ela, não podemos ter os alimentos tradicionais, e o espírito não fica tranquilo.

     

    Nós Lideranças

     

    Relatamos que nas áreas em que estamos na posse de parcela do nosso Tekoha não temos como produzir alimentos suficientes para o povo, porque a terra esta degradada, e não tem projeto de recuperação ambiental.

     

    Nós Rezadores e Rezadoras

     

    Relatamos que uma vida digna para o nosso povo está no espaço territorial em que se encontram nossos antepassados, e que Tupã consagrou ao povo que ali habita. Sem esse espaço sagrado não há a presença dos espíritos, e sem os espíritos não há tranquilidade para aquele povo que foi retirado da sua terra sagrada e concedida por Tupã. Por este motivo, cresce a violência nas reservas.

    Contudo, o povo Guarani e Kaiowá reunidos na Aty Guasu, busca resposta do governo brasileiro referente aos direitos fundamentais dos povos indígenas, o território, a saúde, a educação e a segurança.

    “Podem até matar as nossas lideranças, mas jamais impedirão de voltarmos ao nosso Tekohá”

     

    Território

     

    Não permitiremos que as comunidades em iminência de despejo sejam desalojadas. Entre elas: Apykaí, Pacurity, Guaiviry, Pyelito Kue, Passo Piraju, Laranjeira Nhanderu, Boqueron, Kurusu Ambá, Ipoi, Nhu Porã, Nhu Verá, Arroio Corá, Sombrerito, Ivy Katu, Itay, Guyra kambiy, Pindoroky, Taquara ,Nhanderu Marangatu do povo Guarani/Kaiowá, ou de qualquer outro povo do Estado, se sentirmos que isso acontecerá, avançaremos mais ainda.

    EXIGIMOS:

    ·                     Continuidade dos Grupos de Trabalho de identificação e delimitação dos Tekoha;

    ·                     Publicação dos estudos de identificação e delimitação realizados;

    ·                     Publicação das portarias declaratórias que estão paralisadas;

    ·                     Demarcação física dos territórios que estão nesta fase;

    ·                     Homologação dos tekoha que estão pendentes;

    ·                      

    Dentro disso, estabelecemos o prazo de 30 dias para o cumprimento do mesmo, este prazo se iniciou no dia 22 de maio do corrente ano, com a presença da coordenadora de Planejamento e Identificação e Delimitação, Ester de Souza Oliveira.

     

    Segurança

     

    Constatamos que as operações de segurança nas comunidades não estão cumprindo o papel esperado, e muitas vezes não prestam a devida segurança e respeito às comunidades.

     

    EXIGIMOS:

    Que seja mantida a segurança nas áreas de retomada, e que esta segurança seja permanente a fim de evitar conflitos com pistoleiros ou segurança privada;

     

     

    Educação

     

    Exigimos:

    ·                     Continuidade do curso Ara Verá (espaço de tempo iluminado) para formação dos professores indígenas do Cone Sul do Estado, sendo a direção desse curso assumida por indígenas graduados e capacitados que temos;

    ·                     Educação indígena diferenciada e autônoma de acordo com a universalidade da cultura, valorizando nosso conhecimento e nossos valores, tão importantes para a nossa existência;

    ·                     Construção de escolas nas áreas de retomadas, pois é direito fundamental;

    ·                     Contratação de professores indígenas;

    ·                     Mestrado diferenciado através da UFGD.

     

    Saúde

     

    A Grande Assembleia do Povo Guarani e Kaiowá referenda o nome de Hilario da Silva, indígena Kadiwéu, indicado a ocupar o cargo de coordenador regional da SESAI em MS; e

    Constatamos que existem muitos profissionais de saúde indígena capacitados, porém não estão sendo contratados como é determinado à SESAI.

     

    EXIGIMOS:

    ·                     Construção de postos de saúde nas áreas de retomada, pois é direito fundamental;

    ·                     Contratação os profissionais indígenas por meio de concurso diferenciado;

    ·                     Reconhecimento dos motoristas, como equipe de saúde, parte integrante da equipe profissional da SESAI;

    ·                     Que seja fiscalizado a empresa terceirizada dos serviços de saúde, e que se faça a devida prestação de contas aos povos atendidos;

     

    Apoiamos a tramitação e aprovação da PEC 320/ 2013.

    Por fim, reiteramos que não iremos mais participar/legitimar a “mesa de diálogo” feita pelo governo, não vamos negociar nossos direitos, legitima e arduamente conquistados. Por isso repudiamos todas as medidas promovidas pelos ruralistas e seus parlamentares, especificamente: PEC 215, PEC 38, PEC 237, Portaria 303, PLP 227, minuta do Ministério da Justiça que visa alterar o Dec. Lei 1.775, ou qualquer outra iniciativa que busca desconstruir nossos direitos.

     

     

    Aty Guasu, Ivy Katu, município de Japorã/MS, 25 de maio de 2014.

     

    Guarani e Kaiowá

    Terena

    Kadiwéu

    Kinikinawa

  • 23/05/2014

    Indígenas lançam campanha contra mineração e construção de hidrelétricas

    Por J.Rosha,

    de Boa Vista (RR)

    Cerca de 200 participantes do Seminário sobre Mineração e Hidrelétricas em terras indígenas aprovaram a realização de uma campanha abrangendo Brasil, Venezuela e Guiana para impedir a construção de barragens. O seminário foi realizado entre os dias 20 e 23 de maio na aldeia Tabalascada, município de Cantá, localizado a cerca de 30 quilômetros de Boa Vista, capital do estado de Roraima. Os participantes aprovaram também um documento pontuando as principais razões pelas quais rejeitam a construção de barragens e mineração em suas terras.

    A falta de esclarecimento sobre os impactos ao meio ambiente e às comunidades é a razão principal pela qual os indígenas rejeitam a construção de hidrelétricas em suas terras. “Nós sabemos que parte da nossa terra poderá ser inundada, que vai alagar parte da floresta e matar os animais. Nós não queremos destruição nas nossas aldeias”, diz Davi Kopenawa, referindo-se à construção da hidrelétrica de Paredão, prevista pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, para ser construída no rio Mucajaí.

    Parte da terra dos Yanomami banhada pelo rio Mucajaí está no caminho do reservatório de três barragens previstas para serem construídas naquele rio como parte do complexo do Paredão, que seria formado pelas barragens de Paredão, Paredão 1 e Fé e Esperança. A capacidade de geração dessas três hidrelétricas, juntamente com a usina de Bem Querer, no rio Branco, é de 1.050 MW de potência instalada, de acordo com relatório apresentado pela empresa contratada para realizar inventário do potencial hidroenergético naquela região.

    No Painel sobre “Hidrelétricas e Terras Indígenas”, o procurador Felício Pontes, do Ministério Público do Pará, e o pesquisador Guilherme Carvalho, da Federação das Organizações de Assistência Social e Educacional (Fase), ponturam os principais problemas enfrentados pelos indígenas por ocasião dos estudos e da construção das barragens do Complexo Hidrelétrico do Rio Tapajós e da usina de belo Monte, no Estado do Pará.

    Felício Pontes enfatizou a batalha dos indígenas para o cumprimento da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ratificada pelo Governo Brasileiro, que assegura às comunidades indígenas afetadas por obras governamentais de serem consultados antes da sua construção.

    No caso de Belo Monte, Pontes destacou a ênfase dada por representantes do Governo Federal ao barateamento do preço da energia com a construção daquela hidrelétrica. “O Governo e a construtora não computam no preço os danos ambientais. A construção de Belo Monte vai causar o desaparecimento de 250 espécies de peixes, alguns dos quais só vivem ali naquela região”, disse Felício Pontes. Entre os prejuízos sociais, ele citou o caso dos pescadores segmento que recebeu os menores valores a título de indenização.

    Alternativa de energia  

    A falta de diálogo dos órgãos governamentais com as populações indígenas também é apontada por Martinho de Souza Makuxi. Ele faz parte do grupo de indígenas que acompanha o Projeto Cruviana, realizado em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA) e Universidade Federal do Maranhão (UFMA). “Nós somos contra hidrelétrica, primeiramente, porque não temos informações. Já tomamos conhecimento dos impactos, mas não temos conhecimento de perto de como é esse sistema das hidrelétricas”.

    O Projeto Cruviana vem sendo executado desde abril de 2013, na região das Serras, interior da terra indígena Raposa Serra do Sol, localizada no extremo norte do Estado de Roraima, na fronteira com Venezuela e Guiana. Técnicos da UFMA, ambientalistas do ISA e lideranças indígenas participaram do estudo da intensidade dos ventos na região que concluiu pela viabilidade de utilização de energia eólica (produzida pelos ventos).

    Os primeiros aparelhos para captação de energia a partir dos ventos serão instalados na comunidade Maturuca, situada em uma região formada por serras, de difícil acesso e para onde já foi descartado pelos executores do Programa Luz Para Todos a transmissão por fios, de acordo com depoimento dos indígenas. Em Maturuca vivem 90 famílias, formando uma população de 420 pessoas. Depois, o projeto será levado para as comunidades de Pedra Branca e Tamanduá.

    Na comunidade Tamanduá fica a área para onde se projetou a hidrelétrica de Cotingo. A obra não faz parte do PAC, mas sua construção é defendida por políticos de Roraima. No início dos anos 90, quando o Governo do Estado tentou iniciar as obras da barragem, as comunidades indígenas de Raposa Serra do Sol realizaram vários aos de protesto que inviabilizaram a construção.

    Mineração

    Mais de 50 por cento dos pedidos para pesquisa mineral em terras indígenas no Estado de Roraima são destinadas à terra indígena Yanomami. A aprovação do Projeto de Lei que tramita na Câmara dos Deputados abrindo as terras indígenas para exploração se tornará o maior pesadelo para os Yanomami e para todas as populações indígenas de Roraima.

    “Se for aprovado o Projeto de Lei, haverá uma avalanche de pedidos para exploração das terras indígenas no Estado”, explicou a advogado Ana Paula Souto do Maior, assessora do Instituto Socioambiental (ISA). Segundo levantamento feito pelo ISA, a situação atual de Roraima é a seguinte: das 32 terras indígenas demarcadas apenas nove não tem requerimento para exploração. As outras 15 tem mais mil interessados em explorar. Também dessas 15 terras indígenas, em mais de 50 por cento foram apresentados requerimentos para exploração de quase a totalidade da extensão da área.

    Ana Paula explica que somente a terra Yanomami tem mais de 650 requerimentos. “Outras terras menores tem mais de 90 por cento da área requerida, como é o caso de Anta e Araçá. A terra indígena Ponta da Serra tem toda sua extensão solicitada por empresas mineradoras”, diz ela.

    Uma das ações do Ministério Público Federal para evitar aumento de pedidos para exploração mineral em terras indígenas foi a recomendar ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), o indeferimento dos requerimentos em andamento e o cancelamento das autorizações expedidas, conforme explicou Gustavo Kenner, Procurador Regional dos Direitos do Cidadão do MPF/RR. A recomendação foi encaminhada, em 2011, pelo procurador da República Rodrigo Timóteo da Costa e Silva. Ele se baseou no fato de que não existe legislação regulamentando o disposto nos art. 176, parágrafo 1º, e 231, parágrafo 6º, da Constituição Federal de 1988. 

    Garimpeiros

    Ao esmo tempo em que resistem às investidas de companhias mineradoras, o Yanomami estão em outra frente de luta contra a presença de garimpeiros em seus territórios. Eles são em torno de 3 mil somente na região do rio Mucajaí, segundo estimativa feita pelos indígenas e Fundação Nacional do Índio (Funai).

    Em março passado, a FUNAI, juntamente com a Polícia Federal e Polícia Militar realizou a operação ‘Korekorema’ e conseguiu retirar apenas 60 garimpeiros da localidade. “A FUNAI retira, mas eles voltam”, diz David Kopenawa, líder mais conhecido dos Yanomami.

    Há cerca de dois meses, segundo ele, dois jovens foram assassinados a tiros por outros Yanomami que teriam recebido armas e munições dos garimpeiros para enfrentar os indígenas contrários à garimpagem naquela terra. O fato foi comunicado à FUNAI. O local onde o crime aconteceu fica nas proximidades da cabeceira do rio Mucajaí.

     

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  • 23/05/2014

    Boletim Mundo: Índice de suicídios entre indígenas no MS é o maior em 28 anos

    Por Carolina Fasolo,

    de Brasília (DF)

    No dia 3 de abril, quando amanheceu em uma aldeia Guarani-Kaiowá, localizada no sul do estado de Mato Grosso do Sul, a mãe de três filhos abriu a porta de casa e paralisou ao ver o corpo frágil de sua menina mais nova suspenso pelo lençol, amarrado à árvore por um nó que parecia firme. No dia anterior, a garota havia completado 13 anos.

    “A mãe disse que ela chegou da escola muito triste e reclamando de dores na cabeça”, conta Otoniel, liderança Guarani-Kaiowá. “Depois que todos foram dormir ela amarrou o lençol na árvore e se matou. Um primo dela de 12 anos tinha se enforcado uma semana antes. E uns dias depois que ela morreu outro adolescente, de 16 anos, também se suicidou na mesma aldeia. Fui até lá para saber o que estava acontecendo”.

    Os três enforcamentos em menos de duas semanas fazem parte de uma estatística que no ano de 2013 ganhou contornos históricos. Foram contabilizados 73 casos de suicídios entre os indígenas de Mato Grosso do Sul. De acordo com registros do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), é o maior número em 28 anos. Os dados, apurados pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI/MS), constam no Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, a ser divulgado pelo Cimi em junho.

    Dos 73 indígenas mortos, 72 eram do povo Guarani-Kaiowá, a maioria com idade entre 15 e 30 anos. Otoniel acredita que o motivo de tantos jovens cometerem suicídio é a falta de perspectiva. “Não têm futuro, não têm respeito, não têm trabalho e nem terra pra plantar e viver. Escolhem morrer porque na verdade já estão mortos por dentro”.

    O procurador da República Marco Antônio Delfino de Almeida, do Ministério Público Federal (MPF) em Dourados (MS), explica que as oportunidades de trabalho para os indígenas são praticamente restritas a atividades subalternas degradantes, como o corte da cana-de-açúcar. “Temos escolas indígenas, mas o modelo educacional não foi construído para a comunidade, existe apenas uma ‘casca indígena’, que não contempla a inserção do jovem no processo produtivo”, completa.

    “A discriminação e o ódio étnico, condutas incentivadas inclusive pelos meios de comunicação, acentuam sobremaneira o problema dos suicídios. Os indígenas são pintados como entraves, empecilhos, obstáculos ao desenvolvimento. É como se a mídia passasse a mensagem ‘Se você quer ficar bem, tire o índio do seu caminho’, ressalta o procurador.

    13 anos, 684 suicídios

    No período de 1986 a 1997, foram registradas 244 mortes por suicídio entre os Guarani-Kaiowá de MS, número que praticamente triplicou na última década. De 2000 a 2013 foram 684 casos. “As atuais condições de vida desses indígenas, que desembocam em estatísticas assombrosas de violência, têm origem num processo histórico”, explica Marco Antonio Delfino. “O que aconteceu foi uma transferência brutal, por parte da União, de territórios indígenas para não índios”.

    A transferência se deu, principalmente, pelo então Serviço de Proteção ao Índio (SPI) que demarcou, entre 1915 e 1928, oito pequenas reservas no sul do estado para onde diferentes povos indígenas foram obrigados a migrar. “As reservas demarcadas serviam como um depósito gigantesco de mão de obra a ser utilizada conforme os interesses econômicos. Todo o processo de confinamento indígena teve como finalidade sua utilização como mão de obra para os projetos agrícolas implantados no país, desde a cultura da erva-mate até recentemente, com a cana-de-açúcar”, completa o procurador.

    O confinamento compulsório, com a sobreposição de aldeias distintas e de dinâmicas político-religiosas peculiares, acirrou o conflito dentro das reservas, alterando profundamente as formas de organização social, econômica e cultural dos indígenas, o que resultou em índices alarmantes de superpopulação, miséria e violência nestes espaços.

    Definida pela vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat, como “a maior tragédia conhecida na questão indígena em todo o mundo”, a Reserva Indígena de Dourados é um dos exemplos mais contundentes desse processo histórico. Encravada no perímetro urbano do município, na Reserva vivem hoje mais de 13 mil indígenas em 3,6 hectares de terra. É a maior densidade populacional entre todas as comunidades tradicionais do país, e onde aconteceram 18 dos 73 casos de suicídio no estado em 2013.

    “Hoje enfrentamos uma carência extremamente aguda de políticas públicas. Desde 2009 existem discussões para implantar um Centro de Atenção Psicossocial Indígena em Durados mas, por enquanto, não foi adotada nenhuma medida concreta para sua construção”, diz Marco Antonio Delfino. “A impressão que se tem é que as pessoas perderam o controle sobre o monstro que criaram, que são essas reservas. Então, fica nesse jogo de empurra-empurra, sempre com soluções paliativas. Precisamos reconhecer e reparar os erros cometidos para que existam soluções efetivas. O primeiro passo é demarcar os territórios usurpados dos indígenas”, conclui o procurador.

     

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