• 03/06/2014

    Baobá em terra Tupinambá

    Cimi Regional Leste- Equipe Itabuna

                                                                                                                                                                                   

    Perseguição, violência física, psicológica e cultural, criminalização de lideranças, judicialização das lutas, desrespeito as culturas e povos, preconceito, genocídios, crimes contra a natureza, violação de direitos, falta de políticas públicas, descumprimento e ataques a direitos constitucionais duramente conquistados foram alguns pontos abordados na Caravana de Direitos Humanos que aconteceu nos dias 30 e 31 de maio de 2014, na Aldeia Serra do Padeiro, município de Buerarema, Bahia. Tendo como tema: “Violação dos direitos indígenas, uma dura realidade no sul da Bahia”.

    O evento contou com a presença de mais de 100 pessoas, representando diversas instituições do campo judiciário, universidades, movimentos de luta pela terra, pastorais da Igreja católica, quilombolas, pescadores, movimentos estudantis, povos indígenas da região, ONGs, antropólogos e veículos de mídia alternativa.

    Na oportunidade, os participantes puderam visitar alguns pontos da aldeia, e perceberam todo o processo de organização, produção e autossustentabilidade dos Tupinambá da Serra do Padeiro e a enorme riqueza que motiva tanta cobiça e ódios dos seus inimigos. Tais como matas preservadas, os rios despoluídos e os animais andando livremente. Os presentes também tiveram a oportunidade de conhecer um poderoso instrumento de luta do povo, que desnorteia toda a compreensão de luta frente aos seus algozes. A alegria dos Tupinambá em meio as diversidades, o sorriso solto e contagiante do povo apesar de toda a perseguição sofrida deve deixar seus inimigos totalmente furiosos e seus aliados cheios de esperanças.

    Lutas e perseguições foram narradas de forma muita detalhada pelos indígenas, pescadores, quilombolas, pequenos produtores e os empobrecidos pelo sistema. Mas ao mesmo tempo, processos de resistência, lutas coletivas, espiritualidades encarnadas e uma clareza de direitos e da luta que atordoa aqueles que os atacam. Relatos emocionantes que nos remetia ao passado, a suas ancestralidades, que evocava os seus “encantados” e ao mesmo tempo fazia com que fincássemos os pés no presente, nas novas gerações nas novas “lutas” e no enfrentamento do inimigo comum.

    Um encontro cheio de simbologias e “significados”. Na visita a uma ponte construída pelos Tupinambá, ficou claro que ali não era uma simples ponte construída de pedras, ferro, cimento e areia, mas que tinha outros elementos, tais como: esperança, determinação, confiança, auto-estima, liberdade, entre outros. A ponte também não é uma simples passagem para as pessoas e nem para o escoamento da produção, ela nos transporta para uma outra dimensão e nos abre outros “caminhos”, outras possibilidades. Ela nos abre perspectivas novas de luta, de organização, de compreensão de persistência e resistência.

    A unificação da luta, a solidariedade constante, o investimento na formação da juventude, a capacitação das lideranças, o fortalecimento da espiritualidade tradicional, a aposta numa educação alicerçada num “mourão cívico” de cidadania, a interação campo e cidade, ações mais efetivas no campo jurídico, o exercício continuo do controle social sobre as políticas públicas e sobre os direitos conquistados, lutar pelo controle popular do judiciário e sua democratização interna, criar novos espaços e fortalecer os já existentes de: diálogos,  troca de experiência, e de formação.

    Pensar e executar estratégias de enfrentamento a mídia que esta a serviço do grande capital, a exemplo da ação da Serra do Padeiro contra a Rede bandeirantes; Pleitear junto as universidades a inclusão  das questões sociais nas grades curriculares, bem como a participação popular na construção e concepções dos conteúdos; Ampliar para outras regiões as experiências do Tribunal Popular do Judiciário, e Plebiscito Popular. Apoio incondicional e divulgação a Campanha Nacional de Regularização do Território das Comunidades Tradicionais Pesqueiras. Outro ponto ressalto foi o da luta constante contra os instrumentos jurídicos e legislativos que tentam deslegitimar as lutas e retirar os direitos constitucionais, tais como (PEC 215, PEC 038, PEC 237, Portaria 303, PLP 227, PLS 499, entre muitos). Estes foram alguns encaminhamentos propostos no encontro.

    Voltando a falar de simbologia do encontro, rico em relatos de tempos imemoriais, da presença dos encantados e da união dos povos negros e indígenas ao longo da história, não haveria maneira melhor de encerrar o evento, aos pés da enorme pedra sagrada da Serra do Padeiro todos em volta do pé de Baobá, trazido de Guiné Bissau e fincado em solo dos Tupinambá. Na cosmologia dos povos africanos o Baobá surge como o princípio da conexão entre o mundo sobrenatural e o mundo material, elas são testemunhas de um tempo imemorial. Árvore do povo negro plantado em solo indígena.   

    Enquanto o evento acontecia de forma tranquila na aldeia, dois indígenas da região da Serra das Trempes foram violentamente agredidos na cidade de Buerarema, por aqueles que “executam” a política de agressão e ataques aos Tupinambá.

    01 de junho de 2014.

     

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  • 02/06/2014

    Acordos violam o direito dos povos indígenas às suas terras tradicionais

    Cleber Buzatto

    Especial para o UOL

    No site do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), esta semana, se liam duas manchetes sobre a situação dos povos indígenas no Mato Grosso do Sul. Na primeira, os Kaiowá e Guarani exigiam a demarcação imediata das terras. A segunda noticiava o trágico dado de 73 suicídios de indígenas no MS, em 2013, o maior em 28 anos.

    A relação entre as duas notícias não é acidental. Os Kaiowá e Guarani reafirmam que na falta de terras se encontra a raiz do problema: confinada nas reservas superlotadas, criadas no começo do século XX, o que resta à juventude deste povo?

    Há forças políticas que jantam nos salões do Planalto e que defendem a tese segundo a qual os povos indígenas não precisam de terras. No entanto, dizem os jovens Kaiowá e Guarani, “nas reservas não temos mais como caçar e pescar, não se tem mais mata, e isso facilita a entrada de drogas, bebidas alcoólicas e a violência”. E concluem: “Por isso, voltaremos ao território onde temos nossa origem”, completam.

    É sob a luz destes dados que se entende a decisão de dona Damiana Cavanhas, uma liderança de 64 anos, de retomar, pela sexta vez, o território tradicional Apyka’i. Desde 1999, a história do Apyka’i é uma sucessão de despejos e reocupações, sempre carregadas de violência: o acampamento já foi atacado pelo menos três vezes, um senhor de 68 anos foi baleado; dois incêndios queimaram os barracos; e oito pessoas estão sepultadas no local, vítimas de atropelamentos e envenenamento por agrotóxicos. Ninguém foi responsabilizado por qualquer desses crimes.

    Para que as famílias do Apyka’i tenham direito de permanecer em suas terras, justificam os juízes, será preciso que a Fundação Nacional do Índio (Funai) finalize o procedimento demarcatório. Neste ponto os indígenas e a Justiça Federal concordam: a única solução para os conflitos no Mato Grosso do Sul é a demarcação das terras. Um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado em 2007 entre o órgão indigenista e Ministério Público Federal (MPF), concedia o prazo de três anos para a conclusão dos processos administrativos de identificação e delimitação das terras Kaiowá e Guarani. Passados sete anos, apenas um relatório circunstanciado foi publicado.

    O ministro da Justiça José Eduardo Cardozo se esforça para argumentar que essa demora deve-se ao “ajuste de direitos” para que os ocupantes das terras indígenas não busquem na justiça a anulação dos procedimentos demarcatórios. O governo defende que isto será alcançado pelas chamadas “mesas de diálogo” entre o poder público, os povos indígenas e os “proprietários rurais”.

    A proposta dessas mesas foi anunciada após os conflitos na Terra Indígena Buriti, do povo Terena, em 2013, quando o poder judiciário ordenou a reintegração de posse e uma operação de guerra foi articulada pela Polícia Federal, envolvendo a Força Nacional e Polícia Militar, para retirar os indígenas da área. Qual foi o resultado? Oziel Gabriel Terena assassinado pelas forças policiais. Ninguém até agora foi punido pela morte.

    A “mesa” instituída após o episódio, que prometia entregar a terra indígena aos terena até dezembro de 2013, adiou mais uma vez, para julho de 2014,  a posição final do governo federal quanto à proposta de indenização aos não-índios ocupantes da área.

    Nesta sexta-feira, 30 de maio, os terena rememoram um ano da morte de Oziel Gabriel e o único resultado anunciado pelo ministro Cardozo, resultante deste modelo de demarcação inaugurado em sua gestão, é a redução da Terra Indígena Mato Preto, do povo Guarani, no Rio Grande do Sul, de mais de 4 mil hectares para cerca de 600 hectares.

    O ministro celebrou este “ajuste de direitos” como vitória, mas não tardou para que os agricultores da região que se opõem à demarcação anunciassem que não aceitarão tampouco os 600 hectares, e que seguirão com a judicialização da demarcação.

    De fato o que existe é uma “decisão de governo” de não demarcar as terras indígenas no Brasil. As ditas “mesas de diálogo” violam o direito fundamental e constitucional dos povos originários às suas terras tradicionais.

    A presidente Dilma Rousseff e o ministro Cardozo “jantam” nos palácios do Planalto com líderes do latifúndio. Pelos dados de suicídios anunciados, a conta é muito cara e está sendo paga pela juventude Kaiowá e Guarani.



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  • 02/06/2014

    Povos indígenas de Porto Velho reivindicam acordos com Funai

    Povos indígenas de Porto Velho (RO) exigem criação de uma Unidade Gestora da Fundação Nacional do Índio (Funai) no município, depois que  os acordos celebrados em maio foram descumpridos pela instituição. Uma carta com as reivindicações foi entregue ao Ministério Público Federal (MPF), Estadual e à Funai.

    Leia o documento na íntegra:

    Nós, povos indígenas do Município de Porto Velho, Karitiana, Kassupá e Karipuna, na manhã do dia 27 de maio de 2014, ocupamos a sede da CTL/Porto Velho/RO, tendo em vista o não cumprimento do acordo feito com a equipe da Funai/Brasília, (Assessoria da Presidência, Coordenação de Gestão Pessoal, Setor de Promoção Social), na data de 08 de abril, na sede da CTL/PVH.

    Neste encontro com a equipe Funai/Brasília, foram discutidos os seguintes pontos:

    A precariedade dos serviços da Funai/PVH: não há fiscalização dos nossos Territórios; o Posto de fiscalização na linha 61 sentido Jaci – Paraná se encontra abandonado; não há repasse de informações sobre a compensação do Santo Antonio Energia, ausência de projetos autosustentáveis, etc.

    Ficou decidida nesta reunião a demolição de todo os prédios que ocupam espaço como sede da Funai/PVH e alojamentos, pois se encontram em total estado de insalubridade.

    Ficou acertado também que, durante o período de construção do novo prédio, a Funai daria suporte aos povos indígenas com relação a transporte para fazer o deslocamento dos indígenas de retorno até as suas respectivas, também ficou acordado que viabilizariam um local em Porto Velho para os estudantes indígenas, uma vez que os mesmos após a demolição não teriam aonde residirem. Com relação aos indígenas que trabalham na cidade de Porto Velho e residem nos alojamentos da Funai, foi acordado que dariam um prazo até o dia 22.05.2014, tempo suficiente para encontrarem uma casa. Também foi tratada a questão dos indígenas em trânsito que se deslocam da aldeia até a cidade para venderem artesanatos, os mesmos informaram que teriam um lugar para eles.

    Quanto à mudança de gestão da Funai/PVH seria feito uma avaliação e caso houvesse necessidade de uma alteração no quadro de funcionários/servidores, nós povos indígenas seríamos consultados.

    A data limite para desocupação do prédio ficou estipulada para o dia 22 de maio deste ano, mas a desocupação total não aconteceu, em virtude de falta de informação referente aos quesitos formais que foram acordos e também a falta de apoio da FUNAI/BSB, por esses e outros motivos até o momento nada foi concretizado.

    No dia 27 de maio, tivemos acesso a portaria número 512 e 514 mencionando que o Sr. Maury da Silva Lima e Ademir Custódio Ferreira foram nomeados para exercerem o cargo em comissão de chefe, código DAS 101.1 da Coordenação Técnica Local em Porto Velho/RO sem qualquer consulta a nós indígenas.

    Nós, povos indígenas repudiamos esta atitude e não aceitamos estes nomes acima nomeados para a coordenação da CTL/PVH.

    Nossa reivindicação neste momento se baseia em que nada foi cumprido do acordo feito na reunião de 24 de abril de 2014 com a equipe Funai/Brasília e lideranças indígenas.

    Portanto exigimos:

    A criação de uma Unidade Gestora em Porto Velho, desvinculada de Ji-Paraná, com condições de trabalho e descentralização de recursos que atendam as necessidades das comunidades indígenas de curto, médio e longo prazo.

    E que os cargos de coordenadores das CTL´s desta Unidade Gestora sejam indicados e aprovados pelos indígenas.

    Que o Comitê indígena faça parte de todas as decisões referentes às mudanças que ocorrerem nesta Coordenação Técnica Local.

    Que a demolição e construção dos prédios da Funai/PVH e alojamentos sejam iniciadas imediatamente, logo após a saída dos estudantes indígenas para outro alojamento fornecido pela Funai.

    O projeto arquitetônico desta construção deve ser apresentado e aprovado por nós indígenas da região de Porto Velho.

    Que o retorno destas reivindicações nos sejam dadas até 09 de junho de 2014, caso contrário ocuparemos o prédio da Funai/PVH e tomaremos outras medidas responsabilizando a própria Funai pelo que pode vir a ocorrer.


    Com cópia para:

    Ministério Público Federal

    Ministério Público Estadual

    Funai/Brasília

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  • 31/05/2014

    Perdemos um grande guerreiro!

    Com pesar, informamos o falecimento do líder Kaingang, Augusto Open da Silva, 58 anos. Ele estava com câncer e em tratamento médico há mais de dois anos. Infelizmente, na tarde deste sábado, 31 de maio, acabou falecendo. Estava em sua casa, na terra indígena de Iraí, a terra pela qual lutou incansavelmente.

     

    Augusto destacou-se como uma das mais importantes lideranças Kaingang das últimas décadas, em função de sua luta pela demarcação e garantia das terras indígenas no Rio Grande do Sul. Em audiência com representantes dos governos federal e estadual, em 04 de agosto de 2013, ele afirmou que o direito às terras tradicionais está previsto na Constituição de 1988 e as comunidades indígenas “não vão arredar pé”. Referindo-se às terras tradicionais indígenas sobre as quais foram concedidas titulações indevidas pelo estado do Rio Grande do Sul a agricultores, Augusto foi categórico: “o governo deve garantir as demarcações de terras aos índios e quilombolas, como previsto em lei, e indenizar os pequenos agricultores a quem a União vendeu uma mula roubada”.

     

    Augusto se destacou pela  perspicácia política diante das autoridades públicas que constantemente tentavam  convencer as lideranças indígenas a negociarem seus direitos constitucionais (especialmente o direito a terra), e a aceitarem a troca de áreas tradicionais por áreas compradas pelo governo. Augusto era um líder respeitado, um “tronco velho”, e sua firme posição em defesa da terra mobilizou e encorajou o povo Kaingang a continuar na luta.

     

    A voz do líder Kaingang se calou, mas seus conselhos, reiterados tantas vezes com sutileza e serenidade, vão continuar ecoando: “São mais de 500 anos de desrespeito à cultura do nosso povo, e de discriminação e preconceito que estamos sofrendo. Nós lutamos, nós resistimos, nós estamos também fazendo história. Nós somos Kaingang, temos o nosso direito e vamos continuar lutando juntos para termos um futuro!”.

     

    Sua vida dedicada aos direitos indígenas e às causas populares, bem como as inúmeras ações voltadas para mobilizar, organizar e encorajar seu povo, servem como exemplo a todas as pessoas que lutam por justiça, e que se empenham na construção do bem viver.

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  • 30/05/2014

    Sônia Guajajara para Rel-Uita:

    “Quem está subvertendo a ordem é o próprio Congresso, em um plano de extermínio dos povos indígenas. O Congresso Nacional quer acabar com as Terras Indígenas”

    A Rel dialogou com Sônia Guajajara, integrante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e coordenadora do Protesto que ocorreu terça-feira 27 em frente ao Supremo Tribunal Federal, em Brasília, com a participação de representantes de mais de cem povos indígenas. As manifestações que estão ocorrendo em Brasília denunciam a redução das terras indígenas, a discriminação e violação dos direitos indígenas.

    Depois de protestarem em frente ao Congresso, os representantes indígenas protocolaram queixa-crime contra os deputados federais Luís Carlos Heinze (PP/RS) e Alceu Moreira (PMDB/RS), por terem incitado a violência contra os povos indígenas, quilombolas, gays e lésbicas em um vídeo publicado na internet, referindo-se a eles como “tudo que não presta no Brasil”.

    -Sônia, qual é o foco dessas manifestações que estão acontecendo nessa semana em Brasília?

    -Nosso foco é um só: A violação de nossos direitos. Você sabe que há uma regressão e um ataque do Congresso Nacional aos direitos indígenas, colocando em foco diretamente a questão da terra. Há uma paralisação da demarcação das terras indígenas. É importante dar a maior visibilidade possível para esta gravíssima questão.

    Todas as PECs que estão tramitando no Congresso caminham no mesmo sentido, negar as terras aos povos indígenas, mudar a Constituição e legalizar a exploração das terras em solo indígena, pelos ruralistas, pelo agronegócio, pelas mineradoras.

    Todas as medidas que estão no Congresso Nacional, seja por meio de PEC ou de PL, possuem este foco, tomar as terras indígenas. Acabar com este direito.

    -E por quê?

    -Porque no Brasil o que realmente está acontecendo é um interesse econômico fortíssimo, e como não há mais nenhuma terra pública para a produção o que eles estão enxergando para fazer crescer o país são as terras indígenas, para utilizá-las para a produção em nome do capital.

    Estamos num momento muito complicado, e essa luta é para manter os nossos direitos e estamos sendo muito criminalizados por isto. Muitas lideranças indígenas estão sendo presas, em suas regiões, porque estão lutando pela terra.

    E aí temos que vir até Brasília para denunciar essa situação, e enfrentar uma polícia truculenta. Levaremos ao Congresso seis indígenas feridos a bala, por causa das repressões contra a nossa manifestação.

    Além dos seis indígenas, um fotógrafo da Reuters e um padre também foram feridos durante o ataque da polícia.

    -O que você tem a dizer sobre a criminalização dos povos indígenas?

    -A situação hoje é bem grave. Temos várias lideranças indígenas presas, acusadas de formação de quadrilha, quando na verdade estão lutando em suas terras, sendo acusadas de crimes, como sequestro e roubo, e criminalizadas sem provas.

    Os próprios deputados usam a mídia para incitar a violência contra os povos indígenas.  Ontem, nós entramos com uma queixa-crime no Supremo Tribunal Federal (STF) contra dois deputados, por terem feito discursos agressivos incitando violência contra os povos indígenas.

    E nós cobramos um posicionamento do STF, em relação a esta postura dos deputados. Já que eles enquanto representantes parlamentares do povo não podem se utilizar desse lugar para intensificar os conflitos no campo.

     A República dos Ruralistas

    -Em sua opinião, há uma articulação dentro do governo?

    -Claro! Todos os poderes, Legislativo, Executivo e Judiciário estão articulados contra os direitos indígenas. O Judiciário em sua lentidão demora muito e nunca conseguimos ver nossas terras demarcadas.

    O Executivo porque se alia ao Legislativo, já que ambos têm interesses em comum. E o interesse é também de campanha, porque o agronegócio é o que acaba financiando as campanhas eleitorais.

    E com isso a aliança entre eles é muito forte dentro do Congresso. Os deputados são eleitos com esse dinheiro, e esses três Poderes que estariam para garantir os direitos da população e a democracia, o que fazem é se aliar ao Poder Econômico dos Ruralistas.

    E aliada a eles, não podemos nos esquecer, está a Grande Mídia. Porque a mídia praticamente é toda de políticos que querem jogar para a população uma versão diferente da realidade, para gerar na sociedade uma ideia errada sobre as lutas dos povos indígenas do Brasil. E a população fica desinformada.

    -O que, então, você gostaria que a população soubesse?

    -Que estamos lutando pelos nossos direitos, pela nossa existência enquanto povos, pela nossa sobrevivência, buscando visibilidade, ser escutados, e avisar ao mundo que nossa luta não é por privilégios, é por direitos. Simplesmente isso. E outros movimentos já estão se unido a nós, entre eles o MST, os quilombolas e os extrativistas.

    É importante alertar que quem reverteu tudo não fomos nós. Quem está subvertendo a ordem é o próprio Congresso.

    A população precisa abrir os olhos e entender que o que existe hoje é uma República Federativa Ruralista do Brasil, e por isso criamos o site A República dos Ruralistas, para denunciar esse absurdo incontestável, quem hoje manda, legisla e dirige a política no Brasil são os ruralistas, seja na bancada ruralista, seja fora dela.

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  • 30/05/2014

    Povo Ka’apor denuncia invasão de madeireiros nas terras indígenas do Maranhão

    O povo Ka’apor, da Terra Indígena Alto Turiaçu, no Maranhão, divulgou carta exigindo expulsão de madeireiros de seu território. De acordo com os indígenas, o avanço da exploração ilegal de madeira tem ameaçado a comunidade. “Estamos reféns dentro de nossa própria casa. Não podemos andar nas cidades da região, não podemos usar os serviços e acessar benefícios. Não podemos realizar nossas caçadas e trabalho de roça próximo aos limites que somos ameaçados”, diz trecho da carta.

    Leia o documento na íntegra:

     

    “A morte da floresta é a morte de nosso povo” – Ameaças, perseguições e agressões aos Ka’apor na Terra Indígena Alto Turiaçu, Maranhão

     

    É com muita tristeza que nós, povo Ka’apor, da Terra Indígena Alto Turiaçu continuamos denunciando as agressões e invasões de nosso território. Mesmo a gente realizando autovigilância, autofiscalização e limpeza dos limites com identificação dos marcos demarcatórios com recursos e esforços próprios não estamos sendo respeitados em nossos direitos. Está sendo difícil realizar o trabalho de proteção com tamanha estrutura de armamento e violência que a gente vem sofrendo pelos madeireiros. 

    Após várias operações realizadas pela policia federal e ambiental (do Estado), Exército, Funai e Força Nacional em outros territórios indígenas e áreas de proteção no Maranhão, a maioria veio para nossa região para retirar madeira. Nossa área é a única no Maranhão que possui uma área extensa de floresta. Esses órgãos do governo e funcionários da Funai fazem ações expulsando os agressores, mas não dão suporte e nem criam postos de vigilância e proteção. Com isso, ficamos mais expostos a ameaças e violência pelos agressores. Vários jovens e lideranças que fazem parte de nosso projeto que estão ajudando a proteger e vigiar nosso território estão ameaçados, perseguidos e não podem sair de suas aldeias.

    Os madeireiros estão se concentrando em dois ramais chamados quadra “45” e “50”, município de Centro do Guilherme. A maioria dos agressores veio dos municípios de Buriticupu, São João do Caru, Paragominas (Pará), Santa Luzia do Paruá, Zé Doca e Encruzo. Possuem fazendas e serrarias nestes municípios. Contam com apoio da prefeita do município de Centro do Guilherme que pavimenta as estradas para facilitar a retirada da madeira. Fala que “precisa ter arrecadação no município e a madeira que está ajudando o município crescer. Se as serrarias param e são fechadas pela policia, o município pára também”.

    A maioria das licenças ou planos de manejo concedidos pela prefeitura aos agressores e apresentados por eles na Policia Rodoviária e Postos de Fiscalização Estadual da região são falsos. Pois, nos municípios da região não existem reservas, áreas de reflorestamento e manejos florestais, somente a nossa área possui floresta e árvores nativas.

    Esses municípios invadiram nosso território, mataram e expulsaram muitos parentes nossos no passado que tiveram que se esconder, misturar com os brancos para não morrer. Agora, continuam a invadir dia e noite nosso território. Estão entrando e matando nossa floresta, querendo destruir nossa casa e deixar a gente com fome como as pessoas nas cidades.

    Desde Outubro do ano passado a gente vem realizando esse trabalho de fiscalização e janeiro deste ano nossos pesquisadores indígenas iniciaram o trabalho de etnomapeamento de nosso território quando foram recebidos com balas nas costas pelos madeireiros. Ninguém tomou providencias e os agressores continuam soltos até hoje.

    A polícia da região acaba ajudando esses agressores que trabalham fazendo a proteção de fazendas, serrarias e comércios. Nossas atividades estão paralisadas por conta da invasão de nosso território. Já comunicamos os fatos aos órgãos governamentais, ninguém responde e toma providencias que possa impedir a continuidade da violência contra nosso povo.

     Estamos reféns dentro de nossa própria casa. Não podemos andar nas cidades da região, não podemos usar os serviços e acessar benefícios. Não podemos realizar nossas caçadas e trabalho de roça próximo aos limites que somos ameaçados.

    Não vamos mais aceitar que continuem mandando em nossa terra. Vamos continuar defendendo, protegendo, fiscalizando e realizando a gestão de nosso território. Se acontecer mais violências contra a gente vamos responsabilizar o Estado Brasileiro, a Funai, a governadora Roseana Sarney que governam para os ricos, fazendeiros, madeireiros, que roubam nossos bens, perseguem e matam nossas lideranças.

    Pela saída imediata dos madeireiros de nosso território.

    Povo Ka’apor da Terra Indígena Alto Turiaçu, Maranhão.

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  • 30/05/2014

    Ministro indica que manterá suspensas demarcações de Terras Indígenas e insiste em mudar procedimentos

    O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sinalizou que vai manter a suspensão das demarcações de Terras Indígenas (TI) em todo País e informou que vai insistir em modificar os procedimentos demarcatórios, conforme proposta que veio a público no final de 2013 (saiba mais).

    Cardozo teve uma reunião, na tarde de ontem (29/5), em Brasília, com líderes indígenas depois que, às 8h da manhã, as mais de 500 pessoas que participaram da Mobilização Nacional Indígena nesta semana interditaram as entradas do Ministério da Justiça e ocuparam parte do Eixo Monumental, principal via do centro de Brasília. Um grupo de quilombolas também participou da manifestação.

    Pouco antes do encontro com o ministro, cinco índios acorrentaram-se ao mastro da bandeira do Brasil, em frente ao ministério, e arriaram o pavilhão nacional a meio mastro para simbolizar o luto dos povos indígenas pelo descaso do governo com seus direitos. Eles também hastearam uma bandeira negra no mastro ao lado que pedia que Cardozo assinasse portarias declaratórias de TIs. O protesto foi pacífico, apesar da presença de um grande contingente de policiais dentro e fora do prédio ao longo do dia.

    Segundo os lideres indígenas, o ministro afirmou que seguirá implantando “mesas de diálogo” locais – envolvendo governos, produtores rurais e índios – para discutir as demarcações sob a justificativa de evitar a judicialização desses processos. Para o movimento indígena, na prática, esse expediente está paralisando a oficialização de novas TIs.

    Atividade eleitoreira

    “Ele disse que não irá assinar nada, nenhuma portaria declaratória, que irá insistir na tentativa de construir ‘mesas de diálogo’ porque é nessas mesas que há a possibilidade de promover a negociação nos conflitos em áreas indígenas”, informou Wilton Tuxá, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). “O que o governo quer é fazer acordos políticos para ganhar votos. O travamento das demarcações é uma atividade eleitoreira. Certamente os povos indígenas do Brasil vão dar uma resposta a este governo”, finalizou Tuxá.

    De acordo com uma liderança indígena que participou da reunião, Cardozo disse que é necessário negociar com os produtores rurais mesmo nos processos onde não há contestação judicial porque, quando a demarcação avança, novos conflitos aparecem.

    “A reunião foi péssima porque o ministro não demonstrou que tem interesse em resolver nosso problema. Ele não quer se prejudicar com os ruralistas”, avaliou Sônia Guajajara, da coordenação da Apib.

    Em nota, o ministro afirmou apenas que sua ”pasta está empenhada em encontrar soluções para as questões apresentadas por meio da mediação”.

    Os líderes indígenas entregaram uma carta com suas reivindicações. Nela, exigem que Cardozo dê sequência às demarcações e arquive de vez sua proposta de alterar o procedimento de formalização das TIs, a qual, na prática, pode paralisar definitivamente as demarcações (veja aqui).

    São 37 os processos de demarcação nas mãos do ministro hoje (leia a lista). Sem pendências, eles aguardam apenas a assinatura das portarias declaratórias que reconhecem a posse permanente das comunidades indígenas sobre seus territórios.

    A Mobilização Nacional Indígena terminou as atividades de uma nova rodada de manifestações em Brasília ontem, depois da reunião. O objetivo foi protestar contra a série de propostas e medidas do governo federal e do Congresso que atentam contra os direitos territoriais indígenas (leia mais).

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  • 30/05/2014

    MPF processa União e Funai por demora na demarcação da terra Munduruku Sawré Muybu

    O Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação civil pública na Justiça Federal de Itaituba contra a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a União Federal pela demora na demarcação da terra indígena Sawré Muybu, de ocupação tradicional do povo indígena Munduruku, localizada nos municípios de Trairão e Itaituba/PA, no médio curso do rio Tapajós. O procedimento de demarcação se arrasta há 13 anos e foi paralisado inexplicavelmente ano passado quando quase todos os trâmites administrativos já estavam concluídos.

    De acordo com o procurador da República Camões Boaventura, que entrou com a ação na Justiça, “o objetivo é a efetiva e adequada tutela dos direitos indígenas, especialmente a garantia da posse exclusiva das terras indígenas, de modo que seja concretizado o dever constitucional de demarcar as terras por eles tradicionalmente ocupadas.” Além disso, a ação requer a condenação das requeridas em danos morais coletivos perpetrados contra os grupos indígenas, em virtude da abusiva demora na conclusão do procedimento demarcatório.

    O processo de demarcação da área citada, com pouco mais de 178 mil hectares, teve início formal em 31 de janeiro de 2001. Na ocasião, a presidência da Funai constituiu o primeiro grupo técnico para realizar estudos e levantamentos preliminares para identificação das aldeias Munduruku situadas ao longo da calha do Tapajós. Já em 2007, a presidência da Funai reinstitui o Grupo Técnico para realizar os estudos de identificação e delimitação. O Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação (RCID) está pronto desde 13 de setembro de 2013.

    Mas a Funai descumpriu o rito legal previsto para o procedimento de demarcação e deixou de publicar o resumo do relatório no Diário Oficial da União e paralisou a demarcação quando a Terra Indígena Sawré Muybu já estava com toda a documentação pronta para homologação e registro. Questionada pelos Munduruku e pelo MPF, a Funai não respondeu. Os ofícios enviados pelos procuradores da República que acompanham o caso não tiveram nenhuma resposta da Funai, o que, para o MPF “demonstra o total descaso da presidência da Funai com as requisições do MPF e com os reclames do grupo indígena”.

    A demora na demarcação provoca inúmeros danos aos Munduruku do médio Tapajós, ameaçados constantemente por invasões de madeireiros e garimpeiros. Estudos feitos pela própria Funai (na Coordenação Regional do Tapajós) demonstram, através de imagens de satélite, a existência de vários ramais clandestinos abertos por madeireiros para desmatamento ilegal no interior da terra indígena. Outro grave prejuízo é que a área Sawré Muybu deve ser alagada pelas usinas hidrelétricas de São Luiz do Tapajós e Jatobá, que o governo quer construir no rio.

    O povo indígena deve perder, com o alagamento, uma de suas aldeias, roças, locais de coleta e caça, zonas de pesca e um cemitério ancestral, se as projeções estiverem corretas.“Em empreendimentos desse porte, são esperadas mudanças limnológicas e paisagísticas drásticas, no comportamento dos rios (Tapajós e Jamanxim) e de seus afluentes, na ictiofauna, na entomofauna e na vegetação, além dos problemas sociais, econômicos e de infraestrutura gerados em função da implantação do canteiro de obras”, já atestam os primeiros estudos de viabilidade das usinas. Com a demora no reconhecimento no território que ocupam secularmente, os moradores da Sawré Muybu, maiores prejudicados pelos projetos governamentais, não terão reconhecido seu direito à consulta e compensação.

    O processo tramita na Vara Federal de Itaituba com o número 1258-05.2014.4.01.3908

     

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  • 29/05/2014

    Lideranças indígenas são recebidas por ministro da Justiça

    Depois de algumas horas de impasse, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, resolveu ceder e receber uma comissão de 18 representantes indígenas de todo o país. Um quilombola também integra a comissão.

    Pouco antes, cinco índios acorrentaram-se ao mastro da bandeira do Brasil, em frente ao Ministério da Justiça, e arriaram o pavilhão nacional a meio mastro para simbolizar o assassinato de várias lideranças indígenas nos últimos anos e o desprezo do governo pelos direitos indígenas.

    “Estamos aqui desde as 8 da manhã. O que é receber 20 lideranças, pra 600 que estão aqui? Não tem espaço, não tem cadeira. Não importa, a gente senta no chão! O que a gente quer é a garantia dos nossos territórios. E aqui estão os parentes, com esse ato, acorrentados, mostrando que sem a nossa terra é assim que nós ficamos. Acorrentados. Presos. E viemos aqui simplesmente exigir o direito dos povos indígenas”, discursou Sonia Guajajara, da diretoria da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

    Desde as primeiras horas da manhã de hoje (29/5), os cerca de 500 índios que integram a Mobilização Nacional Indígena fecharam as entradas do ministério da Justiça, em Brasília, e também ocuparam algumas faixas do Eixo Monumental, em frente ao prédio, via do centro da cidade.

    Nesta reunião, a comitiva fará a entrega de uma carta (leia aqui) com suas reivindicações ao Ministro. Nela, os indígenas exigem que José Eduardo Cardozo dê sequência às demarcações de Terras Indígenas em todo país e arquive de vez sua proposta de alterar o procedimento de demarcação – o qual, na prática, pode paralisar definitivamente as demarcações.

    São 37 os processos de demarcação nas mãos de Cardozo; veja aqui a lista. Sem pendências, eles aguardam apenas a assinatura das portarias declaratórias que reconhecem a posse permanente das comunidades indígenas sobre seus territórios.

    Um grupo de cerca de 300 quilombolas juntou-se aos indígenas e protesta contra a Proposta de Emenda Constitucional 215, que pretende atribuir ao Congresso a competência de reconhecer de Terras Indígenas, Unidades de Conservação e territórios remanescentes de quilombo. Até agora, o movimento é pacífico. Dentro do Ministério há um batalhão da Força Nacional de Segurança desde o início da manhã.

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  • 29/05/2014

    A copa é espaço da política

    De repente, como se fosse uma surpreendente novidade, os jornalistas brasileiros abrem manchetes nos jornais, informando à população de que “índios disparam flechas em protesto na capital federal”. Como sempre acontece, desde há 500 anos, os povos indígenas, quando “no seu lugar”, ou seja, bem quietinhos, nas reservas definidas para eles, ou chorando pitangas, são alvo de comiseração. E, quando muito, no 19 de abril, pode-se falar deles, no passado, como se fossem uma etapa já superada da integração nacional. Mas, basta que se levantem em luta pela demarcação de suas terras, ou contra os sucessivos golpes que o agronegócio vem dando na tentativa de se apossar das terras ricas, para que as forças de manutenção do “estado das coisas” iniciem suas cruzadas contra o que consideram “atraso”. Os índios são atraso, sempre.

    As vozes que se expressam nos jornais e TVs questionam a necessidade de tanta terra demarcada para tão pouco índio. São cerca de 896 mil no Brasil de hoje. A considerar que a nação tem 180 milhões de almas, esses 896 mil seriam como uma ferida, dessas, que não sara, “incomodando” a vertiginosa saga do progresso. Há um desejo muito claro dos latifundiários e mineradores em se apropriar das largas extensões de terra indígena, ainda protegidas, que guardam riquezas sem fim, seja no que diz respeito a mananciais de água ou minérios. Daí a necessidade de inocular na opinião pública a ideia de que eles são o atraso. Melhor seria que se “integrassem” à sociedade brasileira, acabando de vez com essa “incomodação” que é a necessidade de demarcar territórios para que eles vivam “isolados”. E não bastasse toda a campanha contra o direito de os indígenas terem sua terra, ainda os condenam por querer permanecer na “pré-história”, que é como definem o direito de terem sua própria cultura.

    Não é sem razão que a opinião pública vai sendo bombardeada com a “insensatez” dos indígenas em quererem mais terra para viver. Afinal, já não têm as reservas? Que mais querem? Os meios de comunicação não informam que desde 2012 a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou a Emenda Constitucional 215 – que ainda tramita no Congresso – um tremendo retrocesso legal articulado pelas bancadas dos ruralistas e dos evangélicos. Com essa emenda fica na mão dos deputados a decisão sobre a titulação das terras não só dos indígenas, mas também dos quilombolas. Ora, essas bancadas são as representações do capital internacional concretizados em empresas como a Monsanto, Bayer, Syngenta, Cargill e outras, todas ligadas ao agronegócio, que vem abrindo novas fronteiras agrícolas em estados como o Mato Grosso do Sul e Amazônia, espaços onde ainda têm muito índio. Daí a necessidade de ter o controle das demarcações. E é contra isso que os povos indígenas estão em luta.

    A velha batalha por demarcação, que ainda precisa ser feita, é o que levou os indígenas à Brasília nesse 27 de maio. Porque os governos de Lula e Dilma Roussef foram os que menos homologações de terra fizeram desde o primeiro governo civil, na década de 80. Dilma realizou apenas 7 homologações, embora existam hoje 339 terras indígenas já identificadas sem que qualquer providência tenha sido tomada. Isso sem falar das outras 293 áreas em processo de estudo. Fica clara, portanto, a completa omissão do governo federal diante da tragédia vivida pelas famílias indígenas. Também no ano de 2012, conforme relatório do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) aumentaram os casos de conflitos e mortes envolvendo indígenas, fruto das invasões efetuadas por fazendeiros para a exploração ilegal de recursos naturais.

    É com esse pano de fundo que as comunidades originárias se insurgem dentro do universo de prioridades do governo nesses tempos de Copa do Mundo. Eles sabem que o governo federal definiu, de forma célere, uma lei que dá superpoderes à FIFA e seus parceiros do campo empresarial. Ora, se há ligeireza para atender aos interesses das empresas transnacionais, por que não haveria para demarcar as terras que estão sendo esperadas há décadas? E foi essa luta que os indígenas foram travar nesse maio, em Brasília. Como havia uma manifestação marcada por sem-teto, sindicalistas e outros trabalhadores aglutinados no Comitê Popular da Copa DF, os indígenas se uniram ao coro de protestos.

    É claro que a mídia comercial, ávida por factoides, haveria de dar destaque a uma flecha que foi parar na perna de um policial. Pouco importa saber que os policiais estavam fortemente armados, que jogaram gás, que irromperam com cavalos, visando impedir que os manifestantes chegassem ao Estádio Mané Garrincha, recentemente reformado para a Copa. A caminhada até lá, onde está erguida a Tenda da Copa do Mundo, visava justamente aproveitar a visitação das pessoas à taça mundial, para um diálogo sobre as reais necessidades das gentes. Os indígenas tinham planejado fazer um ritual junto à taça mas, como os demais manifestantes, foram impedidos de chegar até o local.

    As fotos nos jornais mostram os indígenas em atitudes “ameaçadoras”, com suas flechas de pau contra policiais fortemente armados e à cavalo. E no imaginário de quem vê, os “perigosos”, são, obviamente, os índios. Também fica óbvio que “essa gente”, incluindo aí os sem-casa, os sem-trabalho e os trabalhadores em luta, são pessoas sem um mínimo de “patriotismo”, uma vez que estão se insurgindo contra um evento que vai trazer tantos benefícios ao país.

    A presidente Dilma, no Palácio do governo, conversava com empresários no momento do protesto. Suas declarações, pós conflito, são simplórias. “Não dá para usar a Copa para fazer política”, reclamou, como têm reclamado também os partidários do PT e outros apoiadores do governo. Ora, é kit básico da luta política, aproveitar momentos como esses para fazer política sim. É o momento perfeito para a grande política, aquela que pensa de forma totalizante os problemas estruturais do país, como é o caso da concentração da terra, seja no campo ou na cidade. Se não for agora, quando os movimentos poderão conseguir visibilidade? Não foram os trabalhadores que decidiram pelo megaevento. Mas, se ele aí está, com todas as suas mazelas presentes e futuras, essa é a hora perfeita para que as demandas das gentes aflorem e se expressem. Um governo com sensibilidade deveria saber disso e atuar em consequência. Se teve força para trazer a Copa do Mundo para o Brasil, há que ter condições de dialogar com os movimentos e discutir por que determinados assuntos não estão caminhando, enquanto outros seguem como se estivessem numa Via Expressa. As gentes querem saber por que as empresas estrangeiras terão prioridade e exclusividade de ganhos no grande banquete do mundial. E o governo deveria ter a dignidade de responder.

    O fato é que agora é hora da festa, dos turistas, da burguesia nacional, dos aficionados pelo futebol, que não se importam com a política que está por trás do evento. Sim, porque a Copa é um assunto político. E o governo está fazendo política com a Copa, exatamente como os trabalhadores, os sem-teto, os indígenas. Todos estão a fazer política. Então, é preciso que a opinião pública saiba disso, e desde aí, do conhecimento, se posicione. O que não dá é para jogar um manto protetor sobre a Copa, como se fosse apenas uma linda e alegre festa popular, a qual alguns “malfeitores” estão querendo estragar. Não é. Aí se joga também o jogo da política, as alianças, os acordos, as benesses, os compromissos futuros.

    É por isso que nas ruas as gentes também fazem política. A grande política. A que desvela as chagas abertas de um país dependente, que se desenvolve dentro do subdesenvolvimento gerado pelo sistema capitalista, esse, que exige sempre que um seja pobre para que outro possa acumular riquezas. É claro que se a direita se aproveita dessa incapacidade governamental de dialogar com as massas, aí já não pode ser um problema imputado aos trabalhadores e aos lutadores sociais.

    O fato é que, para além do factoide, da flecha na perna do policial, há um número bastante expressivo de brasileiros que sabe o que é o jogo político que se esconde junto ao Mundial de Futebol, e, acertadamente, faz o seu.

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