• 25/09/2014

    Fraude em licitação do DSEI/BA: Operação Frota cumpre mandados de busca e apreensão em Salvador e Brasília

    A licitação para fornecimento de transporte de indígenas foi marcada por fraudes que resultaram em prejuízo de, pelo menos, R$6,4 milhões.

    Por meio da Operação Frota, deflagrada nesta quinta-feira, 25 de setembro, a pedido do Ministério Público Federal na Bahia (MPF/BA), a Polícia Federal cumpriu 16 mandados de busca e apreensão com o fim de apurar esquema criminoso de fraude em licitação do Distrito Sanitário Especial Indígena na Bahia (DSEI/BA), que resultou na contratação da empresa San Marino Locação de Veículos e Transportes Ltda. para realizar o transporte de indígenas a partir de 2013.

    As investigações foram iniciadas a partir de ação fiscalizatória da Controladoria-Geral da União na Bahia (CGU), que identificou a existência de sobrepreço avaliado em, pelo menos, 12,8 milhões de reais, bem como de superfaturamento de 6,4 milhões, em razão de serviços não executados.

    Verificou-se que, desde o primeiro momento, a condução do certame destinou-se a restringir a competitividade e assegurar a contratação da Empresa San Marino Ltda. Entre os crimes investigados, estão a frustração ao caráter competitivo do procedimento licitatório e a fraude em licitação, previstos nos arts. 90 e 96, I e V, da Lei nº 8.666/1993, além de formação de quadrilha, previsto no pelo artigo 288 do Código Penal.

    São diversas as evidências do direcionamento da licitação, como a opção pela modalidade licitatória do pregão presencial, contrariando a legislação ao restringir o universo de empresas aptas a participar da disputa. Cinco das seis empresas convidadas para apresentar cotações situavam-se na capital federal, não havendo justificativa para a exclusão de empresas de Salvador/BA, sede do DSEI/BA, no processo. Além disso, três empresas que apresentaram cotação de preços estavam situadas no mesmo prédio em Brasília, pertencendo a um só comando familiar.

    As investigações apontaram, ainda, que foi adotado o sistema de registro de preços para estender a licitação fraudulenta para outros Distritos Sanitários do Ministério da Saúde, apesar da existência de condições peculiares para a prestação dos serviços nos diferentes estados do país.

    Atuação da Divisão de Combate à Corrupção do MPF/BA

    Em razão das graves fraudes verificadas, a Divisão de Combate à Corrupção do MPF/BA propôs, anteriormente, ação civil pública visando à anulação do Pregão Presencial nº 07/2013, lançado pelo Distrito Sanitário Especial Indígena na Bahia (DSEI/BA), e a reparação dos prejuízos causados ao erário.

    A Justiça Federal autorizou pedidos liminares, que resultaram na indisponibilidade dos bens da empresa, assim como a dos seus sócios proprietários, no bloqueio de cerca de R$ 5 milhões e na suspensão do Pregão Presencial nº 07/2013 do DSEI/BA e do contrato dele decorrente firmado com a empresa San Marino.

    De acordo com a decisão, datada de 21 de julho, os efeitos do pregão ficam suspensos e nova licitação deveria ocorrer no prazo máximo de 30 dias. Enquanto isso, os serviços prestados pela San Marino Ltda. deveriam ser mantidos, a fim de assegurar a prestação do serviço de transporte de indígenas, excluindo-se, entretanto, o sobrepreço identificado pela CGU.

    Número para consulta processual na Justiça Federal – ação civil pública – 0025983-39.2014.4.01.3300 – JFBA

    Número para consulta processual na Justiça Federal – processo cautelar – 25981-69.2014.4.01.3300 – JFBA

    Assessoria de Comunicação

    Ministério Público Federal na Bahia

    Tel.: (71) 3617- 2294/2296/2200

    E-mail: prba-ascom@mpf.mp.br

    www.twitter.com/mpf_ba

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  • 25/09/2014

    Relatório recomenda remover aldeias e alagar área indígena para construir usinas no Tapajós

    O Ministério de Minas e Energia adiou, no último dia 17, o leilão da Usina Hidrelétrica São Luiz do Tapajós, no Pará, alegando a necessidade de adequar estudos indígenas. Era o mínimo a ser feito, tendo em vista que, desde a construção da Usina Hidrelétrica de Balbina, em Presidente Figueiredo (AM), um projeto tão violento e ilegal contra os índios e, portanto, contra a sociedade brasileira, não acontecia no Brasil. Para construir a Usina Hidrelétrica São Luiz do Tapajós, no Pará, além de alagar terras indígenas, o governo cogitava remover três aldeias do povo Munduruku, contrariando o artigo 231 da Constituição Federal.

    Como disse o goleiro Aranha, no caso de racismo de que foi vítima diante da torcida do Grêmio: “muita gente sofreu para que hoje isso estivesse na lei”. No caso da remoção para barragens, há uma analogia. Quem sofreu para que a lei a respeito deste tema fosse criada foram, por exemplo, os Waimiri Atroari. Na época, durante o regime de exceção, a ditadura cumpriu a lei – havia uma previsão legal que permitia a remoção compulsória de povos indígenas no Estatuto do Índio (Lei 6001/73). Depois do sofrimento de muita gente, vieram os direitos constitucionais. No parágrafo quinto do artigo 231, a Constituição veta a remoção, e as únicas exceções possíveis são o caso de epidemia e catástrofe, ainda assim com referendo do Congresso Nacional. E os removidos devem retornar ao seu território em seguida.

    O Ibama acabou de receber os Estudos do Componente Indígena referente à UHE São Luiz do Tapajós. O documento contraria diversos direitos indígenas.

    Além de tudo, parece ser cruel e mórbido, pois tenta fazer crer que os próprios indígenas estão de acordo com o que vai acontecer com eles. Aparentemente, o estudo foi realizado sem que a antropóloga responsável sequer pisasse em uma terra indígena para avaliar os impactos, e sem a consulta aos indígenas, como prevê a legislação internacional – temas que estão sendo, inclusive, debatidos na Assembleia da ONU em Nova York, onde Dilma Rousseff discursou ontem.

    Seriam afetadas as Terras Indígenas Praia do Mangue e Praia do Índio e as Áreas km 43 (Sawré Apompu), São Luiz do Tapajós (Sawré Jiaybu), Boa Fé (Sawré Maybú, Sawré Dace Watpu e Sawré Bamaybú), além de indígenas e ribeirinhos que vivem nas vilas Pimental e São Luiz do Tapajós. Escreve a antropóloga que assina o laudo que “As manifestações diretas dos Munduruku foram coletadas junto a indivíduos e lideranças da etnia que se propuseram a conversar e participar de entrevistas informais fora de suas terras e em locais sempre determinados por eles.” Ou seja: o estudo antropológico do componente indígena é realizado “à distância”.

    Acontece que os Munduruku haviam solicitado participar "como interlocutores durante o trabalho da equipe, decisão de escolha feita pelo(s) cacique(s)”, e os caciques não foram consultados. Os indígenas haviam pedido também que houvesse mais tempo e esclarecimentos, o que foi ignorado pela equipe de pesquisa. A Funai não participou nem acompanhou os trabalhos, o que também era uma exigência dos indígenas. As entrevistas que a antropóloga diz ter feito foram realizadas na cidade de Itaituba (PA), sem os devidos esclarecimentos, antes da reunião de apresentação da equipe e, obviamente, sem a decisão de escolha pelo cacique. Alguns indígenas disseram ter entendido que as antropólogas estavam trabalhando para a Funai, pela forma como elas explicaram sobre o trabalho que estavam fazendo.

    Para piorar, os Munduruku temiam que aldeias seriam alagadas e removidas, conforme dizia um boato que circulava na região, mas não puderam participar das discussões sobre o projeto.

    Os fatos mais agressivos contra os povos indígenas contidos no estudo são os seguintes:

    O reservatório se estabelecerá com o nível médio de água na cota 50 m, o que implica que as três aldeias relacionadas à Boa Fé (Dace Watpu, Sawré Maybú e Karu Bamaybú) serão afetadas diretamente, cabendo, portanto, ações de relocação das mesmas. Essa passagem está na página 229. As aldeias ficarão literalmente debaixo d’água

    Se São Luiz for construída, os Munduruku ainda vão perder áreas de cultura (roças, açaizais, etc.), terão alterados os locais para pesca, vão perder recursos alimentares, terão alterados locais de caça, locais de coleta de produtos vegetais e das espécies de pescado. Não serão poucas mudanças nas suas vidas que eles terão que enfrentar.

    Os estudos do componente indígena foram protocolados no Ibama no dia 11 de setembro, feitos pela empresa Cnec Worleyparsons Engenharia S/A, e coordenados pela antropóloga Marlinda Melo Patrício. Dois biólogos também integram a equipe, contra a vontade dos indígenas, que apresentaram restrições ao trabalho de biólogos dentro da área.

    Recentemente, a Sociedade Brasileira de Arqueologia se posicionou de forma contrária ao licenciamento do projeto e cobrou uma postura ética de pesquisadores para o empreendimento.

    A Terra Indígena Sawré Muybu, que será impactada, onde estão aldeias que terão de ser removidas, ainda não foi demarcada pela Funai, que senta em cima do processo há anos, numa velocidade evidentemente oposta à da realização dos “estudos” para a construção das usinas. O Ministério Público Federal entrou com uma ação civil pública na Justiça Federal de Itaituba contra a Funai e a União Federal pela demora na demarcação desta terra, uma de ocupação tradicional do povo indígena Munduruku, localizada nos municípios de Trairão e Itaituba/PA, no médio curso do rio Tapajós. O procedimento se arrasta há 13 anos e foi paralisado inexplicavelmente ano passado, quando quase todos os trâmites administrativos já estavam concluídos.

    O Ibama enviou o Estudo do Componente Indígena para a Funai, e é difícil que os técnicos responsáveis pelo licenciamento deixem passar essas ilegalidades nas análises. Politicamente, no entanto, pode ser que a Funai repita o mesmo erro histórico que cometeu em Belo Monte: desconsiderar a opinião técnica de seus funcionários para autorizar obra de interesse do governo, mesmo que seja contrária aos direitos indígenas. Esses funcionários da Funai, e que portanto trabalham para o Estado (e não para um governo), e são comprometidos com a defesa dos direitos constitucionais das sociedades indígenas, devem ter em mente que esta luta pelo direito é uma luta em defesa de toda a sociedade.

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  • 25/09/2014

    Conselho de Caciques de SC recusa criação do INSI

    Nós, caciques das Terras lndígenas Xapéco-SC, Chimbangue-SC, Kondá-SC, Toldo Pinhal-SC, Toldo Imbú-SC e Araçaí-SC, vimos através do nosso Conselho de Caciques, manifestar nosso repúdio a criação do Instituto Nacional de Saúde Indígena (INSI).

    Nossa indignação reside no fato de que, em nenhum momento fomos consultados sobre a adoção de tal medida pelo governo federal através do Ministério da Saúde, o fato de que a proposta do governo federal de criar o Instituto ter sido aprovada no Condisi Interior Sul não significa que haja a concordância das comunidades indígenas, por isso queremos  a  presença  de  alguém  do  Ministério da Saúde ou Sesai, para que, a luz do que reza o artigo da Convenção 169 da Organização Internacional do trabalho, sejamos devidamente consultados.

    Em que pese a falta de consultas aos povos indígenas, bem como os repetidos equívocos na execução da política de saúde indígena, que se quer saiu do papel após a criação da Sesai, nos indigna a criação de instâncias que burocratizam ainda mais a execução da política, deixando nossas comunidades a mercê dos caprichos e devaneios das autoridades e pretensos representantes indígenas, que a fins inconfessáveis se apressam em apoiar tal absurdo, nós membros do Conselho de Caciques não admitimos que ninguém nos represente, sejam  indígenas  ou organizações indígenas, sem nosso mandato expresso, muito menos decidir por nós questões  relevantes  do interesse de nossas comunidades.

    Tal iniciativa deixa flagrante a privatização da saúde indígena afastando cada vez mais o Estado brasileiro de seu compromisso constitucional de prover política pública para as populações indígenas, dificultando ainda mais o acesso das mesmas a uma saúde de qualidade.

    Mais uma vez exigimos que sejamos devidamente informados e consultados, sobre o assunto, de acordo e em observância aos instrumentos nacionais e internacionais de proteção aos direitos humanos dos povos indígenas. 

    Chapecó-SC, 02 de setembro de 2014.

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  • 25/09/2014

    Governo apresenta proposta do INSI, mas servidores rejeitam


    Para as entidades, o INSI representa a privatização da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), hoje responsável pela atenção à saúde dos povos indígenas

     

     

    O polêmico projeto de criação do Instituto Nacional de Saúde Indígena  (INSI) foi o principal ponto de pauta da reunião da Mesa de Negociação Permanente do Ministério da Saúde, que aconteceu na última quinta-feira, dia 18 de setembro.  Presente na reunião, o secretário da Secretaria Especial de Saúde Indígena, Antônio Alves, tentou explicar o teor da proposta, mas não convenceu os servidores federais, representados na ocasião pela Condsef, CNTSS e Fenasps.

     

    Para as entidades, o INSI representa a privatização da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), hoje responsável pela atenção à saúde dos povos indígenas. A natureza jurídica do INSI é de empresa pública de direito privado, tendo características de uma empresa da iniciativa privada dentro do serviço público. Uma prática combatida pela Condsef e por todo movimento sindical. Além do que, os servidores contratados para atuar no instituto seriam celetistas, como na iniciativa privada.

     

    E a polêmica não fica por aí. Durante o processo de criação da Sesai – quando a atenção à saúde dos índios saiu das hostes da Funasa e foi transferida para o novo órgão -, o Ministério Público do Trabalho entrou com uma ação civil pública pedindo a condenação do governo federal, o que deu origem a um termo de conciliação judicial, cujo prazo de vencimento se encerra no dia 14 do mês que vem. O documento exige a realização de concurso público para a saúde indígena até esta data, sob pena de multa de R$ 300 milhões pelo descumprimento do termo.

     

    “Na contramão do termo de conciliação, o governo, além de não ter realizado concurso público, ainda quer contratar empregados públicos pela CLT. Não dá para aceitar”, ressalta o diretor de imprensa da Condsef, Fernando Lima.

     

    ARGUMENTOS DO GOVERNO

     

    O governo alega que encontra dificuldade para contratar profissionais dispostos a trabalhar em aldeias. A localização na maioria dos casos é remota; os profissionais muitas vezes precisam ficar muito tempo fora de casa, dependendo da região, até 60 dias; encontram dificuldade em falar o dialeto local (no Brasil são 274 línguas indígenas diferentes); e, principalmente, o trabalhador que vai para a aldeia precisa ter a aceitação dos representantes das comunidades.

     

    A ideia do governo é contratar deliberadamente sem concurso público, aproveitando, inclusive, o contingente de profissionais existente na aldeia. “É necessário contratação de pessoal, mas sem terceirização e privatização. Queremos concurso público e condições dignas de trabalho para os servidores da saúde indígena”, pontua diretor do Sindsep-PE, José Felipe Pereira.

     

    A contratação sem concurso público também poderá favorecer o nepotismo e o cabide eleitoral. Além disso, é provável que nas aldeias não exista o montante necessário de profissionais qualificados para atuar na área, o que leva a crer que esses trabalhadores virão de fora do mesmo jeito e passarão pelos mesmos problemas enfrentados hoje pelos servidores federais.

     

    Atualmente, a força de trabalho da saúde indígena é composta por apenas 2% de cargos efeitos (servidores federais), contra 85% de contratados por meio de convênios com organizações sociais e 10% de terceirizados.

     

    ENCONTRO SETORIAL

     

    Após a reunião da Mesa de Negociação Permanente do Ministério da Saúde, as entidades nacionais dos servidores promoveram um Encontro Nacional dos Servidores da Sesai. O evento aconteceu no auditório da Condsef, em Brasília, e reuniu 17 sindicatos, entre eles, o Sindsep-PE.

     

    No encontro, as entidades esclareceram alguns pontos discutidos com o governo na reunião anterior. Apesar de a Condsef ter repassado a proposta de gratificação específica do setor em tempo hábil, o governo não a encaminhou para inclusão no Orçamento da União de 2015. Confira abaixo, principais encaminhamentos do encontro.

     

    ENCAMINHAMENTOS

     

    • Lutar contra a privatização da saúde indígena e em favor do concurso público;

     

    • Subsidiar o MPT com argumentos jurídicos na Ação Civil Pública que condena o governo federal a cumprimento do Termo de Conciliação Judicial;

     

    • Promover mobilização em Brasília, no dia 14 de outubro deste ano, durante audiência pública para apreciar a execução da sentença em Termo de Conciliação Judicial do MPT;

     

    • Elaborar nota de esclarecimento e enviar para todas as filiadas sobre a legalidade ou ilegalidade da cessão de servidores para o INSI, caso seja criado;

     

    • Denunciar a privatização da saúde indígena;

     

    • Articular as Câmaras Municipais e as Assembleias Legislativas na promoção de Audiências Públicas para discutir a saúde indígena.

     

     

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  • 25/09/2014

    Conselho do povo Terena repudia a implementação do INSI

    Carta de repúdio a implementação forçada do Instituto Nacional de Saúde Indígena e ao desmonte de nossos direitos.

     

    Nós, lideranças e caciques Terena, representantes de nossas comunidades, vimos a público denunciar e repudiar a tentativa de implementação do Instituto Nacional de Saúde Indígena e a maneira arbitrária e sem transparência com que os interessados em sua aprovação tem conduzido este processo.

     

    O povo Terena é deliberadamente contra o INSI, pois na nossa opinião o problema nunca foi a estrutura da Sesai, mas sim o seu sistemático sucateamento. Sabemos que nem um décimo do recurso que a Sesai possui para execução de políticas de saúde foi utilizado neste ano inteiro enquanto crianças indígenas perecem em beiras de rodovias.

     

    Além disso, a tentativa de implementação do INSI se trata de uma terceirização camuflada e um golpe a nossos direitos constitucionais e originários conquistados com o sangue e o suor de nosso povo.

     

    O direito a saúde é um dever do Governo Federal tendo como instrumento de controle social o Ministério Público. Com o INSI as instâncias de controle dos povos indígenas são diretamente atingidas ficando o sistema de saúde a mercê de interesses privados.

     

    Em último ponto o que foi chamado de consulta por parte dos interessados em passar as pressas o INSI, foi na verdade uma prática desleal de pressão com teores colonizadores, “arrebanhando” indígenas suscetíveis a traírem seu povo enquanto as bases das aldeias mal sabem o que esta acontecendo.            

     

    Não nos interessa nenhuma arapuca ou tentativa de aperfeiçoamento da proposta do instituto, nós como a segunda maior população indígena do Brasil e o maior distrito de saúde indígena do Brasil, através de nosso Conselho e organização legitima, repudiamos de forma total e clara o INSI, exigindo que a proposta seja retirada imediatamente e seja mantido o sistema de saúde indígena publico ligado ao Sistema Único de Saúde.

    Anunciamos que as organizações indígenas do Brasil e as comunidades estão preparadas para iniciar um grande movimento, seja através de retomadas, fechamento de BRs e deslocamento das lideranças até o congresso nacional, bem como acionarmos os meios jurídicos, caso a proposta do instituto seja aprovada. 

    Antes de morrer por falta de saúde iremos morrer lutando pelos nossos direitos e nosso território. 

     

    Povo Terena,

    Povo que se levanta!

     

    Conselho do Povo Terena, 25 de setembro de 2014.

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  • 24/09/2014

    Regional do Cimi na Amazônia Ocidental é invadida

    A sede Regional do Conselho Indigenista Missionário – Cimi foi invadida na madrugada de segunda-feira. Os bandidos arrancaram grades e forros do teto para terem acesso ao que queriam. De todos os equipamentos existentes na sede nenhum foi levado, exceto um HD externo no qual realizamos o beckup da contabilidade.

    Os bandidos sabiam o que queria porque, segundo a própria perícia realizada no local, todos utilizavam luvas e foram direto às salas da contabilidade e da coordenação. Reviraram arquivos, cortaram os fios de conexão dos computadores e espalharam objetos. 


    O que procuravam tinha um imenso valor para eles, pois para conseguirem o que queriam tiveram que arrombar duas grades e ainda o forro do teto, além de terem que vasculhar tudo atrás do HD e provavelmente terem que checar os dois PC, o da coordenação e o da contabilidade. Se repararem na imagem da grade do banheiro, uma das que foram arrombadas, verão que se trata na verdade de duas grades. Uma interna e outra externa, o que demonstra  que a intenção de pegar o que buscavam era realmente grande, questão de vida ou morte para os bandidos.

    Nós, do Conselho Indigenista Missionário Regional Amazônia Ocidental, entendemos que nosso trabalho mexe com interesses poderosos capazes de tudo para continuarem a espoliação dos territórios e subjugando povos e comunidades. Entretanto, denunciamos e repudiamos toda e qualquer forma de violência, seja contra os povos indígenas e trabalhadoras e trabalhadores das comunidades, seja seus apoiadores e aliados, como é o caso do Cimi.


    Denunciamos ainda que por diversas vezes nossos agentes sofreram e vem sofrendo ameaças e intimidações. Lembramos também os diversos arrombamentos ocorridos na sede da Comissão Pastoral da Terra e que ainda permanecem sem a devida explicação ou punição de um único responsável que seja. A continuar dessa forma seguiremos assistindo o assassinato de líderes indígenas, trabalhadoras e trabalhadores rurais, como se não houvesse qualquer vestígio de autoridade e lei. A pergunta é: até quando?


    Continuaremos exigindo das autoridades medidas de proteção aos trabalhadores e trabalhadoras, povos e comunidades e aos agentes apoiadores e solidários às causas desses povos e dessa gente sofrida e historicamente roubada, saqueada e espoliada.

     

    fotos: Rosenilda Padilha

     

     

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  • 24/09/2014

    Calaram Nísio Gomes: que a justiça não se cale!

    Pela manhã o sol que nasceu para iluminar a aldeia Kaiowá de Guaiviry no Mato Grosso do sul, trouxe junto com sua luz um misto de expectativa e esperança. É uma data histórica não somente para a aldeia, mas como para todo o povo Kaiowá. Hoje às 14 horas no prédio da Justiça Federal de Ponta Porã começam as oitivas das testemunhas de acusação arroladas pelo Ministério Publico Federal referentes ao caso do assassinato da liderança Kaiowá, Nísio gomes. Onze testemunhas serão ouvidas em Ponta Porã, outras mais serão escutadas em outras cidades e(ou) por precátorias. Para os Kaiowá é tempo de justiça.

    Sobre o caso:

    A comunidade indígena Guarani/Kaiowá de Guaiviry, em 01 de novembro de 2011, com um grupo de aproximadamente 68 pessoas, dentre elas, homens, mulheres, crianças e idosos – retomaram parcela de seu tekoha (território tradicional), localizado no município de Aral Moreira/MS.

    O acampamento se localiza ainda hoje, na Fazenda Nova Aurora, entre os municípios de Aral Moreira e Ponta Porã, sob propriedade de Ruth dos Santos Martins e, naquela época era arrendado a Luiz Antonio Ebling do Amaral.

    Vale ressaltar que a área reivindicada pela comunidade consta no TAC[1] – Termo de Ajustamento de Conduta – assinado entre o MPF e a Funai visando a demarcação de diversas áreas Kaiowá e Guarani do Estado, e está sob processo de identificação e delimitação atualmente.

    Consta nos autos, que após os fazendeiros terem conhecimento de que havia indígenas ocupando a área, desprezaram totalmente a via judicial e resolveram por contra própria fazer a retirada dos indígenas.

    O primeiro passo foi ofertar dinheiro aos indígenas, por intermediação de outro indígena e, prontamente recusado pela comunidade de Guaiviry, segura e convicta de estar ocupando seu território tradicional.

    E, temerosos de outras ocupações, os fazendeiros continuaram suas articulações para expulsão violenta da comunidade, que no entendimento deles seria mais eficaz que esperar uma posição judicial.

    Na véspera do ataque  do dia 17 de novembro de 2011se reuniram todos os seguranças da empresa GASPEM (hoje fechada por ação do MPF) e os fazendeiros em uma fazenda para aguardar a chegada do próximo dia, o dia do ataque.

    Às 6h do dia 18 de novembro de 2011, iniciou-se o ataque, mais de 10 homens armados com espingardas calibre 12 caminharam até a entrada da mata onde estavam os Guarani/Kaiowá acampados, e protagonizaram um imenso tiroteio contra o grupo na intenção de expulsá-los, sendo surpreendidos pela resistência dos Guarani/Kaiowá, acabaram ferindo fatalmente o cacique Nísio Gomes e provocando lesões corporais em um outro menor.

    Nísio Gomes foi ao chão com ao menos quatro tiros, seus familiares tentaram se aproximar do rezador, só que foram impedidos pelos capangas que arrastavam o corpo do indígena até uma camionete fora da mata e desapareceriam com o corpo.

    Em outra camionete, os demais ‘seguranças’ fugiram do local.

    No passo das horas, foi aberto inquérito policial para investigação e posteriormente, houve a denúncia pelo Ministério Publico Federal de 19 acusados pela prática de homicídio qualificado,lesões corporais, e porte ilegal de armas e,formação de quadrilha ou bando fundados nos arts. 129 e 121, §2°, incisos I e IV, 211, 228, § único c/c 29, todos do Código Penal e art. 14 da Lei n° 10.826/2003, e art. 59 da Lei 6.001/1973.

    Cumpre ainda esclarecer que durante as investigações pela Polícia Federal, se cogitou que Nísio Gomes estivesse vivo e morando no Paraguai,o que levou a Polícia Federal junto com a Força Nacional do Paraguai realizassem buscas nas aldeias daquele país, na procura do paradeiro de Nísio Gomes, deparando com total frustração.

    Mais tarde, determinada testemunha entregou o jogo, revelou que recebia dos fazendeiros para prestar informações inverídicas à Polícia Federal sobre a possível sobrevivência do Cacique.

    Dentre os 19 acusados, três são fazendeiros, 1 de seus funcionários, 2 advogados, 1 presidente do sindicato rural de Aral Moreira, 12 são da empresa Gaspem Segurança LTDA, entres estes, o proprietário  e o administrador foram denunciados, havia ainda durante as articulações dos fazendeiros a presença de servidores da Funai mas, estes não foram denunciados.

    O caso em tela teve repercussão mundial, pois ocasionou a prisão preventiva de diversos dos acusados, um deles, o proprietário da GASPEM que somente teve sua prisão preventiva substituída por prisão domiciliar devido a ter sofrido uma tentativa de homicídio no correr das investigações, e hoje se encontra com graves problemas de saúde.

    Ademais, tal acontecimento infelizmente, reflete, substancialmente, a grave violação de direitos fundamentais das comunidades indígenas, sua vulnerabilidade frente a esses constantes ataques, ocasionados pelo preconceito, discriminação e a instigação ao ódio, e pela morosidade do poder publico com a questão indígena no Estado.

    Vale consignar que Mato Grosso do Sul registra números autos de mortes de lideranças indígenas que foram mortas em conflito fundiário, e nesses casos sempre tem empresa de segurança privada ou serviço de pistolagem envolvido, exemplo: Cacique Marcos Veron, 72 anos, assassinado em 13.01.2003 (Ação Penal no 2003.60.02.000374-2, 1a Vara Federal de Dourados, MS); Dorival Benites, 36 anos, assassinado em 26.06.2005 (Ação Penal no 2005.60.06.000984-3, 1a Vara Federal de Naviraí – MS); Dorvalino Rocha, 39 anos, assassinado em 24.12.2005 (Ação Penal no 2006.60.05.000152-9, 1º Vara Federal de Ponta Porã/MS); Xurite Lopes, 73 anos, assassinada em 09.01.2007 (2007.60.05.00157-1, na 1º Vara Federal de Ponta Porã/MS); Ortiz Lopes, 46 anos, assassinado em 08.07.2007 (Inquérito Policial nº. 046/2007 na Polícia Civil de Coronel Sapucaia – MS); Oswaldo Lopes, assassinado em 29.05.2009; Genivaldo Vera e Rolindo Vera, assassinados em 29.10.2009 (Inquérito Policial nº. 181/2009. Polícia Federal de Naviraí); Teodoro Ricarde, assassinado em 27.09.2011; Nísio Gomes, assassinado em 18.11.2011 (Inquérito Policial nº. 0562/2011 PF/Ponta Porã).

    Por fim, espera-se que a justiça seja apresentada ao caso, para trazer solução, acalmar a dor de um povo e fazer valer a memória de Nísio.Que encontrem o corpo do Cacique de um povo que luta por direitos fundamentais, esquecidos na Constituição Federal.

     

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  • 24/09/2014

    Nota de repúdio do povo Apinajé contra a proposta de criação do INSI

    Nós caciques e membros dos Conselhos Deliberativos, Fiscal e Consultivo e demais lideranças do Povo Apinajé reunidos na V Assembleia Geral da Associação União das Aldeias Apinajé-PEMPXÀ, realizada nos dias 19, 20 e 21 de setembro do corrente ano na aldeia Patizal viemos por meio desta nota pública manifestar contra a proposta do MS de criação do Instituto Nacional de Saúde Indígena INSI, nos seguintes termos:

    a) A Saúde é um Dever do Estado e Direito de Todos;

    b) Nossas comunidades não foram devidamente informadas ou avisadas por nenhum órgão do Governo sobre a proposta de criação do Instituto Nacional de Saúde Indígena;

    c) A proposta já sendo empurrada de cima para baixo de forma autoritária e sem ampla discussão com os representantes do Movimento Indígena e Indigenista;

    d) Os próprios servidores e a Chefe do Polo Base Indígena de Tocantinópolis (TO) afirmam não conhecer a proposta;

    e) Durante V Assembleia da Associação PEMPXÀ realizada na aldeia Patizal, o presidente do Conselho Local de Saúde Indígena Apinagé-CLOSIAP, José Ribeiro Apinagé afirmou ter sofrido ameaças e obrigado assinar um documento concordando com criação do INSI;

    f) Observamos que a proposta de criação do INSI foi pensada e discutida as escondidas somente por pessoas ligadas ao Ministério da Saúde e alguns membros dos CONDISI;

    g) Existem muitas perguntas que precisam ser esclarecidas: Quem e como vai ser feito o Controle Social? Como vamos ser representados no Conselho? Por que a proposta não está sendo discutida com as bases?

    Aldeia Patizal, 21 de setembro de 2014.

    Associação União das Aldeias Apinajé – PEMPXÀ

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  • 24/09/2014

    Cansados de passar fome, 250 indígenas Kaiowá retomam parte do território ancestral de Kurusu Ambá

    A fome e a situação de extrema vulnerabilidade “vivida” por mais de 50 famílias Kaiowá ao longo das últimas décadas em um acampamento localizado próximo a cidade de Coronel Sapucaia no Mato Grosso do Sul levaram na tarde desta segunda feira, dia 22, cerca de 250 indígenas a retomarem uma pequena parte de seu território tradicional, conhecido como Kurussu Ambá. As famílias ocuparam porções de terra para poderem iniciar o plantio de seus alimentos e desta forma cessar a fome que há muito tem lhes açoitado, chegando inclusive, em inúmeras vezes, a tirar a vida de suas crianças.

     

    Leia mais: Carta das crianças de Kurusu Ambá para a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República

     

    Segundo relato dos indígenas, na tarde de segunda feira, um arrendatário foi até o limite da área que estabelece divisa entre a fazenda Auxiliadora e o local onde os Kaiowá estão acampados, enclausurados desde 2009 em uma diminuta área de reserva legal existente junto à fazenda. Nesta pequena faixa de mato, as mais de 50 famílias Kaiowa esperaram até a presente data pacientemente pela demarcação de seu Tekoha (território tradicional). O arrendatário então anunciou que novamente toda à área existente seria usada para o plantio por parte da fazendeira, não restando aos indígenas nenhum hectare de sua própria terra.

     

    As famílias indígenas, de maneira absolutamente pacífica, impediram as pretensões do arrendatário e informaram que retomariam imediatamente a parte de Kurussu Ambá necessária para garantir minimamente a sobrevivência do povo Kaiowá. A partir de então os Kaiowa bloquearam as estradas que dão acesso à fazenda em protesto a situação de genocídio a que estão submetidos.  Os próprios indígenas fizeram contato com representantes da Força Nacional de Segurança que integram a Operação Guarani com intensão de garantir a segurança da comunidade indígena e evitar conflito com possíveis (prováveis) pistoleiros.

     

    Na manhã de ontem, dia 23, representantes da Funai e integrantes da Operação Guarani se deslocaram até o local dialogando primeiramente com os indígenas e posteriormente com o arrendatário, que foi encontrado nas imediações do acampamento. Os indígenas relataram a finalidade de suas ações e deixaram claro que apenas buscavam espaço para manter sua subsistência. Mediante a FUNAI e os membros da Operação Guarani ficou pactuado com ambas as partes que seria estabelecido um limite para que os indígenas pudessem plantar e que próximo a esta área não fosse utilizado veneno por parte do arrendatário. Esse acordo deveria ser mantido até que a FUNAI conseguisse uma posição oficial da esfera judicial. 

     

    Porém, no meio da tarde, longe da presença dos órgãos, o arrendatário voltou a adentrar o limite estabelecido e com um trator passou a pulverizar agrotóxico que chegou até a moradia dos indígenas. Frente a esta situação os Kaiowá expulsaram o arrendatário das imediações do acampamento, voltaram a protestar bloqueando as estradas que dão acesso a fazenda e determinaram o prazo de um dia para que o arrendatário e sua família deixem a área, garantindo que seus bens permanecerão intocados até que possam ser devidamente retirados.

     

    Os Kaiowá anunciam que desta vez não recuarão de sua decisão de retomar parte de sua área ancestral e que irão esperar a continuidade do processo demarcatório em condições dignas de vida, em posse daquilo que lhes pertence. Após estar estabelecida a retomada, na noite de ontem, um susto. Uma caminhonete estacionou na estrada, em frente ao acampamento dos indígenas e lá permaneceu. Os Kaiowá acreditaram em um primeiro momento que se tratava de um veículo de pistoleiros que realizavam uma vigília. Porem passando bastante tempo e constatando que não havia ninguém dentro do carro, os indígenas se aproximaram e o que encontraram foi carregamento pesado de drogas abandonado na estrada. Os indígenas temem que possa ser uma estratégia de criminalização a sua comunidade e voltaram a contatar novamente membros da Operação Guarani.

     

    Há mais de dois anos atrás, os meios de comunicação da cidade de Amambai e da região têm registrado os estragos que a manutenção da monocultura de soja tem causado a estas famílias indígenas. Alijadas de sua terra, sofrem longos períodos de fome aguda, onde muitas vezes se alimentam apenas de farinha de mandioca e agua. Além disso, são sistematicamente fatigados por doenças causadas tanto pela desnutrição quanto pela ingestão de agua contaminada com fortes dosagens de agrotóxicos. O Cimi vem a quase uma década denunciando tal situação que seria facilmente evitada caso os indígenas ocupassem sua terra tradicional e tivessem acesso à água, remédios e alimentos, medidas que só dependem da vontade política do Governo Federal.

     

    Para além das condições básicas de vida, esta situação ainda retira do povo Kaiowá a possibilidade de viver conforme seus costumes e tradicionalidade, colocando em risco a preservação de sua cultura e ferindo direitos constitucionais e sagrados deste povo. O Grupo de trabalho técnico (GT) da FUNAI foi instaurado ainda em 2008, porém, mesmo com o reconhecimento da tradicionalidade da terra indígena por parte do órgão indigenista, a demarcação não foi assegurada. A situação veio a piorar uma vez que procedimentos demarcatórios encontram-se paralisados por determinação do Governo Federal, deixando os indígenas sem expectativas de resolução pelas vias institucionais. 

     

    Os Kaiowá exigem a imediata continuação dos procedimentos demarcatórios em Kurussu Ambá por parte do Governo Federal e solicitam em caráter de urgência  ao Ministério Publico Federal e a Polícia Federal que todas as medidas para garantir a segurança das famílias sejam tomadas, tendo em vista o amplo histórico de violência contra os povos indígenas praticados por pistoleiros sabidamente ligados ás fazendas locais. Desde 2007, quando começaram as tentativas de retomada de Kurussu Amba, mais de 03 lideranças indígenas foram assassinadas à céu aberto e muitos outros, inclusive velhos e crianças pereceram expostos a diversos tipos de violência. 

     

    Um breve histórico da situação de violência sofrida pelos Kaiowa de Kurussu Ambá:

     

    – A terra sagrada de Kurussu Ambá trata-se de um território tradicional imemorial do povo Kaiowa e passou a ser reivindicado através de retomadas por parte dos indígenas a partir de janeiro 2007. Na ocasião os indígenas foram expulsos de seu território pela ação de pistoleiros. Diversos indígenas foram espancados e tiveram seus corpos baleados e a rezadora Xurite Lopes, uma senhora de mais de 70 anos, foi assassinada.

     

    – No mesmo ano, obstinados por recuperar seu território, os indígenas iniciaram novo processo de retomada e novamente tiveram uma liderança assassinada por pistoleiros. Desta vez foi o indígena Ortiz Lopes que acabou perdendo a vida na tentativa de devolver aos Kaiowa seu Tekoha.

     

    – Em 2009, durante a terceira tentativa de retomada, com o GT da FUNAI já instaurado, Osvaldo Lopes foi também assassinado. 

     

    – A partir deste novo ataque sofrido os indígenas voltaram a viver em acampamentos de lona ao longo das rodovias e estradas existentes entre Amambai e Coronel Sapucaia em situação completamente desumana que gerou a morte de uma grande quantidade de crianças.

     

    – Em novembro de 2009, os indígenas retomaram pela 4ª vez o pequeno pedaço de sua terra tradicional, ocupando uma pequena faixa de mato nos limites da reserva legal onde incide a fazenda Maria Auxiliadora. Sofreram processos de reintegração de posse porém sua permanência  foi garantida por decisão do Tribunal Regional Federal da Terceira Região-TRF3.

     

    – Apesar de estarem dentro dos limites do seu território os indígenas foram mantidos estes últimos anos em uma espécie de confinamento. Com a paralização dos procedimentos demarcatórios os Kaiowá ficaram alijados de sua própria terra, sobrevivendo de maneira desumana, sem sequer terem suas condições básicas de vida supridas.

     

     

    Campo Grande, 23 de setembro de 2014

     

    Conselho Indigenista Missionário (Cimi)

     

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  • 23/09/2014

    PT questiona no STF lei usada pelo governo federal para criar o Instituto Nacional de Saúde Indígena

    O ano era 1998, ápice do governo neoliberal de FHC. Entre privatizações e a implementação da cartilha do Estado Mínimo, o Congresso Nacional aprovou as leis 9.637 e 9.648. Tais normas dispensam de licitação a celebração de contratos entre o Poder Público e as organizações sociais para a prestação de serviços públicos, dentre eles a saúde. Naquele mesmo ano, PT e PDT questionaram as leis e ajuizaram no Supremo Tribunal Federal (STF), com pedido liminar, a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 1923.

    Dezesseis anos se passaram, o PT chegou ao Palácio do Planalto e hoje no governo federal faz uso destas mesmas leis para privatizar a saúde indígena com a criação do paraestatal Instituto Nacional de Saúde Indígena (INSI), no âmbito do Ministério da Saúde. A ADI segue sob análise do STF e a propósito de desculpas quanto ao caráter amplo da composição política do governo, a Saúde é uma das pastas que o PT, na distribuição de cadeiras, jamais deixou de abrir mão. A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), mentora do INSI, é capitaneada por um grupo de petistas, alguns históricos, ligados ao diretório partidário de Brasília (DF).

    Como a Sesai não tornou público o documento com a proposta de criação do INSI, informações obtidas pelo Cimi junto a integrantes do governo federal dão conta de que a Lei 9.637 é um dos principais argumentos dos defensores da proposta contra as acusações de que a criação do instituto seria inconstitucional. Neste caso, integrantes do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, além da própria Sesai, tomaram a lei como porta de saída para a criação do instituto, diante do fato de que não cumpriram prazos acordados com o Ministério Público Federal (MPF) para a realização de concursos públicos destinados à saúde indígena.

    Caso o paraestatal INSI chegue ao Congresso Nacional para ser apreciado como Projeto de Lei (PL), a bancada do PT terá diante de si dois caminhos em rota de colisão: o que o partido expressa na ADI e o posicionamento do próprio governo, que se apoia em uma lei neoliberal para impor a privatização à saúde indígena. Além disso, o Cimi apurou com fontes ligadas ao governo federal de que o PL da privatização da saúde indígena está pronto ao menos desde abril deste ano, circulando inclusive no Ministério da Justiça.   

    “Se trata de um processo de privatização”

    Os requerentes da ADI, PT e PDT, argumentam que a Lei 9.637 e diversos artigos 9.648, ambas de 1998, permitem ao Poder Executivo “transferir para entidades de direito privado não integrantes da administração pública atividades dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde, à prestação de serviços públicos nessas áreas”.

    Para o PT, “se trata de um processo de privatização dos aparatos públicos por meio da transferência para o setor público não estatal dos serviços nas áreas de ensino, saúde e pesquisa, dentre outros, transformando-se as atuais fundações públicas em organizações sociais (sic)”. O partido defende na ADI que a lei promove “profundas modificações no ordenamento institucional da administração pública brasileira”. Em 2009, em ocasião de análise da ADI no plenário do STF, a Procuradoria Geral da República (PGR) concordou com tais argumentos impressos na ADI.  

    Na ação, os requerentes atacam ainda a forma de gestão e aplicação dos recursos públicos da lei orçamentária “sem, todavia, submeter-se às limitações estabelecidas para as entidades administrativas estatais”. Caso o paraestatal INSI seja criado, mais de R$ 1 bilhão anual destinado à saúde indígena passará a ser gerido fora do âmbito do controle estatal, sem licitações ou fiscalização dos órgãos de controle da União. Tampouco do MPF. Isso só ocorrerá, conforme os artigos das leis questionadas pelo PT na ADI, diante de pedido do próprio governo.

    A sustentação dos impetrantes da ADI afirma que as prestações dos serviços públicos se afastam do núcleo central do Estado “mediante um modelo mal acabado de transferências de responsabilidades públicas a entes privados”. Tais “entes”, diz a argumentação, “por não prescindirem da atuação subsidiária do poder público, terminam por se transmutarem pessoas funcionalmente estatais, porém despidas da roupagem que é própria do regime de direito público”.

    Ou seja, o privado mostra aparência de público na prestação do serviço, mas sem as obrigações inerentes ao regime público – que é exatamente onde se enquadra o caso do INSI. Os partidos acrescentam na ADI que preterir licitações para a concessão ou permissão de serviços públicos fere o artigo 175 da Constituição Federal. “Não seria o caso de permissão e concessão”, salientam os requerentes, “mas de mera terceirização de serviços mediante contrato com pessoa privada”.

    Concurso público    

    Ao PT não escapou na ADI o concurso público, reivindicação dos povos indígenas. Conforme o descrito na ação, a contratação seria discricionária, feita sem a prévia realização de concurso público, em violação aos princípios da impessoalidade, da eficiência e da isonomia. Outro ponto tange os salários dos dirigentes e empregados destes entes privados, as tais organizações sociais, que pagos com dinheiro público não receberiam valores fixados e tampouco atualizados por lei.

    “A criação das chamadas organizações sociais e seu processo de qualificação conforme estabelecidos na lei desrespeitam a Constituição Federal”, dizem os partidos na ADI. “A criação das organizações se dá mediante um processo induzido de substituição de entes públicos por entes privados criados por encomenda, ad hoc, para assumir funções antes a cargo do Estado”, conclui.    

    Andamento da ADI

    A ADI segue em tramitação na Suprema Corte. Em 1º de agosto de 2007, os ministros do STF mantiveram as leis, por maioria de votos, indeferindo assim a liminar impetrada pelo PT e PDT. Porém, o relator, ministro Ilmar Galvão, se aposentou e o ex-ministro Carlos Ayres Britto assumiu a relatoria, retomando o julgamento de mérito da norma. Ayres Britto votou pela procedência parcial da ADI. Na sequência, em 2011, votou o ministro Luiz Fux, acompanhando o relator. Neste mesmo ano, o ministro Marco Aurélio Mello pediu vistas e ainda não pronunciou sua posição derradeira.

    Leia aqui o histórico e andamento da ADI no STF

    Como é possível constatar na tramitação da ADI, diversos sindicatos ligados à saúde pública se manifestaram a favor da ação. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) se posicionou em plenário corroborando com os argumentos da ADI.

     

         

     

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