• 25/09/2014

    Conselho do povo Terena repudia a implementação do INSI

    Carta de repúdio a implementação forçada do Instituto Nacional de Saúde Indígena e ao desmonte de nossos direitos.

     

    Nós, lideranças e caciques Terena, representantes de nossas comunidades, vimos a público denunciar e repudiar a tentativa de implementação do Instituto Nacional de Saúde Indígena e a maneira arbitrária e sem transparência com que os interessados em sua aprovação tem conduzido este processo.

     

    O povo Terena é deliberadamente contra o INSI, pois na nossa opinião o problema nunca foi a estrutura da Sesai, mas sim o seu sistemático sucateamento. Sabemos que nem um décimo do recurso que a Sesai possui para execução de políticas de saúde foi utilizado neste ano inteiro enquanto crianças indígenas perecem em beiras de rodovias.

     

    Além disso, a tentativa de implementação do INSI se trata de uma terceirização camuflada e um golpe a nossos direitos constitucionais e originários conquistados com o sangue e o suor de nosso povo.

     

    O direito a saúde é um dever do Governo Federal tendo como instrumento de controle social o Ministério Público. Com o INSI as instâncias de controle dos povos indígenas são diretamente atingidas ficando o sistema de saúde a mercê de interesses privados.

     

    Em último ponto o que foi chamado de consulta por parte dos interessados em passar as pressas o INSI, foi na verdade uma prática desleal de pressão com teores colonizadores, “arrebanhando” indígenas suscetíveis a traírem seu povo enquanto as bases das aldeias mal sabem o que esta acontecendo.            

     

    Não nos interessa nenhuma arapuca ou tentativa de aperfeiçoamento da proposta do instituto, nós como a segunda maior população indígena do Brasil e o maior distrito de saúde indígena do Brasil, através de nosso Conselho e organização legitima, repudiamos de forma total e clara o INSI, exigindo que a proposta seja retirada imediatamente e seja mantido o sistema de saúde indígena publico ligado ao Sistema Único de Saúde.

    Anunciamos que as organizações indígenas do Brasil e as comunidades estão preparadas para iniciar um grande movimento, seja através de retomadas, fechamento de BRs e deslocamento das lideranças até o congresso nacional, bem como acionarmos os meios jurídicos, caso a proposta do instituto seja aprovada. 

    Antes de morrer por falta de saúde iremos morrer lutando pelos nossos direitos e nosso território. 

     

    Povo Terena,

    Povo que se levanta!

     

    Conselho do Povo Terena, 25 de setembro de 2014.

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  • 24/09/2014

    Regional do Cimi na Amazônia Ocidental é invadida

    A sede Regional do Conselho Indigenista Missionário – Cimi foi invadida na madrugada de segunda-feira. Os bandidos arrancaram grades e forros do teto para terem acesso ao que queriam. De todos os equipamentos existentes na sede nenhum foi levado, exceto um HD externo no qual realizamos o beckup da contabilidade.

    Os bandidos sabiam o que queria porque, segundo a própria perícia realizada no local, todos utilizavam luvas e foram direto às salas da contabilidade e da coordenação. Reviraram arquivos, cortaram os fios de conexão dos computadores e espalharam objetos. 


    O que procuravam tinha um imenso valor para eles, pois para conseguirem o que queriam tiveram que arrombar duas grades e ainda o forro do teto, além de terem que vasculhar tudo atrás do HD e provavelmente terem que checar os dois PC, o da coordenação e o da contabilidade. Se repararem na imagem da grade do banheiro, uma das que foram arrombadas, verão que se trata na verdade de duas grades. Uma interna e outra externa, o que demonstra  que a intenção de pegar o que buscavam era realmente grande, questão de vida ou morte para os bandidos.

    Nós, do Conselho Indigenista Missionário Regional Amazônia Ocidental, entendemos que nosso trabalho mexe com interesses poderosos capazes de tudo para continuarem a espoliação dos territórios e subjugando povos e comunidades. Entretanto, denunciamos e repudiamos toda e qualquer forma de violência, seja contra os povos indígenas e trabalhadoras e trabalhadores das comunidades, seja seus apoiadores e aliados, como é o caso do Cimi.


    Denunciamos ainda que por diversas vezes nossos agentes sofreram e vem sofrendo ameaças e intimidações. Lembramos também os diversos arrombamentos ocorridos na sede da Comissão Pastoral da Terra e que ainda permanecem sem a devida explicação ou punição de um único responsável que seja. A continuar dessa forma seguiremos assistindo o assassinato de líderes indígenas, trabalhadoras e trabalhadores rurais, como se não houvesse qualquer vestígio de autoridade e lei. A pergunta é: até quando?


    Continuaremos exigindo das autoridades medidas de proteção aos trabalhadores e trabalhadoras, povos e comunidades e aos agentes apoiadores e solidários às causas desses povos e dessa gente sofrida e historicamente roubada, saqueada e espoliada.

     

    fotos: Rosenilda Padilha

     

     

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  • 24/09/2014

    Calaram Nísio Gomes: que a justiça não se cale!

    Pela manhã o sol que nasceu para iluminar a aldeia Kaiowá de Guaiviry no Mato Grosso do sul, trouxe junto com sua luz um misto de expectativa e esperança. É uma data histórica não somente para a aldeia, mas como para todo o povo Kaiowá. Hoje às 14 horas no prédio da Justiça Federal de Ponta Porã começam as oitivas das testemunhas de acusação arroladas pelo Ministério Publico Federal referentes ao caso do assassinato da liderança Kaiowá, Nísio gomes. Onze testemunhas serão ouvidas em Ponta Porã, outras mais serão escutadas em outras cidades e(ou) por precátorias. Para os Kaiowá é tempo de justiça.

    Sobre o caso:

    A comunidade indígena Guarani/Kaiowá de Guaiviry, em 01 de novembro de 2011, com um grupo de aproximadamente 68 pessoas, dentre elas, homens, mulheres, crianças e idosos – retomaram parcela de seu tekoha (território tradicional), localizado no município de Aral Moreira/MS.

    O acampamento se localiza ainda hoje, na Fazenda Nova Aurora, entre os municípios de Aral Moreira e Ponta Porã, sob propriedade de Ruth dos Santos Martins e, naquela época era arrendado a Luiz Antonio Ebling do Amaral.

    Vale ressaltar que a área reivindicada pela comunidade consta no TAC[1] – Termo de Ajustamento de Conduta – assinado entre o MPF e a Funai visando a demarcação de diversas áreas Kaiowá e Guarani do Estado, e está sob processo de identificação e delimitação atualmente.

    Consta nos autos, que após os fazendeiros terem conhecimento de que havia indígenas ocupando a área, desprezaram totalmente a via judicial e resolveram por contra própria fazer a retirada dos indígenas.

    O primeiro passo foi ofertar dinheiro aos indígenas, por intermediação de outro indígena e, prontamente recusado pela comunidade de Guaiviry, segura e convicta de estar ocupando seu território tradicional.

    E, temerosos de outras ocupações, os fazendeiros continuaram suas articulações para expulsão violenta da comunidade, que no entendimento deles seria mais eficaz que esperar uma posição judicial.

    Na véspera do ataque  do dia 17 de novembro de 2011se reuniram todos os seguranças da empresa GASPEM (hoje fechada por ação do MPF) e os fazendeiros em uma fazenda para aguardar a chegada do próximo dia, o dia do ataque.

    Às 6h do dia 18 de novembro de 2011, iniciou-se o ataque, mais de 10 homens armados com espingardas calibre 12 caminharam até a entrada da mata onde estavam os Guarani/Kaiowá acampados, e protagonizaram um imenso tiroteio contra o grupo na intenção de expulsá-los, sendo surpreendidos pela resistência dos Guarani/Kaiowá, acabaram ferindo fatalmente o cacique Nísio Gomes e provocando lesões corporais em um outro menor.

    Nísio Gomes foi ao chão com ao menos quatro tiros, seus familiares tentaram se aproximar do rezador, só que foram impedidos pelos capangas que arrastavam o corpo do indígena até uma camionete fora da mata e desapareceriam com o corpo.

    Em outra camionete, os demais ‘seguranças’ fugiram do local.

    No passo das horas, foi aberto inquérito policial para investigação e posteriormente, houve a denúncia pelo Ministério Publico Federal de 19 acusados pela prática de homicídio qualificado,lesões corporais, e porte ilegal de armas e,formação de quadrilha ou bando fundados nos arts. 129 e 121, §2°, incisos I e IV, 211, 228, § único c/c 29, todos do Código Penal e art. 14 da Lei n° 10.826/2003, e art. 59 da Lei 6.001/1973.

    Cumpre ainda esclarecer que durante as investigações pela Polícia Federal, se cogitou que Nísio Gomes estivesse vivo e morando no Paraguai,o que levou a Polícia Federal junto com a Força Nacional do Paraguai realizassem buscas nas aldeias daquele país, na procura do paradeiro de Nísio Gomes, deparando com total frustração.

    Mais tarde, determinada testemunha entregou o jogo, revelou que recebia dos fazendeiros para prestar informações inverídicas à Polícia Federal sobre a possível sobrevivência do Cacique.

    Dentre os 19 acusados, três são fazendeiros, 1 de seus funcionários, 2 advogados, 1 presidente do sindicato rural de Aral Moreira, 12 são da empresa Gaspem Segurança LTDA, entres estes, o proprietário  e o administrador foram denunciados, havia ainda durante as articulações dos fazendeiros a presença de servidores da Funai mas, estes não foram denunciados.

    O caso em tela teve repercussão mundial, pois ocasionou a prisão preventiva de diversos dos acusados, um deles, o proprietário da GASPEM que somente teve sua prisão preventiva substituída por prisão domiciliar devido a ter sofrido uma tentativa de homicídio no correr das investigações, e hoje se encontra com graves problemas de saúde.

    Ademais, tal acontecimento infelizmente, reflete, substancialmente, a grave violação de direitos fundamentais das comunidades indígenas, sua vulnerabilidade frente a esses constantes ataques, ocasionados pelo preconceito, discriminação e a instigação ao ódio, e pela morosidade do poder publico com a questão indígena no Estado.

    Vale consignar que Mato Grosso do Sul registra números autos de mortes de lideranças indígenas que foram mortas em conflito fundiário, e nesses casos sempre tem empresa de segurança privada ou serviço de pistolagem envolvido, exemplo: Cacique Marcos Veron, 72 anos, assassinado em 13.01.2003 (Ação Penal no 2003.60.02.000374-2, 1a Vara Federal de Dourados, MS); Dorival Benites, 36 anos, assassinado em 26.06.2005 (Ação Penal no 2005.60.06.000984-3, 1a Vara Federal de Naviraí – MS); Dorvalino Rocha, 39 anos, assassinado em 24.12.2005 (Ação Penal no 2006.60.05.000152-9, 1º Vara Federal de Ponta Porã/MS); Xurite Lopes, 73 anos, assassinada em 09.01.2007 (2007.60.05.00157-1, na 1º Vara Federal de Ponta Porã/MS); Ortiz Lopes, 46 anos, assassinado em 08.07.2007 (Inquérito Policial nº. 046/2007 na Polícia Civil de Coronel Sapucaia – MS); Oswaldo Lopes, assassinado em 29.05.2009; Genivaldo Vera e Rolindo Vera, assassinados em 29.10.2009 (Inquérito Policial nº. 181/2009. Polícia Federal de Naviraí); Teodoro Ricarde, assassinado em 27.09.2011; Nísio Gomes, assassinado em 18.11.2011 (Inquérito Policial nº. 0562/2011 PF/Ponta Porã).

    Por fim, espera-se que a justiça seja apresentada ao caso, para trazer solução, acalmar a dor de um povo e fazer valer a memória de Nísio.Que encontrem o corpo do Cacique de um povo que luta por direitos fundamentais, esquecidos na Constituição Federal.

     

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  • 24/09/2014

    Nota de repúdio do povo Apinajé contra a proposta de criação do INSI

    Nós caciques e membros dos Conselhos Deliberativos, Fiscal e Consultivo e demais lideranças do Povo Apinajé reunidos na V Assembleia Geral da Associação União das Aldeias Apinajé-PEMPXÀ, realizada nos dias 19, 20 e 21 de setembro do corrente ano na aldeia Patizal viemos por meio desta nota pública manifestar contra a proposta do MS de criação do Instituto Nacional de Saúde Indígena INSI, nos seguintes termos:

    a) A Saúde é um Dever do Estado e Direito de Todos;

    b) Nossas comunidades não foram devidamente informadas ou avisadas por nenhum órgão do Governo sobre a proposta de criação do Instituto Nacional de Saúde Indígena;

    c) A proposta já sendo empurrada de cima para baixo de forma autoritária e sem ampla discussão com os representantes do Movimento Indígena e Indigenista;

    d) Os próprios servidores e a Chefe do Polo Base Indígena de Tocantinópolis (TO) afirmam não conhecer a proposta;

    e) Durante V Assembleia da Associação PEMPXÀ realizada na aldeia Patizal, o presidente do Conselho Local de Saúde Indígena Apinagé-CLOSIAP, José Ribeiro Apinagé afirmou ter sofrido ameaças e obrigado assinar um documento concordando com criação do INSI;

    f) Observamos que a proposta de criação do INSI foi pensada e discutida as escondidas somente por pessoas ligadas ao Ministério da Saúde e alguns membros dos CONDISI;

    g) Existem muitas perguntas que precisam ser esclarecidas: Quem e como vai ser feito o Controle Social? Como vamos ser representados no Conselho? Por que a proposta não está sendo discutida com as bases?

    Aldeia Patizal, 21 de setembro de 2014.

    Associação União das Aldeias Apinajé – PEMPXÀ

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  • 24/09/2014

    Cansados de passar fome, 250 indígenas Kaiowá retomam parte do território ancestral de Kurusu Ambá

    A fome e a situação de extrema vulnerabilidade “vivida” por mais de 50 famílias Kaiowá ao longo das últimas décadas em um acampamento localizado próximo a cidade de Coronel Sapucaia no Mato Grosso do Sul levaram na tarde desta segunda feira, dia 22, cerca de 250 indígenas a retomarem uma pequena parte de seu território tradicional, conhecido como Kurussu Ambá. As famílias ocuparam porções de terra para poderem iniciar o plantio de seus alimentos e desta forma cessar a fome que há muito tem lhes açoitado, chegando inclusive, em inúmeras vezes, a tirar a vida de suas crianças.

     

    Leia mais: Carta das crianças de Kurusu Ambá para a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República

     

    Segundo relato dos indígenas, na tarde de segunda feira, um arrendatário foi até o limite da área que estabelece divisa entre a fazenda Auxiliadora e o local onde os Kaiowá estão acampados, enclausurados desde 2009 em uma diminuta área de reserva legal existente junto à fazenda. Nesta pequena faixa de mato, as mais de 50 famílias Kaiowa esperaram até a presente data pacientemente pela demarcação de seu Tekoha (território tradicional). O arrendatário então anunciou que novamente toda à área existente seria usada para o plantio por parte da fazendeira, não restando aos indígenas nenhum hectare de sua própria terra.

     

    As famílias indígenas, de maneira absolutamente pacífica, impediram as pretensões do arrendatário e informaram que retomariam imediatamente a parte de Kurussu Ambá necessária para garantir minimamente a sobrevivência do povo Kaiowá. A partir de então os Kaiowa bloquearam as estradas que dão acesso à fazenda em protesto a situação de genocídio a que estão submetidos.  Os próprios indígenas fizeram contato com representantes da Força Nacional de Segurança que integram a Operação Guarani com intensão de garantir a segurança da comunidade indígena e evitar conflito com possíveis (prováveis) pistoleiros.

     

    Na manhã de ontem, dia 23, representantes da Funai e integrantes da Operação Guarani se deslocaram até o local dialogando primeiramente com os indígenas e posteriormente com o arrendatário, que foi encontrado nas imediações do acampamento. Os indígenas relataram a finalidade de suas ações e deixaram claro que apenas buscavam espaço para manter sua subsistência. Mediante a FUNAI e os membros da Operação Guarani ficou pactuado com ambas as partes que seria estabelecido um limite para que os indígenas pudessem plantar e que próximo a esta área não fosse utilizado veneno por parte do arrendatário. Esse acordo deveria ser mantido até que a FUNAI conseguisse uma posição oficial da esfera judicial. 

     

    Porém, no meio da tarde, longe da presença dos órgãos, o arrendatário voltou a adentrar o limite estabelecido e com um trator passou a pulverizar agrotóxico que chegou até a moradia dos indígenas. Frente a esta situação os Kaiowá expulsaram o arrendatário das imediações do acampamento, voltaram a protestar bloqueando as estradas que dão acesso a fazenda e determinaram o prazo de um dia para que o arrendatário e sua família deixem a área, garantindo que seus bens permanecerão intocados até que possam ser devidamente retirados.

     

    Os Kaiowá anunciam que desta vez não recuarão de sua decisão de retomar parte de sua área ancestral e que irão esperar a continuidade do processo demarcatório em condições dignas de vida, em posse daquilo que lhes pertence. Após estar estabelecida a retomada, na noite de ontem, um susto. Uma caminhonete estacionou na estrada, em frente ao acampamento dos indígenas e lá permaneceu. Os Kaiowá acreditaram em um primeiro momento que se tratava de um veículo de pistoleiros que realizavam uma vigília. Porem passando bastante tempo e constatando que não havia ninguém dentro do carro, os indígenas se aproximaram e o que encontraram foi carregamento pesado de drogas abandonado na estrada. Os indígenas temem que possa ser uma estratégia de criminalização a sua comunidade e voltaram a contatar novamente membros da Operação Guarani.

     

    Há mais de dois anos atrás, os meios de comunicação da cidade de Amambai e da região têm registrado os estragos que a manutenção da monocultura de soja tem causado a estas famílias indígenas. Alijadas de sua terra, sofrem longos períodos de fome aguda, onde muitas vezes se alimentam apenas de farinha de mandioca e agua. Além disso, são sistematicamente fatigados por doenças causadas tanto pela desnutrição quanto pela ingestão de agua contaminada com fortes dosagens de agrotóxicos. O Cimi vem a quase uma década denunciando tal situação que seria facilmente evitada caso os indígenas ocupassem sua terra tradicional e tivessem acesso à água, remédios e alimentos, medidas que só dependem da vontade política do Governo Federal.

     

    Para além das condições básicas de vida, esta situação ainda retira do povo Kaiowá a possibilidade de viver conforme seus costumes e tradicionalidade, colocando em risco a preservação de sua cultura e ferindo direitos constitucionais e sagrados deste povo. O Grupo de trabalho técnico (GT) da FUNAI foi instaurado ainda em 2008, porém, mesmo com o reconhecimento da tradicionalidade da terra indígena por parte do órgão indigenista, a demarcação não foi assegurada. A situação veio a piorar uma vez que procedimentos demarcatórios encontram-se paralisados por determinação do Governo Federal, deixando os indígenas sem expectativas de resolução pelas vias institucionais. 

     

    Os Kaiowá exigem a imediata continuação dos procedimentos demarcatórios em Kurussu Ambá por parte do Governo Federal e solicitam em caráter de urgência  ao Ministério Publico Federal e a Polícia Federal que todas as medidas para garantir a segurança das famílias sejam tomadas, tendo em vista o amplo histórico de violência contra os povos indígenas praticados por pistoleiros sabidamente ligados ás fazendas locais. Desde 2007, quando começaram as tentativas de retomada de Kurussu Amba, mais de 03 lideranças indígenas foram assassinadas à céu aberto e muitos outros, inclusive velhos e crianças pereceram expostos a diversos tipos de violência. 

     

    Um breve histórico da situação de violência sofrida pelos Kaiowa de Kurussu Ambá:

     

    – A terra sagrada de Kurussu Ambá trata-se de um território tradicional imemorial do povo Kaiowa e passou a ser reivindicado através de retomadas por parte dos indígenas a partir de janeiro 2007. Na ocasião os indígenas foram expulsos de seu território pela ação de pistoleiros. Diversos indígenas foram espancados e tiveram seus corpos baleados e a rezadora Xurite Lopes, uma senhora de mais de 70 anos, foi assassinada.

     

    – No mesmo ano, obstinados por recuperar seu território, os indígenas iniciaram novo processo de retomada e novamente tiveram uma liderança assassinada por pistoleiros. Desta vez foi o indígena Ortiz Lopes que acabou perdendo a vida na tentativa de devolver aos Kaiowa seu Tekoha.

     

    – Em 2009, durante a terceira tentativa de retomada, com o GT da FUNAI já instaurado, Osvaldo Lopes foi também assassinado. 

     

    – A partir deste novo ataque sofrido os indígenas voltaram a viver em acampamentos de lona ao longo das rodovias e estradas existentes entre Amambai e Coronel Sapucaia em situação completamente desumana que gerou a morte de uma grande quantidade de crianças.

     

    – Em novembro de 2009, os indígenas retomaram pela 4ª vez o pequeno pedaço de sua terra tradicional, ocupando uma pequena faixa de mato nos limites da reserva legal onde incide a fazenda Maria Auxiliadora. Sofreram processos de reintegração de posse porém sua permanência  foi garantida por decisão do Tribunal Regional Federal da Terceira Região-TRF3.

     

    – Apesar de estarem dentro dos limites do seu território os indígenas foram mantidos estes últimos anos em uma espécie de confinamento. Com a paralização dos procedimentos demarcatórios os Kaiowá ficaram alijados de sua própria terra, sobrevivendo de maneira desumana, sem sequer terem suas condições básicas de vida supridas.

     

     

    Campo Grande, 23 de setembro de 2014

     

    Conselho Indigenista Missionário (Cimi)

     

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  • 23/09/2014

    PT questiona no STF lei usada pelo governo federal para criar o Instituto Nacional de Saúde Indígena

    O ano era 1998, ápice do governo neoliberal de FHC. Entre privatizações e a implementação da cartilha do Estado Mínimo, o Congresso Nacional aprovou as leis 9.637 e 9.648. Tais normas dispensam de licitação a celebração de contratos entre o Poder Público e as organizações sociais para a prestação de serviços públicos, dentre eles a saúde. Naquele mesmo ano, PT e PDT questionaram as leis e ajuizaram no Supremo Tribunal Federal (STF), com pedido liminar, a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 1923.

    Dezesseis anos se passaram, o PT chegou ao Palácio do Planalto e hoje no governo federal faz uso destas mesmas leis para privatizar a saúde indígena com a criação do paraestatal Instituto Nacional de Saúde Indígena (INSI), no âmbito do Ministério da Saúde. A ADI segue sob análise do STF e a propósito de desculpas quanto ao caráter amplo da composição política do governo, a Saúde é uma das pastas que o PT, na distribuição de cadeiras, jamais deixou de abrir mão. A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), mentora do INSI, é capitaneada por um grupo de petistas, alguns históricos, ligados ao diretório partidário de Brasília (DF).

    Como a Sesai não tornou público o documento com a proposta de criação do INSI, informações obtidas pelo Cimi junto a integrantes do governo federal dão conta de que a Lei 9.637 é um dos principais argumentos dos defensores da proposta contra as acusações de que a criação do instituto seria inconstitucional. Neste caso, integrantes do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, além da própria Sesai, tomaram a lei como porta de saída para a criação do instituto, diante do fato de que não cumpriram prazos acordados com o Ministério Público Federal (MPF) para a realização de concursos públicos destinados à saúde indígena.

    Caso o paraestatal INSI chegue ao Congresso Nacional para ser apreciado como Projeto de Lei (PL), a bancada do PT terá diante de si dois caminhos em rota de colisão: o que o partido expressa na ADI e o posicionamento do próprio governo, que se apoia em uma lei neoliberal para impor a privatização à saúde indígena. Além disso, o Cimi apurou com fontes ligadas ao governo federal de que o PL da privatização da saúde indígena está pronto ao menos desde abril deste ano, circulando inclusive no Ministério da Justiça.   

    “Se trata de um processo de privatização”

    Os requerentes da ADI, PT e PDT, argumentam que a Lei 9.637 e diversos artigos 9.648, ambas de 1998, permitem ao Poder Executivo “transferir para entidades de direito privado não integrantes da administração pública atividades dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde, à prestação de serviços públicos nessas áreas”.

    Para o PT, “se trata de um processo de privatização dos aparatos públicos por meio da transferência para o setor público não estatal dos serviços nas áreas de ensino, saúde e pesquisa, dentre outros, transformando-se as atuais fundações públicas em organizações sociais (sic)”. O partido defende na ADI que a lei promove “profundas modificações no ordenamento institucional da administração pública brasileira”. Em 2009, em ocasião de análise da ADI no plenário do STF, a Procuradoria Geral da República (PGR) concordou com tais argumentos impressos na ADI.  

    Na ação, os requerentes atacam ainda a forma de gestão e aplicação dos recursos públicos da lei orçamentária “sem, todavia, submeter-se às limitações estabelecidas para as entidades administrativas estatais”. Caso o paraestatal INSI seja criado, mais de R$ 1 bilhão anual destinado à saúde indígena passará a ser gerido fora do âmbito do controle estatal, sem licitações ou fiscalização dos órgãos de controle da União. Tampouco do MPF. Isso só ocorrerá, conforme os artigos das leis questionadas pelo PT na ADI, diante de pedido do próprio governo.

    A sustentação dos impetrantes da ADI afirma que as prestações dos serviços públicos se afastam do núcleo central do Estado “mediante um modelo mal acabado de transferências de responsabilidades públicas a entes privados”. Tais “entes”, diz a argumentação, “por não prescindirem da atuação subsidiária do poder público, terminam por se transmutarem pessoas funcionalmente estatais, porém despidas da roupagem que é própria do regime de direito público”.

    Ou seja, o privado mostra aparência de público na prestação do serviço, mas sem as obrigações inerentes ao regime público – que é exatamente onde se enquadra o caso do INSI. Os partidos acrescentam na ADI que preterir licitações para a concessão ou permissão de serviços públicos fere o artigo 175 da Constituição Federal. “Não seria o caso de permissão e concessão”, salientam os requerentes, “mas de mera terceirização de serviços mediante contrato com pessoa privada”.

    Concurso público    

    Ao PT não escapou na ADI o concurso público, reivindicação dos povos indígenas. Conforme o descrito na ação, a contratação seria discricionária, feita sem a prévia realização de concurso público, em violação aos princípios da impessoalidade, da eficiência e da isonomia. Outro ponto tange os salários dos dirigentes e empregados destes entes privados, as tais organizações sociais, que pagos com dinheiro público não receberiam valores fixados e tampouco atualizados por lei.

    “A criação das chamadas organizações sociais e seu processo de qualificação conforme estabelecidos na lei desrespeitam a Constituição Federal”, dizem os partidos na ADI. “A criação das organizações se dá mediante um processo induzido de substituição de entes públicos por entes privados criados por encomenda, ad hoc, para assumir funções antes a cargo do Estado”, conclui.    

    Andamento da ADI

    A ADI segue em tramitação na Suprema Corte. Em 1º de agosto de 2007, os ministros do STF mantiveram as leis, por maioria de votos, indeferindo assim a liminar impetrada pelo PT e PDT. Porém, o relator, ministro Ilmar Galvão, se aposentou e o ex-ministro Carlos Ayres Britto assumiu a relatoria, retomando o julgamento de mérito da norma. Ayres Britto votou pela procedência parcial da ADI. Na sequência, em 2011, votou o ministro Luiz Fux, acompanhando o relator. Neste mesmo ano, o ministro Marco Aurélio Mello pediu vistas e ainda não pronunciou sua posição derradeira.

    Leia aqui o histórico e andamento da ADI no STF

    Como é possível constatar na tramitação da ADI, diversos sindicatos ligados à saúde pública se manifestaram a favor da ação. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) se posicionou em plenário corroborando com os argumentos da ADI.

     

         

     

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  • 23/09/2014

    Cimi leva a questão indígena brasileira para oficina da OIT em Buenos Aires


    Teve inicio nesta segunda-feira (22), em Buenos Aires, Argentina, o Taller Regional sobre Sector Rural, Cambio Climático y Trabajo Decente, oficina organizada pele Centro Internacional de Formação, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em parceria com a Rel-UITA


    Por Gilberto Vieira,

    secretário adjunto Cimi


    Esta oficina é o resultado da articulação entre a OIT e organizações sindicais de relevante atuação na América Latina como a União Argentina de Trabalhadores Rurais e Estivadores/Argentina (UATRE), a Regional Latino-Americanada União Internacional dos Trabalhadores da Alimentação/Uruguai (Rel-UITA) e a Confederação Sindical de Trabalhadores/as das Américas (CSA).


    Convidado pelos organizadores, o Cimi está participando da oficina no intuito de aprofundar as relações e as articulações com as organizações sindicais e com a OIT, além de levar informações sobre asituação dos povos indígenas do Brasil.


    Participam da oficina representantes de organizações sindicais do Peru, El Salvador, Chile, Espanha, Equador, Costa Rica eColômbia. As organizações sindicais brasileiras se fazem presentes através de três representantes da Confederação dos Trabalhadores/as na Agricultura (Contag) e Central Única dos Trabalhadores (CUT).


    Em suas falas de abertura, na mesa que contou com a participação do Ministro do Trabalho da Província de Buenos Aires, Oscar Antonio Cuartango, de Gerónimo Venegas, presidente da UATRE e de Gerardo Iglesias, secretário regional da Rel-UITA, destacou-se a importância do debate em torno dos temas da oficina, além do papel relevante que tem cada uma das organizações no envolvimento da sociedade para que as mudanças climáticas, por exemplo, sejamum assunto aprofundado por toda a sociedade.


    Neste primeiro dia, a partir das contribuições de Jesús Garcia (OIT), Carmen Benites (OIT América Latina e Caribe) e Fabio Bertranou (OIT-Argentina), os participantes debateram sobre as questões relativas ao tema “Trabalho Decente, Desenvolvimento Sustentável e a Agenda Pós 2015”. Ainda, na sequencia foram socializadas as experiência das organizações sindicais e o duro processo enfrentado pelos trabalhadores que buscam se organizar por seus direitos na América Latina.


    Com a previsão de encerramento para a sexta-feira (26), a oficina ainda aprofundará outros temas além de apontar para compromissos dos setores e organizações participantes.


    Além do agradecimento pelo convite, o representante do Cimi colocou a sua entidade à disposição para colaborar no processo de debate e fortalecimento dos trabalhadores e trabalhadoras na luta por seus direitos na América Latina.


    A partir de um convênio de cooperação e de uma intensa articulação entre Cimi e a Regional Latino-americana, foi apresentado pela Rel-UITA à OIT a começos do mês de setembro um Dossiê sobre a situação dos Povos Indígenas do Brasil.

     

     

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  • 23/09/2014

    Campanha Missionária destaca os desafios da missão no combate ao Tráfico Humano

    Por Jaime C. Patias

     

    As Pontifícias Obras Missionárias (POM) apresentaram à imprensa, nesta segunda-feira, 22, os subsídios da Campanha Missionária 2014, cujo tema é “Missão para libertar” e retoma a problemática do Tráfico Humano. Promovida anualmente, no mês de outubro, e motivada por um tema de atualidade, a iniciativa tem o objetivo de chamar a atenção dos cristãos sobre o seu compromisso com a missão da Igreja na defesa da vida em todo o mundo.

    Participaram da coletiva, na sede das POM em Brasília (DF), dom Sergio Arthur Braschi, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária da CNBB e bispo de Ponta Grossa (PR), padre Camilo Pauletti, diretor nacional das POM e Irmã Irene Lopes, assessora da Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB.

    Em sua explanação dom Sergio sublinhou a importância do Mês das Missões para a caminhada de evangelização da Igreja no Brasil, tempo “tão sentido pelos grupos de famílias, comunidades eclesiais, grupos bíblicos” que aproveitam para aprofundar a fé através da Novena Missionária.

    O bispo chamou atenção para o fato de a Campanha Missionária retomar o tema da Campanha da Fraternidade deste ano. “O Tráfico Humano é debatido numa chave missionária”, por isso: ‘Missão para libertar’, e o lema “Enviou-me para anunciar essa libertação” (Lc 4,18). “É bonito ver os testemunhos que são relatados no DVD, a presença dos missionários e missionárias, religiosas, religiosos, padres, leigos e jovens trabalhando com aquelas pessoas que têm a dignidade manchada e ferida fortemente pelo Tráfico em suas diversas formas”, afirmou dom Sergio e reforçou: “estes são os escravos da nossa época”.

    Dom Sergio lembrou em especial, a situação das populações indígenas e quilombolas que também são retratadas nos encontros da Novena. A propósito disso, o DVD da Campanha traz um extra sobre a vida da Irmã francesa Genoveva Helena de Jesus (Veva) que gastou toda a sua vida entre os indígenas Tapirapé do Mato Grosso. A missionária faleceu em setembro de 2013.

    Por fim, o bispo lembrou que existem três formas de cooperar na Missão: através da oração, colocando-se à disposição para partir e através da ajuda financeira. Nesse sentido, recordou que nos dias 18 e 19 de outubro acontece a coleta para o Dia Mundial das Missões.

    Subsídios da Campanha


    Padre Camilo Pauletti apresentou os vários subsídios da Campanha Missionária: o cartaz (150 mil exemplares), a Novena (200 mil), o DVD com testemunhos (23 mil cópias), a mensagem do papa Francisco para o Dia Mundial das Missões (200 mil), marcadores de páginas com a Oração da Campanha e as imagens de Santa Teresinha do Menino Jesus, São Francisco Xavier, Nossa Senhora Aparecida e do papa Francisco. Além disso, as POM disponibilizam as orações dos fiéis para os quatro domingos de outubro e 11 milhões de envelope para as ofertas. Todos os materiais foram enviados às 276 dioceses e prelazias do Brasil e podem também ser baixados do site das POM (www.pom.org.br).

    Sobre a Mensagem do papa, padre Camilo destacou que o Pontífice procura incentivar para a questão missionária. “Devemos nos preocupar não só com a nossa Igreja aqui, mas em todas as partes do mundo. Por isso, o foco na missão ad gentes. O papa Francisco deseja uma Igreja missionária em saída, mas com alegria. Seja na evangelização, no envio de missionários, nas preocupações precisamos fazer com alegria”, frisou o diretor das POM. E para o Dia Mundial das Missões o papa recorda ainda que, “quem ama dá com alegria”.

    Em virtude disso, padre Camilo sublinhou a importância do envelope para a Coleta. “A nossa oferta ajuda muitas situações de carência. Às vezes achamos que o Brasil está bem e de certa forma está, mas ainda assim precisa de solidariedade. Imaginem então, as necessidades de países da África, da Ásia e outras regiões do mundo e da importância de ajudar também economicamente, além de enviar missionários”, argumentou. Por isso, “incentivamos todos os cristãos para que façam a sua contribuição com alegria”, complementou.

    A coleta é enviada ao Fundo Universal de Solidariedade para apoiar projetos em todo o mundo. A contribuição do Brasil contabiliza um pouco mais de 8 milhões de reias.

    Missão na Amazônia


    Ao falar da Igreja na Amazônia, Irmã Irene Lopes recordou as palavras do papa Francisco aos bispos brasileiros no Rio de Janeiro, em julho de 2013. “A Igreja não está na Amazônia como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderem. Desde o início a Igreja está presente na Amazônia com missionários, congregações religiosas e lá continua ainda presente e determinante no futuro daquela área”.

    Na sequência, a religiosa destacou a parceria que a Comissão para a Amazônia tem com as POM no trabalho de despertar a consciência missionária. Explicou que, com objetivo de somar forças naquela Região, em 2009, a Assembleia Geral da CNBB aprovou a criação da Semana Missionária para Amazônia, realizada todos os anos na 4ª semana de outubro. “Desde então, são inseridos na Campanha Missionária materiais específicos para rezar e refletir sobre a Amazônia”, disse irmã Irene e lembrou que, este ano o tema do 8º dia da Novena é: Tráfico Humano e Amazônia. A assessora e explicou que, naquela vasta Região, “o tráfico humano é um fenômeno antigo, que tem raízes profundas e está relacionado ao mercado de trabalho em um modelo econômico que, em nome do lucro, considera tudo mercadoria. Não dá para combater o Tráfico Humano, sem combater a pobreza e a desigualdade socioeconômica e cultural”.

    Segundo Irmã Irene, entre as atividades no enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, destacam-se as da Rede um Grito pela Vida, uma iniciativa da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), com a participação de mais de 150 religiosas e religiosos.

    “Na região da Amazônia temos bispos, religiosas e leigos ameaçados de morte por enfrentarem esses crimes hediondos contra a liberdade e dignidade da pessoa humana”, enfatizou Irmã Irene e lembrou que só no estado do Pará temos a Irmã Henriqueta Cavalcante, coordenadora da Comissão Justiça e Paz da CNBB Norte 2, dom Erwin Kräutler, bispo do Xingu e dom José Luiz Ascona, bispo de Marajó, que recebem proteção policial até para rezar.

    A Campanha Missionária é coordenada pelas POM com a colaboração da CNBB por meio da Comissão para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial, a Comissão para a Amazônia e outros organismos que compõem o Conselho Missionário Nacional (Comina). A animação da Campanha conta com a atuação dos Conselhos Missionários Diocesanos e Regionais (Comidis e Comires), lideranças e organismos afins.

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  • 23/09/2014

    Cloc Via Campesina realiza curso Sul Americano de Sementes Crioulas

    Neste sábado, 20 de setembro de 2014, no município de Palmitos, estado de Santa Catarina teve início o I Curso Sul Americano de Sementes Crioulas, realizado pela Cloc Via Campesina. Estavam presente representantes de 9 países e mais de 20 organizações.

    Para Gilberto Schneider, militando do MPA e membro do coletivo de Agricultura Camponesa, Agroecologia, Biodiversidade e Sementes e membro da coordenação da Campanha, o curso “é um importante momento de integração entre as organizações e suas experiências com sementes crioulas e tem como objetivo fortalecer a Campanha as sementes são patrimônio dos povos a serviço da humanidade”.

    O curso terá duração de cinco dias e contemplará estudos e debates sobre a conjuntura das sementes, legislação, experiências de recuperação, manutenção e reprodução de sementes. Terá visitas de campo e estruturação de um plano de ação a nível sul americano.

    A mística entorno das sementes é muito forte e se faz sentir no ambiente onde se desenvolve o curso.

    Na manhã de sábado tivemos a recuperação histórica da Campanha Sementes Patrimônio dos Povos a serviço da humanidade com Francisca Rodrigues da ANAMURI – Chile, da coordenação da campanha e também a contribuição de Camila Montecinos e Carlos Vicente da GRAIN, que trabalharam o tema da Conjuntura das sementes. Na tarde tivemos um momento para cada país presente apresentar a sua experiência em sementes, como forma de dar visibilidade a estas experiências e também para compartilhar as diferentes metodologias utilizadas para este trabalho.

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  • 22/09/2014

    Cacique é impedido pelo governo federal de participar da 1ª Conferência Mundial sobre os Povos Indígenas

    Ban Ki-Moon, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), prometeu na manhã desta segunda-feira, 22, lutar contra a exclusão e a marginalização a que povos indígenas estão submetidos no mundo. A declaração acontece a propósito da abertura da 1ª Conferência Mundial sobre os Povos Indígenas, na sede das nações Unidas, em Nova York. A fala do secretário-geral da ONU, neste momento histórico, ocorre na ocasião em que pela segunda vez no ano uma liderança indígena é impedida de sair do país pelo governo brasileiro.

    O cacique Marcos Xukuru recebeu o aviso da Funai, na última sexta-feira, 19, de que não poderia embarcar para Nova York e participar da conferência devido ao fato de ter pendência com a Justiça brasileira. O cacique integraria a delegação indígena do Brasil. A pendência, na verdade, trata-se de um processo judicial envolvendo a luta pela demarcação da Terra Indígena Xukuru do Ororubá, no município de Pesqueira (PE), em 2003, que já transitou e foi julgado pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5).

    “Não há nenhum impedimento judicial dizendo que eu não posso sair do país. Recentemente tive duas vezes no exterior para fazer denúncias de violações aos direitos humanos contra os povos indígenas. Uma delas em Nova York, inclusive. Houve um boicote que partiu do Ministério da Justiça. Sabemos que existe receio por parte de gente do governo quanto ao que podemos dizer para o mundo”, afirma o cacique. A Assessoria Jurídica do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) diz não ter conhecimento de nenhum outro processo envolvendo o cacique fora esse já encerrado.

    A presidente da Funai, Maria Augusta Assirati, conforme Marcos Xukuru, fez o convite para que ele participasse da conferência. Foi ela também que justificou as razões do impedimento ao cacique, numa ligação onde Maria Augusta disse que a suspensão da viagem se deu por questões diplomáticas, em face da pendência judicial. “A Funai me convidou para ir com outras lideranças. Um processo que não me proíbe de viajar foi usado. É uma situação. Sabemos que isso veio do Ministério da Justiça”, diz o Xukuru. O cacique, por medida cautelar da Organização dos Estados Americanos (OEA), faz parte do programa de proteção do estado de Pernambuco.

    O demais integrantes da delegação, que se deslocaram para Nova York no final de semana, ameaçaram boicotar o encontro caso o cacique não fosse reintegrado ao grupo. Porém, o Xukuru explica que pediu aos parentes para que demovessem a ideia e fossem à conferência, alegando que “é um momento único para dizer o que se passa no país, quais violações estão acontecendo aqui e que lideranças estão sendo impedidas de dialogar em âmbito mundial justamente pela criminalização que sofrem quando lutam por seus direitos”, ataca o cacique Marcos Xukuru.

    Este ano já é o segundo caso de lideranças indígenas impedidas de viajar ao exterior para agendas políticas, de denúncia de violações aos diretos destes povos. Em abril, o cacique Babau Tupinambá, uma das lideranças da luta pela demarcação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença, no sul da Bahia, foi barrado de ir ao Vaticano para encontro com o Papa Francisco, a convite da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Depois de conceder o visto, a Polícia Federal voltou atrás alegando que existiam ordens de prisão contra Babau e pediu para ,que ele devolvesse o passaporte, apresentando-se à autoridade policial. Leia aqui   

    A 1ª Conferência Mundial sobre os Povos Indígenas termina nesta terça, 23. Um documento sobre os direitos dos povos indígenas e sua implementação, preparado diante de consulta aos países integrantes da ONU e povos indígenas, deverá concluir o histórico encontro mundial. Segundo a ONU, existem 370 milhões de indígenas de mais de 5 mil comunidades espalhados por 90 países. Eles representam 5% da população global. No Brasil, são quase 900 mil indígenas divididos em 305 povos. O país também concentra cerca de 94 grupos livres, ou seja, povos em situação voluntária de isolamento.

    Processo contra o cacique do povo Xukuru

    Cacique Marcos Xukuru, em 2003, sofreu um atentado em um trecho da estrada que corta a Terra Indígena Xukuru do Ororubá. Na ocasião, dois jovens indígenas acabaram mortos e um terceiro conseguiu fugir, avisando as demais lideranças do povo. Com dois mortos e o cacique desaparecido – ele havia corrido para o interior da mata – a comunidade, tomada por uma comoção coletiva, incendiou a sede da fazenda localizada onde o atentado ocorreu e se dirigiu para a Vila de Cimbres com o objetivo de retirar da terra indígena o que restava de invasores e aliados dos fazendeiros.

    O conflito entre os xukuru e os invasores foi inevitável. A terra indígena, naquele momento, já tinha sido demarcada. No entanto, o cacique, então vítima de um atentado, passou a ser acusado de ter liderado os ataques contra os fazendeiros e demais invasores do território. Um processo de desenrolou por quase 10 anos, até que o TRF-5 o julgou condenando cacique Marcos e mais 20 lideranças do povo Xukuru a quatro anos de prisão. A sentença, no entanto, foi revertida em pena alternativa com o pagamento de cestas básicas.   

    No dia 3 deste mês, a Assembleia Legislativa de Pernambuco condecorou o cacique Marcos Xukuru com a comenda Leão do Norte, na categoria Direitos Humanos. 

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