• 15/10/2014

    Em defesa de seus direitos, lideranças Guarani-Kaiowá convocam coletiva de imprensa no STF, hoje, às 15h30

    Brasília, 15 de outubro de 2014 – “Ou o governo e a Justiça demarcam nossas terras ou que nos enterrem de vez nelas”, declara Ava Jeguaka Rendy’ju, que convoca, junto com mais de 40 lideranças Guarani-Kaiowá de Mato Grosso do Sul, uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira (15), às 15h30, em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). O objetivo da coletiva é alertar sobre decisões do Supremo que flexibilizam os direitos constitucionais da população indígena.

    As lideranças protocolarão hoje (15), às 14h, também no Supremo, um memorial (leia aqui) sobre o contexto histórico e a situação de extrema vulnerabilidade a que está submetido o povo Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul. Ontem (14), eles entregaram duas cartas – uma da Aty Guasu (Grande Assembleia Guarani-Kaiowá) e outra da comunidade Kurusu Ambá – nos gabinetes dos 10 ministros do STF a fim de reivindicar a garantia do direito às suas terras tradicionais

    Uma das decisões recentes do STF anulou os efeitos da Portaria Declaratória n° 3.219 do Ministério da Justiça que, em 2009, reconheceu a Terra Indígena (TI) Guyraroká como de ocupação tradicional indígena. A homologação pela presidente da República, Dilma Rousseff, é o único procedimento administrativo que falta para finalizar o a demarcação da TI Guyraroká.

    Baseado numa interpretação equivocada do marco temporal – que condicionou o reconhecimento da terra tradicional, no caso da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, à sua habitação pelos indígenas no ano de 1988, o ministro Gilmar Mendes, seguido pelos ministros Carmen Lúcia e Celso de Mello, acatou o pedido de um dos fazendeiros da região e anulou o procedimento demarcatório da TI.

    “A coisa está tão absurda que hoje querem nos penalizar por termos sido expulsos de nossos territórios. Querem que assumamos a culpa pelo crime deles. Durante décadas nos expulsaram de nossa terra à força e agora querem dizer que não estávamos lá em 1988 e por isso não podemos acessar nossos territórios?”, ressalta a liderança Ava Kaaguy Rete sobre a tese do marco temporal.

    Vítimas dos projetos de colonização, os indígenas de Mato Grosso do Sul foram expulsos de suas terras tradicionais e confinados em oito pequenas reservas até meados do século XX. Desse processo resulta toda a problemática social vivenciada por essas comunidades, resultado de perda territorial, como a altíssima taxa de suicídios (73 casos em 2013, de acordo com dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena – Sesai) e homicídios (62% dos casos de assassinatos de indígenas no Brasil ocorreram em MS).

    “Os ministros devem fazer cumprir a Constituição, garantindo nossos direitos”, lamenta a liderança Ava Rendy Poty’Ju. “Eles eram nossa última esperança, mas estando deste jeito só nos sobra a retomada de nossos territórios, só resta a nossa luta”.

    A situação de violência é tão drástica no MS que apenas enquanto viajavam para Brasília, as lideranças foram informadas de cinco casos de severas violações às suas comunidades. Em Laranjeira Nhanderu, um jovem de 14 anos, chamado Ismael Mariano de Lima, morreu no dia 12, vítima de atropelamento. Outros sete indígenas foram atropelados nas proximidades da aldeia Apykai desde 2011. Na aldeia Guaiviry, nas madrugadas de 11 e 12 deste mês, três caminhonetes ficaram paradas no portão que dá acesso à aldeia, mantendo uma espécie de vigília e coagindo os indígenas a não saírem de suas moradias. Os mesmos veículos já haviam sido visualizados pelos indígenas no dia 24 de setembro deste ano. A terceira notícia veio da Terra Indígena de Puelito Kue, onde a aldeia foi totalmente cercada por um grupo de fazendeiros, que os mantém em cárcere. Eles se organizam para preparar a terra para mais um plantio de monocultura e vem devastando parte da mata que se encontra dentro dos domínios do povo originário. Na manhã do dia 13, a delegação de lideranças foi informada sobre o falecimento de Mikaeli Flores, uma menina de 2 anos. As causas da morte de Mikaeli foram desnutrição, fome profunda e ingestão de água imprópria para o consumo. Ainda mais drástica, encontra-se a situação das mais de 50 famílias que vivem na Terra Indígena de Kurusu Ambá. Para além de uma determinação de despejo advindo de decisão da Justiça Federal previsto para o dia 26 deste mês, a comunidade foi novamente atacada por jagunços armados nos últimos dias 10 e11, que rasgaram a facão e atearam fogo nas barracas dos indígenas.

     

    Serviço

    O quê: Coletiva de imprensa de lideranças Guarani-Kaiowá

    Quando: Hoje (15/10), quarta-feira, às 15h30

    Onde: Na frente do Supremo Tribunal Federal (STF), na Praça dos Três Poderes

     

    Para mais informações:

    Luana Luizy (Cimi) – 61 8128-5799

    Patrícia Bonilha (Cimi) – 61 9979-7059

    Oswaldo de Souza (ISA) – 61 9103-2127

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  • 15/10/2014

    “Não queremos guerra. Queremos viver em paz em nossas terras”

    Clima desértico. Calor infernal no Planalto Central. Brasília ferve. Algumas dezenas de Kaiowá Guarani e Terena caminham até o pátio do Supremo Tribunal Federal (STF). Seus cantos e rituais ecoam entre as paredes de vidro. O forte calor não lhes tira o ardor e a decisão de lutar pelos seus direitos, seja onde for. Em seus corpos pintados, o recado: “queremos nossas terras”. No Jeroki ritual, o gesto de profunda espiritualidade, secular esperança e resistência. Rodeado de crianças, o Nhanderu (líder espiritual) Getúlio dirige-se aos presentes: “é por essas crianças que estamos lutando. Não queremos guerra. Demarquem nossa terra, pois nela queremos viver em paz. Confiamos na sensibilidade e Justiça dos senhores ministros do STF”.

    Entre um turno e outro, cadê o compromisso com nossos direitos?

    As lideranças da delegação também se mostraram apreensivas e preocupadas com as eleições. Não entendem por que os dois candidatos a presidente do país não mencionaram nenhuma vez os direitos indígenas em seus programas. Marina condicionou seu apoio ao compromisso da demarcação das terras indígenas. Exigem que os candidatos se comprometam em cumprir a Constituição, demarcando as terras.

    Se a isso somarmos a eleição de um Congresso dos mais conservadores das últimas décadas, não fica difícil entender as causas de tamanha preocupação dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul e de todo o Brasil.

    Documento protocolado nos gabinetes

    Uma delegação de três indígenas adultos e três crianças percorreu os gabinetes de todos os ministros do Supremo, protocolando a carta da Aty Guasu, que contém um enfático apelo pelo cumprimento da Constituição em relação à demarcação dos territórios indígenas e pelo fim do estado de violência e guerra em que se encontram as aldeias e os acampamentos indígenas no Mato Grosso do Sul. Na carta, os resistentes guerreiros deixam claro uma vez mais que “Diante da demora da demarcação de nossas terras, nós, povos Guarani-Kaiowá, já voltamos a retomar nossas terras. Começamos no mês de setembro. Não vamos mais aguardar as promessas do governo. Já fomos enrolados pelo governo. Nós, Guarani-Kaiowá, fomos expulsos das nossas terras em 1970 pelos fazendeiros. Pedimos ao Supremo Tribunal Federal que considere nossas histórias de vida. Nós fomos massacrados pelos fazendeiros há mais de um século. Agora o próprio STF e o governo estão massacrando. Estão nos dizimando, pois não demarcam as nossas terras, nem reconhecem nossos direitos. Diante disso, viemos declarar que nós não vamos sair de nossas terras. Vamos recuperar as nossas terras por direito”.

    Os indígenas Guarani-Kaiowá entendem que a garantia das terras aos parentes da Raposa Serra do Sol não se dá às custas da morte, violência e negação das terras dos demais povos indígenas, em especial do Mato Grosso do Sul

    Cenário de guerra

    O cenário e a realidade de guerra em que vivem os obrigam a levar seu grito mundo afora e aos espaços de decisão sobe suas terras.

    Enquanto a delegação estava a caminho de Brasília foi recebendo informações estarrecedoras das violências e mortes a que estão sendo submetidas suas comunidades: em Laranjeira Nhanderu morreu atropelado o jovem de 14 anos, Ismael Mariano de Lima. São dezenas de indígenas que morrem anualmente atropelados. As comunidades de Guaiviry e Pueblito Kuê foram cercadas por pistoleiros, que tentam submetê-los a um regime de cárcere e isolamento. Em Pueblito Kuê faleceu Mikaele Flores, de 3 anos. Causa da morte? Desnutrição, fome e ingestão de água imprópria para o consumo humano.

    Kurusu Ambá está à beira de um genocídio anunciado. Está anunciado o despejo da comunidade para o dia 26 deste mês. Comunidade que é constantemente agredida por jagunços que destroem e queimam os barracos e atemorizam a população. “A coisa é tão absurda que querem nos penalizar por termos sido expulsos de nossos territórios. Querem que assumamos a culpa por esses crimes”, desabafa uma das lideranças.

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  • 14/10/2014

    Lideranças Guarani-Kaiowá anunciam “Se a justiça não garantir nosso direito, que prepare muitas cruzes para o nosso povo”

    Enquanto os anos passam e as demarcações das terras indígenas seguem paralisadas por determinação governamental, a situação de martírio e profunda vulnerabilidade vivida por milhares de famílias Guarani-Kaiowá aumenta drasticamente. A cada dia, no Mato Grosso do Sul (MS), o descaso dos órgãos responsáveis por garantir os direitos e a segurança das comunidades indígenas produz efeitos de um rápido e velado extermínio. As denúncias de ataques diretos sofridos pelas comunidades Guarani e Kaiowá são sistematicamente ignoradas enquanto crianças e jovens indígenas perecem todos os dias por falta de condições básicas de vida.

     

    Desprovidos de esperança quanto ao cumprimento voluntário das atribuições da Justiça na continuidade dos procedimentos demarcatórios, mais de 40 lideranças Guarani e Kaiowá somadas a representantes da etnia Terena partiram neste último domingo, dia 12 de outubro, para Brasília, onde de forma direta e definitiva, irão cobrar medidas do governo federal e dos órgãos ligados aos Direitos Humanos referentes à garantia de seus direitos constitucionais e, sobretudo, de sua segurança física. As lideranças Guarani e Kaiowá das nove terras Indígenas do MS que partiram para Brasília (Taquara, Arroio Corá, Guyrá Kambi’y, Guyrároka, Kurussu Ambá, Guaiviry, Laranjeira Nhanderu, Jagua Piru, Mykuréati), através de um documento emitido pelo Grande Conselho da Aty Guasu, passam a representar todas as aldeias Guarani e Kaiowá do estado.

     

    A viagem da comitiva de lideranças mal havia iniciado quando ligações advindas de diversas comunidades Guarani e Kaiowá começaram a desenhar para os caciques e rezadores um cenário de terror e desespero. Notícias referentes a ataques de jagunços armados e mortes de crianças e jovens atravessaram as ondas telefônicas e chegaram ao grupo de viajantes como uma comprovação inquestionável da necessidade das lideranças em arrancar uma posição definitiva do governo federal.

     

    A primeira notícia partiu da aldeia de Laranjeira Nhanderu. Um jovem de 14 anos, chamado Ismael Mariano de Lima, morreu ontem, dia 12, vítima de atropelamento no mesmo trecho da estrada em que a liderança conhecida como Zezinho também foi atropelada. A morte do jovem gera inconformidade no povo Guarani e Kaiowá, uma vez que, não tendo suas terras demarcadas, a proximidade com as rodovias é uma dura realidade para muitos de seus filhos e filhas. Ademais, os indígenas não esquecem os oito atropelamentos ocorridos nas proximidades da aldeia Apykai ocorridos de 2002 para cá, sendo que sete deles ocorreram a partir de 2011. Para a comunidade, práticas tão recorrentes não podem ser consideradas simples eventualidades.

     

    Logo após, informações preocupantes chegaram também da aldeia Guaiviry. Nas duas últimas madrugadas, três veículos (caminhonetes) se mantiveram parados no portão que dá acesso à aldeia até bem próximo do amanhecer, mantendo uma espécie de vigília e coagindo os indígenas a não saírem de suas moradias. Os mesmos veículos já haviam sido visualizados pelos indígenas no dia 24 de setembro deste ano. Na ocasião, naquele mesmo dia, as lideranças da comunidade haviam prestado depoimento para a justiça federal de Ponta Porã em audiência a respeito do assassinato de sua antiga liderança Nísio Gomes. Nísio foi executado, em novembro de 2011, por jagunços contratados pelos fazendeiros da região que desrespeitaram determinações judiciais. Enquanto a polícia não toma nenhuma providência, quase a totalidade da comunidade encontra-se em estado de alerta permanente, sem conseguir dormir.

     

    A terceira notícia veio da Terra Indígena de Puelito Kue. Os indígenas informaram que a aldeia se encontra totalmente cercada por um grupo de fazendeiros, que os mantém em cárcere. Eles se organizam para preparar a terra para mais um plantio de monocultura e vem devastando parte da mata que se encontra dentro dos domínios do povo originário. Em meio ao caos, os indígenas foram informados ontem (13) pela manhã sobre o falecimento de uma menina que ainda não havia completado seu terceiro ano de idade. De nome Mikaeli Flores, a pequena deixou este mundo por conta de desnutrição, fome profunda e ingestão de água imprópria para o consumo.

     

    Ainda mais drástica, encontra-se a situação das mais de 50 famílias que vivem na Terra Indígena de Kurussu Ambá. As famílias, que por situação de profunda miséria retomaram uma pequena parte de sua terra tradicional no dia 22 de setembro para poder plantar e combater a fome, encontram-se à beira de um genocídio que tem sido há muito anunciado. Para além de uma determinação de despejo advindo de decisão da Justiça Federal previsto para o dia 26 deste mês, a comunidade foi novamente atacada por jagunços armados nas tardes da última sexta- feira (10) e do sábado (11).

     

    Na tarde de sexta feira, cinco jagunços se aproximaram em uma caminhonete, sendo que dois deles portavam armas de fogo e as exibiam da carroceria do veículo. Foram até o local onde os indígenas se encontram acampados e pela segunda vez rasgaram a cortes de facão as barracas do povo Kaiowá. Apesar de dispararem diversas vezes para amedrontar os indígenas, os Kaiowá resistiram e novamente expulsaram os jagunços que se refugiaram, como da outra vez, no interior da fazenda conhecida como Madama. No sábado, aproximadamente às 14 horas, os mesmos jagunços atearam fogo no gramado dos campos que levam até o acampamento dos indígenas. O fogo alastrou-se com rapidez e acabou por queimar mais quatro barracas do povo Kaiowá. Os indígenas denunciam que a Polícia Federal, chamada diversas vezes ao local, nunca compareceu, mesmo quando, em determinado momento, o órgão teve sua presença solicitada pela própria Justiça Federal.

     

    Para as lideranças, a ligação entre estes diversos ataques e situações não pode ser ignorada ou tratada como um conjunto de problemáticas isoladas. O aumento da violência e dos ataques por parte dos fazendeiros bem como as condições de vulnerabilidade vividas pelas comunidade indígenas são consequências diretas da paralisação das demarcações e funcionam como uma espécie de “política de frente”, enquanto as tentativas de desmontes via caminhos institucionais são promovidos tanto pela bancada ruralista dentro do Congresso Nacional como pelo próprio poder executivo, em especial pela Advocacia Geral da União (AGU).

     

    As lideranças observam que pouco a pouco o cerco vai se fechando e os preceitos que endossam as portarias (como a 303, da AGU), projetos de leis (PL) e projetos de emendas constitucionais (PEC) tornam-se prática política dos setores jurídicos que julgam o desenvolvimento dos processos demarcatórios ou mesmo da permanência dos mesmos junto às suas terras tradicionais. Neste sentido, os princípios de tradicionalidade e demais direitos conquistados junto à Constituição Federal de 1988 vão sendo negados, abrindo precedentes e reforçando a validade na prática das propostas de modificação dos princípios demarcatórios.

     

    Pouco a pouco diversas vozes de diferentes setores jurídicos vão se encontrando e decisões, até então, não vinculantes como as condicionantes da Terra indígena Raposa Serra do Sol passam ser uma jurisprudência quase que mecanicamente aplicada nas mais diversas situações. A decisão por parte da Justiça Federal em decretar a reintegração de posse contra a comunidade de Kurussu Ambá, por exemplo, é baseada em sua essência na interpretação equivocada do marco temporal, que prevê que o reconhecimento do direito dos indígenas a terras que tradicionalmente ocupassem estaria condicionada à sua habitação ao tempo da promulgação da Constituição Federal de 1988.

     

    O mesmo Marco Temporal foi utilizado igualmente pela segunda turma do Supremo Tribunal Federal (STF) para anular os aspectos de tradicionalidade de uma fazenda garantida pela União como terra de posse imemorial da etnia Kaiowá e Guarani. Trata-se da Terra Indígena Guyrároka. O mais difícil para as lideranças é que, no caso de Guyrároka, o marco temporal foi aplicado de maneira tão arbitrária que nem ao menos a comunidade indígena teve voz dentro do processo. Desta forma, sem a posição dos indígenas, não se conhece a história do local e há uma uniformização das decisões aplicadas a diferentes realidades. Para os representantes da terra indígena em questão, que na semana passada estiveram em Brasília, a decisão parece muito mais um aceite da contestação dos fazendeiros do que uma reflexão e decisão tomada a partir da ciência ampla dos ministros.

     

    A validação de uma interpretação equivocada do marco temporal e as últimas posições de parte do Supremo Tribunal Federal (STF) estão entre os principais motivos da vinda desta comitiva de lideranças Guarani e Kaiowá para Brasília. Sobre o marco temporal, a posição dos indígenas é unânime e pode ser bem compreendida nas palavras da liderança Ava Kaaguy Rete: “A coisa está tão absurda que hoje querem nos penalizar por termos sido expulsos de nossos territórios. Querem que assumamos a culpa pelo crime deles. Eles nos levavam de caminhão para Jagua Piru, para Bororó, para todas as reservas. Durante décadas nos expulsaram de nossa terra à força e agora querem dizer que não estávamos lá em 1988 e por isso não podemos acessar nossos territórios? Isso é grave, deveria ser crime”.

     

    Quanto as decisões do STF, Ava Rendy Poty’Ju desabafa: “Os ministros deveriam estar fazendo cumprir a Constituição, garantindo nossos direitos previstos na Constituição e não cedendo à pressão dos ruralistas e nos deixando sem terra. Eles eram nossa última esperança, mas estando deste jeito só nos sobra a retomada de nossos territórios, só resta a nossa luta”.

     

    Estando cansados de sofrer, as lideranças vieram a Brasília para dizer para as autoridades que os Guarani e Kaiowá não tolerarão mais a paralisarão das demarcações e nem aceitarão decisões baseadas em interpretações equivocadas do marco temporal. Se forem estas as posições das autoridades em Brasília, as comunidades indígenas iniciarão imediatamente a retomada de seus territórios.

     

    Para os indígenas não é possível respeitar decisões do STF que venham no sentido contrário aos direitos constitucionais de seus povos. Na opinião do povo Kaiowá e Guarani, parte do STF está anunciando uma guerra contra os povos indígenas, se rendendo às mesmas pressões da bancada ruralista que levou a Presidência da República a atuar no desmonte dos direitos originários. O ponto em que chegou a justiça é tão crítico que parte das lideranças perdeu completamente a crença na esfera jurídica, acreditando que é apenas através da resistência direta que os indígenas terão acesso aos seus territórios tradicionais.  

     Outra reivindicação do povo Kaiowá e Guarani é referente ao abandono dos órgãos responsáveis quanto à segurança dos povos indígenas. Segundo a liderança Ava Jeguaka Rendy’ju, da Terra indígena Kurussu Ambá: “O governo federal tem sido responsável pela morte de nossas lideranças. Nós estamos novamente frente a um genocídio anunciado. Os jagunços andam com armas todos os dias e a Polícia Federal nos abandonou para morrer”. Ava Jeguaka Rendy’ju anuncia que a vinda a Brasília será a ultima tentativa da comunidade de garantir seu direto e a proteção de seu povo evitando os conflitos que já se desenham no horizonte e afirma: “Se a justiça não garantir nosso direito, que prepare muitas cruzes para o nosso Povo, pois ela será culpada por todo sangue que correr. Estamos defendendo o que é nosso e lutando pela vida de nossos filhos e filhas. Não há nada mais justo que isso. Não é apenas Kurussu Ambá, todas as comunidades estão decididas a lutar pelos seus Tekoha até o fim. Ou o governo e a Justiça demarcam nossas terras ou que nos enterrem de vez nelas. Esta é nossa ultima palavra”.

    As lideranças terão uma longa agenda na capital federal e em forma de luta e de reivindicação levarão para cada repartição do STF, Ministério da Justiça (MJ), Congresso e demais instâncias as vozes que não estão sendo escutadas nem dentro dos processos e das decisões da Justiça, nem pelos órgãos do governo. É a voz dos povos originários que clama secularmente por justiça, por dignidade e pelos direitos por eles conquistados, porém nunca cumpridos. Que ouçam suas vozes, pois o novo silêncio do governo significará a necessidade de rompimento do silêncio para milhares de Guarani e Kaiowá por todos os cantos do Mato Grosso do Sul.

     

     

     

           

     

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  • 14/10/2014

    Lideranças Guarani-Kaiowá vão ao STF pedir que sejam ouvidos nas decisões que afetam o reconhecimento de suas terras

     

    Com o objetivo de alertar os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre decisões que colocam em risco a ocupação de seu território tradicional, uma delegação de 40 lideranças Guarani-Kaiowá chega a Brasília.

    Diante do genocídio a que estão expostos, os Guarani-Kaiowá buscam diálogo com os ministros e entregarão duas cartas, às 14h, nos gabinetes a fim de tratar da regularização das terras indígenas, ameaças de morte por pistoleiros e ordens de despejo judicial.


    As cartas são da Aty Guasu (Grande Assembleia Guarani Kaiowá) e de Kurusu Ambá, terra reivindicada pelos indígenas. Os indígenas afirmam que não vão mais aguardar promessas e novos prazos e que diante da morosidade das demarcações não vão recuar. Para os Guarani-Kaiowá não há outra opção além de resistir na luta pelo território tradicional.


    Saiba mais: 


    Lideranças Guarani e Kaiowá anunciam “Se a justiça não garantir nosso direito, que prepare muitas cruzes para o nosso povo” 


    Confira aqui a carta de Aty Guasu e aqui a carta de Kurusu Ambá

     

    No caso de Kurusu Ambá, os indígenas reivindicam mais segurança e denunciam os frequentes ataques e ameaças por jagunços, mas reiteram que não sairão da área. Chamada de “faixa de gaza do Brasil” pelo antropólogo, Eduardo Viveiro de Castro, o Mato Grosso do Sul é um dos estados onde o conflito fundiário faz mais vítimas no país, ao todo foram registrados 53 casos de assassinatos em 2013, destes 33 casos foram em MS.


    A delegação é composta por indígenas de nove terras indígenas, (Taquara, Arroio Corá, Guyrá Kambi’y, Guyraroka, Kurussu Ambá, Guaiviry, Laranjeira Nhanderu, Jagua Piru, Mykuréati) e vão aos gabinetes dos ministros a fim de tratar da questão territorial. No caso de Guyraroka, os indígenas pedem a nulidade de uma decisão da 2° Turma da Corte que anula o reconhecimento do Estado à terra ancestral, uma vez que não foram ouvidos durante o processo, o que contraria diversos acordos jurídicos, como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Súmula 631¹ do STF que determina a comunidade envolvida ser chamada para discutir o processo quando se trata de direito subjetivo, ou seja, quando a pauta ainda está em disputa.


    O ministro Gilmar Mendes acatou a tese do marco temporal e considerou: se a comunidade não estava na área reivindicada em 1988, data da promulgação da Constituição Federal, ela não possui o direito de ocupá-la. Os argumentos de Mendes foram acompanhados pela ministra Carmem Lúcia e o ministro Celso de Mello.


    A tese do marco temporal deve ser analisada com cautela sob pena de negar o direito originário e impedir demarcações das terras indígenas em todo o país. Agora, em Brasília, os indígenas pretendem dizer aos ministros o que motiva o grupo a não desistir do território tradicional. O reconhecimento da tradicionalidade da terra reivindicada pelos indígenas é uma parte do procedimento de demarcação do território, o tekoha, terra sagrada para os Guarani Kaiowá.


     

    ¹ “Extinguese-se o processo de mandado de segurança se o impetrante não promove, no prazo assinado, a citação do litisconsorte passivo necessário”


    Serviço:

    Luana Luizy- Assessoria de Comunicação (Cimi) 8128-57-99

     

    Agenda:

    Terça

    Quarta

    14h- Entrega de carta aos ministros no STF

    17h- Audiência na Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Indígenas, Plenário 8, anexo II da Câmara dos Deputados

    14h- Protocolo memorial no STF


     15h30- Coletiva de Imprensa

     

  • 13/10/2014

    13° Encontro de Lideranças Indígenas do Vale do Javari repudia medidas legislativas anti-indígenas

    Nós, lideranças indígenas reunidos na Aldeia Flores, no 13º Encontro de Lideranças Indígenas da Região do Vale do Javari, falamos para todos os povos do Brasil, que:

    Primeiro: estamos comprometidos com a defesa dos direitos dos nossos parentes. Queremos demonstrar nosso inconformismo, nossa indignação com a política indigenista de nosso país, bem como com as políticas públicas de saúde indígena de nossa região, e apresentamos nossas reivindicações, principalmente para chamar a atenção das autoridades públicas, em particular, e da sociedade brasileira em geral.

    Segundo: pedimos respeito ao Direito Constitucional à “posse permanente” e ao “usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos” das terras indígenas, que devem ser reconhecidos e garantidos e, nesse sentido, devem ser adotadas medidas efetivas de proteção à posse da terra aos Povos Indígenas, com procedimentos adequados de fiscalização.

    Terceiro: pedimos a revogação da Portaria 303 da Advocacia Geral da União, pois viola direitos indígenas constitucionais visto que retira dos indígenas o pleno direito de consulta sobre as medidas administrativas e legislativas que os afetem diretamente, direito este também reafirmado na Convenção 169 da Organização Internacional de Trabalho (OIT). Além disso, tal medida legislativa afronta o direito originário à terra, porque, se voltar a vigorar irá rever processos demarcatórios já homologados.

    Quarto: demonstramos nosso repúdio ao Projeto de Lei 1610/1996, que regulamenta a mineração em terra indígena, pois afronta o direito de consulta, direito assegurado constitucionalmente, uma vez que transfere a uma Comissão formada por não indígenas a decisão final no processo de mineração em terras indígenas; e solicitamos que a regulamentação da mineração em seja discutida e revista junto à tramitação do Estatuto dos Povos Indígenas, que deverá ser inédita frente à conjuntura política indigenista atual.

    Quinto: Considerando as condições econômicas, geográficas, sociais e culturais indígenas, percebemos o quanto o governo não respeita os Povos Indígenas neste 13º Encontro de Lideranças dos Povos Indígenas do Vale do Javari, onde graves denúncias foram relatadas através do testemunho de diversas lideranças indígenas bem como de coordenadores do movimento Indígena.  E que demonstraram as violações aos direitos dos povos Indígenas. Por todo o exposto, reiteramos nosso repúdio; e solicitamos ao governo federal e demais órgãos responsáveis, para que sejam adotadas as ações administrativas e jurídicas necessárias ao pronto cumprimento dos direitos indígenas da região do Vale do Javari.

    Sexto: Considerando o andamento da Proposta de Emenda Constitucional – PEC 215, que mais uma vez afronta o direito dos povos indígenas, quanto às mudanças na demarcação de suas terras tradicionalmente ocupadas, onde a consulta aos povos indígenas não está sendo realizada, ou seja, o governo demonstra que não respeita os povos indígenas e destrói nossas florestas, nossas riquezas.

    Por fim, nós, povos indígenas, nos sentimos tratados como imigrantes forçados, exilados em nossas próprias terras! A vida no exílio, imigrações enquanto projeto de vida. Imigração, enquanto imposição de projetos externos. A defesa da mãe natureza bem como a garantia dos territórios e das terras, são as condições primeiras para nossa sobrevivência física e cultural!

    Nós, do Vale do Javari, queremos respeito dos membros do governo para com os povos indígenas deste país.

    Atalaia do Norte (AM), 21 de agosto de 2014.

     

     

     

     

    Cesar Mayuruna

    Representante dos povos indígenas do Brasil

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  • 13/10/2014

    Xukuru-Kariri: em busca da Terra Prometida e do Bem Viver ameríndio

    Nos dias 09, 10 e 11 de outubro realizamos a VI Assembleia do Povo Xukuru-Kariri na aldeia Fazenda Canto, tendo como tema A Memória garante a Existência do Povo na Luta Pela Terra Prometida e o Bem-Viver.

     

    Três dias antes do inicio da assembleia fizemos uma preparação espiritual na qual dedicamos nossas orações a padroeira negra de nosso povo, Nossa Senhora Aparecida, em seguida a imagem da Santa foi levada da Aldeia Fazenda Canto para a Aldeia Mata da Cafurna, onde permaneceu até o dia 9. Nesse dia, realizamos uma caminhada carregando uma cruz de jaqueira e a imagem de Nossa Senhora. Esses símbolos católicos revelam o processo histórico pelo qual passou o nosso povo, durante o mesmo se desenvolveu um diálogo interreligioso e intercultural entre a religião Xukuru-Kariri e a religião católica. Na foto, Carlinhos Xukuru-Kariri; ao fundo, no cartaz, a liderança Maninha Xukuru-Kariri.

     

    Partindo de uma reflexão bíblica sobre a história do Povo de Deus em busca da terra prometida e fazendo uma comparação com a luta do povo Xukuru-Kariri pela demarcação do seu território tradicional, podemos perceber como a força de Deus está presente em nossas vidas e nos impulsiona a continuar nessa luta longa e arriscada, pela qual já tombaram muitos guerreiros e guerreiras que hoje fazem parte da memória de nossa história de lutas e conquistas importantes em nossas vidas.

     

    Com o objetivo de entender melhor a realidade política e social de nosso país a fim de definirmos as prioridades de nosso povo para as atividades do próximo ano, dedicamos parte da assembleia a um estudo sobre a conjuntura política nacional, considerando sobre tudo os resultados do processo eleitoral do primeiro turno e os cenários possíveis para o segundo turno da eleição presidencial. Como conclusão dessas reflexões entendemos que a atual conjuntura política brasileira é bastante desfavorável às lutas históricas dos povos indígenas, quilombolas, trabalhadores sem terra, camponeses, operários e todos os pobres do país. Identificando os parlamentares eleitos para o congresso nacional na nova legislatura (2015-2018), percebemos um avanço da bancada ruralista composta por latifundiários, empresários rurais e outros que tem como objetivo principal desconstruir os direitos dos povos indígenas, das populações tradicionais e do direito ambiental, dentre outros.

     

    No poder judiciário também nos preocupam as ultimas decisões do Supremo Tribunal Federal que não reconhecem o direito originário dos povos indígenas no julgamento de duas ações que tem como objeto a disputa pela terra indígena do povo Guarani no estado do Mato Grosso do Sul por fazendeiros invasores. Também nas políticas públicas na área de saúde e educação constatamos uma forte tendência por parte dos governos federal e estadual em promover uma terceirização dos serviços, tornando ainda mais precária a assistência que hoje vem sendo feita pela união e os Estados. Um exemplo concreto na saúde é a proposta de criação do Instituto Nacional de Saúde Indígena (INSI), uma empresa para-estatal que em última instância significa a privatização da saúde indígena. Está proposta já foi rejeitada pelo Conselho Distrital de Saúde Indígena de Alagoas e Sergipe e o povo Xukuru-Kariri.

     

    Apesar dessas dificuldades, nos relatos dos grupos, foram destacadas as vitórias mais recentes como a reforma e ampliação da Escola Estadual Pajé Miguel Selestino da Silva, e a Escola Estadual Mata da Cafurna, os três anos de resistência na retomada da Fazenda Salgado, a organização da aldeia Mãe Jovina dos parentes Xukuru-Kariri do município de Taquarana, a libertação de nosso parente Carlinhos que foi injustamente preso em consequência do seu compromisso com a LUTA PELA TERRA.

     

    Para definir as nossas prioridades foi realizado um trabalho em que a assembleia se dividiu em cinco grupos: anciãos, jovens, povo Xukuru-Kariri de Taquarana, adultos e aliados. Após as discussões foram assumidas consensualmente as seguintes prioridades:

    ·         Dar continuidade ao Levantamento fundiário, homologação e desintrusão da terra do Território Tradicional Indígena Xukuru-Kariri;

    ·         Continuar nos reunindo e nos organizando com as lideranças de todas as comunidades de Xukuru-Kariri, em torno da luta pela Saúde, Educação,  Demarcação da Terra, etc, fortalecendo a nossa união;

    ·         Intensificar aprodução de alimento saudáveis, livres de agrotóxicos;

    ·         Orientar a juventude a valorizar mais a espiritualidade do povo;

    ·         Fortalecera aliança com os demais povos e população tradicionais;

    ·         Fortalecer a nossa aliança com nossos amigos e aliados.

     

    Durante esses dias contamos com a presença de parentes dos Povos Jeripankó e Wassu Kokal – AL, Xukuru de ororubá e Kambiwá – PE, bem como, apoiadores de nossa causa como os professores universitários da UFAL, CESMAC, FACESTA e representantes dos aliados: Conselho Indigenista Missionário – CIMI, Comissão de Professores Indígenas de Pernambuco – COPIPE, Rede de Educação Cidadã – RECID, Movimento das Comunidades Populares – MCP, União da Juventude Popular – UJP, Jornal Voz das Comunidades – JVC, Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA, Movimento Sem Terra – MST, Cáritas Diocesana de Palmeira dos Índios, Articulação do Semi-Árido – ASA, Associação de Agricultores Alternativos – AGRAA, Comissão Pastoral da Terra – CPT, Coletivo Macambira, Pastoral da Juventude do Meio Popular – PJMP e Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadores do Campo – MTC.

     

    No último dia, participamos de uma celebração em memória dos lutadores e lutadoras do nosso povo quando reverenciamos as pessoas do Cacique Alfredo Selestino, Pajé Miguel Selestino, Cacique Luzanel Ricardo, Quitéria Selestino, Maninha Xukuru-Kariri, GecivaldoXukuru-Kariri, dentre outros. Também foi lembrado Monsenhor Alfredo Damâso, padre que desempenhou um papel importante para o reconhecimento dos Povos Indígenas de Alagoas e Pernambuco.

     

    Foi nesse clima de celebração da memória e da esperança num futuro melhor que concluímos a nossa VI Assembleia, reafirmando o nosso compromisso com a luta de nosso povo e de todos os povos indígenas do país, tendo como objetivo maior a construção de um projeto de Bem Viver para toda a humanidade.

     

    Palmeira dos Índios, AL. 11 de outubro de 2014.

    Povo Xukuru-Kariri                          

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  • 10/10/2014

    Boletim Mundo: Em decisão unânime, Plenário do STF nega recurso que pretendia anular demarcação da TI Yvy Katu, em MS

    Por Carolina Fasolo,

    de Brasília (DF)

    O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), instância máxima do Tribunal, decidiu, por unanimidade, negar recurso em um mandado de segurança que pretendia anular a demarcação da Terra Indígena Yvy Katu, em Mato Grosso do Sul, onde vivem cerca de cinco mil Guarani Ñandeva. A íntegra do acórdão pode ser acessada aqui.

    O agravo regimental interposto no Supremo pedia a suspensão do processo administrativo de demarcação da TI Yvy Katu, que tramita desde 1982, e também a nulidade da Portaria 1.289/2005 do Ministério da Justiça, que declarou como de posse permanente dos indígenas a área de 9.494 hectares, localizada entre os municípios de Japorã e Iguatemi – fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai. O ministro e relator Ricardo Lewandowski, reiterou suas decisões anteriores, de 2009 e 2010, quando o mesmo mandado foi negado pela 1ª Turma do STF.

    Interposto por Pedro Fernandes Neto, proprietário da fazenda São Jorge, uma das 14 propriedades incidentes sobre a TI, o agravo enunciava que a demarcação da área “não se amolda no conceito de ocupação tradicional” e que “não se pode ampliar reserva indígena já demarcada”, sustentando que tal preceito, estabelecido pelo STF como condicionante nos autos do caso ‘Raposa Serra do Sol’ (Petição 3388/RR), deve servir de “parâmetro para a apreciação das ações que tratem de demarcação de terras indígenas”.

    O STF entendeu que a parte autora, para alegar que as terras não estão caracterizadas como de posse tradicional indígena, deveria apresentar provas, o que não é possível por meio de mandado de segurança. Sobre a impossibilidade de ampliação de TI já demarcada, o Supremo citou a definição do próprio Plenário, que após o julgamento dos embargos de declaração do caso ‘Raposa Serra do Sol’, em outubro de 2013, estabeleceu que a decisão fosse “desprovida de força vinculante”, ou seja, as condicionantes não podem ser aplicadas a outros procedimentos de demarcação de terras indígenas.

    Um parecer da Procuradoria Geral da República ainda foi destacado na decisão do Supremo: “[…] a condicionante firmada no caso específico da Raposa Serra do Sol, […] veio atrelada a todo um conjunto de elementos examinados naquela ocasião e não poderá ser aplicada, indistintamente, a casos e contextos diversos. […] a condicionante não cabe nas hipóteses, recorrentes, em que há vícios ou erros na demarcação originária prejudiciais aos indígenas e que não refletem bem a ocupação tradicional – tendo-se em mente, inclusive, os casos de expropriação forçada -, sob pena de instituição de evidente ‘proibição de avanço’ em matéria de proteção do direito das populações indígenas às suas terras.”

    Longa luta pela terra

    Os Guarani Ñandeva de Yvy Katu aguardam há 32 anos a conclusão do procedimento demarcatório de seu Tekohá, de onde foram expulsos em 1928 e de lá enviados, junto com outras comunidades do sul do estado, para a Reserva Indígena Porto Lindo, uma das 8 diminutas áreas criadas pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) no início do século XX para confinar os indígenas e assim liberar o território para viabilizar a distribuição, pelo governo, de títulos de propriedade aos colonizadores do estado.  

    Em 1982 a Fundação Nacional do Índio (Funai ) iniciou os estudos para a demarcação, interrompida diversas vezes por recursos judiciais.  Na tentativa de acelerar o processo, a comunidade retomou seu Tekoha em 2003. Porém, com 14 pedidos de reintegração de posse ajuizados contra os indígenas, a Justiça determinou que ficassem em apenas 10% da área reivindicada até que o processo demarcatório fosse finalizado.

    “Esperamos 10 anos ali naquele pedacinho e a Justiça não resolveu nada… A gente bebia água da represa, a mesma que o gado do fazendeiro bebia e fazia suas necessidades. As crianças sempre com diarréia, vômito. Não dava pra viver todo mundo ali, não tinha como plantar e nem fazer nada”, lembra a liderança da comunidade, Leila Guarani.

    Em 2005, quando foi publicada pelo Ministério da Justiça a Portaria Declaratória que reconheceu os 9.494 hectares como de posse permanente dos indígenas, os proprietários buscaram em todas as instâncias judiciais sua extinção, mas nunca obtiveram sucesso. Em março de 2013 a Justiça considerou nulos os títulos de propriedade incidentes sobre a Terra Indígena Yvy Katu, atestando a validade do processo demarcatório da área.

    Depois de 10 anos encurralados num pequeno espaço de seu território, os Guarani Ñandeva decidiram retomar seu Tekohá. “Voltamos pra cá no dia 14 de outubro de 2013 e não vamos mais sair da nossa terra, porque pertence a nós. Por quase 100 anos o ruralista ocupou nossa terra, destruiu nossa mata e acabou com os remédios tradicionais… Ele já ganhou muito dinheiro aqui, criou e engordou o gado dele. Todo o valor que a gente tinha nós perdemos. Perdemos tudo, mas agora estamos lutando pra recuperar nossa mata de novo”, conta Leila Guarani, reforçando que irão resistir a qualquer tentativa de despejo.

    Dos 14 processos de reintegração de posse ajuizados na área, nove já foram extintos pela Justiça. “O fato de as terras terem sido esbulhadas dos indígenas pelo próprio Estado não esvazia o direito destes de terem restituídas suas terras”, esclarece uma das sentenças judiciais que validou o procedimento demarcatório.

    A comunidade espera há nove anos a homologação da terra e, mesmo com o território reconhecido judicialmente, inclusive com a demarcação física, os órgãos responsáveis se furtam do dever de prestar assistência aos indígenas. A água que são obrigados a consumir, suja e contaminada, vem da mesma represa que o gado utilizava. Leila conta que a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) chegou a visitar a aldeia “mas falaram pra mim que não dá pra colocar água pra nós, porque a terra não foi homologada. Escola aqui dentro do Yvy Katu não tem, também dizem que só depois da homologação. Mas a gente precisa de uma escola agora, de um posto de saúde aqui dentro, precisa pra agora… Eu não sei por que ta demorando essa homologação”.

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  • 10/10/2014

    Suspensos licenciamentos de 3 hidrelétricas em MS

    Estão suspensos os licenciamentos ambiental e de instalação de três Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) na bacia do Rio Amambai, na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai. Os processos só deverão ser retomados depois da realização de estudos de impacto a sítios arqueológicos e terras indígenas da região, que não haviam sido considerados nos procedimentos. 

    O Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) informou que os processos de licenciamento ambiental das PCHs Foz do Saiju, Barra do Jaguari e Bela Vista, todas no Rio Amambai, foram paralisados, e que as falhas apontadas pelo Ministério Público serão verificadas. Já o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) se comprometeu a não autorizar nenhum tipo de intervenção enquanto não forem realizados estudos de impacto aos sítios arqueológicos e previstas medidas compensatórias a danos potenciais. 

    O local a ser impactado pela instalação das hidrelétricas abrange 5 áreas indígenas: Terras Indígenas Amambai, Guaimbé, Jaguari, Jarara e Rancho Jacaré, todas homologadas e demarcadas pelo governo federal. A Fundação Nacional do Índio (Funai) deverá realizar consultas prévias às comunidades indígenas afetadas, para só então se manifestar, de acordo com o que determina a Constituição.


    Mapa com a localização das hidrelétricas e das aldeias afetadas: Projeto não considerou indígenas nem sítios arqueológicos. Montagem: MPF/MS

     

    Outras irregularidades 

    O Ministério Público constatou ainda que os Estudos de Impacto Ambiental apresentados anteriormente também não abrangeram o trabalho de recuperação de áreas degradadas ao longo do rio, já em andamento, nem medidas compensadoras de eventual supressão e deslocamento de áreas de preservação permanente e reserva legal das propriedades atingidas pelos empreendimentos. 

    Foi notada também a ausência de processo de licenciamento ambiental para uma das PCHs planejadas. Além disso, as audiências públicas obrigatórias não foram realizadas em conformidade com a lei e não tiveram participação da Funai nem do MP. 

    PCHs 

    A PCH Foz do Saiju abrange os municípios de Amambai, Juti, Caarapó e Laguna Carapã. A estimativa é que custe R$ 80 milhões e tenha capacidade instalada total de 20 megawatts. 

    Já a PCH Barra do Jaguari localiza-se entre os municípios de Amambai e Laguna Carapã, com capacidade para gerar até 29,7 megawatts. Estima-se o custo de R$ 118,8 milhões. Os dois projetos são da empresa Sigma Energia. Há, ainda, a previsão de instalação da PCH Bela Vista na mesma bacia hidrográfica.

     

     

    Assessoria de Comunicação Social
    Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul
    (67) 3312-7265 / 9297-1903
    (67) 3312-7283 / 9142-3976
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  • 10/10/2014

    Conselho Terena realiza 3º Encontro de Jovens

    Abordando a temática da História, Cultura e Direito, as lideranças do Conselho Terena participam hoje e amanhã do encontro com jovens na Comunidade Esperança – Terra Indígena Taunay/Ipegue, município de Aquidauana. É a terceira edição do evento que tem como objetivo propor momento de diálogo entre os jovens e suas lideranças, fazendo análise dos direitos conquistados e os principais desafios na contemporaneidade.

    Segundo o advogado Terena Luiz Henrique Eloy, “desde o primeiro encontro temos abordado a necessidade da juventude indígena despertar para a luta da manutenção de direitos conquistados, haja vista estar em trâmite várias proposições que visam tirar os direitos, em especial os garantidos na Constituição Federal de 88”.

    As lideranças contam com a contribuição dos acadêmicos indígenas, visto que Mato Grosso do Sul concentra aproximadamente 930 universitários índios nas mais diversas áreas. “Esperamos nos acadêmicos indígenas um reforço em nossa luta. Que eles possam usar seus conhecimentos em prol da comunidade” diz Lindomar Terena.

    O encontro contará também com a presença de rezadores Terena na Aldeia Ipegue e Aldeia Babaçu, momento importante para o resgate da prática cultural.

    A comunidade Esperança é uma área de retomada que está na posse da terra desde maio de 2013. Desde então tem realizado várias atividades voltadas para o fortalecimento da cultura e conhecimento tradicional.

     

    Confira programação:

     

    III ENCONTRO DA JUVENTUDE TERENA

    HÁNAITI HO’ÚNEVOHIKO INÁMATI XÂNE TÊRENOE

     

    Retomada Esperança, 10 e 11 de outubro de 2014

     

    Cultura e História Terena

     

    Local: Retomada Esperança – Terra Indígena Taunay/Ipegue

    Tema: Cultura e História Terena

     

    Dia 10 – Sexta – feira

     

    8:00 hs: Mesa 1 – Plenária da Juventude Indígena

    Convidados: Juventude Terena, Kinikinau, Kadiwéu, Guarani Kaiowá e Ofaié.

     

    10:00 hs: Mesa 2 – Lideranças tradicionais: a história do povo Terena nas falas de nossos anciãos.

    Convidados: Rezadores da Aldeia Cachoeirinha, Aldeia Bananal, Aldeia Ipegue e Aldeia Água Branca.

     

    13:30 hs: Mesa 3 – Práticas Culturais do Povo Terena

    Danças: Kipaé e Siputrema

    Pinturas Corporais

    Músicas e cantos tradicionais

     

    19:00 hs – Apresentação de vídeos da luta dos povos indígenas

     

    Dia 11 – Sábado

     

    8:00 hs – Direitos dos Povos Indígenas

    Convidados: Procuradoria Especializada da FUNAI, Ministério Público Federal e Conselho Indigenista Missionário.

     

    13:30 hs – Encaminhamentos Finais e Práticas de esporte e cultura tradicional

     

                            

    Realização:

    Conselho do Povo Terena

     

    Apoio:

    Conselho Aty Guasu

    Conselho Indigenista Missionário – Cimi

    Rede de Saberes: permanência de indígenas no ensino superior

    NEPPI/UCDB

    FUNAI

    Fundo Brasil Direitos Humanos

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  • 10/10/2014

    Pataxó interditam BR 101 no sul da Bahia para cobrar promessa de Cardozo

    Cerca de mil indígenas do povo Pataxó interditam desde às 5h30 da manhã desta sexta-feira (10) os dois sentidos da BR 101, nas proximidades do município de Itamaraju, a cerca de 620 quilômetros de Salvador.

    A principal reivindicação do movimento é a expedição pelo Ministério da Justiça da carta declaratória que revisa os limites da Terra Indígena Barra Velha, que fica dentro do município de Porto Seguro, com divisa com as cidades de Itamaraju e Itabela. Em 2001 foi publicado o relatório de revisão dos limites da terra já que existem mais de 6 mil indígenas vivendo em 17 aldeias, que não estão contempladas nos 8.627 hectares homologados.

    “Apenas metade das aldeias está dentro da área que foi homologada. Já nos reunimos diversas vezes com o ministro Cardozo aqui na Bahia e em Brasília. Ele sempre nos faz muitas promessas, mas nunca toma um posicionamento concreto. Há seis anos esperamos pela assinatura do ministro, mas a carta continua dentro da sua gaveta. Enquanto isso, infelizmente, aumentam os conflitos, a tensão e a violência na região”, afirma Edir Pataxó, liderança moradora da aldeia Boca da Mata.

    No último dia 7, a Polícia Federal (PF) prendeu o indígena Lourisvaldo da Conceição Braz, de 58 anos, suspeito de participar do sumiço do fazendeiro Raimundo Domingues Santos, que teria desaparecido no dia 9 de agosto, entre Itamaraju e Porto Seguro. A PF informa que não tem pistas do fazendeiro desaparecido.

    Segundo os indígenas, o governo tem responsabilidade pela violência na região, já que não investe em soluções concretas que, no caso, seria a demarcação da área já reconhecida pelo próprio governo como sendo um território tradicionalmente indígena. “Os fazendeiros têm se armado e articulam para impedir que a carta declaratória seja assinada. O clima está muito ruim aqui”, declara Edir. 

    Os Pataxó afirmam que só liberarão a pista a partir de uma sinalização do Ministério da Justiça no sentido de uma possível resolução efetiva da reivindicação. “Estamos cansados de promessas vazias. O governo brasileiro tem que ter respeito por nós, que somos os primeiros moradores desta terra”, finaliza Edir Pataxó.

     

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