• 22/11/2014

    Relembremos da história do golpe de Kátia Abreu contra camponeses do Tocantins

    A presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Kátia Abreu (PMDB-TO), está sendo convidada pela presidenta Dilma Rousseff para assumir o comando do Ministério da Agricultura.

    Apesar da nomeação já ser aguardada há algumas semanas, como parte das negociações para assegurar o espaço do PMDB no novo governo, diversos setores da sociedade se dizem abismados com a possibilidade de um governo do PT abrigá-la num ministério de Estado.

    O jornalista Leandro Fortes, por exemplo, disse não ver "racional e emocionalmente, uma justificativa minimamente plausível para ofender os milhões de trabalhadores do campo que, desde sempre, foram perseguidos, usurpados e trucidados política e fisicamente por muitas kátias abreus, ao longo da nossa história. Simplesmente, é inacreditável que isso esteja acontecendo".

    Abaixo, a Página do MST resgata a denuncia do golpe da família Kátia Abreu contra 80 famílias de pequenos agricultores em Campos Lindos, no Tocantins.

    Golpe contra camponeses

    Por Leandro Fortses

    Da Carta Capital

    Em dezembro passado, a senadora Kátia Abreu, do DEM Tocantins, assumiu a presidência da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) com um discurso pretensamente modernizador.

    Previa uma nova inserção social dos produtores rurais por meio de “rupturas” no modo de se relacionar com o mercado, o consumidor, o governo e a economia global. Pretendia, segundo ela mesma, “remover os preconceitos” que teriam isolado os ruralistas do resto da sociedade brasileira e cravado neles a pecha de “protótipos do atraso”.

    Diante de uma audiência orgulhosa da primeira mulher a assumir o comando da CNA, Kátia concluiu: “Somos o que somos e não quem nos imaginam (sic)”. Foi efusivamente aplaudida. E tornou-se musa dos ruralistas.

    Talvez, em transe corporativo, a plateia não tenha percebido, mas a senadora parecia falar de si mesma. Aos 46 anos, Kátia Abreu é uma jovem liderança ruralista afeita à velha tradição dos antigos coronéis de terras, embora, justiça seja feita, não lhe pese nos ombros acusações de assassinatos e violências outras no trato das questões agrárias que lhes são tão caras. A principal arma da parlamentar é o discurso da legalidade normalmente válido apenas para justificar atos contra pequenos agricultores.

    Com a espada da lei nas mãos, e com a aquiescência de eminências do Poder Judiciário, ela tem se dedicado a investir sobre os trabalhadores sem-terra. Acusa-os de serem financiados ilegalmente para invadir terras Brasil afora.

    Ao mesmo tempo, pede uma intervenção federal no estado do Pará e acusa a governadora Ana Júlia Carepa de não cumprir os mandados de reintegração de posse expedidos pelo Judiciário local. O foco no Pará tem um objetivo que vai além da política. A senadora, ao partir para o ataque, advoga em causa própria.

    Foram ações do poder público que lhe garantiram praticamente de graça extensas e férteis terras do Cerrado de Tocantins. E mais: Kátia Abreu, beneficiária de um esquema investigado pelo Ministério Público Federal, conseguiu transformar terras produtivas em áreas onde nada se planta ou se cria. Tradução: na prática, a musa do agronegócio age com os acumuladores tradicionais de terras que atentam contra a modernização capitalista do setor rural brasileiro.

    De longe, no município tocantinense de Campos Lindos, a mais de 1,3 mil quilômetros dos carpetes azulados do Senado Federal, ao saber das intenções de Kátia Abreu, o agricultor Juarez Vieira Reis tentou materializar com palavras um conceito que, por falta de formação, não lhe veio à boca: contras-senso.

    Expulso em 2003 da terra onde vivia, graças a uma intervenção política e judicial capitaneada pela senadora do DEM, Reis rumina o nome da ruralista como quem masca capim danado. Ao falar de si mesmo, e quando pronuncia o nome Kátia Abreu, o camponês de 61 anos segue à risca o conselho literal da própria. Não é, nem de longe, quem ela imagina.

    Em 2002, Reis foi expulso das terras onde havia nascido em 1948. Foi despejado por conta de uma reforma agrária invertida, cuja beneficiária final foi, exatamente, a senadora. Classificada de "grilagem pública" pelo Ministério Público Federal do Tocantins, a tomada das terras de Reis ocorreu numa tarde de abril daquele ano, debaixo da mira das armas de quinze policiais militares sob as quais desfilaram, como num quadro de Portinari, o agricultor, a mulher Maria da Conceição, e dez filhos menores.

    Em um caminhão arranjado pela Justiça de Tocantins, o grupo foi despejado, juntamente com parte da mobília e sob um temporal amazônico, nas ruas de Campos Lindos. "Kátia Abreu tem um coração de serpente", resmunga, voz embargada, o agricultor, ao relembrar o próprio desterro.

    Em junho de 2005, Reis reuniu dinheiro doado por vizinhos e amigos e foi de carona a Brasília a fim de fazer, pessoalmente, uma reclamação na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Na capital federal, alojou-se na casa de amigos, no miserável município goiano de Águas Lindas, e se alimentou de restos de almoço servido numa pensão da cidade.

    Aos técnicos da comissão apresentou documentos para provar que detinha a posse da terra em questão de 545 hectares, desde 1955, parte da fazenda Coqueiros, de propriedade da família, numa região conhecida como Serra do Centro. De acordo com a documentação apresentada pelo agricultor, uma ação de usucapião da fazenda havia sido ajuizada em agosto de 2000.

    Após esse ajuizamento, um vizinho de Reis, o também agricultor Antônio dos Santos, ofereceu-lhe para venda de uma área contígua de 62 hectares, sob sua posse havia onze anos, cuja propriedade ele alegava ser reconhecida pelo governo de Tocantins. O negócio foi realizado verbalmente por 25 mil reais como é costume na região até a preparação dos papéis. Ao estender a propriedade, Reis pretendia aumentar a produção de alimentos (arroz, feijão, milho, mandioca, melancia e abacaxi) de tal maneira de sair do regime de subsistência e poder vender o excedente.

    Ele não sabia, mas as engrenagens da máquina de triturar sua família haviam sido acionadas uns poucos anos antes, em 1996, por um decreto do então governador do Tocantins Siqueira Campos (PSDB). O ato do tucano, mítico criador do estado que governou por três mandatos, declarou de “utilidade pública”, por suposta improdutividade, um área de 105 mil hectares em Campos Lindos para fins de desapropriação. Protocolada pela comarca de Goiatins, município ao qual Campos Lindos foi ligado até 1989, a desapropriação das terras foi tão apressada que o juiz responsável pela decisão, Edimar de Paula, chegou à região em um avião fretado apenas para decretar o processo. O magistrado acolheu um valor de indenização irrisório (10 mil reais por hectare), a ser pago somente a 27 produtores da região.

    Do outro lado da cerca ficaram 80 famílias de pequenos agricultores. A maioria ocupava as terras a pelo menos 40 anos de forma “mansa e pacífica”, como classifica a legislação agrária, cujas posses foram convertidas em área de reserva legal, em regime de condomínio, sob o controle de grandes produtores de soja. Na prática, os posseiros de Campos Lindos passaram a viver como refugiados ilegais nessas reservas, torrões perdidos na paisagem de fauna e flora devastados de um Cerrado em franca extinção. Sobre as ruínas dessas famílias, o governador Siqueira Campos montou uma confraria de latifundiários alegremente formada por amigos e aliados. A esse movimento foi dado um nome: Projeto Agrícola de Campos Lindos.

    Em 1999, quatro felizardos foram contemplados com terras do projeto ao custo de pouco menos de 8 reais o hectare (10 mil metros quadrados), numa lista preparada pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins (Faet). A federação teve o apoio da Companhia de Promoção Agrícola (Campo), entidade fundada em 1978, fruto do acordo entre consórcios que implantaram o Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados (Prodecer) em parceria com o Banco do Brasil e com cooperativas de produtores.

    Escrúpulos às favas, os dirigentes de ambas as instituições se esbaldaram nas posses de Campos Lindos. À época, a presidente da Faet era ninguém menos que Kátia Abreu, então deputada federal pelo ex-PFL. No topo da lista, a parlamentar ficou com um lote de 1,2 mil hectares. O irmão dela, Luiz Alfredo Abreu, abocanhou uma área do mesmo tamanho. O presidente da Campo, Emiliano Botelho, também não foi esquecido: ficou com 1,7 mil hectares.

    Dessa forma, um ambiente de agricultura familiar mantido ao longo de quase meio século por um esquema de produção de alimentos de forma ecologicamente sustentável foi remarcado em glebas de latifúndio e entregue a dezenas de indivíduos ligados ao governador Siqueira Campos. Entre elas também figuraram Dejandir Dalpasquale, ex-ministro da Agricultura do governo Itamar Franco, Casildo Maldaner, ex-governador de Santa Catarina, e o brigadeiro Adyr da Silva, ex-presidente da Infraero. Sem falar numa trupe de políticos locais, entre os quais brilhou, acima de todos, a atual presidente da CNA.

    O resultado dessa política pode ser medido em números. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de soja em Campos Lindos cresceu de 9,3 mil toneladas, em 1999, para 127,4 mil toneladas em 2007. Um crescimento de 1.307% em apenas oito anos. O mesmo IBGE, contudo revela a face desastrosa desse modelo de desenvolvimento. No Mapa da Pobreza e Desigualdade, divulgado também em 2007, o município apareceu como o mais pobre do País. Segundo o IBGE, 84% da população vivia da pobreza, dos quais 62,4% em estado de indigência.

    No meio das terras presenteadas por Siqueira Campos a Kátia Abreu estava justamente o torrão de Reis, a fazenda Coqueiro. Mas, ao contrário dos demais posseiros empurrados para as reservas do Cerrado, o agricultor não se deu por vencido. Tinha a favor dele documentos de propriedade, um deles datado de 6 de setembro de 1958 e originário da Secretaria da Fazenda de Goiás, antes da divisão do estado. O documento reconhece as terras da família em nome do pai, Mateus Reis, a partir dos recibos dos impostos territoriais de então. De posse dos papéis, o pequeno agricultor tentou barrar a desapropriação na Justiça. A hoje senadora partiu para a ofensiva.

    Em 11 de dezembro de 2002, Kátia Abreu entrou com uma ação de reintegração de posse em toda a área, inclusive dos 545 hectares onde Reis vivia havia cinco décadas. Ela ignorou a ação de usucapião em andamento, que dava respaldo legal à permanência dos Reis na terra. Para fundamentar o pedido de reintegração de posse, a então deputada alegou em juízo que Reis, nascido e criado no local, tinha a posse da fazenda Coqueiro por menos de um ano e um dia, providencial adequação ao critério usado na desapropriação.

    Para comprovar o fato, convocou testemunhas que moravam a mais de 800 quilômetros da área de litígio. Incrivelmente, a Justiça de Tocantins acatou os termos da ação e determinou que a expulsão da família de Reis da fazenda Coqueiro e dos 62 hectares recém-comprados. Ignorou, assim, que a maior parte das terras utilizada há 50 anos ou, no mínimo, há mais de dois anos, como ajuizava o documento referente ao processo de usucapião. Reis foi expulso sem direito a indenização por qualquer das benfeitorias construídas ao longo das cinco décadas de ocupação da terra, aí incluídos a casa onde vivia a família, cisternas plantações (mandioca, arroz e milho), árvores frutíferas, pastagens, galinhas, jumentos e porcos.

    A exemplo da Kátia Abreu, os demais agraciados com as terras tomadas dos agricultores assumiram o compromisso de transformar as terras produtivas em dois anos. O prazo serviu de álibi para uma ação predatória dos novos produtores sobre o Cerrado e a instalação desordenada de empresas e grupos ligados ao mercado da soja. Até hoje a questão do licenciamento ambiental da área abrangida pelo Projeto Agrícola Campos Lindos não foi resolvida por órgãos ambientais locais. Mas nem isso a senadora fez.

    Signatário, com outros três colegas, de um pedido de intervenção federal no Tocantins em 2003, justamente por causa da distribuição de terras de Campos Lindos feita por Siqueira Campos a amigos e aliados, o procurador federal Alvaro Manzano ainda espera uma providência. “Houve uma inversão total do processo de reforma agrária. A desapropriação foi feita para agradar amigos do rei.”

    Há cinco meses, o agricultor Reis voltou à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Ele luta pra forçar o Tribunal de Justiça de Tocantins a julgar tanto a ação de usucapião de 2000 como o pedido de liminar impetrado há seis anos para garantir a volta da família, hoje acrescida de 23 netos, à fazenda Coqueiro. “Não tem força no mundo, moço, que faça essa Justiça andar”, reclama o agricultor. Ele atribuiu a lentidão à influência da senadora no Judiciário local. Procurada por Carta Capital, Kátia Abreu não respondeu ao pedido de entrevista.

    Quatro anos atrás, a família Reis conseguiu se alojar numa chácara de 42 hectares ocupada por um dos filhos há dez anos. Lá, quase vinte pessoas vivem amontoadas em uma casa de dois cômodos, feita de sapê e coberta de palha de babaçu em meio a porcos, galinhas e cachorros. No terreiro coberto da residência, infestado de moscas, as refeições são irregulares, assim como os ingredientes dos pratos, uma mistura aleatória de arroz, mandioca, pequi, abacaxi, feijão e farinha.

    Toda vez que um motor de carro é ouvido nas redondezas, todos se reúnem instintivamente nos fundos da casa, apavorados com a possibilidade de um novo despejo. Cercado de filhos e netos, Reis não consegue esconder os olhos marejados quando fala do próprio drama. “Fizeram carniça da gente. Mas não vou desistir até recuperar tudo de novo.”

    Em 19 de junho, um dia após a última visita de Reis à Câmara dos Deputados, o presidente da Comissão de Direitos Humanos, Luiz Couto (PT-PB), encaminhou um ofício endereçado ao Conselho Nacional de Justiça para denunciar a influência de Kátia Abreu na Justiça do Tocantins e pedir celeridade nos processos de Reis. O pedido somente agora entrou na pauta do CNJ, mas ainda não foi tomada nenhuma medida a respeito. Nos próximos dias, corregedor do conselho, Gilson Dipp, vai tornar público o relatório de uma inspeção realizada no Tribunal de Justiça do Tocantins, no qual será denunciada, entre outros males, a morosidade deliberada em casos cujos réus são figuras políticas proeminentes no estado.

    Há três meses, ao lado de um irmão e um filho, Reis voltou à fazenda Coqueiro para averiguar o estado das terras depois da ocupação supostamente produtiva da senadora. Descobriu que nem um pé de soja – nem nada – havia sido plantado no lugar. “Desgraçaram minha vida e da minha família para deixar o mato tomar conta de tudo”, conta Reis.

    Com o auxílio de outros filhos, recolheu tijolos velhos da casa destruída pelos tratores da parlamentar do DEM e montou um barraco sem paredes, coberto de lona plástica e palha. Decidiu por uma retomada simbólica da terra, onde reiniciou um roçado de mandioca. Na chácara do filho, onde se mantém como chefe da família, ainda tem tempo para rir das pirraças de uma neta de apenas 4 anos. Quando zangada, a menina não hesita em disparar, sem dó nem piedade, na presença do avô: “Meu nome é Kátia Abreu”.

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  • 21/11/2014

    Boletim Mundo: Em Paranhos (MS), indígenas protegidos pelo Estado recebem novas ameaças de morte

    O que Otoniel Guarani Kaiowá considerava boato até bem pouco tempo atrás se concretizou neste finzinho da semana. Nas ruas de Paranhos, cone sul do Mato Grosso do Sul, fronteira com o Paraguai, as conversas sobre os “incômodos” gerados pela atuação de Otoniel junto aos tekoha localizados no município têm mobilizado grupos de políticos e comerciantes ligados aos latifundiários daquelas terras.

    Quem ouviu as conversas também viu quem tagarelou nelas. O caso então foi encaminhado ao Ministério Público Federal (MPF). “Fazia algum tempo que vez ou outra alguém dizia para eu tomar cuidado, porque em Paranhos tinha gente ‘importante’, da política, dizendo que eu estava atrapalhando as coisas. Agora ficou comprovado”, diz Otoniel. O indígena afirma que noticiou os fatos ao comando da Operação Guarani, da Polícia Federal.

    De acordo com os indígenas, políticos de Paranhos e alguns comerciantes próximos de fazendeiros que ocupam o tekoha Arroio Korá, dos Guarani Ñandeva, já homologado, mas invadido pelos latifundiários, dizem que a liderança “faz a cabeça dos índios ali” impedindo supostas negociações. Dessa forma, os Guarani exigem o território e ocupam parte dele em retomada – mesmo já sendo um bem da União de usufruto exclusivo daquela comunidade.

    Otoniel afirma que comunicou a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH-PR) tão logo confirmou a relevância das ameaças. O indígena faz parte do Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos (PPDDH), assim como o cacique do tekoha Arroio Korá, Dionísio Guarani Ñandeva, também ameaçado com regularidade por jagunços e através de recados endereçados a ele. Outros seis indígenas do MS fazem parte do programa – três Guarani Kaiowá, um Guarani Ñandeva e dois Terena.

    “Depois que começou (comunidade do Arroio Korá) a reivindicar o direito e a retomar a terra homologada, esses fazendeiros e políticos passaram a responsabilizar liderança. Fico preocupado, porque eu sei de onde vem ameaça, mas a comunidade está atenta e confio em Ñanderu”, diz. Otoniel espera que a SDH baixe no MS para visitas às comunidades que esperam na antessala dos atentados pela regularização e ocupação definitiva de suas terras.

    Arroio Korá      

    Em agosto de 2012, uma área de retomada do tekoha Arroio Korá, homologado em dezembro de 2009, foi atacada e, sob fogo cerrado, o susto e a fome mataram a pequena Geni Centurião Guarani Ñandeva. Os pistoleiros queimaram alimentos e ficaram horas atirando contra os indígenas, recarregando suas armas com munições trazidas pelos jagunços em caminhonetes. Atirados à lama, os Guarani, incluindo as 120 crianças, permaneceram durante horas cercados pela situação desesperadora de opressão, tiros, gritos de ameaças e fome.

    Dos 7.176 hectares homologados, atualmente os indígenas ocupam menos de 700. As fazendas Liane e Campina, palco do ataque de 2012 e onde a aldeia foi instalada, fazem parte da terra homologada. A justificativa dos invasores é de que um embargo à homologação expedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) os legitimam nas ‘propriedades’.

    Esta matéria faz parte do boletim eletrônico O Mundo que Nos Rodeia. Para recebê-lo, envie solicitação ao e-mail mundo@cimi.org.br.   

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  • 21/11/2014

    MPF recomenda imediata suspensão de leilão de florestas na região das terras Munduruku

    O Ministério Público Federal (MPF) em Itaituba deu dez dias de prazo para que o Serviço Florestal Brasileiro (SFB) responda à recomendação para suspender imediatamente o leilão das Florestas Nacionais Itaituba I e II, no município de mesmo nome, no sudoeste do Pará.

    O MPF considera que o edital de licitação é irregular por afirmar a inexistência de população indígena ou ribeirinha na região, quando está em trâmite na Fundação Nacional do Índio (Funai) a demarcação do território tradicional dos índios Munduruku na mesma região e o próprio plano de manejo das duas florestas reconhece a existência de comunidades ribeirinhas e extrativistas.

    Para o MPF, o edital “ofende a boa-fé objetiva, constituindo violação ao dever de informação com as empresas concorrentes que não estão sendo esclarecidas adequadamente quanto à existência de povos indígenas representando iminente lesão aos interesses das pretensas concorrentes, na medida em que pode haver resistência das comunidades indígenas e pedido judicial de anulação do certame”.

    A recomendação lembra também que, de acordo com a legislação brasileira, antes de qualquer concessão, as florestas públicas ocupadas ou utilizadas por comunidades deverão ser destinadas aos próprios moradores por meio da criação de reservas ou por concessão de uso.

    O edital viola ainda a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, que assegura a consulta prévia, livre e informada aos povos interessados, sempre que sejam previstas medidas legislativas ou administrativas suscetíveis de afetá-los diretamente. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) também não foi ouvido pelo SFB, o que deveria ter ocorrido pela existência de vários sítios arqueológicos no perímetro das duas florestas em licitação.

    Além de recomendar a suspensão do edital, o SFB deve fazer a plotagem de toda a extensão das Flonas, identificando principalmente as áreas indígenas incidentes e no entorno, realizar a consulta prévia, livre e informada aos índios e demais povos tradicionais e elaborar estudo do patrimônio arqueológico. O material deve ser encaminhado ao MPF.

    As áreas de concessão florestal licitadas pelo SFB ficam na região onde o governo quer instalar a usina hidrelétrica São Luiz do Tapajós, atingindo as mesmas populações tradicionais que serão impactadas pela usina.

    Leia aqui a Íntegra da recomendação

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  • 21/11/2014

    Ypo’i: “Estamos aqui em homenagem aos cinco anos de passagem dos assassinatos de Rolindo e Jenivaldo Vera”

    “Estamos nessa homenagem muito tristes de lembrar o que aconteceu no nosso tekoha, lembrar do que aconteceu é viver de novo o que aconteceu. É importante lembrar que, mesmo passados cinco anos dos assassinatos dos nossos dois professores guaranis dentro da nossa Tekoha Ypo’i, nenhum responsável foi punido”, escreve em carta a comunidade depois de encontro, no Mato Grosso do Sul, que lembrou os cinco dos assassinatos impunes dos professores Rolindo e Jenivaldo Vera.  

    Os Guarani e Kaiowá cobram ainda a demarcação de terras, lembram do assassinato de Marinalva Manoel e denunciam mais um caso de discriminação e racismo no município de Paranhos. A vítima foi o cacique Ilson Soares, do tekoha Y’Hovy, oeste do Paraná.

    Leia na íntegra:

    Direcionado aos órgãos CNJ, FUNAI, SDH, MPF, STF, AGU, Casa Civil e 6ª Câmara

    Nós da comunidade Ypo’i, nhanderu e lideranças, junto com outras várias comunidades, Potrero Guasu, Pirajuí, Paraguasu, Arroio Korá e Tekoha Y´Hovy do Paraná, reunidos nos dias 30, 31 de outubro e 1º de novembro no Tekoha Ypo’i, no estado do Mato Grosso do Sul, estamos aqui em homenagem aos cinco anos de passagem dos assassinatos dos 2 professores guaranis, Rolindo Vera e Jenivaldo Vera, que morreram em função da luta pela nossa terra. Estamos nessa homenagem muito tristes de lembrar o que aconteceu no nosso tekoha, lembrar do que aconteceu é viver de novo o que aconteceu. É importante lembrar que, mesmo passados cinco anos dos assassinatos dos nossos dois professores guaranis dentro da nossa Tekoha Ypo’i, nenhum responsável foi punido. Mas sabemos que aqueles que continuam a nos ameaçar são também aqueles que não querem que nos continuemos no nosso tekoha e, por isso, eles já mostraram e continuam a mostrar que estão dispostos a fazer qualquer coisa para nos tirar da nossa terra. Mas nós guaranis, não vamos sair da nossa terra porque essa terra é nossa, nossos pais, avós já moravam aqui há muitos anos, e nos pediram para voltar para nosso lugar, e já perdemos muitas lideranças, por isso já é mais um motivo para continuar resistindo. Porque a terra não é dos fazendeiros, a terra pertence aos Guarani.

    Por isso nós da comunidade não vamos mais sair daqui, vamos morrer aqui, já perdemos dois professores e um membro da comunidade. Por essa razão do encontro dos nossos nhanderu, estamos nos organizando para fortalecer, ainda mais, o nosso espiritual. E os nhanderu exigiram nesse encontro que saia a demarcação e a homologação de todos os tekoha dos Guarani Kaiowá, e demais povos indígenas que estão na mesma situação. Exigimos ao governo federal, e ao estado do Mato Grosso do Sul, respeito a nossa decisão e a nossa cultura. Não basta só a demarcação da nossa terra, queremos também o fortalecimento da nossa autonomia e sustentabilidade, para que haja uma educação diferenciada e que esteja adequada a nossa cultura, um atendimento a saúde de qualidade, investimentos e fortalecimento da nossa agricultura, do nosso meio ambiente, e da nossa segurança. É importante lembrar nosso pedido de segurança: queremos que seja coordenada pela Operação Guarani da FUNAI, e não pela Força Nacional. Pedimos também atendimento a nossa documentação.

    Justo ao final de nosso encontro, nós Guarani e Kaiowá ficamos sabendo de mais uma vítima da luta pela nossa terra. A jovem liderança kaiowá Marinalva Manoel, de 27 anos, foi encontrada na manhã desse sábado, dia 1º de novembro, jogada às margens da rodovia BR-163, em Dourados. Ela que era liderança na luta pela demarcação da Terra Indígena de Ñu Verá e integrante da Aty Guasu recebeu 35 facadas, e foi encontrada morta, depois de várias ameaças que a aldeia vinha recebendo de fazendeiros da região. Mal a gente saiu de uma homenagem de dois professores que foram assassinados e ficamos sabendo de mais uma noticia horrível.

    Além disso, ainda na noite de sábado, estávamos num conhecido supermercado na cidade de Paranhos, quando presentes vimos um ato de discriminação a um indígena. Junto com a gente estava o cacique Ilson Soares, do Tekoha Y’Hovy, que sofreu discriminação porque estava com pena amarela no queixo, enfeitado com a nossa cultura. Quando depois que entrou no banheiro, o dono do supermercado chamou a Polícia Militar por causa de um índio que estava no banheiro. Esse ato de discriminação ao indígena já aconteceu várias vezes em centros comerciais de Paranhos. Repudiamos esses acontecimentos.

    Exigimos que seja feita justiça imediata em relação aos assassinatos dos nossos dois professores. Pedimos e exigimos que não haja despejo em todos os tekoha, e seja publicada a portaria de identificação e providenciada a demarcação dos tekoha Ypo’i, Triunfo, Pyelito Kue, Mbarakay, Kurusu Amba, Guyraroka, Guaiviry, Santiagokue, Yvy Katu, Arroio Kora, Potrero Guasu, Potrerito, Ka’ajari, Karaja Yvy, Mãe Terra, Buriti, e demais tekoha que estão em estudos também no estado do Paraná.

    Nós, da comunidade Ypo’i, pedimos dos conselhos Aty Guasu, Apib, Comissão Yvy Rupa para ajudar nossos povos que estão na luta. Porque nós Guarani e Kaiowa já estamos prontos para avançar na luta.

    Tekoha Ypo’i, Paranhos (MS), 1º de novembro de 2014.

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  • 19/11/2014

    Adolescente Guarani-Kaiowá é atropelada por pistoleiro e está em estado crítico

    Jocikelle Martins Guarani-Kaiowá de 17 anos andava pela estrada de terra, rodeada por plantações de soja, a caminho da escola na manhã de 17 de novembro, quando um motoqueiro em alta velocidade veio na sua direção e a arremessou para longe.

    Ainda no período da manhã, a adolescente foi encaminhada com escoriações nas pernas, braços e ouvido ensanquentado para o hospital de Coronel Sapucaia (MS), distante 30 km da Aldeia de Kurusu Ambá, onde só foi atendida às 16h da tarde. “Ela foi para o hospital e lá só deram soro”, afirma a liderança Eliseu Guarani-Kaiowá, segundo o indígena Jocikelle ainda passa mal. “Ela ta vomitando sangue, machucada na perna, nos braços. Como a liberaram nesse estado?”, questiona Eliseu.

    Segundo a diretoria do Hospital de Coronel Sapucaia, a indígena ficou em observação durante toda à tarde de ontem, onde fez exames e se encontrava em estado estável quando foi liberada hoje, 19 de novembro.  Os indígenas já acionaram a Funai para que a  adolescente seja atendida na Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).

    Infelizmente o caso de Jocikelle não é isolado, para os indígenas o atropelamento foi pré-meditado e arranjado por pistoleiros. Os Kaiowá de Kurusu Ambá estão expostos a um contexto alarmante de violência e já vêm denunciando a circulação de grupos armados na região que rondam e atacam constantemente o acampamento. Assim é o cotidiano dos Kaiowá na área: fome, ameaças frequentes, intimidações, pulverização proposital por agrotóxicos e mortes. Desde 2007 já foram mais de 10 assassinatos em processos de retomadas.

    Em resposta ao atropelamento de Jocikelle, cerca de 30 famílias retomaram ainda ontem, 18 de novembro, mais uma parte do tekoha, o território tradicional que incide na Fazenda Barra Bonita.

    Mesmo com ordem de reintegração de posse já em vigor para outra área de retomada, os indígenas prometem resistir. “Todos os Guarani-Kaiowá estão apoiando o movimento, a guerra não vai parar porque nunca resolveram a demarcação, enquanto isso lideranças são mortas e baleadas. Uma violência tamanha que já não aguentamos, mas vamos continuar resistindo”, reitera Eliseu.

    O Grupo de Trabalho (GT) da Funai foi instaurado em 2008, mas ainda sim a demarcação do território não foi realizada. Os Kaiowá exigem a imediata continuação dos procedimentos demarcatórios e pedem em caráter de urgência ao Ministério Publico Federal e a Polícia Federal que todas as medidas para garantir a segurança das famílias sejam tomadas.

    Durante visita a Brasília em outubro, uma comitiva composta por mais de 45 lideranças Guarani-Kaiowá pediram mais segurança ao Ministério da Justiça que se comprometeu a dialogar com a Força Nacional e a Polícia Federal a fim de instalar um programa de acompanhamento nas áreas e rotas de fronteira que hoje estão ameaçadas de despejos forçados pelos pistoleiros e jagunços dos fazendeiros, dentre elas Kurusu Ambá. No entanto, parece que nenhuma das reivindicações feita pelos indígenas foi feita desde então.

    Os Kaiowá sofrem com o silêncio e omissão das autoridades governamentais frente ao extermínio em que estão expostos, mas ainda sim se recusam a desistir, com a única certeza de que a demarcação dos territórios tradicionais é a única forma de cessar a violência e permitir uma vida digna dentro de seus costumes e tradições.

     

     

     

     

     

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  • 19/11/2014

    Nota pública contra votação às pressas do novo código de mineração

    Fomos surpreendidos por uma notícia no website da Câmara Federal afirmando que a proposta de novo Código da Mineração será votada na Comissão Especial essa semana. Trata-se, evidentemente, de uma tentativa de golpe à democracia brasileira. Um completo desrespeito ao debate democrático e a prova cabal da relação de subordinação às empresas mineradoras que financiaram amplamente as campanhas.

     

    Nada justifica a pressa, especialmente nesse momento difícil da democracia brasileira, onde ficam evidentes os vínculos promíscuos entre agentes públicos e empresas privadas, onde a dinâmica dos financiamentos de campanha subordinam a ação de parlamentares e políticos. Quase todos os 32 membros titulares da Comissão Especial receberam doações de campanha eleitoral de empresas mineradoras. O relator da proposta, Leonardo Quintão (PMDB-MG) foi um dos que mais recebeu doações de mineradoras e está sob suspeição. Há um pedido de liminar no Supremo Tribunal Federal pedindo seu afastamento da relatoria da proposta.

     

    Nós do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração denunciamos a tentativa de votação às pressas como um golpe contra a democracia e contra todos aqueles que sofrem com os impactos da mineração.

     

    Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração

     

    Assinam essa nota:

     

    Associação Comunitária das Nascentes e Afluentes da Serra do Caraça – Catas Altas -MG

    Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB) – Seção local Viçosa

    Brigadas Populares

    Campanha Pelas Águas e contra o Mineroduto da Ferrous

    Coletivo Margarida Alves de Assessoria Popular

    Comitê Mineiro em Defesa dos Territórios Frente à Mineração

    Entidade Nacional de Estudantes de Biologia (ENEBIO)

    Movimento Artístico, Cultural e Ambiental de Caeté – MACACA (Caeté/MG)

    Movimento pelas Serras e Águas de Minas (MovSAM)

    Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela

    Movimento Nacional Pela Soberania Popular Frente Mineração (MAM)

    Observatório de Conflitos no Campo (OCCA – UFES)

    Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia – SINFRAJUPE

     

     

    Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade – AFES

    Articulação Antinuclear Brasileira

    Articulação dos Atingidos pela Mineração do Norte de Minas – MG

    Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB

    Ame a Verdade

    Abrace a Serra da Moeda

    Associação Alternativa Terrazul

    Associação Brasileira de Reforma Agrária

    Associação Para a Recuperação e Conservação Ambiental – ARCA AMASERRA

    Associação de Defesa do Meio Ambiente de Araucária – AMAR

    Associação de Proteção ao Meio Ambiente – APROMAC

    Associação de Saúde Ambiental – TOXISPHERA

    Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida – (APREMAVI – SC)

    Associação do Patrimônio Histórico, Artístico e Ambiental de Belo Vale (APHAA-BV)

    Associação dos Guardiôes da Rainha das Águas – Guará

    Associação PRIMO – Primatas da Montanha

    Brasil Pelas Florestas

    Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de MG

    Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente a Mineração

    CEPASP – PA

    Cáritas Diocesana de Sobral – CE

    Cantos do Mundo

    Consulta Popular

    Conselho Indigenista Missionário – CIMI

    Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas – CONAQ

    Central Única dos Trabalhadores – CUT

    Centro Franciscano de Defesa dos Direitos

    Centro de Ecologia Integral de Betim – CEIB

    Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria – CNTI

    CSP-Conlutas

    Comissão Pastoral da Terra – CPT

    Conselho Pastoral dos Pescadores Evangélicos Pela Justiça

    Comissão Paroquial de Meio Ambiente (CPMA) de Caetité

    Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas – Montes Claros 

    Fase

    FBOMS

    Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social

    Frente de Luta pelos Direitos Humanos

    Fórum Carajás

    Grupos de Estudos de Desenvolvimento: Metabase Inconfidentes

    Modernidade e Meio Ambiente da UFMA (GEDMMA)

    Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte – GPEA/UFMT

    Grupo de Pesquisa Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (PoEMAS-UFJF/UFF)

    Gestão Socioambiental do Triângulo Mineiro (Angá)

    Greenpeace

    Grupo Maitan

    Hutukara Associação Yanomami (HAY)

    Instituto Caracol – iC

    Instituto Socioambiental – ISA

    Instituto de Estudos Socioeconômicos – INESC

    Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – Ibase

    Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul – PACS

    Instituto Brasileiro de Educação, Integração e Desenvolvimento Social – Ibeids

    Justiça nos Trilhos

    Juventude Atingida pela Mineração – PA e MA

    Juventude Franciscana do Brasil – JUFRA

    Justiça Global

    Levante Popular da Juventude

    Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra – MST

    Movimento Nacional pela Soberania Popular frente à Mineração – MAM

    Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB

    Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA

    Movimento pela Moralidade Pública e Cidadania – Ong Moral MT

    Movimento Guará e Xô Mineradoras

    Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça e Cidadania

    Movimento dos Atingidos pelo mineroduto Minas-Rio de São Domingos do Prata – MG

    Marcha Mundial de Mulheres

    Núcleo de Investigações em Justiça Ambiental (NINJA) da Universidade Federal de São João del Rei

    Pastoral da Juventude Rural – GO

    Pedra no Sapato

    Pastorais Sociais / CNBB

    Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado – PSTU

    Rede Brasileira de Justiça Ambiental

    Rede Cearense de Juventude pelo Meio Ambiente – RECEJUMA

    Rede Axé Dudu

    Rede Brasileira de Ecossocialistas

    Rede Mato-Grossense de Educação Ambiental – REMTEA

    Rede Causa Comum

    Sindiquimica – PR

    Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Simonésia – MG

    Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porteirinha – MG

    Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Canaã dos Carajás – PA

    Sindicato Unificado da Orla Portuária – SUPORT ES

    Sindicato Metabase Inconfidentes

    SOS Serra da Piedade (MG)

    VIVAT Internation

     

     

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  • 19/11/2014

    Adolescente Guarani-Kaiowá é atropelada e está em estado crítico

    Jocikelle Martins Guarani-Kaiowá de 17 anos andava pela estrada de terra, rodeada por plantações de soja, a caminho da escola na manhã de 17 de novembro, quando um motoqueiro em alta velocidade veio na sua direção e a arremessou para longe.

    Ainda na parte da manhã a adolescente foi encaminhada com escoriações nas pernas e braços e ouvido ensanquentado para o hospital de Coronel Sapucaia (MS), distante 30 km da Aldeia de Kurusu Ambá, onde só foi atendida às 16h da tarde. “Ela foi para o hospital e lá só deram soro”, afirma a liderança Eliseu Guarani-Kaiowá, segundo o indígena Jocikelle ainda passa mal. “Ela ta vomitando sangue, machucada na perna, nos braços. Como a liberaram nesse estado?”, questiona Eliseu.

    Segundo a diretoria do Hospital de Coronel Sapucaia, a indígena ficou em observação durante toda à tarde de ontem, onde fez exames e encontrava-se em estado estável quando foi liberada hoje, 19 de novembro.  Os indígenas já acionaram a Funai para que a  adolescente seja atendida na Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).

    Infelizmente o caso de Jocikelle não é isolado, para os indígenas o atropelamento foi pré-meditado e arranjado por pistoleiros. Os Kaiowá estão expostos a um contexto alarmante de violência e já vêm denunciando a circulação de grupos armados na região que rondam e atacam constantemente o acampamento. O cotidiano dos indígenas na área é de fome, ameaças frequentes, intimidações, pulverização proposital por agrotóxicos e mortes. Desde 2007 já foram mais de 10 assassinatos em processos de retomadas.

    Em resposta ao atropelamento de Jocikelle, cerca de 30 famílias retomaram ainda ontem, 18 de novembro, mais uma parte do tekoha, o território tradicional Kaiowá, que incide na Fazenda Barra Bonita.

    Mesmo com ordem de reintegração de posse já em vigor para outra área de retomada, os indígenas prometem resistir. “Todos os Guarani-Kaiowá estão apoiando o movimento, a guerra não vai parar porque nunca resolveram a demarcação, enquanto isso lideranças são mortas e baleadas. Uma violência tamanha que já não aguentamos, mas vamos continuar resistindo”, reitera Eliseu.

    Durante visita em Brasília, uma comitiva composta por mais de 45 lideranças Guarani-Kaiowá pediram mais segurança ao Ministério da Justiça que se comprometeu a dialogar com a Força Nacional e a Polícia Federal a fim de instalar um programa de acompanhamento nas áreas e rotas de fronteira que hoje estão ameaçadas de despejos forçados pelos pistoleiros e jagunços dos fazendeiros, dentre elas Kurusu Ambá.

    Os Kaiowá sofrem com o silêncio e omissão das autoridades governamentais frente ao extermínio em que estão expostos, mas ainda sim se recusam a desistir, com a única certeza de que a demarcação dos territórios tradicionais é a única forma de cessar a violência e permitir uma vida digna dentro de seus costumes e tradições.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

  • 18/11/2014

    Em nota, Diocese de Roraima se posiciona contra criação de Instituto Nacional de Saúde Indígena

    O Subsistema de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas no Brasil tem sido uma das maiores conquistas das comunidades e organizações indígenas do país. A participação ativa e propositiva das comunidades indígenas nas sucessivas Conferências de Saúde conseguiu que o Estado brasileiro reconhecesse este direito e caminhasse para a estruturação de um sistema único de atendimento à saúde que considerasse as especificidades dos povos indígenas. São alicerces deste sistema o protagonismo dos povos indígenas, a autonomia administrativa dos DSEIs, a atenção primária e preventiva, a formação de Agentes Indígenas de Saúde, a integralidade do atendimento considerando a Medicina Tradicional e o conhecimento próprio dos povos, bem como mecanismos consolidados de controle social.

    Em Roraima, de modo particular, a constituição do Núcleo Interinstitucional de Saúde Indígena – NISI/RR, durante a década de 90, permitiu que os diversos atores envolvidos somassem esforços na perspectiva sempre de um melhor atendimento à saúde das comunidades. O próprio NISI/RR já apresentou propostas concretas em 1996, quase 20 anos atrás, para a realização de um Concurso Público Específico e Diferenciado para Saúde Indígena.

    A execução dos Programas de Atendimento à Saúde dos Povos Indígenas durante os anos seguintes em Roraima consolidou avanços significativos e de referência para todo o país. Cabe destacar entre seus ganhos: a formação permanente de Agentes Indígenas de Saúde, de Saneamento e de Microscopistas e Agentes de Endemias; a formação permanente também dos profissionais não indígenas que trabalhavam junto às comunidades; a integração do atendimento considerando os conhecimentos e práticas de pajés, curadores, parteiras e outras figuras próprias do sistema cultural dos povos; o atendimento preventivo na comunidade; o controle das ocorrências de malária e tuberculose, entre outras; o acompanhamento de nascidos e de óbitos, constituindo a mais fidedigna fonte de informação sobre dados demográficos da população indígena em Roraima. Todos estes elementos e muitos outros configuraram um sistema exemplar de atendimento à saúde dos povos indígenas, com forte protagonismo das próprias comunidades.

    A Diocese de Roraima acompanhou e atuou desde o início neste trabalho, sempre em união com as organizações e comunidades indígenas. Somos testemunhas e somos também parte dos frutos e esforços empenhados. Todos estes avanços conseguidos estão hoje em sério risco. Paradoxalmente, esta situação de risco acontece a partir da criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena – SESAI, que foi uma das maiores reivindicações do movimento indígena e seus aliados.

    Basta pensar na situação em que hoje se encontram muitos Postos de Saúde e Polos Base nas comunidade se no deterioro de indicadores básicos de saúde em diversas regiõe. Basta considerar as reclamações e reivindicações que ao longo dos últimos anos as comunidades indígenas têm externado nas Assembleias indígenas, sejam elas de caráter regional, estadual ou nacional. Os documentos conclusivos das últimas Assembleias Estaduais de Tuxauas em Roraima são suficientemente claros e apresentam demandas concretas, sejam quanto a estruturas, equipamentos, planos de formação ou protocolos de atendimento. A Casa de Saúde do Índio – CASAI – RR, passa hoje por um dos piores momentos de superlotação e escassez de recursos, o que revela as falhas no sistema de atendimento primário e preventivo.

    Esta situação não é exclusiva de Roraima. Em nível nacional, os problemas no sistema de atendimento à saúde indígena são também evidentes. Nos últimos anos, o orçamento para Saúde Indígena quadruplicou no país; no entanto, os indicadores e dados expressam um retrocesso no atendimento e na saúde dos povos indígenas. Destacam os indicadores de mortalidade infantil em Distritos Sanitários como o Yanomami, Alto Solimões ou Mato Grosso do Sul. Enquanto isso, em 2013, e segundo dados da própria SESAI, apenas foram investidos o 1,3% do orçamento previsto para saneamento básico.

    Já em 2014, até o mês de setembro, a SESAI apenas havia executado 7,5% do orçamento previsto no capítulo de Estruturação do setor. Existem falhas evidentes e severas na gestão da saúde indígena no país. Porém, não foi adotada nenhuma medida a respeito. Nenhuma responsabilidade política foi assumida. As desculpas quanto a dificuldades no processo de licitação, um dos principais argumentos para a criação do Instituto Nacional de Saúde Indígena – INSI, não parecem ter fundamentos. Principalmente quando o Ministério Público Federal e a Polícia Federal deflagraram em setembro deste ano operações no Estado de Bahia que revelam irregularidades nos processos de licitação De aluguel de carros para a saúde indígena. O que cabe ser exigido é uma melhor gestão que a demonstrada até o momento. A proposta da criação do Instituto Nacional de Saúde Indígena – INSI está sendo, quanto menos, acelerada e pouco aprofundada, o que vai à contramão dos processos consultivos e de conferência com que se pautou a Política Nacional de Saúde Indígena nos últimos 20 anos. Trata-se de mais um retrocesso grave na garantia dos direitos dos povos indígenas no contexto atual do Estado brasileiro.

    O Ministério Público Federal, em Nota Pública colegiada com assinatura de até 09 Procuradores da República, questiona a constitucionalidade da criação do INSI, pois ele significaria a transferência da “execução da saúde indígena para pessoa jurídica de direito privado, que se constitui sob a forma de serviço social autônomo, não fazendo parte da administração pública, direta ou indireta”. Ainda afirma o Ministério Público Federal que a proposta de criação do INSI não consegue garantir a resolução dos problemas relativos a cumprimento das condições trabalhistas e que as alegações da suposta impossibilidade de um Concurso Público específico e diferenciado, regionalizado por DSEI, não correspondem à realidade. Por último, conclui o Ministério Público Federal que “as informações que chegaram aos representantes indígenas nos Conselhos Distritais de Saúde Indígena não atendem aos critérios da Convenção 169 da OIT para realização de consulta livre, prévia e informada”. Em audiência pública no MPF/RR celebrada no dia 17 de setembro em Boa Vista, Procurador e representantes indígenas das diferentes organizações de RR, do Condisi Leste e o Condisi Yanomami, tiveram a oportunidade de comprovar que as informações oferecidas pela SESAI aos Conselhos Distritais até o momento eram unilaterais, confusas, duvidosas e questionáveis.

    Deve se destacar, todavia, que as principais organizações indígenas do país manifestaram-se contra a criação do INSI. A COIAB, a APIB, a Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus e a APOINME manifestaram abertamente sua oposição. Particularmente o Conselho Indígena de Roraima – CIR afirma em Nota Pública que “não houve o tempo necessário para a discussão com as lideranças das comunidades sobre esta proposta” e que “a criação do Instituto Nacional de Saúde Indígena (INSI) representa na prática a privatização da Saúde Indígena no Brasil, pois na proposta apresentada pela SESAI ele é descrito como uma entidade civil de direito privado”. Ao mesmo tempo, Conselhos Distritais do país, como o CONDISI Xingu e o CONDISI Litoral Sul têm se manifestado claramente contrários à criação do INSI. As informações circuladas nos últimos dias sobre os detalhes do Projeto de Lei que cria o INSI preocupam-nos ainda mais. Não apenas significa a clara transferência de responsabilidade pública para entidade de “âmbito privado”, mas também abre a porta ao financiamento privado da saúde indígena, ferindo gravemente os direitos constitucionais e viabilizando a introdução de interesses particulares naquilo que deve ser o interesse público de todos: a vida e a saúde dos povos indígenas.

    Em razão destas observações, e porque acreditamos profundamente na caminhada feita até hoje pelas comunidades e povos indígenas no âmbito da saúde, a Diocese de Roraima manifestou em voto vencido sua posição contrária ao modo como estava sendo conduzida a proposta de criação do INSI. A Diocese emitiu este voto contrário ao INSI seja no Condisi Leste como no Condisi Yanomami, onde tem representação.

    Solicitamos que sejam consideradas e respeitadas as posições e manifestações das organizações indígenas de Roraima e de todo o país. Recomendamos a paralisação do processo de criação do INSI enquanto não seja garantido e efetivado um amplo processo de consulta prévia, livre e informada que considere as comunidades indígenas e suas organizações. Propomos ainda, que quaisquer deliberações e discussões sobre mudanças significativas no Subsistema de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas sejam realizadas no contexto da Conferência Nacional de Política Indigenista, convocada pelo Governo Federal em 2015 atendendo a   iniciativa do movimento indígena e da Comissão Nacional de Política Indigenista – CNPI.

    08 de novembro de 2014

    Dom Roque Paloschi

    Pastoral Indigenista

    Bispo de Roraima

    Diocese de Roraima

     

     

     

  • 17/11/2014

    Caravana no rio Tapajós protestará contra a construção de complexo hidrelétrico

    O governo brasileiro, com sua estratégia colonialista sobre a Amazônia, mesmo violentando a Constituição Nacional e os tratados internacionais, continua arrogante na palavra do secretário geral, Gilberto Carvalho, ao dizer que não abre mão das hidroelétricas no rio Tapajós. É a ditadura do capital sobrepondo aos direitos humanos dos povos da Amazônia.

    A destruição dos povos, das florestas e dos rios da bacia do Tapajós (além do próprio, estão o Jamanxin, o Teles Pires, o Juruena que formam a bacia do grande rio) está proposta pelos projetos do PAC. Ao todo são planejadas cerca de 24 barragens, de médio e grande porte. Além de ser um desastre dos maiores já vistos no planeta em termos de hidroelétricas, as consequências serão irreversíveis. Fauna, flora, espécies de peixes a desaparecer, inundação gigantesca de florestas (apenas no Parque Nacional da Amazônia, que a presidente Dilma criminosamente desafetou com uma Medida Provisória, foram 10 mil hectares de florestas a serem inundadas, gerando alto grau de gás metano fortemente poluente).

    Quem pode ficar indiferente diante desses crimes sociais, ecológicos e humanitários? Os ministros do Supremo Tribunal Federal? Estes não estão preocupados com as desgraças da Amazônia, o importante é o crescimento econômico do país; O ministério das Minas e Energia? Este pessoal tem compromissos não publicáveis, que impedem terem responsabilidade para com as mudanças climáticas; a presidente reeleita que chegou a pedir votos dos povos indígenas prometendo cuidar das necessidades deles? Pura balela, para a senhora Dilma, “o que tem que ser feito será feito, doer em quem doer”. A ordem é, suspensão de Segurança, resquício da ditadura militar ainda em voga no governo Dilma.

    Mas quem não está e nem vai ficar indiferente são os povos ameaçados da bacia do Tapajós. Seis municípios serão diretamente atingidos pelas desgraças, caso as hidroelétricas de São Luiz, Jatobá, Chacorão e mais quatro no rio Jamanxim, forem construídas. Indiretamente todas as comunidades do entorno da bacia do grande rio serão gravemente prejudicadas, entre as quais o povo Munduruku, com suas 120 aldeias e doze mil seres humanos da etnia.

    Uma boa parte dessas populações já decidiu que vai resistir até impedir os desastres, pois estes militantes sabem que não é justo gerar energia hidráulica para atender empresas e interesses do outro Brasil, a custa das desgraças aos povos tradicionais da Amazônia. Várias organizações sociais se formaram para resistir, em Jacareacanga, Itaituba, Aveiro, Trairão, Rurópolis, Santarém, como também os guerreiros Munduruku. Tentam através de diálogos, manifestos, exigências de respeito por parte do governo. Mas estão amadurecendo a compreensão de que, se o governo não aceita diálogo sério como exige a convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, as várias organizações partirão para pressões mais fortes.

    No próximo dia 27 deste mês, cerca de 1.000 militantes de várias organizações sociais estarão reunidos na comunidade de São Luiz do Tapajós para uma demonstração de força e aviso ao governo federal, de que é preciso respeitar os direitos humanos de todos os brasileiros e não apenas das empresas e dos funcionários do Estado.

    Uma ação político religiosa será realizada, com a presença de quatro bispos da Amazônia, presidindo uma santa missa. Em seguida um ato público com presença de lideranças Munduruku, Comissão Pastoral da Terra, Movimento Tapajós Vivo (MTV), Movimento dos atingidos por barragens (MAB), Pastoral Social de Santarém, Associação munduruku Pahihi do Médio Tapajós, Associação Munduruku Pussuru do alto Tapajós, associação Munduruku guerreiros do alto Tapajós; Ministério Público Federal, estudantes universitários e várias entidades que defendem o rio Tapajós e apoiam as caravanas e o ato público.

    Ao final do dia, um manifesto será lido e assinado pelas dezenas de entidades presentes e cópias serão enviadas ao Supremo Tribunal Federal, à presidente Dilma, Ministério das Minas e Energia, ao órgão de direitos humanos da ONU e da OEA e à mídia nacional e internacional. Estão confirmadas presenças de um canal de televisão francesa, cinegrafistas da Holanda e Alemanha, jornalistas de São Paulo, Midia de Santarém e Itaituba.

    A intenção dos organizadores do evento e dar um recado firme ao governo brasileiro de que na região do Tapajós existem pessoas, comunidades e povos que estão dispostos a lutar em defesa da vida e que não temem as ameaças de exército e Força nacional, quando seus direitos estão em jogo. A força da união organizada e estratégica vale mais do que helicópteros e fuzis. “Verás que um filho teu não foge à luta…”. Para os militantes do Tapajós a Esperança vai vencer o medo da humilhação do governo, dito democrático, mas que usa Força nacional para calar os povos da Amazônia.

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  • 17/11/2014

    Copipe: 15 anos de luta e resistência

    A Comissão de Professores Indígenas de Pernambuco (Copipe) realizou, entre os dias 13 a 16 de novembro, o seu XXIX Encontrão. O evento ocorreu na Ilha da Assunção, uma grande ilha do rio São Francisco que corresponde à maior extensão da porção insular do território tradicional do povo Truká. Participaram 11 dos 12 povos do estado. Apenas o povo Fulni-ô não pôde comparecer em razão de seu período ritual. Anualmente os Fulni-ô realizam o Ketxatkhalhá (Ouricuri), que corresponde ao período de três meses, geralmente entre final de agosto e início de dezembro. Além dos povos indígenas, também se fizeram representar várias comunidades quilombolas (Cruz dos Riachos, Jatobá, Santana, Tiririca dos Crioulos e Conceição das Crioulas) o que expressa a consciência de indígenas e quilombolas sobre a importância de estabelecerem alianças.

    O encontrão é uma atividade permanente da Copipe, desde a sua fundação a organização tem conseguido promover dois grandes encontros anuais que contam com ampla participação de professores indígenas e lideranças de todos os povos e das pessoas da comunidade anfitriã. O público varia entre 700 a 1000 pessoas. Nesse encontrão de agora, somados os 700 participantes de fora mais o público local, atingiu-se o um número de pouco mais de mil participantes. Além das discussões políticas, o encontro também foi marcado pela celebração dos 15 anos da Copipe, razão pela qual esse encontrão teve como tema “Copipe: 15 anos de luta e resistência”.

    No primeiro dia foi feita uma breve memória sobre a história da organização, destacando-se o processo de criação da mesma e sua consolidação através das lutas em defesa da educação escolar indígena sempre em articulação com as lutas pela demarcação e garantia dos territórios tradicionais dos povos, nas quais acontece o envolvimento de professores e alunos. Dois motes norteiam a atuação da Copipe ao longo desses anos: “Educação é um direito, mas tem que ser de nosso jeito” e “Escola formadora de guerreiros e guerreiras”. Ainda nesse dia foi realizada uma análise da conjuntura política indigenista e em seguida cada povo se reuniu para estabelecer suas prioridades para o ano de 2015 e apresentar estratégias de enfrentamento dos desafios conjunturais.

    A demarcação e/ou desintrusão da terra apareceu como a principal prioridade para 2015, por essa razão os povos identificaram a importância de continuar as mobilizações contra os projetos de lei (PLs) e propostas de emenda à Constituição (PECs) que pretendem subtrair direitos indígenas, a exemplo da PEC 215 que propõe transferir do poder executivo para o legislativo a competência para decidir sobre demarcação de terras indígenas, o que representaria o fim das demarcações uma vez que a bancada ruralista já detém grande representação no Congresso Nacional e a ampliará na nova legislatura (2015-2018). Na mesma intensidade deverão também promover ações que obriguem o governo a suspender a paralisação das demarcações de terras, o que ocorreu durante o primeiro mandato da presidenta Dilma. No âmbito do poder judiciário, apareceram preocupações principalmente sobre decisões recentes do Supremo Tribunal Federal (STF) em que se condiciona o direito à demarcação da terra ao fato da comunidade (povo) estar ocupando seu território no ano de 1988, quando foi promulgada a Constituição. Tal interpretação nega o processo de esbulho possessório sofrido pelos povos, os que não se encontravam em seus territórios naquele período é porque haviam sido expulsos pelos invasores. Contra tais decisões os indígenas também decidiram lutar com o objetivo de revertê-las.

    Nos dias seguintes foram debatidos temas relacionados à educação escolar indígena, como a discussão sobre o modelo de escola indígena e a construção de currículos que sejam de fato específicos e diferenciados, capazes de traduzir para a comunidade educativa o projeto de bem viver de cada povo. Os territórios etnoeducacionais e a Licenciatura Intercultural Indígena, curso ofertado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) receberam atenção devida. Sobre o ultimo tema foi denunciado o fato da universidade está apresentando impedimento legal (regimental) para que a Copipe continue participando das discussões e deliberações sobre o curso. Em resposta os participantes decidiram fazer uma carta denúncia a ser encaminhada ao MPF e MEC e exigir o direito de representação da entidade no colegiado do curso.

    Durante todo o evento as lideranças religiosas se encarregaram de cuidar da espiritualidade, assegurando uma mística suave através dos toantes e linhas de toré cujos conteúdos reportavam-se às cosmovisões dos vários povos ali representados. Na noite do sábado houve um grande ritual intercultural e inter-religioso, no qual todos os povos fizeram suas celebrações no terreiro sagrado do povo Truká. As águas do São Francisco e a o frescor espiritual aliviaram do forte calor que castigou os participantes durante todos os dias.

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